Com um ROE de 19,3% e lucro de R$ 7,7b (-5,1% t/t e +7,1% a/a) no 4T22, o resultado do Itaú veio um pouco menor que nossas expectativas em 8,9%. Mas o resultado não foi fraco. Muito pelo contrário, o banco provisionou 100% de sua exposição aos créditos tóxicos de Americanas (um evento subsequente ao fechamento relacionado a uma grande empresa que entrou em recuperação judicial) que impactou em R$ 719m o lucro. Não fosse isso, o lucro seria de R$ 8,4b com um ROE de 21,0%, em linha com as nossas estimativas, representando um crescimento de aproximadamente +4,0% t/t e +17,3% a/a. Mas a melhor notícia vem que, com o balanço limpo, a agenda volta ser de crescimento. Pelo menos é isso que o guidance de 2023 nos guia. Na nossa simulação, chegamos a um lucro de R$ 35,9b, crescimento de +16,8% a/a e ROE de 20,7% no meio da faixa do guidance de 2023 do banco.
Com melhor hedge para se proteger da alta dos juros, receita de juros com clientes crescendo mais rápido que a carteira de crédito, uma exposição maior a alta renda na pessoa física, receita com serviços e seguros crescendo perto dos 10% a/a, e avanços na digitalização do banco que eventualmente irão levar ganhos de eficiência, reiteramos o Itaú como nossa preferência de longo prazo entre os grandes bancos brasileiros. Negociando a apenas 6,64x P/L 2023E (nossas estimativas e meio do guidance), entendemos que as ações do banco estão em níveis atraentes, apresentando um upside de +30,3% com base em nosso preço alvo de R$ 32,0.
Americanas: 100% provisionado
O Itaú reforçou sua provisão para cobrir 100% da exposição ao evento subsequente, gerando um impacto de R$ 1,3b no custo do crédito e R$719m no lucro líquido. A diferença da exposição foi marcada na provisão complementar já feita para casos genéricos. Analisando as mudanças de rating das faixas de níveis de risco, o banco aumentou em R$ 2,73b a parcela de 100% provisionados (rating H) nas operações de curso normal, mesmo número reportado pela Americanas sobre o total de dívidas com o Itaú.
Bem diferente do Santander que provisionou apenas 30% da Americanas no 4T22, o Itaú não vai ter que reconhecer novas perdas com o ativo ao longo de 2023. Pelo contrário, com 100% do problema fora do caminho, qualquer resolução do caso Americanas pode gerar reversão de provisão ajudando melhorar o resultado do banco.
Guidance 2023: ROE de 21% e limpo de Americanas
O guidance para 2023 disponibilizado hoje nos dá sinais de que o banco deverá continuar reportando fortes resultados e acima de seus pares privados, apesar de uma desaceleração de crédito em 2023 devido ao cenário macroeconômico bem desafiador.
O banco estima um crescimento de crédito entre 6-9%, mas com a margem financeira com clientes rodando a uma velocidade bem superior entre 13,5 – 16,5%, fruto da reprecificação da carteira e um mix com produtos de maior yield feita ao longo dos últimos anos. Calculamos um lucro de R$ 35,9b (ROE de 20,7%) no meio do guidance. Na faixa inferior do guidance, chegamos a um lucro parecido com 2022 em R$ 30,7b e no topo do guidance, um crescimento de lucro de 34,2% a/a batendo R$ 41,3b (ROE de 23,5%).
Destaques do 4T22:
Crédito: Cartão e Imobiliário desacelerando
A carteira de crédito atingiu o montante de R$ 906m, apresentando um crescimento de +2,9% t/t e +10,6% a/a, sendo impulsionado pelo crédito à pessoa física, que a frente de cartão cresceu +4,9% t/t devido ao efeito sazonal do produto, porém no a/a houve uma desaceleração devido ao cenário mais desafiador e redução na emissão de cartões. Ainda, a carteira de crédito imobiliário (+5,2% t/t e +23,8% a/a) está com um ritmo de crescimento menor que nos trimestres passados, refletindo o aumento da taxa de juros.
Margem Financeira (NII): Melhor que o esperado
Já do lado positivo, a margem financeira (NII) continuou entregando bons resultados, sendo que a margem com mercado (tesouraria) apresentou dados mais robustos que no trimestre passado, mostrando em parte o lado bom da estrutura de hedge (proteção) contra os juros altos.
