Esperamos um trimestre ruim para as empresas do setor de locação. Mesmo com dinâmicas muito distintas entre si, todas as empresas devem apresentar resultados pressionados por fatores exógenos. Embora o RAC entre em um período sazonalmente mais fraco, ainda esperamos bons níveis de tarifa. O segmento de terceirização de frotas deve apresentar crescimentos marginais (volume+tarifa) devido à entrada e novos contratos e reprecificação dos contratos antigos. Falando especificamente de cada empresa, enquanto Localiza sofreu mais com a remarcação do estoque de seminovos, Movida segue pressionada pela alta despesa financeira e Vamos foi prejudicada pelo enfraquecimento das vendas na divisão de concessionárias.
Cenas dos próximos capítulos
Quando olhamos para o segmento de leves, acreditamos que o maior impacto será sentido na divisão de seminovos das empresas. Após o anúncio do programa de descontos do governo, observamos quedas mais acentuadas na FIPE de veículos seminovos na faixa entre R$50-80 mil. O programa de incentivo do governo também diminuiu o ritmo de compra das locadoras, que por um determinado período resolveram aguardar a liberação dos descontos. Esse movimento de “espera” na compra pode gerar um efeito de menor volume de vendas em seminovos por retardar o giro da frota e pelo momento desafiador de vendas, com as locadoras evitando a concorrência com os carros ofertados com descontos.
No RAC e GTF esperamos uma dinâmica normal dado a sazonalidade, isto é, tarifas levemente decrescentes no aluguel de balcão, enquanto a tarifa da terceirização deve se manter estável ou apresentar crescimentos marginais devido à entrada e reprecificação de novos contratos.
Em pesados, o segmento de locação segue resiliente, com bons níveis de precificação. Muito provavelmente, o ponto negativo do trimestre será o negócio de concessionárias, com volume de vendas muito abaixo do trimestre anterior e do mesmo período do ano anterior. Possíveis alterações no programa de incentivo à renovação de frota podem viabilizar a compra de caminhões com maior nível de desconto.
Programa de desconto
Conforme mencionamos, a dinâmica do trimestre deve ser afetada devido ao programa de incentivo anunciado pelo governo. Anunciado no final do mês de maio, o programa contava com incentivos fiscais à montadoras em troca do barateamento de veículo até R$ 120 mil. Os descontos variavam de R$ 2 mil a R$ 8 mil, a depender de alguns fatores como: preço, emissão de CO₂ e quantidade de peças fabricadas no país.
Os 15 dias iniciais do programa seriam direcionados para pessoas físicas, o que acabou sendo estendido por um período de igual tamanho, ou seja, as locadoras ficaram aproximadamente 30 dias em ritmo desacelerado de compra.
Ao final do prazo para pessoas físicas, o governo anunciou a liberação do programa para as locadoras, além de um aumento nos recursos que seriam disponibilizados. Com esse hiato, os volumes de compra foram retomados apenas no final do mês de junho. Com isso, boa parte das compras realizadas deverão se refletir apenas nos resultados do 3º trimestre.
Para veículos pesados a dinâmica seguiu a mesma cronologia, no entanto, para o segmento o programa contava com uma dinâmica relativamente diferente, onde deveria ser feita a entrega de um caminhão/ônibus com 20 ou mais anos para a reciclagem para a obtenção do crédito. Dado que a grande maioria das empresas de locação não possuem veículos com idade tão avançada, o governo alterou as regras do programa, fazendo com que elas pudessem comprar veículos antigos para então mandá-los para reciclagem, obtendo assim os créditos.
Dito isso, esperamos que o impacto do programa seja mais relevante para as empresas do setor de locação de automóveis leves, com frota “mais barata”. O setor de locação de pesados não foi impactado pelo programa dado que a dinâmica para a obtenção de descontos era mais complexa, e efetivamente oferecia um desconto percentualmente menor do que o que a média quando comparado aos voltados para automóveis.
Movida (MOVI3)
Esperamos um trimestre negativo para Movida. Acreditamos que a piora operacional devido à sazonalidade aliada a uma continuidade de uma forte pressão dos resultados financeiros deve reverter o lucro visto no último trimestre. Também esperamos uma pequena redução da frota total devido ao posicionamento atual da companhia, de priorizar sua operação e execução ao invés do seu crescimento de frota.
