Após uma reunião com investidores, liderada por Gustavo Rodrigues (Head de RI) e Pedro Manzano (RI), consolidamos nossas principais impressões sobre o encontro, abrangendo desdobramentos operacionais, estratégicos e detalhes sobre produtos. A reunião reforçou nossa tese de que o Itaú atravessa um momento operacional sólido, com potencial para manter um ROE elevado ao longo de 2025. Há, inclusive, possibilidade de uma leve expansão de ROE, impulsionada pelo pagamento generoso e extraordinário de dividendos esperado para o 1T25, o que, segundo nossas projeções, resultaria em um crescimento de lucro na casa de dois dígitos baixos (próximo a 10%) em 2025.
Após uma reunião com investidores, liderada por Gustavo Rodrigues (Head de RI) e Pedro Manzano (RI), consolidamos nossas principais impressões do encontro, desdobramentos operacionais e estratégicos, assim como mais detalhes de produtos. O encontro reforçou nossa tese de que o banco passa por um bom momento operacional, com capacidade de manter um ROE elevado ao longo de 2025, com a possibilidade de uma leve expansão, principalmente após o pagamento extraordinário de dividendos esperada para 1T25, o que, em nossas projeções, resultaria em um crescimento de lucro nos dois dígitos baixos (próximo a 10%).
No curto prazo, a qualidade da carteira Pessoa Física continua melhorando, ao contrário de alguns rivais, fazendo com que o banco consiga voltar a crescer em cartões e outras linhas com maior taxa. Além disso, o segmento de veículos deve acelerar após o marco legal das garantias (outubro de 2023) tornar os processos de recuperação de bens mais eficientes, criando condições para maior expansão dessa linha de crédito. Com a inadimplência sob controle, o custo de crédito deve crescer em um ritmo mais lento do que a expansão da carteira de crédito, que tem projeção de ultrapassar 10% em 2025.
O super app One Itaú, que apresenta potencial transformador, pode ser uma surpresa positiva para 2025-2026, ainda não contemplado nas estimativas atuais. Com uma estratégia centrada na personalização e no aumento do cross-selling, o banco projeta atingir 15 milhões de usuários até o final de 2025. A plataforma busca oferecer uma experiência integrada e altamente customizada, adaptando produtos e serviços às necessidades específicas de cada cliente, reforçando a fidelização e gerando novas oportunidades de receita.
Reiteramos o Itaú como nossa principal recomendação no setor bancário.
Mix de Crédito Mais Equilibrado para 2025, com Crescimento Moderado
Com a conclusão do processo de de-risking da carteira de cartões, espera-se que a carteira de crédito para pessoa física entregue um desempenho mais sólido em 2025, revertendo a volatilidade observada em 2024, como já sinalizado no 3T24. No segmento de atacado, a expectativa é de uma desaceleração no ritmo de crescimento, movimento que também foi evidenciado no último trimestre. Esse contexto favorece a construção de um mix de crédito mais equilibrado e sustentável para 2025, contrastando com a dinâmica desafiadora registrada ao longo de 2024.
Um ponto adicional de destaque é a nova lei das garantias para empréstimos de veículos, que traz perspectivas positivas para o setor. Mesmo com a esteira de recuperação ainda em fase de maturação, os bancos já estão ampliando a concessão de crédito nessa modalidade, indicando um potencial de crescimento relevante à medida que o novo marco regulatório se consolida.
Provisões e Custo de Crédito Devem Crescer Menos que a Carteira
Com a qualidade da carteira sob controle, o crescimento das provisões em 2025 tende a ser inferior ao ritmo de expansão da carteira de crédito, sustentado por um portfólio mais equilibrado e de menor risco de inadimplência.
Adicionalmente, a Resolução CMN 4.966, que exige a adoção do modelo de perdas esperadas, não deve trazer impactos adicionais ao patrimônio líquido ou ao PDD do Itaú, já que o banco implementa práticas alinhadas a esse modelo desde 2010. A inadimplência continua em níveis historicamente baixos, apesar do elevado endividamento no segmento de baixa renda, que o Itau tem menor exposição em relação a concorrência.
