Conclusão
Espaço limitado para cortes! De acordo com as nossas estimativas, o preço justo considerando a paridade de preços da gasolina e diesel é de R$3,08/litro e R$3,18, respectivamente. Sendo assim, antes de considerarmos o corte na gasolina anunciada no dia de hoje, a gasolina operava com pequeno deságio de -1,2% em relação a paridade enquanto o diesel operava com prêmio de 9,3%. Dito isso, o corte anunciado no dia de hoje nos parece premeditado. Sempre importante mencionar que o cálculo dos combustíveis não tem uma fórmula exata. As fontes que costumamos buscar sobre a paridade de preços apresentaram números conflitantes – ainda que dentro de um range razoável. Enquanto a ANP e Abicom apresentava prêmio de 9,15% e 2,3% da gasolina em relação ao PPI, respectivamente, ACELEN apresentava um pequeno deságio em relação a PPP (-0,7%). Sendo assim, é cedo para cravar, não nos recordamos de um reajuste que pudesse levar suspeitas quanto a um possível intervencionismo nos preços dos combustíveis.
A média praticada pelas refinarias da Petrobras foi de R$ 3,04/litro para gasolina e R$ 3,51/litro para diesel, de acordo com o nosso Rastreador de Preços vs. Preços de Paridade de Importação (PPI). Nosso último rastreador foi em 11/03, desde então, nas refinarias da Petrobras, o preço da gasolina se manteve praticamente estável (-1%) e uma redução de -9% no preço do diesel, resultado de duas reduções no preço (31/03 e 17/04). Olhando para as nossas estimativas, concluímos que a gasolina apresentou um patamar em linha com a paridade internacional (deságio de apenas -1% no início de junho), calculada em R$3,08/litro. No caso do diesel, observamos novamente um ágio, calculado em ~9% acima das nossas estimativas, calculada em R$3,18/litro.
A redução anunciada pela Petrobras hoje (02/06) para os preços da gasolina em -5,6% deverá entrar em vigor a partir de amanhã (03/06). A redução corresponderá a ~R$0,17/litro. A notícia já era esperada dado o mandato da atual gestão, como (i) os recentes cortes da companhia para o preço do companhia do diesel e (ii) a reiteração da intenção da CEO da Petrobras, Magda Chambriard, durante a semana passada, em reduzir os preços das refinarias com a continuidade da queda do preço do petróleo (Brent apresentou queda de -4,5% desde 17/04 – data do último corte, realizado no diesel). Além disso, outra derivada importante é o Dólar, que apresentou uma depreciação de -3,15% em relação ao Real. Como anunciamos inicialmente vemos um cenário de alta volatilidade, o que nos leva a olhar com mais cautela os próximos passos da companhia. Seguimos com MANTER.
Qual o objetivo deste “rastreador de preços”?
Este documento tem como objetivo acompanhar os preços dos combustíveis vendidos pelas refinarias da Petrobras em comparação com o “preço justo” estimado por nossa metodologia. Como já mencionamos, não pretendemos alcançar exatidão ou precisão absoluta, uma vez que a Petrobras não divulga abertamente os detalhes por trás de sua fórmula de precificação.
Diversas instituições também publicam seus próprios cálculos, frequentemente chegando a conclusões divergentes, como é o caso das estimativas da Abicom e da ANP. Esperamos que este documento funcione como um “termômetro” para a percepção de risco de ingerência política na definição dos preços dos combustíveis comercializados pela Petrobras.
Como calculamos o Preço de Paridade de Importação?
O PPI é o resultado de um cálculo que estima o custo de internalização dos derivados de petróleo no Brasil. Em linhas gerais, ele considera o preço do barril no mercado externo, custos de transporte, taxas portuárias e a flutuação do câmbio.
Esses fatores são variáveis no tempo, e nem todas as informações necessárias estão sempre disponíveis, dificultando um cálculo absolutamente preciso. Desde novembro de 2018, a ANP divulga semanalmente uma referência de formação de preços no país, utilizando dados da S&P Global Platts. A Abicom também publica diariamente o PPI, com base em suas próprias fontes. No entanto, devido à diversidade de variáveis e metodologias, os cálculos dessas instituições frequentemente divergem.
Com isso em mente, criamos nosso próprio rastreador de preços para gasolina e diesel, utilizando a seguinte metodologia:
- Custo de aquisição do barril:
Utilizamos, inicialmente, o preço de referência de comercialização da Costa do Golfo, devido à proximidade geográfica e à relevância dessa região como principal fonte de derivados para as empresas importadoras brasileiras. Com a descontinuidade dessa fonte, passamos a utilizar o preço médio dos Estados Unidos, ajustado para se aproximar do indicador antigo, já que os preços da Costa do Golfo eram mais baixos do que a média nacional. Esses dados são obtidos via Bloomberg. - Ajustes relacionados ao RVO (Renewable Volume Obligations):
Nos Estados Unidos, as refinarias são responsáveis por incluir biocombustíveis no combustível final, como parte da política de redução de emissões de gases de efeito estufa. No entanto, esse custo não é aplicado aos derivados destinados à exportação. Assim, ajustamos o preço do barril para excluir o custo associado ao RVO, com base nas proporções obrigatórias de biocombustíveis definidas pela EPA (Environmental Protection Agency) e nos preços desses combustíveis. - Qualidade do combustível:
A gasolina comercializada na Costa do Golfo possui maior octanagem do que a brasileira. Por isso, aplicamos um desconto ao preço do barril para torná-lo compatível com os padrões nacionais. - Custos logísticos:
Incluímos os custos de transporte marítimo, impostos, taxas portuárias, transporte rodoviário e outros fatores. Devido às dimensões continentais do Brasil, esses custos variam entre regiões, o que cria diferentes PPIs dentro do país. Como esses custos não são públicos, estimamos seu impacto a partir do PPI divulgado pela ANP, retrocalculando os custos logísticos necessários para compor o preço final. - Defasagem temporal:
Consideramos um intervalo de 2 a 3 semanas entre a aquisição do derivado no exterior e sua comercialização no Brasil. Assim, ajustamos os valores de comparação para refletir essa defasagem temporal.
Com essa metodologia, buscamos oferecer uma estimativa confiável do PPI, mesmo diante das limitações impostas pela falta de informações públicas e pela complexidade dos fatores envolvidos.