No RAC esperamos uma tarifa marginalmente menor devido à sazonalidade do trimestre. Além disso, acreditamos que a redução mencionada da frota seja direcionada para o segmento. Com isso, podemos observar uma queda na receita da unidade de negócios.
Dado que o GTF não é tão impactado pela sazonalidade, acreditamos que sua tarifa média deverá continuar em patamares estáveis ou minimamente crescentes, principalmente devido à adição de novos contratos. Acreditamos que o segmento deverá continuar seguido a tendência observada nos últimos trimestre, com leve adição de frota.
Já na divisão de seminovos, esperamos uma dinâmica de preços seguindo uma tendência não muito diferente do que estávamos observando nos trimestres anteriores. Vale destacar, que não observamos variações tão bruscas no preço dos veículos de ticket maior, num mix equivalente ao da Movida. Dado a frota um pouco mais premium, com menor percentual de veículos abaixo dos R$120 mil, esperamos impactos marginais no preços do estoque de seminovos. No entanto, devemos observar um volume menor nas vendas devido à “espera” que comentamos anteriormente.
No consolidado, esperamos uma receita líquida de R$ 2,5 bilhões, (+11,3% a/a e -8,2% t/t) com um EBITDA projetado totalizando R$ 862 milhões (-4,4% a/a e -1,4% t/t) e um prejuízo líquido de R$ 50 milhões.
Localiza (RENT3)
Acreditamos que o trimestre de Localiza deverá ser similar ao de Movida, tanto no que diz respeito à compra/venda de veículos, quanto em termos de tarifa, dado a sazonalidade. O grande diferencial do resultado frente ao de sua concorrente será o impairment entre R$ 575 e 650 milhões anunciado no início do mês e junho e os R$ 100 milhões de amortização de mais-valia que deverá afetar negativamente o resultado da empresa.
No RAC, esperamos uma tarifa estável devido à sazonalidade do trimestre. Esperamos uma leve redução no tamanho da frota, principalmente devido a um efeito de menor compra de veículos por conta do programa de incentivos do governo.
No GTF devemos continuar observando a tendência dos últimos trimestres, com adições de frota e pequenos aumento das tarifas.
Por fim, a dinâmica de seminovos de Localiza deverá ser muito parecida com Movida, com exceção do efeito do impairment mencionado anteriormente, que por sua vez deve ser o grande destaque negativo do segmento.
Esperamos uma receita líquida de R$ 6,8 bilhões (+33,7% a/a e -0,4% t/t). O EBITDA projetado soma R$ 2,4 bilhões (+25,2% a/a e -8% t/t) e o Lucro Líquido Ajustado, excluindo os efeitos não recorrentes mencionados totaliza R$ 444 milhões (+12,8% a/a e -14,9% t/t) segundo nossas estimativas. Adicionando esses efeitos, esperamos um prejuízo de R$ 75 milhões.
Vamos (VAMO3)
Nossa perspectiva é de um segundo trimestre não muito positivo para a Vamos, apresentando quedas nas comparações trimestrais e anuais. Esperamos um leve aumento do Yield dado uma menor quantidade de contratos maiores, que por sua vez se concentraram no primeiro trimestre desse ano e com nível de rentabilidade menor. Sendo assim, o segmento de locação deverá ser o destaque positivo do trimestre. O Capex contratado deve apresentar queda no trimestre, com o setor ainda “em compasso de espera” devido à alta de 28% nos recursos do Plano Safra 2023/24.
Por outro lado, a implementação neste ano do Proconve P8 (mudança do Euro 5 para o Euro 6) segue prejudicando as vendas de caminhões e por consequência o segmento de concessionárias. Entre janeiro e junho, apenas 22,8% dos caminhões vendidos no país foram fabricados em 2023. Outro fator importante para apostarmos em um desempenho ruim do segmento de concessionárias, é o anúncio tardio do plano safra também prejudicou o volume de vendas de caminhões e máquinas agrícolas no país.
Além disso, a expectativa de uma compra com desconto com o lançamento do programa do governo e a iminência do corte de juros no país também são fatores que contribuem para uma “espera” nas compras.
Esperamos uma receita líquida de R$ 1,48 bilhões (+23,5% a/a e -12,0% t/t) e um EBITDA totalizando R$ 674 milhões (+49,7% a/a e +2,3% t/t). Nosso Lucro Líquido estimado para o trimestre soma R$ 125 milhões (-12% a/a e -25,6% t/t).