Neste relatório, compartilhamos nossas impressões e os principais insights obtidos durante nossos encontros com investidores institucionais e o time de Relações com Investidores e Inteligência de Mercado do Itaú (NDR – non deal roadshow) em São Paulo.
No geral, os investidores demonstraram satisfação com o desempenho consistente do Itaú ao longo deste ciclo de crédito, destacando uma rentabilidade robusta, acima da média do setor, com um ROE maior que 20%. O time de RI reiterou que o banco está em um bom momento, com o meio do guidance representando a melhor estimativa de desempenho para 2024 até o momento. Do lado mais otimista, desde a teleconferência de resultados do 4T23, o banco tem observado uma leve melhoria no cenário econômico, o que poderia acelerar o processo de recuperação no ciclo de inadimplência e eventualmente, resultar em um crescimento acima do estimado. Além disso, com mudanças significativas no cenário competitivo, o banco está otimista em explorar potenciais oportunidades de ganho de market share.
O banco planeja dois grandes lançamentos que podem se tornar novos motores de crescimento nos próximos trimestres e que não estão contemplados no guidance de 2024: (1) One Itaú, um único app com todos os produtos do Itaú que substituirá os vários aplicativos do banco, desenhado para aumentar o cross-selling de produtos de forma modular (lançamento este semestre); (2) Atlas, um aplicativo voltado para pequenas e médias empresas (PME) para atender à demanda reprimida por serviços digitais de baixo custo (em teste com alguns clientes). Com o banco bem-posicionado e um desempenho robusto, a gestão do banco está dedicando mais tempo a questões de longo prazo, como cultura, clientes, tecnologia e recursos humanos, o que deve continuar impulsionando a competitividade do Itaú.
Para 2024, espera-se que o banco registre um crescimento da carteira, com um aumento na participação das Pequenas e Médias Empresas (PMEs), uma elevação do Net Interest Income (NII), uma Margem Financeira Líquida (NIM) resiliente e uma provisão para devedores duvidosos (PDD) mais controlada. Com base nessas expectativas, nossa previsão é que o banco mantenha a rentabilidade (ROE) em níveis elevados (acima de 20%) e apresente um payout de, pelo menos, algo próximo ao de 2023 (60%).
Guidance e Simulação do Lucro para 2024
Os tópicos abordados nesse relatório são:
- Tecnologia e novos produtos: One Itaú, Atlas e CRM com AI
- Crescimento da carteira de crédito
- Receita de juros (NII)
- Qualidade da carteira
- Ambiente competitivo
- Payout
- Eficiência
- Carteira de veículos
Com mais um ano de bons resultados e iniciativas estruturantes, reiteramos nossa recomendação de COMPRAR com preço-alvo de R$ 40,60 para o final de 2024. Na nossa avaliação, as ações do Itaú ainda negociam com valuation atrativo, com um P/L de 8,5x para 2024 e um P/VP de 1,77x em 2024.
One Itaú, Atlas e CRM: Novos produtos para fortalecer as barreiras competitivas
One Itaú
O Super App One Itaú será lançado no primeiro semestre desse ano, com o objetivo de integrar todos os aplicativos em um único app. Com 70 milhões de clientes, aproximadamente 40 milhões possuem apenas um produto do banco. O conceito é aumentar o cross-selling sem fricção ou atritos com o cliente. De início, o Itaú já mapeou cerca de 10 milhões de clientes com potencial para ter um relacionamento de full banking com o banco. Com o super app, as ofertas de produtos poderão ser feitas e, se aceitas, os módulos dos produtos aceitos serão destravados, sem necessidade de novos downloads e onboarding.
Atlas
O aplicativo será direcionado para Pequenas e Médias Empresas (PMEs), com o objetivo de oferecer uma proposta digital de valor complementar ao portfólio de soluções para esse segmento. A meta é aprimorar o engajamento dos clientes nesse segmento, que é mal atendido pelo mercado.
Existem algumas fintechs atuando no segmento, porém com uma oferta limitada de produtos e capital.
O produto está em teste piloto com alguns clientes e deve ser lançado em breve para um público maior com a previsão de lançamento para o segundo semestre de 2024.
CRM / IA
O desenvolvimento de um CRM robusto permite a visualização do LTV (life time value), a quantificação de métricas de engajamento e a geração de relatórios que indicam quais produtos são mais adequados para cada cliente, otimizando assim a área comercial por meio da personalização do atendimento. O gerente chega no banco sabendo o que vender e pra quem vender.
Todas as chamadas com os clientes são gravadas, transcritas e armazenadas no datalake. O banco está testando o uso de scripts de vendas baseados em inteligência artificial (IA) em seu CRM com diversos gerentes. Esse foco em IA faz parte dos esforços do banco para aprimorar a eficiência e a personalização do atendimento ao cliente.
