O resultado do IRB do 4T21 com prejuízo de R$ 370,9m veio abaixo das nossas expectativas e do mercado, que eram de R$ 68m e R$ 93m negativos, respectivamente. Grande parte do prejuízo pôde ser explicado pela continuidade da alta sinistralidade de contratos descontinuados e de seguros rurais. O índice de sinistralidade no 4T21 foi de 123,5%, um crescimento de 31,4 pp a/a e 4,19 pp t/t. Prêmio emitido também teve um fraco desempenho, basicamente sem crescimento a/a.
Com o resultado fraco, continuamos reticentes com a ação, em função de: (i) incerteza em relação ao ROE (retorno sobre patrimônio) de longo prazo; (ii) continuidade de impactos de contratos descontinuados ao longo de 2022 e 2023 (efeito cauda); (iii) consumo de capital com prejuízos incessantes e necessidade de novos aportes; (iv) pressão na sinistralidade do resseguro rural em função da alta quantidade de avisos de sinistros no final de 2021 e provavelmente se estendendo para 2022. Dado cenário negativo, seguimos com recomendação de VENDER com preço-alvo (PA) de R$ 2,8.
Sinistros: impactos pelo efeito cauda
Os sinistros no 4T21 cresceram 53,7% a/a, impulsionando o índice de sinistralidade e prejudicando a rentabilidade. O crescimento se deve a elevação dos avisos de sinistros que a companhia recebeu no período. Esse aumento está atribuido a continuidade da elevada sinistralidade em contratos descontinuados, ocorrências pontuais em algumas linhas de negócio e de sinistros contradados em anos de subscrição anteriores.
O sinistro no Brasil acelerou mais acentuadamente do que o no exterior, tendo crescido 75,3% a/a e atingindo um índice de sinistralidade dos impressionantes 228%. O desempenho fraco está atribuido a seguros rurais, patrimoniais e de aviação. No rural, perdas no milho safrinha com geadas, estiagem e calendário de plantio tardio, geraram grandes prejuízos. A pressão de sinistros em seguros rurais pode se estender no 1T22. Com a seca no Sul do país no final de 2021, o volume de avisos de sinistros em dez/21 superaram o dos 12 meses anteriores, segundo FenSeg. No início de 2022, houve a ocorrência de chuvas em excesso, que também deve gerar perdas.
No exterior o sinistro teve crescimento de 49,8% a/a com índice de sinistralidade de 130,4%. A alta sinistralidade é reflexo de contratos já descontinuados. Como após serem descontinuados a seguradora mantém sua obrigação até o final do contrato, ele segue impactando o resultado. A descontinuação refere-se somente a não renovação daquele contrato. Segundo a empresa, os contratos descontinuados devem se estender até 2023, devendo continuar impactando o resultado.
Suficiência de capital: pressionada por prejuízos
Com prejuízos constantes, acreditamos ser cada vez mais provável que o IRB precise levantar capital para recompor a suficiência. A suficiência de capital terminou o 4T21 em somente R$ 89,6m (vs. R$ 167m no 4T20). Para reforçar a estrutura de capital e elevar este indicador regulatório a administração vem tomando medidas como: (i) realizar operações estruturadas redutoras de provisões ou transferência de carteiras; (ii) vendas de participações imobiliárias; (iii) redução de capital ocioso em subsidiárias (iv) emissão de dívida subordinada, e (v) subscrição de ações.
O IRB já teve que realizar duas emissões de debêntures para recompor seu capital regulatório, além de um pequeno aumento de capital de R$ 59m. As emissões de 2020 totalizaram aproximadamente R$ 827m. Com continuidade dos prejuízos é provável que novas dívidas sejam emitidas, o que tende a pressionar o resultado da companhia mais a frente aumentando ainda mais a incerteza sobre o ROE de longo prazo.
2022 no azul?
Segundo CEO Raphael de Carvalho que assumiu o IRB em set/21 em entrevista ao Brazil Journal, a empresa espera ter um resultado positivo em 2022. Em 2021, a administração do IRB, na época conduzida pelo Antonio Cassio, também sinalizou que teríamos um ano positivo. O ano de 2021 terminou com prejuízo de R$ 681,7m.
Contudo, acreditamos ser plausível um avanço nos resultados em 2022 como a melhora de sinistralidade e resultado financeiro mais favorável. A sinistralidade deve arrefecer com o término de vigência de parte dos contratos descontinuados, melhora da sinistralidade do seguro rural no consolidado anual e das carteiras de vida com menos óbitos decorrentes da pandemia.
O resultado financeiro deve ser impulsionado pela elevação da Selic média, que foi de 4,39% em 2021 e deve subir para 11,13% segundo nossas expectativas. O resultado financeiro já teve uma melhora considerável a/a no 4T21, com R$ 168,6m de resultado (vs. R$ 160,3 no 4T20).
Apesar de esperarmos resultados melhores em 22 e 23, a sinistralidade ainda elevada em comparação a períodos normalizados, potencial necessidade de emissão de dívida e incerteza de ROE de longo prazo, fazem com que reiteremos a recomendação de VENDER.