O segmento massificado de baixa renda continua sendo alvo de maior desenvolvimento dentro do Itau. A redução do comprometimento de renda ao longo desde 2023 tem sido mais atribuída a write-offs (baixa para prejuízo) do que a uma melhoria efetiva nos níveis de endividamento, indicando a manutenção de uma abordagem conservadora na gestão de riscos.
Dividendos Extraordinários: Pressão sobre NIM do 1T25, Mas Melhora no ROE e Yield de 5%
Com a atual estratégia de maximização de JCP ao longo dos trimestres para otimizar benefícios fiscais, o banco acumula uma substancial reserva de capital excedente, significativamente acima do capital principal mínimo requerido de 7%. No entanto, acreditamos que o banco deve manter um buffer adicional para se precaver contra potenciais mudanças regulatórias e macroeconômicas. Com isso, o capital principal após o pagamento dos dividendos deve ser elevado para 12,5%. Essa posição confortável permite a possibilidade de uma interessante distribuição extraordinária de dividendos, que deverá ser anunciada juntamente com os resultados do 4T24, no 1T25.
Esse pagamento expressivo tende a reduzir a base de ativos rentáveis, o que pode gerar pressão sobre o NIM (margem financeira líquida) no 1T25. Em contrapartida, a diminuição do capital disponível deve impulsionar o ROE (retorno sobre o patrimônio líquido). De acordo com nossas projeções, a combinação entre JCP e dividendos extraordinários deve resultar em um dividend-yield atrativo de 6,4% isoladamente para o 4T24.
Sentimento do Investidor Estrangeiro Não É Favorável ao Brasil
Durante a reunião, a gestão compartilhou suas impressões sobre o humor do investidor estrangeiro, obtidas em suas recentes passagens com investidores em Londres e Nova Iorque. A percepção predominante é de cautela e incerteza em relação ao governo brasileiro e à política fiscal, fatores que têm limitado o fluxo positivo de investimentos no mercado de capitais do país.
Itaú One: Potencial Transformador e Surpresas Positivas no Rollout
O crescimento acelerado do número de clientes que adotaram o Itaú One tem surpreendido positivamente a gestão, especialmente por se tratar de um processo de migração não forçado. Atualmente, o super app já conta com cerca de 2,5 milhões de usuários, e a expectativa é que essa base alcance 5 milhões até o final de 2024. Para 2025, o objetivo é concluir a migração de 15 milhões de clientes selecionados, consolidando o Itaú One como uma plataforma central para integrar e personalizar a experiência dos usuários, além de impulsionar o cross-selling e aumentar o engajamento.
Com o potencial de dobrar o número de clientes nos segmentos Uniclass e Personalité, os mais rentáveis da Pessoa Física, o Itaú One se posiciona para intensificar a concorrência nesses nichos de alta renda. O banco está focado em atrair usuários de cartão de crédito sem principalidade com a instituição, mas com elevado potencial de cross-selling, buscando maximizar a rentabilidade e o engajamento desses clientes.
Embora o banco não reporte mais o número de clientes nos segmentos Uniclass e Personalité, os dados divulgados há um ano indicavam 1,5 milhão de clientes no Personalité e 4,5 milhões no Uniclass, mostrando a relevância desses públicos para a estratégia de crescimento do Itaú. A expansão esperada para o Itaú One pode ser um diferencial competitivo na captura e fidelização de clientes premium, reforçando o posicionamento do banco nesses mercados.
Dinâmica da carteira por produto: Veículos performando bem
Em originação de crédito, o banco entende que está próximo do mix de crédito desejável, e que não devem ocorrer grandes mudanças na composição das concessões para o próximo ano, o que deve levar o Itaú a ter um mix de crédito mais equilibrado, com aceleração de crédito de Pessoas Física e arrefecimento do Atacado.