Crescimento: Itaú quer crescer
Com a inadimplência sob controle e boa rentabilidade, o banco pretende acelerar o crescimento nos próximos anos. Hoje, a principal limitação para a expansão da carteira de crédito reside na falta de demanda dos clientes pertencentes aos segmentos que buscam crescimento.
No entanto, o Itaú não pretende alterar seu apetite de risco por enquanto. Com a economia melhorando, o banco espera que mais gente se qualifique a tomar crédito com a instituição. O Itaú acredita que o crescimento está saudável, realizando dois processos importantes para a longevidade dos resultados: (i) crescendo mais de dois dígitos onde querem crescer e (ii) limpando a carteira onde não tem interesse.
A carteira expandida do banco cresceu apenas 3,1% em 2023. Para 2024, o guidance de crescimento de crédito é de 8% (faixa entre 6,5% e 9,5%), com uma tendência de crescimento mais acentuada no segmento de pessoas jurídicas (PJ) em comparação com o segmento de pessoas físicas (PF).
Receita de Juros (NII, NIM): Crescimento de NII 2024
Em relação a NIM (margem financeira), é esperado que o mix da carteira tenha mais representatividade de Grandes empresas e Pequenas e Médias empresas (PMEs) nesse ano, o que pode ser um detrator da margem financeira. Ainda assim, a expectativa é que a NIM deva ficar estável no exercício de 2024.
Apesar da expectativa da queda da taxa Selic, o banco acredita que o NII (receita de juros líquida) seja resiliente no ano, especialmente pelo crescimento do volume de crédito perto de 8% a/a e pela dinâmica de hedge de juros (travamento dos spreads nas áreas comerciais e direcionamento do risco para banking e tesouraria).
O banco espera uma desaceleração no crescimento da Margem Financeira com Cliente de 12,5% em 2023 para o guidance de crescimento entre 5,5% e 8,5%.
Qualidade da Carteira: Em 2024, o custo de crédito deve cair cerca de R$ 2b apesar da carteira crescer 8% a/a
Dependendo da evolução da economia, a melhora no custo de crédito pode ser um dos principais destravadores de valor no ano de 2024 em relação ao guidance. A gestão está confortável com o range de custo de crédito apresentado no guidance divulgado no resultado do 4T23, representando uma queda de cerca de -R$ 2b a/a, a despeito da aceleração na concessão de crédito e subsequente provisionamento antecipatório de perda esperada.
O banco planeja continuar fazendo write-offs (baixas de ativos) nos próximos trimestres, dando continuidade no movimento de limpeza da carteira de crédito, sem muita renegociação de créditos problemáticos, principalmente em segmentos que não são foco, e trazendo perspectivas positivas para a formação de NPL (inadimplência) da companhia.
Além do mais, segundo a gestão, o apetite ao risco não deve se alterar drasticamente no ano.
Ambiente Competitivo: Bem-preparado
Com relação ao cenário atual do setor bancário, o Itaú afirmou que o ganho de market share que obteve nos últimos anos, especialmente no segmento de varejo, foi atribuído ao amplo portfólio de produtos e à priorização da qualidade dos serviços.
Ao longo dos próximos anos, a estratégia será focar nas ineficiências dos concorrentes e continuar a expandir sua participação nos segmentos de atacado e varejo.
Pessoa Jurídica (PJ)
Foi colocado que uma possível avenida de crescimento da carteira do banco é no segmento de PME (pequenas e médias empresas), especialmente com empresas de menor porte, já que ainda não apresentam grande capilaridade dentro do segmento.
O banco começou a melhorar o atacado de cima para baixo, ou seja do Corporate, passando para o Middle e por fim o segmento de pequenas empresas. Atualmente, o banco divide o segmento PME em função do perfil e tamanho da empresa, o que proporciona ajustes na oferta de serviços mais adequados a cada perfil.
O resultado no PME tem ficado em níveis elevados de rentabilidade, com ROE acima da média do conglomerado. A gestão apontou que planeja ser forte na vertical de empresas de menor porte assim como é nas de médio porte. No entanto, não irão entrar no MEI (microempreendedor) por enquanto.
Por fim, a instituição acredita que os altos níveis atuais de ROE do atacado são estruturais e não veem mudanças na rentabilidade no curto prazo, além de enxergarem a inadimplência (NPL) em níveis saudáveis, sem perspectiva de subir em 2024.
Os dois novos fatores que contribuem para a sustentabilidade da rentabilidade no segmento são:
- Entrada no Middle Market – Spreads e ROE maiores do que no Large Corporate.
- Exposição ao Agro – Melhor rentabilidade e menor índice de Inadimplência (NPL), apesar das quebras de safra no Centro-Oeste. O time de agro conta com 700 bankers e uma carteira de R$ 100 bilhões, incluindo toda a cadeia agro.
