A BRF irá reportar seu resultado do 3T24 no dia 13 de novembro, após o fechamento de mercado, e, neste relatório, apresentamos nossas expectativas para os números da companhia. Com uma projeção de crescimento sólido, estimamos que a receita líquida atinja R$15,3b Genial Est. (+10,9% a/a) e o EBITDA ajustado alcance R$2,7b Genial Est. (+126% a/a), sustentado por ganhos em eficiência operacional e uma demanda crescente por proteínas mais acessíveis (trade down de carne bovina para frango e suínos). Mesmo com a alta expressiva das ações (+80% YTD), somos confiantes que há mais ganhos de margem a serem extraídos, mesmo que em ritmo menos agressivo.
Valuation e recomendação. Destacamos ainda a expansão estratégica da BRF no Oriente Médio, por meio da aquisição na Addoha Poultry, que fortalece sua presença em mercados premium e complementa a parceria com a Marfrig no Brasil, ampliando a capilaridade e o valor agregado ao portfólio. Apesar de pressões pontuais, como o impacto da doença de Newcastle e a concorrência no mercado doméstico, a estrutura resiliente da BRF e seu foco em produtos processados e Halal devem sustentar o crescimento da companhia. Sob o descrito acima atrelado à negociação a um EV/EBITDA 25E de 6,2x, (vs. média histórica de 6,7x), reiteramos nossa recomendação de COMPRA, subindo o nosso Target Price 12M para R$28,00 (vs. R$27,50 anteriormente) com um upside de +15,65%.
BRFS3 Prévia 3T24
Projeções numéricas do 3T24.
No 3T24, projetamos uma Receita líquida total de R$15,3b Genial Est. (+2,6% t/t; +10,9% a/a). Estimamos um EBITDA ajustado de R$2,7b Genial Est. (+4,0% t/t; +126,1% a/a), representando uma expansão de +0,24 p.p. t/t e +9,06 p.p. a/a na margem, a qual deve atingir, assim, 17,8%. Projetamos ainda um Lucro líquido de R$1,1b, revertendo o prejuízo de R$262m visto no 3T23 e com leve recuo de -2,0% t/t.
Segmento Internacional beneficiado pela alta do dólar.
A expectativa de estabilidade nos preços médios em USD (+0,2% t/t) reflete a resiliência do mercado internacional após períodos de alta, especialmente impulsionados por mercados-chave como Reino Unido e Sudeste Asiático. Essa estabilização, embora positiva, evidencia uma demanda constante, mas sem crescimento expressivo em relação ao trimestre anterior. No mercado asiático, projetamos um incremento marginal no segmento de frango destinado principalmente à China, embora com espaço para melhorar nos preços médios históricos. Isso reforça que há potencial de crescimento adicional, especialmente à medida que o equilíbrio entre oferta e demanda na China sustenta gradualmente os preços.
Em moeda local (BRL), o preço realizado deve crescer (+4,8% t/t), impulsionado pelas vendas no mercado externo em USD, diante da apreciação do câmbio USD/BRL, o que melhora a competitividade das exportações da BRF e favorece um aumento no volume. Entretanto, esperamos que o incêndio ocorrido na planta Carambeí (PR), com capacidade de abate de ~300k aves/dia, impacte a produção planejada, com a unidade operando a cerca de 60% da capacidade ao final do trimestre. Esse fator reduziu temporariamente o volume de exportação, afetando a captura de demanda nos mercados prioritários.
Nos mercados Halal, incluindo Turquia e Golfo, a BRF segue expandindo sua participação em itens processados com foco nos nomes como Sadia e Banvit, buscando consolidar a presença de marcas fortes e ampliar o mix de produtos de maior valor agregado. Assim, embora a previsão ajustada para o crescimento de volume de vendas esteja resistente (+2,5% t/t), o cenário continua aquecido e apresenta potencial de recuperação gradual. Acreditamos que, para os próximos trimestres, o viés otimista permaneça, com expectativa de que as adversidades sejam superadas, como o retorno integral das atividades em Carambeí (PR) e final das restrições ligadas a doença de Newcastle.
Segmento Brasil sob benefício de tradedown.
Nossa expectativa é de um suave aumento nas vendas do Brasil (+1,8% t/t), impulsionado pela demanda contínua por proteínas de menor custo, como frango, devido ao (i) movimento de tradedown dos consumidores em um cenário econômico ainda ajustado. Esse comportamento reflete uma preferência por proteínas acessíveis, enquanto o portfólio de processados da BRF (70% das vendas domésticas) continua desempenhando um papel essencial para a companhia. Acreditamos que a manutenção desse segmento é apoiada pela baixa taxa de desemprego (6,4% em setembro) e uma leve expansão na renda média disponível (+0,4% t/t), ambos correlacionados positivamente ao consumo de produtos, sejam eles processados ou in natura.
