Visão Geral do Resultado
Em termos financeiros, a Méliuz reportou uma receita líquida de R$58,7 milhões contra R$25,6 milhões no 3T20 (126% a/a). As despesas operacionais também cresceram, atingindo R$69,5 milhões no 3T12 (vs R$62,5 milhões no 3T20). Esse aumento da despesa operacional foi puxado pelas despesas com pessoal (basicamente, time) e que, de acordo com a companhia, estão em linha com a estratégia de desenvolver novos produtos e serviços e buscar melhorias no ecossistema Méliuz.
Seguindo o que foi reportado no trimestre passado, o EBITDA veio novamente negativo. Em nossas projeções, já estávamos esperando isso. Estimávamos um EBITDA de -R$7,3 milhões de reais e a empresa reportou -R$9,3. Essa diferença está, basicamente, na despesa com pessoal. Nós estimávamos atingindo R$12,6 milhões enquanto o reportado foi de R$18,9 milhões. A empresa reportou um prejuízo de R$2,9 milhões no período.
Antes de qualquer conclusão precipitada, é interessante relembrar nossa visão sobre empresas de Tecnologia, Méliuz incluído, que estão no estágio que chamamos de “Growth Stage”. No curto prazo, é importante observar métricas operacionais e acompanhar seu crescimento e desenvolvimento ao longo dos trimestres. No longo prazo, se dá mais foco para a rentabilidade e maturidade do negócio (como geração de caixa e lucro). É normal que algumas empresas em estágio de crescimento abram mão da sua lucratividade para aumentar sua base de clientes, desenvolver novos produtos e serviços e incrementar seu ecossistema.
Qual é o “pulo do gato”? Que a empresa consiga trabalhar bem suas aquisições de clientes e desenvolvimento de produtos, já pensando em monetização da base, para que assim, no futuro, consiga manter seus custos controlados e sua receita em expansão. A consequência será a lucratividade. Pode existir problemas no caminho? Sim, mas desde que a tese de investimentos se permaneça, o investimento continua válido.
De olho nos indicadores operacionais
- Base de usuários: Finalizaram o 3T21 com 20,8 milhões de contas abertas, crescimento de 78% a/a e 10% t/t
- Engajamento e Retenção:
- Em termos de engajamento, os usuários ativos saltaram 168% a/a atingindo 9,5 milhões. Em comparação com o trimestre passado, esse crescimento foi de 8%
- Já em relação a retenção dos clientes, a Méliuz divulgou uma análise cohort de GMV por safra. Basicamente, essa análise permitiu entender como se comportavam as safras mais antigas de clientes em termos de GMV. Mesmo as safras mais antigas permanecem ativas, gerando GMV para a plataforma.
- É importante que ambos os indicadores, tanto engajamento quanto retenção, permaneçam crescentes. Isso mostra a efetividade da companhia em focar em um LTV cada vez mais alto, mantendo um CAC menor.
- GMV: Essa métrica é importante para analisar o crescimento do marketplace. O GMV Total alcançou R$1,4bi, crescimento de 126% a/a e 26% t/t.
- Adoção de novos produtos: um fator muito importante para a retenção e engajamento constante dos usuários é a inovação e a implementação de novos produtos e serviços no ecossistema Méliuz. Porém, não basta apenas criar uma nova solução. Essa nova solução precisa ser aceita e adotada pelos usuários.
- Méliuz Nota Fiscal: o número de ofertas atividas cresceu mais de 500% a/a e mais de 200% t/t, atingindo 3,6 milhões; O número de usuários ativando as ofertas também cresceu, o que mostra a maior adoção do produto.
- Gift Cards e Recarga de Celular: ambos apresentaram crescimento. A média de compra de gift cards por usuário foi para 3,8 (vs 3,2 no 2T21) e número médio de recargas atingiu 2,6 (vs 2,3 no 2T21)
- Cartão de crédito Méliuz: Já são 7 milhões de cartões solicitados co-branded, mesmo sem nenhuma ação de marketing desde a metade do 3T21. A ideia é ter o cartão próprio, que está sendo desenvolvido e será lançado ano que vem. Em termos de TPV, houve um aumento de 272% a/a no TPV Trimestral e 449% no TPM LTM o que mostra a adoção e uso do cartão de crédito Méliuz pelos usuários.
- Take-rate: O take-rate no 3T21 subiu 0,7p.p comparado ao trimestre passado, atingindo 6,2%. Também apresenta uma evolução comparado ao 3T20, época que o take-rate era de 5,6%
- Opcionalidades: pela primeira vez a Méliuz divulgou dados sobre o mais recente investimento da empresa, a Alter. Essa é uma empresa especializada em negociação de criptoativos, o que abre portas para a Méliuz estar inserida em uma tendência de crescimento muito forte para os próximos anos. São 26 mil usuários ativos em criptomoedas que são incrementados a base da Méliuz, número que cresceu mais de 6x desde o ano passado (3T20).
Qual é a conclusão?
Dado essa dinâmica das empresas de Tecnologia, o resultado não foi ruim! A empresa mantém seu foco na criação de um ecossistema mais completo e robusto, mas sem deixar de engajar e reter os usuários já conquistados. A análise cohort de GMV por Safra é muito interessante para comprovar a questão da retenção, algo que nos preocupava.
O prejuízo e o EBITDA negativo, que já era esperado e inclusive deve continuar acontecendo nos próximo resultados, é justificável caso os indicadores operacionais (aqueles que devemos nos preocupar no curto prazo) apresentem crescimento e melhora ao longo do tempo. Isso aconteceu.
Entretanto, não podemos negar que a questão macroeconômica não joga a favor para as empresas de Tecnologia, especialmente Méliuz que possui um modelo de negócio bastante ligado ao varejo. Uma inflação mais alta, um juros mais alto, uma menor disponibilidade de renda e uma recessão afetam diretamente essas empresas. Atrelado a isso, temos também um aumento no risco-país, fruto da falta das reformas e do “jogo de cintura” do governo em quebrar o teto de gastos. Esse cenário macro mais desafiador deve se manter um 2022, o que mantém essas empresas “com a corda no pescoço” por mais tempo.
Fizemos ajustes de taxa de desconto e de projeções de crescimento no nosso modelo, implicando em uma redução do preço-alvo de Méliuz para R$8,20. Ainda mantemos nossa recomendação de COMPRA e seguimos confiantes com o negócio para o longo prazo, mesmo em cenários macro mais desafiadores no curto.