Localiza reportou resultados neutros, com receitas levemente abaixo das nossas estimativas, porém com margens e lucro melhores do que esperado. Os números também surpreenderam positivamente o mercado, com um resultado na última linha melhor que o projetado.
Do lado positivo, fomos surpreendidos por um volume ainda mais forte de compra de carros, com melhora na taxa de ocupação e margens acima do esperado. Observamos tarifas menores, tanto no RAC quanto no GTF, porém estáveis na comparação trimestral, o que sinaliza que mesmo diante de um cenário desafiador, a demanda por locação segue resiliente.
Assim como adiantamos, a maior disponibilidade de caixa pós-capitalização permitiu que a companhia continuasse seu ritmo acelerado de compras. Ao todo, foram adquiridos 76 mil veículos no trimestre, 5% acima de nossas estimativas de 72 mil veículos comprados. Mesmo com um volume significativo de carros comprados, e consequentemente mais veículos em preparação, a Companhia conseguiu melhorar suas taxas de ocupação.
Do lado negativo, os resultados seguem pressionados por um alto nível de depreciação anualizada por carro (R$ 6,7 mil no RAC e R$ 6,1 mil no GTF) e margens baixas no segmento de seminovos. Diante do cenário desafiador para o mercado automotivo de usados, o segmento de seminovos segue sendo o destaque negativo. O maior mix de venda de carros no atacado, penalizou a rentabilidade da Localiza no segmento. Ainda que melhor do que projetávamos, a margem bruta foi comparativamente pior que a reportada pela Movida (7,4% RENT3 vs 9,1% MOVI3).
Sequencialmente, observamos os spread entre preço de compra e venda de veículos abrindo. Essa mudança do mix e o cenário desafiador na ponta da venda, contribuíram para nova queda do spread entre o ROIC e o custo de dívida, caindo de 4,5pp no 2T23 para 3,8pp no 3T23.
Seguimos com recomendação de MANTER para Localiza, com preço alvo de R$ 60,00.
RAC: mesmo com mais carros em preparação, margens estáveis!
No RAC, a companhia continuou com um ritmo acelerado de compras, aumentando sequencialmente a quantidade de veículos adquiridos no período (44 mil no 3T23 vs. 32 mil no 2T23). Mesmo comprando 38% mais carro que no trimestre passado, a divisão apresentou melhora substancial em sua ocupação, que passou de 77,4% no 2T23 para 79,5% no trimestre em questão.
A tarifa, no entanto, nos chamou nossa atenção por ter se mantido em linha com o trimestre anterior (R$ 119,41 vs. R$ 119,26 no 2T23), apesar da sazonalidade mais favorável e a ocupação maior. Sendo assim, é possível que o segmento de aluguel esteja enfrentando problemas no que diz respeito ao repasse de preços, visto que tivemos um aumento de mais de 50% nas diárias em pouco menos de 3 anos.
O trimestre marcou o início da operação da companhia no México, contando com 2 agências – nos aeroportos da Cidade do México e Cancún – e pouco mais de 900 veículos. A operação em questão gerou R$ 2,1 milhões de receita líquida, mas apresentou um EBITDA negativo em R$ 17,2 milhões, devido aos custos iniciais da operação. Fator esse que influenciou negativamente as margens do RAC, ligeiramente abaixo de nossas expectativas.
Considerando a operação no México, a divisão reportou R$ 2,06 bilhões de receita (+3,1% a/a e+5,3% t/t), com um EBITDA de R$ 1,32 bilhões (+16,3% e +4,1% t/t). A frota do segmento no final do período somou 316 mil veículos.
GTF: margens fortes, refletem um mix de veículos pesados
Já o segmento de GTF segue apresentando tarifas em ritmo crescente, finalizando o 3T23 com uma diária média de R$ 84,29 (+19,3% a/a e +3,3% t/t). Não conseguimos saber ao certo quanto dessa melhora é puxada pela adição dos contratos de pesados no segmento, mas há alguns trimestres temos observado preços médios de compra estruturalmente mais altos como reflexo da evolução da frota de caminhões.
Assim como no RAC, a divisão também se mostrou forte no que diz respeito a ocupação, que passou de 95,8% no 2T23 para 96,4% no trimestre em questão. Ressaltamos que o aumento se deu mesmo com uma implementação considerável de carros em operação.
Com isso, o segmento de terceirização de frotas apresentou R$ 1,73 bilhões de receita líquida (+49,2% a/a e +8% t/t) e um EBITDA de R$ 1,28 bilhões (+57,3% a/a e +14,4% t/t). A frota total ao final do trimestre foi de 291 mil veículos.
Seminovos: vender rápido custa caro!
Lembramos que o 2T23 traz uma base poluída pela remarcação do valor justo da frota em decorrência da MP do Carro Popular. Então, embora, o segmento de seminovos tenha apresentado uma melhora gradual em sua margem bruta, revertendo a sequência de quedas que vínhamos observando desde o 3T21, os números ainda refletem um cenário desafiador para venda de veículos usados no Brasil.
Importante dizer, nossa impressão é de que a Localiza aproveitou as boas condições de compra oferecidas pelas montadoras para acelerar a renovação de sua frota. Essa janela de oportunidade abre uma necessidade maior de liquidação de carros no atacado. Lembramos que no passado recente a Companhia fez o mesmo movimento. Embora a margem bruta de seminovos tenha ficado estável, observamos números maiores na Movida, ainda que a queda tenha sido mais expressiva por lá.
Ao todo, foram vendidos 57 mil veículos a um preço médio de R$ 59 mil. Com isso, a divisão reportou uma receita líquida de R$ 3,53 bilhões (+18,5% a/a e +7,5% t/t)
Análise Quantitativa
No 3T23, a receita líquida totalizou R$ 7,3 bilhões (+19,3% a/a e +6,9% t/t), ficando em linha com nossas expectativas e com as do mercado. O EBITDA somou R$ 2,7 bilhões (+17,4% a/a e +14% t/t), também em linha com nossas estimativas e o consenso de mercado. Por fim, a companhia reportou um lucro líquido consolidado de R$ 665 milhões (+56,9% a/a), em linha com nossas estimativas com as do mercado. Na figura ajustada, ou seja, descontando os efeitos da combinação dos negócios e dos impactos da amortização da mais-valia, a Localiza teria reportado um lucro de R$ 703,3 milhões.