Estamos alterando a nossa recomendação para COMPRAR das ações da Engie. Aos atuais níveis de preço, observamos a empresa negociando com uma taxa interna de retorno implícita de 10,3% em termos reais (vs. C. 5% em uma NTN-B). O retorno esperado aos atuais níveis de preço alcança 33,4% (potencial de valorização + dividendos esperados 22E) – nível muito interessante se considerarmos a qualidade da empresa em questão, alta capacidade de execução, melhora das perspectivas relacionadas ao déficit hídrico e potencial interessante de crescimento não apenas em seus negócios tradicionais de geração e transmissão de energia mas também por todo o potencial na TAG. Após o recente sell-off no mercado de ações brasileiras, consideramos as ações da Engie negociando abaixo dos R$40/ação como um bom ponto de entrada para investidores focados no investimento em empresas de alta qualidade e com bons retornos aos acionistas via dividendos combinados a voraz apetite por novos projetos.
Hidrologia: São Pedro ajudou!
Na leitura da empresa, o risco de racionamento para 2022 é quase nulo. Tal posição é derivada pela chuvas fortes nos últimos meses, que fez com que os níveis dos reservatórios fossem normalizados. Para além disso, a empresa também mencionou o ativismo/iniciativa da ONS no tratamento dos reservatórios e linhas de transmissão do subsistema norte/nordeste para atender a demanda da região sudeste, além do uso das termoelétricas durante todo esse período. Além disso, como já mencionado por praticamente todos os agentes do setor, a maior diversificação da matriz elétrica brasileira (menos expostas a hidroelétricas) em relação a 2001 também ajudou a evitar o pior dos cenários.
Regulação: despacho centralizado vs oferta de preços!
A empresa foi bem assertiva no seu posicionamento quanto a necessidade de mudar o modelo de precificação de energia elétrica no Brasil – mais especificamente, migrar do despacho centralizado para o modelo de oferta de preços (para maiores informações, deem uma lida no nosso início de cobertura do setor de geração de energia elétrica aqui) onde, em teoria, os preços de curto prazo seriam determinados pelos agentes (hidroelétricas, termoelétricas e etc) de maneira individualizada, considerando a demanda e a oferta (o nível dos seus reservatórios, no caso). Hoje, o preço da energia de curto prazo é determinado por modelos computacionais que consideram variáveis como nível dos reservatórios, expectativa de chuvas, entrada operacional de novas linhas ou capacidade de geração, etc. Entendemos que esse assunto é um tema um pouco espinhoso, pouco intuitivo e com muitos detalhes. Pretendemos escrever um documento e/ou programar um podcast para detalhar todas essas questões em um futuro breve.
Estratégia de Comercialização: Ainda na defesa e operando no contra-ataque
De acordo com a empresa, a estratégia de geração para 2022 vai continuar a ser conservadora: permanecerá deixando um espaço descontratado no seu portfólio de geração com o objetivo de se proteger de uma eventual piora no cenário hidrológico. O “contra-ataque” da empresa estará mais relacionado à aproveitar oportunidades de curto prazo do que obter contratos de mais longo prazo, à despeito dos preços exercidos atualmente.
Revisão das Garantias físicas foi outro ponto mencionado pela diretoria da empresa. Essencialmente, a empresa acha que as atuais capacidades asseguradas das geradoras (aquela quantidade em MWh médios que a empresa afirma gerar com 99% de certeza) pode estar superestimada. Você se lembra da fórmula do GSF?
Então, uma capacidade assegurada superestimada (que na prática está gerando muito abaixo do que aquilo que os ativos dizem gerar) gera uma expectativa irrealista em relação à oferta e atendimento a demanda da energia. Sempre que essa geração real vem abaixo daquilo que é considerado nas capacidades asseguradas das hidroelétricas, aumenta o rombo financeiro do GSF. Ou seja, as hidroelétricas são obrigadas a comprar energia no mercado à vista para honrar seus contratos – algo indesejado por aqueles que tem suas geradoras com uma geração apropriada as suas capacidades asseguradas. No bom e velho português: o justo pagando pelo pecador. A empresa não citou nominalmente o eventual impacto dessas revisões nos seus próprios ativos, mas disse que se sente confortável com todo esse processo.
Transmissão: transmitindo boas energias
Como principais destaques relacionadas ao braço de transmissão de energia da empresa, ressaltamos a entrada operacional do projeto Gralha Azul com 18 meses de antecedência em relação ao prazo regulatório determinado pela ANEEL. Além disso, existe a confiança na entrada operacional da segunda linha em desenvolvimento com antecedência em relação ao cronograma regulatório. No que diz respeito à crescimento, a empresa citou o interesse nos lotes 01 e 04 que vão rolar ser oferecidos no próximo leilão de transmissão, que acontece no próximo dia 17 de dezembro (vamos publicar uma nota em relação as nossas expectativa para esse leilão) – algo que observamos como muito positivo, tendo em vista as sinergias operacionais dos lotes em questão com as atuais operações da empresa, fator esse que deve operar como um interessante diferencial competitivo por parte da Engie em relação aos competidores no processo licitatório.
TAG e mercado de gás: oportunidades de crescimento
Consideramos essa apresentação a mais interessante para o case de abertura de mercado do gás, à medida que a empresa endereçou diversas questões em relação as estratégias de crescimento do negócio. Dentre os pontos, citamos os investimentos de R$1,5 bilhões focados não apenas na manutenção do negócio mas também na expansão da infraestrutura de gás da empresa e aumento dos esforços da interconexão da sua malha. Citaram também o primeiro contrato da empresa para além da Petrobrás, com a empresa Unigel (empresa da indústria química com foco em acrílicos, fertilizantes hidrogenados e outros). Chama a atenção a evolução do negócio com iniciativas relacionadas ao aumento de capacidade da própria TAG, esforços para acelerar a abertura do mercado de gás e início da compra de gás de outros agentes com objetivo de recomposição de portfólio. Vale lembrar que a abertura do mercado de gás está em seus primeiros momentos e esperamos diversas oportunidades ao longo dos próximos anos à medida que a disponibilidade do gasoduto da empresa está na casa dos 20%.
Agenda ESG
Como principais pontos relacionados a agenda ESG, a empresa mencionou os R$260 milhões aportados pela empresa em projetos sociais no Brasil nos últimos anos e R$14 milhões doados à causas de saúde para enfrentar as questões referentes à pandemia. Como principais projetos, citamos o “Mulheres do nosso Bairro” que tem como objetivo de incentivar o empreendedorismo em mulheres, investimento em centros culturais em cidades com mais de cem mil habitantes e projetos de educação com foco na redução da evasão escolar. Finalmente, do ponto de vista mais corporativo, ressaltamos a recente venda da Termoelétrica Carlos Lacerda, demonstrando o compromisso da empresa na transição energética da empresa para uma matriz mais limpa e não poluente.
Para aqueles que tiverem um pouco mais de tempo e paciência, sugerimos darem uma olhada no vídeo da apresentação (duração 3 horas e 30 minutos) caso queiram tirar as suas próprias conclusões em relação ao que foi dito no video.