Além disso, observamos que o aumento no spread de preço entre carnes vermelhas e frango indica uma tendência crescente dos consumidores em optar por proteínas mais acessíveis, especialmente em um (i) contexto de inflação alimentar alta e (ii) aumento do custo de vida em geral, reduzindo a disponibilidade da renda média. Esse spread reforça o papel do frango como proteína principal no consumo doméstico. Já em relação aos custos, vemos que os preços de soja e milho permanecem depreciados, com expectativas de excesso de oferta também para a safra 24/25. Dessa forma, vislumbramos a possibilidade de preservação das margens próximas de 18-17%, inclusive no segmento in natura.
EBITDA deve continuar expandindo, embora em um ritmo menor.
Projetamos um EBITDA consolidado de R$2,7b Genial Est. (+4,0% t/t; +126,1% a/a), sustentado por (i) avanços contínuos em eficiência operacional, atrelada à destaques como (ii) otimizações de logística e (iii) aprimoramento do mix de produtos. Apesar de um ambiente macroeconômico desafiador, com taxas de juros elevadas e pressão inflacionária no Brasil, a demanda por proteínas acessíveis e processados se mantém estável, impulsionada pela baixa taxa de desemprego e estabilidade na renda disponível.
A manutenção de preços elevados em processados, somada a uma taxa de câmbio USD/BRL favorável para exportações, deve contribuir para a expectativa de margem EBITDA sequencialmente semelhante (+0,24p.p. t/t), alinhado à alta no EBITDA ajustado (+4% t/t) demonstrando, dessa forma melhor capacidade de transformação de receita em capacidade de geração de caixa operacional da empresa.
Custo dos grãos ainda baixo e parcerias comerciais.
Segundo nossa visão, os custos de grãos e óleos devem permanecer sob controle, refletindo a capacidade da companhia de reduzir o COGS/t tanto no segmento Brasil (-1,5% t/t) quanto no Internacional (-1% t/t), apesar do aumento nominal de +2,9% t/t no COGS total. Além disso, o (i) remanejo de pontos de venda e as (ii) parcerias comerciais com marcas como Sadia e Bassi aumentam a capilaridade e fortalecem o portfólio da BRF, ampliando a penetração em ambos os segmentos. Essa estratégia, juntamente com o desempenho forte do segmento Internacional, deverá garantir um trimestre positivo e sólido para a companhia.
Nossa visão e recomendação
Doença de Newcastle e seus efeitos.
Por mais que o cenário de exportação seja positivo, esperamos que, devido à doença de Newcastle, haverá atenuações às condições ideias nos embarques para mercados premium como a China e a Arábia Saudita. Esses mercados são essenciais para a companhia, pois demandam cortes específicos, como asa e pés de frango, e oferecem preços mais elevados em comparação com outras regiões. A suspensão temporária das exportações para esses destinos deve representar uma perda importante, especialmente porque esses mercados costumam pagar um prêmio por produtos específicos, contribuindo para uma margem de rentabilidade superior.
Entretanto, em conversas recentes com a companhia, entendemos que a BRRF vem implementando uma estratégia de remanejamento, redirecionando parte da produção que estava destinada aos mercados premium para outras regiões, incluindo o Brasil. Embora acreditemos que essa readequação tenha ajudado a reduzir parcialmente a perda de receita, ela não deve ser suficiente para substituir completamente o volume e a rentabilidade que teriam sido obtidos nos mercados de maior valor agregado.
7 Tendências que são positivas e não estão inteiramente precificadas.
Acreditamos que investidores estejam mais avessos hoje a formarem novas posições compradas devido à alta agressiva das ações da BRF, que subiram +80% YTD. Por outro lado, somos confiantes em afirmar que ainda há mais por vir, mesmo que em um ritmo mais gradual daqui para frente. Projetamos que a BRF está bem-posicionada para capturar novas oportunidades de expansão, tanto no mercado doméstico quanto internacional. A (i) parceria estratégica com a Marfrig, focada na comercialização das marcas Bassi e Montana, deverá ampliar a capilaridade da BRF no Brasil, especialmente em (ii) canais de Autosserviço e pontos de venda.
Além desses fatores, vemos outros eventos que estão apenas parcialmente precificados. Entre eles, (iv) os valores depreciados de grãos, reduzindo os custose o (v) equilíbrio entre oferta e demanda no mercado global de frango, que deverá manter os preços de venda estáveis. Em ato contínuo, a companhia também deve capturar ganhos graduais de margem com a (vi) implementação do programa BRF+2.0 e o (vii) movimento de trade down nas proteínas, com consumidores migrando para opções mais acessíveis.