A margem financeira (NII) apresentou um montante de R$ 24,98 no 4T22 (+4,5% t/t e +17,8% a/a), basicamente em linha com nossas estimativas de R$ 25,16b (-0,7%).
A margem com clientes (NII Clientes) se beneficiou do aumento da margem de passivos, devido a maior taxa Selic e do maior saldo médio, além do crescimento da margem na América Latina.
Já a margem com mercado (tesouraria/NII Mercado) continuou entregando resultados positivos, atingindo o valor de R$ 748m vs R$ 516m no 3T22. Lembrando que o hedge dos juros do banco tem ajudado a manter as receitas do lado positivo enquanto seus rivais privados (Santander e Bradesco) estão reportando perdas nessa linha de tesouraria pela falta de um hedge mais ativo nesse momento do ciclo de juros.
Custo de Crédito e Inadimplência: Créditos tóxicos mancham os dados
O custo de crédito atingiu R$ 9,8b no trimestre (+22,7% t/t e +58,1% a/a), devido principalmente a um caso de evento subsequente do segmento de grandes empresas que teve impacto de R$ 1,3b. Acreditamos fortemente que este valor esteja relacionado aos créditos podres de Americanas, que conforme reportado em nossa prévia e divulgado no relatório da varejista, o montante de R$ 1,3b representa um pouco menos de 50% do total da dívida da Americanas com o Itaú. O resto da exposição a Americanas foi marcada na provisão complementar já feita para casos genéricos.
Além disso, outro fator que contribuiu para o aumento das provisões a/a foi referente aos negócios de varejo no Brasil, devido a maior originação em produtos de crédito ao consumo e sem garantias. Na América Latina o aumento da despesa de PDD no trimestre ocorreu pelo incremento de provisões na Argentina e no Chile.
O banco realizou vendas de carteiras sendo uma de R$ 278m com créditos ativos, que estavam com atraso acima de 90 dias, sendo que R$ 158m ainda estariam ativos ao final de 2022. Também realizou a venda de R$ 296m em carteiras ativas em dia ou com atrasos curtos, o que não trouxe impacto material nos indicadores de inadimplência. Acrescido a isso, o Itaú também realizou a venda de uma carteira de crédito ativa e em dia de um cliente específico de grandes empresas no montante de R$ 773m, mas que acreditamos não estar relacionado a Americanas. O banco reporta que a venda dessas carteira tiveram pouco impacto nos índices de inadimplência e gerou um pequeno lucro (R$ 51m), imaterial para o trimestre.
Já a inadimplência acima de 90 dias apresentou um aumento de +0,47pp a/a e +0,13pp t/t devido a um impacto no segmento de pessoa física, principalmente na frente de cartão de crédito e veículos. Também, o segmento de PMEs (Pequenas e Médias Empresas) contribuiu para a alta do indicador.
Receitas de Prestação de Serviços/Seguros: Seguros sai do pior para ser o melhor
As receitas de prestação de Serviços ficaram praticamente estáveis no trimestre (+0,2% t/t e +1,7% a/a). O 4T22 foi marcado pelo aumento das receitas com cartões (adquirência e emissão) e com a área de gestão de recursos devido ao efeito sazonal das taxas de performance. Por outro lado, as receitas de conta corrente caíram em -3,6% t/t devido a estratégia do banco em reduzir e isentar as tarifas dos clientes.
Já os seguros, apresentaram um crescimento de +11,4% t/t e +24,2% a/a devido ao aumento nos prêmios ganhos, impulsionado por maiores vendas, além da maior receita com previdência.
Despesas não Decorrentes de Juros: Afetado pelo dissídio
A despesa administrativa total apresentou um aumento de +5,1% t/t e +10,4% a/a, sendo marcado principalmente por maiores despesas com pessoal, refletindo o impacto do dissídio em set/22 e aumento do número de colaboradores no período. Além de maiores gastos com processamento de dados e telecomunicações na América Latina.
Capital: Sem preocupação, segue saudável!
O índice de Capital Nível 1 atingiu 13,47%, aumento de +0,26pp t/t e +0,48pp a/a, esse crescimento foi impulsionado pelo lucro líquido do trimestre, dividendos, JCP e aos ajustes prudenciais e patrimoniais. Isso demostra que o índice de Basiléia do banco continua saudável e crescendo além do mínimo regulatório.