O ciclo de crédito está mostrando sinais de recuperação gradual após a deterioração significativa iniciada em 2021, principalmente devido aos excessos na concessão de cartões de crédito (veja o gráfico a seguir). Após ajustes nos modelos de crédito e uma desaceleração nas concessões em 2022/2023, acreditamos que entramos em uma fase de aceleração do crédito acompanhada por uma melhora na inadimplência.
Os dados do Banco Central de junho de 2024 indicam mais um mês de aceleração na carteira de crédito, com expansão de +9,9% a/a em comparação com +9,1% a/a em maio de 2024. A Febraban revisou suas expectativas de crescimento de crédito para 2024, agora projetando 10% (ante 8% no início do ano), e não nos surpreenderíamos se o crescimento efetivo superasse essa marca. Concessões de crédito continuam crescer, +1,7% m/m e +9,8% a/a, atingindo o total de R$ 635b no mês de junho.
Apesar da situação econômica não estar ideal, acreditamos que, com modelos de crédito aprimorados, a inadimplência deve continuar em trajetória de queda, especialmente nas novas safras de crédito. Desde o pico acima de 3,5%, a inadimplência vem diminuindo, mantendo-se estável entre 3,2% e 3,3% desde dezembro de 2023. Em junho, a inadimplência melhorou -0,02pp m/m e -0,3pp a/a.
O endividamento das famílias e o comprometimento de renda também mostraram melhora, mas ainda permanecem elevados, em 47,5% e 26,6%, respectivamente.
Os spreads de crédito continuam a cair, refletindo a melhoria na inadimplência desde meados de 2023, embora haja preocupações com o aumento da competição, especialmente no crédito corporativo.
Por fim, em junho de 2024, as instituições financeiras nacionais privadas ganharam +0,1pp m/m de market share, enquanto as instituições públicas (ex-BNDES) perderam -0,1pp m/m.
Crédito: Em ritmo de aceleração
O saldo total de crédito no Sistema Financeiro Nacional (SFN) alcançou R$ 6 trilhões em junho de 2024, registrando um aumento de +1,2% em relação ao mês anterior e de +9,9% na comparação anual, refletindo em mais um mês de aceleração.
No mês, observamos uma expansão de +2,1% m/m no saldo de crédito para empresas (pessoas jurídicas), atingindo um total de R$ 2,3 trilhões. O crédito para as pessoas físicas registrou um aumento de +0,6% m/m, ficando em R$ 3,69 trilhões. O crédito destinado a empresas e pessoa física registraram alta de +7,7% a/a e +11,4% a/a, respectivamente.
Crédito livre atingiu R$ 3,5 trilhões em mai/24, apresentando uma expansão de +1,4% m/m e de +7,8% a/a. O crédito destinado para as empresas chegou a R$ 1,49 trilhões (+2,7% m/m e +5,5% a/a). O mês foi impactado positivamente pelo crescimento das carteiras de desconto de duplicatas (+16,4% m/m), financiamento de exportações (+5,3% m/m) e de Adiantamento sobre Contratos de Câmbio (+2,4% m/m). Já o crédito livre do segmento pessoa física expandiu +0,5% m/m e +9,5% a/a, ficando em R$ 2,0 trilhões, impulsionado pelas altas das carteiras de Financiamento de Veículos (+1,8% m/m), Consignado Pessoal para Aposentados e Pensionistas (+1,3% m/m) e Consignado para Trabalhadores Públicos (+0,6% m/m).
Crédito direcionado atingiu o montante de R$ 2,51 trilhões (+0,8% m/m e +13,0% a/a), reflexo da expansão ocorrida no segmento de pessoas físicas (+0,7% m/m e +13,7% a/a), totalizando R$ 1,68t, e pelo segmento de pessoas jurídica, que apresentou uma evolução de +1,1% m/m e de +11,8% a/a, ficando em R$ 834,3b.
Inadimplência: Estabilidade mensal
A inadimplência do Sistema Financeiro Nacional (SFN) caiu 0,02pp na comparação mensal, ficando em 3,24% em jun/24 vs 3,26% em mai/24, e queda na comparação anual (-0,3pp a/a). Observamos que o índice de inadimplência vem gradualmente reduzindo desde mai/23, quando atingiu 3,54%. O processo de queda da inadimplência está sendo guiada em especial pelo segmento de pessoa física, que chegou a 3,7% (estável m/m e -0,5pp a/a). Por outro lado, a inadimplência do segmento de pessoa jurídica também apresentou estabilidade m/m, mas sofreu expansão de +0,1pp a/a, chegando a 2,6%.
No crédito livre, a inadimplência aumentou em +0,1pp no mês e retraiu -0,3pp no ano, chegando a 4,6%. A inadimplência do crédito livre de pessoa física ficou em 5,5% (estável m/m e -0,8pp a/a). Já a inadimplência de crédito livre de empresas chegou a 3,3% (+0,1pp m/m e +0,3pp a/a).