E o que pode dar errado?
Diante de múltiplos fatores listados acima, o nosso viés continua sendo otimista para BRF. Entretanto, alguns desafios merecem atenção em nossa análise. Acreditamos que a (i) pressão sobre os preços de venda nos mercados internacionais possa limitar a expansão de margens, mesmo que a taxa de câmbio USD/BRL permaneça favorável por mais tempo(o que é o nosso cenário base, devido a conjuntura fiscal no Brasil). Além disso, a (ii) concorrência intensa no mercado doméstico, onde players como a Seara (da JBS) atuam de forma agressiva. Embora, sabemos reconhecer que o mercado também, de forma geral, parece se comportar de forma mais racional na disputa entre preço e market share do que em ciclos altistas no passado.
Expansão estratégica no Oriente Médio.
Para nós, a aquisição de 26% da Addoha Poultry Company na Arábia Saudita firmada ao final de outubro representa um movimento estratégico com potenciais impactos significativos para a BRF. Primeiramente, essa participação reforça a posição da companhia no Oriente Médio, particularmente em um mercado chave como o Halal, alinhando-se com a agenda de segurança alimentar do país, uma prioridade para o governo saudita. Com o aporte inicial de SAR216,2m (~US$57,6m) na Addoha, a BRF não só expande sua presença, mas também ganha influência na gestão da empresa, o que pode gerar sinergias ao aplicar seu know-how no setor.
Acreditamos que esse investimento pode proporcionar à BRF uma vantagem competitiva significativa, fortalecendo seu acesso a um mercado que demanda produtos Halal e que possui alto potencial de crescimento. No médio e longo prazo, esperamos que essas sinergias contribuam positivamente para a margem, à medida que prêmios de venda se incidam mesmo se os custos de soja e milho eventualmente subirem, beneficiando as operações da BRF em um cenário global de crescente demanda por proteínas.
Dualidade implícita às eleições americanas.
Segundo nossa visão, a eleição de Donald Trump nos EUA e o possível aumento de políticas protecionistas contra a China podem abrir oportunidades estratégicas para a BRF. Se as exportações dos EUA para a China diminuírem, a demanda chinesa por proteínas brasileiras, como frango e suínos, pode crescer, impulsionando as vendas e as margens da BRF no mercado asiático. Esse cenário de tensões comerciais também pode pressionar os preços globais de proteínas, beneficiando exportadores como a BRF, enquanto uma taxa de câmbio USD/BRLvalorizada favorece suas receitas internacionais.
Por outro lado, o risco que também está implícito para nós e que, com os EUA buscando mercados alternativos após o rompimento das relações comerciais com a China, a BRF pode enfrentar maior concorrência em regiões como o Oriente Médio, golfo e América Latina, mediante a companhias exportadoras de frango e suínos migrando volume para esses mercados, exigindo uma estratégia de fortalecimento das marcas Sadia e Banvit.
De grão em grão, a galinha enche o papo.
Mesmo com a alta expressiva das ações (+80% YTD), somos confiantes que há mais ganhos de margem a serem extraídos, mesmo que em ritmo menos agressivo. Essa melhora gradual de margem, que pode chegar em 19% em 25E (vs. 17-18% atualmente), será sustentada por (i) ganhos em eficiência operacional com preços de grãos ainda depreciados na safra 24/25, (ii) tradedown cada vez mais intenso de proteínas na cesta de consumo, diante do forte aumento de preços da carne bovina no Brasil. Os preços de cortes bovinos chegaram uma elevação de +5,8% m/m em outubro, indicado pelo IBGE. Esperamos que a pressão continue indo para +16% a/a em 25E, bem acima da inflação geral. Tão logo, consumidores irão cada vez mais migrar a demanda para frangos e suínos. Além disso, destacamos o (iii) favorecimento da taxa e câmbio USD/BRL para as exportações.
Além disso, julgamos que a expansão estratégica no Oriente Médio, com a aquisição na Addoha Poultry, fortalece a posição da companhia em mercados premium e complementa sua parceria com a Marfrig no Brasil, ampliando capilaridade e valor agregado ao portfólio. Embora desafios como a doença de Newcastle e a concorrência doméstica levem a uma rentabilidade potencialmente inferior, a estrutura resiliente da BRF e o foco em produtos processados e Halal devem sustentar o crescimento. Reiteramos nossa recomendação de COMPRA, subindo o nosso Target Price 12M para R$28,00 (vs. R$27,50 anteriormente) com um upside de +15,65%.