Em maio de 2025, os dados divulgados pelo Banco Central do Brasil (Bacen) apontaram para a manutenção do ritmo de crescimento anual do crédito. O saldo total de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) cresceu +0,6% m/m e +11,8% a/a, praticamente estável em relação ao crescimento anual registrada em abril. Por segmento, os estoques apresentaram comportamentos distintos: as operações com pessoas jurídicas (PJ) aceleraram de +10,4% para +10,9% a/a, enquanto o crédito para pessoas físicas (PF) apresentou leve desaceleração, de +12,7% para +12,3% a/a.
As concessões de crédito totalizaram R$ 693 bilhões em maio, com recuo de -0,24% m/m, mas ainda com alta de +10,8% a/a.
No lado mais preocupante, a qualidade da carteira de crédito segue pressionada. A inadimplência total do SFN continua piorando bem gradualmente, alcançando 3,51% (+0,04pp m/m), alta pelo quinto mês consecutivo. No crédito livre, a inadimplência segue subindo, alcançando 4,9% (+0,1 pp m/m), com avanço relevante na carteira de Pessoa Física (PF), que atingiu 6,1% (+0,2 pp m/m; +0,6 pp a/a). O movimento reforça nossa tese de piora na qualidade dos ativos com o ciclo de alta de juros iniciado em set/24, e deve seguir como vetor de deterioração nos próximos meses.
O crédito rural permanece como principal ponto de preocupação. A inadimplência na linha subiu pelo quinto mês consecutivo, atingindo 3,3% em maio (+0,1 pp m/m; +1,8 pp a/a). O cenário é especialmente negativo para o Banco do Brasil, cuja carteira tem cerca de 1/3 de exposição ao setor rural — ponto já evidenciado nos resultados do 1T25 (link para o relatório).
O spread bancário avançou para 20,2% em maio, alta de +0,4 pp no mês e +1,3pp no ano. O movimento foi impulsionado por um aumento de +0,16 pp m/m na taxa de empréstimo, combinado à redução de -0,2 pp m/m na taxa de captação.
Já o endividamento das famílias subiu +0,3 pp m/m e +1,2 pp a/a, alcançando 48,9%, enquanto o comprometimento de renda se manteve estável no mês,apesar do avanço de +1,2 pp a/a, atingindo 27,3% — ambos em níveis historicamente elevados.
Por fim, no que diz respeito à participação de mercado, as instituições privadas nacionais ganharam +0,15 pp m/m, enquanto as instituições públicas (ex-BNDES) registraram perda equivalente de -0,1 pp m/m, indicando uma leve realocação de crédito no mês.
Crédito: Forte Crescimento de +11,8% a/a
O saldo total de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) cresceu +0,6% m/m em maio, totalizando R$ 6,7 trilhões, com expansão de +11,8% na comparação anual, mantendo o mesmo ritmo observado em abril.
O desempenho no mês foi impulsionado tanto pelas operações com pessoas físicas (PF), que somaram R$ 4,1 trilhões (+0,4% m/m), quanto com pessoas jurídicas (PJ), com saldo de R$ 2,5 trilhões (+0,8% m/m).
Na comparação anual, o crédito total avançou +11,8% a/a, com destaque para o crescimento do crédito às empresas, que avançou +10,9% a/a (vs. +10,4% em abril), enquanto o crédito às pessoas físicas registrou alta de +12,3% a/a, desacelerando levemente em relação ao ritmo observado no mês anterior (+12,7%).
O estoque de crédito com recursos livres totalizou R$ 3,8 trilhões, avançando +0,5% m/m e +11,0% a/a. O desempenho no mês foi sustentado por ambos os segmentos, com crescimento tanto nas operações com pessoas físicas, quanto com empresas.
O crédito livre para PF atingiu R$ 2,3 trilhões, com alta de +0,5% m/m e +12,8% a/a. O crescimento mensal foi concentrado nas modalidades de cartão de crédito rotativo (+3,6% m/m), financiamento de veículos (+1,3% m/m) e crédito consignado privado (+4,1% m/m). O recém restruturado produto de consignado privado atingiu R$ 46,56 bilhões, crescimento de 14,95% a/a.
O crédito livre para PJ avançou +0,5% m/m e +8,5% a/a, totalizando R$ 1,6 trilhão. O crescimento foi favorecido pelo aumento mensal nas carteiras de desconto de duplicatas e outros recebíveis (+6,1% m/m), adiantamento de contrato de câmbio – ACC (+2,2% m/m) e cartão de crédito rotativo e financiamento (+3,0% m/m).

Inadimplência: Segmento PF Segue Pressionado
A inadimplência total do Sistema Financeiro Nacional (SFN), considerando atrasos superiores a 90 dias, permaneceu praticamente estável em 3,51% em maio (+0,04pp m/m). Na comparação anual, o índice ainda mostra deterioração de +0,3 pp a/a.
No crédito livre, a inadimplência seguiu em trajetória de alta, subindo para 4,9% (+0,1 pp m/m; +0,3 pp a/a). O segmento de pessoas físicas (PF) permanece como o principal foco de deterioração, com a inadimplência entre as famílias chegando a 6,1% (+0,2 pp m/m; +0,6 pp a/a). Nas operações com pessoas jurídicas (PJ) o índice se manteve estável em 3,1%, com leve recuo na comparação anual (-0,1 pp a/a).
No crédito direcionado, a inadimplência permaneceu estável sequencialmente, mas ainda com alta de +0,2pp a/a, alcançando 1,7%. A inadimplência no crédito rural PF segue em trajetória de deterioração, atingindo 3,31% em maio, com alta de +0,1pp m/m e +1,8pp a/a.


