O IRB reportou mais um trimestre de prejuízo, colocando a resseguradora mais uma vez no limite regulatório de cobertura de provisões técnicas e liquidez de apenas R$ 17m, em comparação a R$ 236m no 4T21. O lucro reportado no 1T22 foi de R$ 80,5m, mas feitos os ajustes de ganhos não-recorrentes no valor R$ 135m majoritariamente vindos de ganhos de ações judiciais, o prejuízo líquido foi de R$ 54,5m.
De uma forma geral, seguimos pouco otimistas com o IRB para 2022. Dentre as razões estão: (i) constante consumo de capital e necessidade de novos aportes; (ii) continuidade dos impactos de contratos descontinuados (efeito cauda); (iii) incerteza em relação ao ROE (retorno sobre patrimônio) de longo prazo; e, (iv) pressão na sinistralidade do seguro rural. Ao valuation de 0,9x P/VP 22 reiteramos a recomendação de VENDER.
Prêmios: foco no Brasil mas sem crescimento total
O prêmio emitido caiu 2,8% t/t e subiu 3,9% a/a. O fraco crescimento anual se deve principalmente ao menor volume de prêmios emitidos no exterior, que caíram 13,7% a/a. No Brasil os prêmios emitidos subiram 18,8% a/a. O IRB vem sinalizando interesse em manter maior foco nas operações brasileiras, justificando a queda nos prêmios emitidos no exterior.
Retrocessão: impactada pelo LPT
As despesas com retrocessão caíram 55,8% t/t e aumentaram 53,1% a/a. O crescimento anual é resultado de uma operação de LPT (loss portfolio transfer), que agravou a linha de prêmio retrocedido em R$ 218,8m. O LPT corresponde a uma operação na qual um segurador cede apólices e seus riscos a um outro segurador. Geralmente nas operações de LPT, as apólices envolvidas nas transferências já incorreram em perdas.
Sinistralidade: reflexo do rural
Assim como já esperávamos, a sinistralidade do IRB continuou elevada em 81%, uma alta de 8,9 pp a/a e queda de 42,4 pp t/t. A alta sinistralidade é reflexo do resultado do segmento rural e incremento de sinistros por Covid. Os sinistros no rural foram fruto de perdas com o cultivo de soja na região sul e centro-oeste. Já havíamos antecipado a maior pressão no sinistro rural após o resultado de BB Seg, que é a principal cliente do IRB no segmento.
Financeiro: empurrão da selic
O resultado financeiro do IRB cresceu 53,9% t/t e 150,6% a/a. O bom desempenho foi reflexo da elevação da Selic, contribuição da variação cambial negativa do período, carteira de investimentos e receita de gestão da IRB Asset.
Lucro: impactado por não recorrentes
O lucro contábil do IRB foi de R$ 80m, mas ajustado por itens não recorrentes a companhia apresentou um prejuízo de R$ 55m. O lucro contábil foi positivamente impactado pelos ganhos de ações judiciais em janeiro e março e operação de LPT. As ações judiciais resultaram em um incremento de R$ 150m no lucro.
Suficiência de capital: no limite
A suficiência no enquadramento de cobertura de provisões técnicas e de liquidez do IRB atingiu R$ 17m (vs. 236m em dez/21). Na nossa avaliação em virtude dos subsequentes prejuízos, o IRB provavelmente precisará de um novo aumento de capital ou emissão de dívida.
O IRB já teve que realizar duas emissões de debêntures para recompor seu capital regulatório, além de um pequeno aumento de capital de R$ 59m. As emissões de 2020 totalizaram aproximadamente R$ 827m. Com continuidade dos prejuízos é provável que novas dívidas sejam emitidas, o que tende a pressionar o resultado líquido da companhia mais a frente aumentando ainda mais a incerteza sobre o ROE de longo prazo.
As alternativas para melhorar a estrutura de capital incluem: (i) operações estruturadas redutoras de provisões ou outros mecanismos de transferência de carteiras em run-off; (ii) vendas de imóveis; (iii) redução de capital ocioso em subsidiárias; (iv) emissão de dívida subordinada; e (v) subscrição de ações, entre outros. Todas alternativas, de certa forma, nocivas ao acionista minoritário por conta de uma eventual diluição ou por uma menor rentabilidade final.