O banco destaca que sempre sofreram ataques de todos os concorrentes no segmento e entendem que estão mais bem preparados para evitar alguma perda de market share, já que estão com propostas de valor bem atrativas para o segmento. Em crédito, o Itaú compete mais com o Santander e o Bradesco no segmento atacado. O banco compete em Investment Banking (IB) com a BTG, mas a BTG não tem grande presença em crédito.
Íon
A vertical de investimentos está entregando bons resultados, atraindo ativos de concorrentes, em contraste com o passado em que o Itaú atuava predominantemente como doador de custódia. A plataforma está performando acima do esperado, tanto em NPS quanto em captação.
Atualmente o Íon conta com uma prateleira completa de produtos e assessoria de investimentos especializada, com metas alinhadas ao cliente como performance do portfólio. A remuneração é baseada exclusivamente em duas métricas: volume (independentemente do produto) e satisfação (NPS, desvio em relação ao portfólio-alvo). O banco acredita que o incentivo determina a atitude do assessor.
O Íon conta com 2.3 mil assessores e mais de 130 escritórios, em uma estrutura que abrange agências e centros de investimento. O Íon estrutura os investimentos de pessoa física, com um grande overlap com o Personalité se estendendo até a média renda.
Os juros altos ajudaram Itaú na capitação de clientes em muitos produtos de renda fixa (CDB, produtos incentivados como CRI, CRA, LCI e LCA).
Private / Alta Renda
O banco captou ativos de forma significativa no segmento private/alta renda nesses últimos anos.
O segmento de Wealth é diferente do segmento alta-renda. Apesar dos desafios de se criar um perfil Personalité, banco possui uma ampla adesão dos clientes, além da grande segmentação do alta-renda até o private. No segmento private, é necessário oferecer uma variedade maior de produtos, com um nível de customização mais elevado, adaptado aos diferentes tipos de clientes.
No private, existem dois modelos de comissionamento: i) taxa fixa integral sobre os Ativos sob Gestão (por exemplo, 2%); ii) taxa menor, mas com cobrança de uma comissão por transação.
Varejo
Há a percepção de que o mercado pode hesitar em acelerar no segmento massificado, pois existe o risco de uma deterioração inicial antes de uma melhoria substancial, ou seja: “First Mover, First Loser” (aqueles que agem primeiro podem ser os primeiros a perder dinheiro). O massificado baixa renda não é foco para o Itaú.
No varejo, o Itaú compete diretamente com o Bradesco, Santander e Banco do Brasil (especialmente no segmento de funcionários públicos). Não competem diretamente com o NuBank.
Payout: Com capital robusto, dividendos devem ser atrativos
O banco explicou os motivos que o levou a encerrar 2023 com “excesso de capital” que não foi distribuído (12,8% de capital principal, acima dos 12% target). Tratou-se de uma reserva separada para: (i) sustentar a retomada das operações estruturadas da tesouraria – que ocorrem sazonalmente no primeiro trimestre de cada ano; e (ii) precaução de um possível cenário de reforma de tributação – encerramento do JCP, taxação de dividendos e diminuição na alíquota de IRPJ e CSLL em contraparte – que poderia consumir de 60-70bps do capital principal na visão da gestão.
Para 2024, o Itaú espera que a continuidade de níveis robustos de ROE deve levar ao crescimento do RWA e do capital regulamentar, o que permitirá uma forte distribuição de proventos, já que não planejam reter capital desnecessariamente. O desejo é de distribuir tudo o que exceder 12% do capital principal.
Desse modo, o banco deve conseguir entregar um payout atrativo neste ano, algo próximo da casa de 2023 de 60% ou mais.
Eficiência: Consequência dos Investimentos em Tecnologia
Em relação aos índices de eficiência e ao custo de servir, o Itaú tem colhido frutos dos investimentos em tecnologia feitos no passado – migrar cada vez mais para o digital com o intuito de deixar a estrutura operacional da empresa mais leve – especialmente no atendimento do varejo e pequenas empresas. O banco pretende migrar quase 100% de seus sistemas para nuvem, com o principal dos investimentos terminando até o final de 2025.
Com 95 mil colaboradores, o número de funcionários do banco não variou significativamente desde 2019, quando estava em 100 mil. No entanto, houve uma mudança substancial na composição da equipe. O contingente de funcionários de tecnologia aumentou de 5 mil em 2019 para 15,5 mil em 2023. Além disso, o Íon, uma iniciativa estratégica do banco, conta com 2 mil colaboradores, enquanto o time Agro agora possui 700 gerentes dedicados e o setor de Seguros cresceu para 2 mil funcionários.
Carteira de Veículos: Crescimento excessivo na pandemia
O banco reconheceu que a expansão agressiva na carteira de veículos durante os períodos da pandemia foi um erro. No entanto, agiu rapidamente para corrigir o problema, minimizando o impacto negativo. Para 2024, a linha de crédito será direcionada apenas aos segmentos de clientes principais do banco, sem planos de expansão para além desse escopo. Portanto, é esperado um crescimento abaixo da média na carteira de veículos neste segmento.