Na pessoa física, o Itaú tem originado consideravelmente mais no alta renda, com cerca de 70% sendo proveniente do Personnalité e Uniclass, e os 30% remanescentes das agências convencionais.
Durante a reunião, a gestão destacou os principais fatores que têm influenciado as diversas modalidades de crédito:
- Consignado INSS: Segue sob pressão, devido a abertura da curva pré que aumenta o custo de funding, até que o governo reajuste para cima o teto da taxa de juros do produto. O cenário esperado pelo banco é que ocorra o reajuste, apesar da incerteza em relação à intensidade do aumento. Diferentemente de alguns bancos que já se mobilizaram com a suspensão da concessão do crédito consignado para o correspondente bancário, o Itaú não indicou qualquer intenção de adotar essa medida.
- Cartões: O banco tem focado em iniciativas para aumentar a rentabilidade das carteiras de cartões, especialmente diante das taxas de juros em níveis historicamente baixos. A redução dos juros diminuiu a duração dos ativos, dificultando o empilhamento (stacking) das carteiras. Com a conclusão do processo de de-risking, a expectativa é de um retorno mais forte ao crescimento nessa linha.
- Pix Parcelado: O novo produto ainda está em estágio inicial. Inicialmente, o banco o posicionava como um substituto do cheque especial, que atuava como crédito pessoal sem impactar o limite do cartão de crédito. Mais recentemente, no entanto, o banco passou a integrá-lo à estrutura do cartão de crédito, alinhando-o ao seu caráter transacional. Ainda assim, o produto não tem apresentado um crescimento significativo. Durante a reunião, os investidores destacaram a percepção de que a operação desse produto no Nubank pode estar próxima da exaustão, devido à estagnação do TPV acompanhado da continuidade do crescimento da carteira de crédito, o que tem consumido o limite dos clientes (cartão e pix parcelado).
- Imobiliário: Enfrenta um ambiente desafiador em 2024, marcado por uma pressão significativa no custo de funding, reflexo das condições macroeconômicas e da elevação das taxas de juros. Essa pressão gerou discussões sobre possíveis medidas para liberar mais recursos, como o aumento do compulsório direcionado por produto, que poderia oferecer algum alívio temporário, mas é amplamente visto como uma solução de curto prazo e impacto limitado. Ainda assim, o banco tem ajustado preços de forma estratégica para equilibrar sustentabilidade financeira e competitividade, mantendo desempenho consistente na originação de crédito.
- Veículos: tem demonstrado qualidade sólida e níveis de inadimplência robustos, mesmo frente à deterioração geral do mercado e ao aumento da inadimplência. Além disso, o Marco Legal das Garantias surge como uma potencial alavanca para o setor, ao simplificar os processos de recuperação de bens em casos de inadimplência. Com essa nova estrutura, a cobrança pode ser feita de forma extrajudicial, eliminando a necessidade de intervenção judicial e tornando o processo mais ágil e eficiente.
Preocupações no Cenário Macroeconômico: Inflação Preocupa Mais que a Alta dos Juros para o Segmento PF
No segmento de Pessoa Física, a inflação em níveis ainda pouco confortáveis, aliada a um eventual aumento do desemprego, representa desafios significativos para o consumo das famílias, pressionando a inadimplência, especialmente nesse público, mais sensível à perda de poder de compra. Pequenas Empresas também devem ser impactadas, dado que uma parcela significativa de suas dívidas está atrelada a produtos pós-fixados, tornando-as mais vulneráveis às oscilações econômicas e taxa Selic.
Embora as taxas de juros estejam diretamente relacionadas à inflação, o impacto esperado do ciclo de alta dos juros preocupa menos do que a persistência inflacionária. Ainda assim, o mercado de trabalho tem mostrado resiliência, com a taxa de desemprego permanecendo controlada, o que contribui para mitigar os riscos mais imediatos em um cenário econômico desafiador.