Inadimplência por Modalidade
No cartão de crédito total com recursos livres, que inclui o parcelado sem juros, a inadimplência atingiu 8,3%, alta de +0,4 pp m/m e +0,7 pp a/a.
Novamente, observamos uma piora ainda mais expressiva no cartão rotativo, cuja inadimplência avançou +1,7 pp m/m e +3,1 pp a/a, alcançando 58,4% — um patamar historicamente elevado, que reforça os riscos dessa modalidade. Já o cartão parcelado registrou inadimplência de 12,1%, com alta de +0,5 pp m/m e +1,4 pp a/a.
O crédito para aquisição de veículos por PF teve alta no índice de +0,3 pp m/m e +0,4 pp a/a, com a inadimplência atingindo 5,2%. No crédito pessoal não consignado, o indicador subiu para 7,2% (+0,2 pp m/m; +1,4 pp a/a), enquanto o cheque especial ficou em 13,7%, com alta de +0,7 pp m/m e +2,4 pp a/a.
Cobertura
O índice de cobertura — que mede o saldo de provisões em relação aos créditos vencidos há mais de 90 dias — registrou queda em maio, recuando -2,36 pp m/m, mas registrou uma alta expressiva de +21,08 pp a/a, para 205,1%.

Comprometimento/Endividamento de Renda: Ainda em Níveis Elevados
Em abril (último dado disponível), o endividamento das famílias brasileiras atingiu 48,9%, avançando +0,3pp m/m e +1,2 pp a/a, permanecendo em níveis historicamente elevados.
O comprometimento de renda se manteve relativamente estável sequencialmente em patamares elevados, em 27,3%, mas ainda registra uma elevação de +1,2 pp a/a.
Spread: Em Alta
A taxa média de juros das concessões de crédito do SFN atingiu 31,5% a.a. em maio, com alta de +0,2 pp m/m e +3,7 pp a/a. A elevação mensal foi puxada pelas operações com pessoas físicas (PF), cuja taxa média subiu para 36,2% a.a. (+0,3 pp m/m; 3,7 pp a/a), enquanto a taxa média para pessoas jurídicas (PJ) recuou para 21,4% a.a. (-0,4 pp m/m), mas ainda com alta anual de +3,3 pp a/a. A taxa de captação recuou -0,2 pp m/m, mas ainda com alta de +2,4 pp a/a, alcançando 11,3%.
O spread bancário avançou para 20,2% em maio (+0,4 pp m/m; +1,3 pp a/a), refletindo tanto o aumento das taxas finais ao tomador quanto a queda sequencial no custo de captação. No segmento de pessoas físicas, o spread apresentou alta de +0,4 pp m/m e +1,4 pp a/a, ficando em 25,4%. No segmento de empresas o spread registrou alta de +0,2 pp m/m e +0,6 pp a/a, chegando a 9,0%.

Market Share de Crédito: Perda de Share das Instituições Públicas
Em relação à participação de mercado, as instituições privadas registraram alta de +0,15 pp m/m e +1,41 pp a/a, aumentando seu market share para 44,3%.
Por outro lado, as instituições públicas (ex-BNDES) reduziram sua participação em -0,08 pp m/m, com perda mais acentuada na comparação anual (-0,80 pp a/a), totalizando 34,2% de market share.

Concessão de Crédito: Recuo Mensal
As concessões de crédito totalizaram R$ 693 bilhões em maio, com recuo de -0,24% m/m, mas ainda com alta de +10,8% a/a.
As concessões livres somaram R$ 630 bilhões, avançando +0,3% m/m e +11,6% a/a. O desempenho do mês foi impulsionado pelas operações com pessoas jurídicas (PJ), que cresceram +2,9% m/m, enquanto às operações com pessoas físicas recuaram -1,6% m/m.
Apesar da queda mensal, o volume concedido segue acelerando na base anual, com alta de +11,6% a/a (vs. +10,5% em abril). O destaque segue com o segmento de pessoas jurídicas (PJ), que avançou +19,0% a/a, enquanto as operações com pessoas físicas (PF) cresceram +6,5% a/a no mesmo período.
Por fim, as concessões direcionadas somaram R$ 62,8 bilhões, recuando -5,6% m/m, mas ainda com alta de +3,6% a/a. O desempenho mensal negativo foi visto tanto nas operações com pessoas físicas (-0,5% m/m), quanto nas operações com pessoas jurídicas, que recuaram -11,4% m/m. Na comparação anual, o segmento de pessoas físicas também apresentou forte queda, recuando -15,4% a/a para R$ 35,0 bilhões, enquanto as operações com empresas avançaram +44,3% a/a para R$ 27,8 bilhões.

