O que aconteceu?
A JBS anunciou hoje pela manhã (23 de maio) que a estrutura de dupla listagem (NYSE com ações primárias e B3 com BDRs) foi aprovada na Assembleia Geral Extraordinária (AGE). Votaram na AGE apenas acionistas minoritários, com o BNDESPar se abstendo (o que já era amplamente esperado) e sem a participação dos acionistas controladores (J&F Investimentos – veículo pertencente a família Batista).
Temos uma percepção próxima àquela mencionada pela Institutional Shareholder Services (ISS) – e que já havíamos apontado anteriormente -, pois consideramos que a estrutura de classe dupla de ações ( Classe B com 10x mais poder de voto do que a Classe A, nas ações primárias a serem listadas na NYSE) pode causar desconforto entre alguns investidores, que têm maior interesse em alinhar o conselho de administração aos interesses da posição minoritária. Embora a ISS tenha levantado essas questões, acreditamos que a aprovação da estrutura na AGE já era provável (mas com margem mais estreita), uma vez que os acionistas minoritários estarão atentos à tendência de aumento dos preços das ações no curto prazo, dada a redução da diferença entre EV/EBITDA da JBS e seus pares, e não necessariamente a questões relacionadas ao poder de voto, o que implica um prazo mais longo.
Nossa visão e recomendação
Nosso entendimento é que os fundos ativos podem aumentar suas posições temporariamente, focados na reprecificação do valuation, e gradualmente desinvestir suas posições para embolsar ganhos, considerando que os fundamentos estão se suavizando (compressão de margens nas principais unidades de negócios em 25E). Os fundos passivos, por outro lado, devem alimentar o interesse contínuo nas ações, especialmente se elas forem indicadas para inclusão nos índices (Russell 1000 e, no futuro, o S&P 500).
A JBS está sendo negociada atualmente a 5,8x EV/EBITDA 25E. Assim, o múltiplo permanece abaixo dos níveis praticados em relação a seus pares, como a Tyson Foods (8,4x) e a própria Pilgrim’s Pride-PPC (6,6x). Na Europa, as empresas de alimentos e bebidas listadas em Frankfurt e Londres negociam a uma média de 7,2x, enquanto seus pares asiáticos negociam a 6,8x. A convergência da JBS para a média global de 7,5x implicaria em uma valorização potencial de quase 30% no preço das ações, mesmo que a convergência não seja perfeita e mantenha uma diferença de +0,5x em relação aos pares – o que modelamos como nosso cenário base.
Ao combinar uma (i) estrutura dual-class de ações (ações A e B, conforme mencionamos); (ii) acesso a capitais globais (fundos passivos e listagem em índices, como o Russell 1000 e S&P 500); (iii) e um dividendo extraordinário imediato (R$1,00/ação), a companhia se posiciona para um rerating de valuation, o que reduziria o gap de negociação vs. peers. Dessa forma, mantemos nossa recomendação COMPRAR, diante de um Target Price 12M de R$54,50, implicando em um upside de +29,0%. Salientamos que o nosso valuation é atribuido tanto ao (a) nosso modelo pelo DCF, quanto ao (b) ganho de valor que enxergamos pela reprecificação via múltiplo.