Prejuízo chama atenção, mas não se preocupe!
Por enquanto, mantemos a nossa recomendação de MANTER. Acreditamos que o prejuízo apresentado no trimestre vá estar na capa dos jornais ao longo do dia. Entretanto, pedimos para que os acionistas da empresa não se preocupem tendo em vista a natureza desse prejuízo. A empresa teve dois eventos não-recorrentes que acabaram pro trazer impactos em seus resultados. O primeiro foi o reconhecimento de um custo de R$10,6 bilhões na despesa financeira referente ao acordo com o CARF anunciado no último dia 18/06 (para maiores detalhes, por favor, clique aqui – Petrobras (PETR4) | Decisão sobre “Risco CARF”: valor menor e em muitas parcela + Dividendos Preservado!”). No relatório, escrevemos que a decisão era positiva por eliminar um risco maior (que poderiam chegar até R$44 bilhões) e preservar os futuros pagamentos de dividendos da empresa. O segundo ponto a ser mencionado diz respeito a marcação a mercado da dívida da empresa (que é parcialmente dolarizada) devido a expressiva desvalorização do real ao longo do trimestre, que acabou por impactar o resultado negativamente em R$18,7 bilhões. Nessa caso, é importante entender que esse evento não tem efeito caixa de imediato (o valor de toda a dívida dolarizada é atualizada em reais de uma única vez) e a Petrobras é uma empresa que tem o seu principal produto dolarizado. Sendo assim, eventuais desvalorizações no real são compensadas na receita da empresa, trazendo conforto ao seu fluxo de caixa em relação ao dispêndio financeiro com a dívida dolarizada.
Acreditamos que a geração de caixa livre da empresa foi bem razoável mesmo em um trimestre com margens de refino sob pressão e que com a normalização da paridade de preços ao longo do trimestre passado – ainda que alguma preocupação pode ser levantada daqui por diante com a recente desvalorização do dólar. Por último, a redução do investimento esperado para 2024 de US$16 bilhões para US$13,5-14,5 bilhões deve trazer algum conforto quanto fluxo de caixa da empresa para o 2S24.
Aos atuais níveis de preço, vemos PETR4 negociando a 2,7x EV/EBITDA 24E e com rendimento em dividendos 2024E de 16%. Julgamos números interessantes e razoáveis tendo em vista o risco-retorno de se investir em uma petroleira estatal. Dito isso, seguimos com a recomendação inalterada. Ressaltamos que a possibilidade rumorada do governo seguir distribuindo dividendos extraordinários no 2S24 deve ser acompanhada de perto e tende a ser um gatilho interessante para a empresa ao longo do ano.
A geração de caixa livre (Fluxo de caixa operacional – Investimentos) fechou em patamares muito interessantes: R$31 bilhões. Tal valor representa um rendimento de 6,1% no trimestre e 24% e termos anualizados (fluxo de caixa/valor de mercado da empresa), interessante e em linha com o esperado por uma petroleira madura no estágio de produção e com o atual nível de preços do petróleo. Acreditamos que essa linha é uma das mais sensíveis da tese da Petrobras tendo em vista os riscos de investimentos inapropriados, subsídios diversos, etc. O grande temor permanece no uso desses recursos com foco de acelerar a transição energética em projetos que julgamos pouco interessante tendo em vista os grandes retornos do segmento de E&P, especialmente o pré-sal e a margem equatorial.
Indo ao que interessa: Dividendos!
A empresa anunciou a distribuição de R$13,6 bilhões em proventos, equivalente a R$1,05/ação. Tal pagamento deve acontecer em duas parcelas, sendo a 1º parcela a ser paga no valor de R$0,52/ação no dia 21/11/24 e a 2º parcela a ser paga no valor R$0,52/ação no dia 20/12/24. Tal valor não implica na distribuição de dividendos extraordinários. Em termos anualizado e razoavelmente normalizados, estamos falando de um rendimento de pelo menos 11% ao ano. Interessante, mas não o suficiente para justificar um posicionamento mais agressivo no papel. Como a empresa apresentou prejuízo nesse trimestre, não houve lucro extraordinário e nem a destinação destes recursos a reserva de capital.