No crédito direcionado, a inadimplência pessoa física retraiu, ficando em 1,4% (-0,1pp m/m e -0,1pp a/a). Em empresas a inadimplência também apresentou queda, atingindo 1,3% (-0,2 pp m/m e –0,3 pp a/a).
Cartão de crédito: A inadimplência para pessoa física no cartão de crédito total com recursos livres, que inclui a modalidade do parcelado sem juros, ficou em 7,75% (+0,12pp m/m e –0,92pp a/a). Já a inadimplência no cartão de crédito rotativo sofreu uma queda na comparação mensal (-0,82pp m/m e +5,48pp a/a), chegando a 54,46%, patamar ainda bem elevado. Já a inadimplência no cartão de crédito parcelado apresentou expansão (+0,36pp m/m e +1,18pp a/a), chegando em 11,12%.
Aquisição de automóveis: O crédito destinado para aquisição de veículos para pessoa física apresentou queda da taxa de inadimplência na comparação mensal, ficando em 4,53% (-0,27pp m/m e -0,98 pp a/a).
Crédito pessoal não consignado: A inadimplência do crédito pessoal não consignado apresentou aumento de +0,19pp m/m e retração de -1,69pp a/a, com um total de 5,94%.
Cheque especial: A inadimplência do segmento pessoa física ficou em 12,28%, aumento de +1,06pp m/m e queda de –0,68pp a/a.
Cobertura: No mês de junho, os bancos apresentaram aumento de +1,2pp m/m e de +3,4pp a/a no índice de cobertura (saldo de provisões para fazer frente aos créditos em atraso), chegando a 185,2%.
Comprometimento/Endividamento de renda: Em queda
O endividamento das famílias ficou em 47,5% em mai/24, ainda em níveis elevados, apresentando uma diminuição de -0,2pp m/m e de -1,4pp a/a. O comprometimento de renda também permaneceu em patamares altos no mês, chegando a 25,7%, mas apresentando uma melhora de -0,4pp m/m e de -2,2pp a/a.
Spread: Menor m/m e a/a
A taxa média de juros das novas concessões em jun/24 atingiu 27,6% a.a., redução de -0,1pp m/m e –3,8pp a/a. Já o spread bancário também caiu para 18,4% (-0,4pp m/m e -3,3pp a/a). O spread bancário no segmento de pessoas físicas teve uma redução de -0,6pp m/m e -4,7pp a/a, ficando em 23,3%. Já o segmento de empresas também apresentou retração (-0,1pp m/m e –1,4pp a/a), chegando a 8,2%.
Market Share de Crédito: Privados ganham mercado
Em jun/24, as instituições financeiras privadas tiveram expansão no market share (+0,1 pp m/m e +0,5pp a/a), chegando a 42,9% de participação de mercado.
As instituições financeiras públicas (ex-BNDES) perderam participação de mercado no mês (-0,1pp), mas ganharam no ano (+0,1 pp), alcançando 34,9% de market share.
Concessão de Crédito: Crescendo m/m e a/a
Concessões de crédito atingiram o total de R$ 635b, (+1,7% m/m e +9,8% a/a). As concessões livres apresentaram expansão de +1,7% m/m e aumento de +9,1% a/a, ficando em R$ 573b. O destaque positivo veio do segmento de Pessoa Jurídica (PJ), que apresentou aumento de +11,4% m/m e + 10,7% a/a, totalizando R$ 258b. Já o segmento de Pessoa Física (PF) apresentou retração de –5,1% m/m, mas aumento de +7,9% a/a, fechando em R$ 315b. Por fim, as concessões direcionadas tiveram uma expansão de +2,1% m/m e +16,2% a/a, totalizando R$ 61b, com destaque positivo para o segmento de pessoas jurídica (R$ 22,9b) que evoluiu +18,8% m/m e +32,6% a/a, puxado pelo Crédito Rural (+66,7% m/m e +148,1% a/a) e Recursos do BNDES (+36,8% m/m e +14,7% a/a). O segmento de Pessoa Física apresentou expansão na comparação anual (+8,3% a/a), mas retração no mês (-5,8% m/m) ficando em R$ 38,9b, guiado pelo financiamento imobiliário (-1,1% m/m e +34,7% a/a).
Duration: o prazo médio de duração de crédito livre apresentou aumento mensal e anual no segmento pessoa física (+1,0% m/m e +0,5% a/a), atingindo 61,2 meses. No segmento de empresas, registrou uma retração de -2,1% m/m e –0,7% a/a, chegando a 29,4meses. Por fim, o prazo do crédito direcionado para pessoas físicas diminuiu -0,2% m/m e +1,9% a/a, atingindo 271,5 meses. O segmento de empresas também apresentou retração no duration, mas em maior intensidade, com quedas de -14,9% m/m e -18,9% a/a, chegando a 93,9 meses.