Uma vez mais, citamos a evolução da dívida bruta, que alcançou US$59,6 (vs US$61,8 bilhões no 1T24). Julgamos esse movimento como positivo para tese da empresa tendo em vista a evolução desse indicador ao longo dos últimos trimestres (dívida bruta era de apenas US$53,3 bilhões no 1T23). Julgamos o acompanhando desse ponto como importante tendo em vista a atual política de dividendos, que só é válida caso a dívida bruta não ultrapasse US$65 bilhões. Ou seja, esse pequeno decréscimo na dívida bruta trás, ao menos por enquanto, um certo conforto em relação a pagamento de dividendos.
Lembramos uma vez mais que o atual fórmula de pagamento de dividendos só é válida desde que a dívida bruta não ultrapasse US$65 bilhões. Sendo assim, a evolução da dívida bruta fica sendo outro ponto de atenção a ser acompanhando daqui por diante. A dívida líquida ficou em US$46 bilhões, implicando em uma relação 0,95x Dívida Líquida/EBITDA 12M.
Como grande incertezas a tese, citamos: I) deságio em relação aos preços de paridade internacional, II) Investimentos em novas refinarias, mesmo com o passado controverso no desenvolvimento das mesmas, III) aumento do uso da empresa como apoio para políticas de conteúdo nacional, o que deve pressionar a linha de investimentos da empresa, IV) rumores/possibilidade de uso da empresa para recompra de ativos previamente vendidos (refinarias, BR Distribuidora/Vibra, Braskem, Eletrobrás etc.) e V) plano de investimentos 2025.
Detalhamento do Resultado 2T24
Resultado da empresa ficou abaixo das nossas estimativas e do consenso devido a uma série de impactos não recorrentes no trimestre. A receita totalizou R$122 bilhões no 2T24, abaixo das nossas estimativas e do conenso. No segmento de E&P, O brent realizado foi de US$84,9/barril, razoavelmente em linha com o preço praticado ao longo de todo ano e em nossas estimativas.
As receita no segmento de Exploração & Produção alcançaram R$81 bilhões (+12% vs 2T24), devido a desvalorização do real vs dólar e maior preço do brent, sendo ligeiramente compensado pelos menores volumes produzidos no trimestre (2,7 milhões bpde vs 2,78 milhões bpde no 1T24). Tal queda foi resultado de uma série de paradas de produção e manutenções planejadas na Bacia de Campos e Bacia de Santos, somados ao declínio natural dos de alguns campos produtivos. Sendo assim, devemos enxergar a recuperação dessa produção em breve.
No segmento de Refino, Transporte e Comercialização (“RTC”), a receita alcançou R$114 bilhões (+10,2% vs 2T23). o preço dos derivados básicos para o mercado interno declinou para R$476 barril (praticamente em linha vs 4T23), refletindo preços praticados menos interessantes ao longo do trimestre.
O EBITDA consolidado recorrente ficou em R$49 bilhões e com uma geração de caixa livre recorrente (fluxo de caixa operacional – Investimentos) de R$32 bilhões. Excluindo os efeitos não recorrente, o EBITDA teria sido de R$62 bilhões (R$59 bilhões no 2T23). As despesas operacionais totalizaram R$26 bilhões (vs R$15 bilhões no 2T23). Principal impacto negativo no trimestre foi o reconhecimento do impacto atuarial da revisão do plano de saúde na ordem de R$6,9 bilhões.
Dentro das despesas operacionais, as despesas gerais e administrativas ficaram em R$9,4 bilhões vs R$7,9 bilhões no 2T23, incremento de 20% a/a – refletindo o impacto dos acordos de trabalho ao longo de 2023 e maiores gastos com serviços de terceiros.
Os investimentos foram de US$3,4 bilhões (vs US$3,0 bilhões no 1T24), sendo 81% desse valor focado no segmento de Exploração & Produção – em linha com o atual plano de negócios da empresa. Como antecipamos, os investimentos esperados para 2024 foram revistos para US$13,5-14,0 bilhões vs nossa estimativa anterior de US$16 bilhões (que ja era subestimado em relação ao Planejamento Estratégico da empresa). Esse primeiro trimestre indica que o investimento realizado pode ficar abaixo do esperado em seu planejamento estratégico.
Assim, a empresa apresenta no 2T24, com um prejuízo de -R$2,4 bilhões. Como mencionado anteriormente, os acontecimentos são não recorrentes, amplamente reconhecidos (como o caso do acordo com o CARF) ou sem impacto caixa relevante. No final do dia, a geração de caixa da empresa foi muito saudável e é nisso que o investidor deve focar.