Por enquanto, mantemos a nossa recomendação de MANTER. Avaliamos os resultados da Petrobras como neutros. Ainda que abaixo do consenso, é importante mencionar que o resultado trimestral foi puxado para baixo devido a um evento não-recorrente e não-caixa de valor expressivo: R$7,4 bilhões. Excluindo esse feito não-recorrente, o EBITDA no 4T23 teria sido de R$74,3 bilhões, em linha com a estimativa. Em nossa leitura, o grande ponto de atenção do trimestre foi o que podemos considerar o pagamento de dividendos: muito aquém do que poderia ser tendo em vista a forte geração de caixa da empresa (R$39,8 bilhões no 4T23, implicando em um rendimento de pouco mais de 7% no tri em termos de Fluxo de Caixa/Valor de Mercado da empresa). O grande temor permanece no uso desses recursos com foco de acelerar a transição energética em projetos que julgamos pouco interessante tendo em vista os grandes retornos do segmento de E&P, especialmente o pré-sal e a margem equatorial.
Dividendos!
A empresa anunciou o envio para aprovação da Assembléia Geral Ordinária a ser realizada no dia 24/04 a distribuição de dividendos de R$14,2 bilhões, sendo que esse total já considera R$2,7 bilhões de recompras realizados ao longo do 4T23. Tal valor implica em um dividendo por ação de R$1,0989/ação e deverão ser pagos em duas parcelas de R$0,5494/ação nos meses de Maio e Junho. Tal valor implica em um rendimento de 2,7% no 4T23 e 10,8% em termos anualizados – interessante, mas não o suficiente para justificar um posicionamento mais agressivo no papel.
Considerando fluxo de caixa operacional (R$57,6 bilhões) – Investimentos (R$17,6 bilhões) x 45%, os proventos a serem distribuídos seriam de R$18,0 bilhões. Desse valor, R$2,7 bilhões foram utilizados como recompra de ações e outros R$1,1 bilhão foi referente a correções pela Selic dos juros e JCSP pregressos. Sendo assim, concluímos que uma vez mais não houve a distribuição extraordinária de dividendos.
A empresa anunciou que o lucro remanescente do exercício de 2023 foi de R$43,4 bilhões e deverá ser integralmente destinado para reserva de remuneração de capital com o objetivo de assegurar recursos para dividendos, juros sob capital próprio e recompras. Caso distribuído, esse valor representaria R$3,3/ação adicionais aos proventos pagos pela empresa em 2023 (o que adicionaria c. 8,3% de dividendos adicionais para os acionistas da Petrobras aos atuais níveis de preço). Vale lembrar que essa reserva estatuária foi criada em meio a grande controvérsia a época, afinal de contas os valores sempre foram pagos de imediato (para maiores informações, cliquei aqui “PETR4 | Proposta de Revisão do Estatuto Social – Mais Dúvidas do que Certezas!”).
Uma vez mais, citamos a evolução da dívida bruta, que alcançou US$62,6 bilhões no 4T23 (vs US$60,9 bilhões no 3T23 e US$53,8 no 4T22). Lembramos uma vez mais que o atual fórmula de pagamento de dividendos só é válida desde que a dívida bruta não ultrapasse US$65 bilhões. Sendo assim, a evolução da dívida bruta fica sendo outro ponto de atenção a ser acompanhando daqui por diante.
Como grande incertezas a tese, citamos: I) deságio em relação aos preços de paridade internacional, II) Investimentos em novas refinarias (a despeito do passado controverso no desenvolvimento de suas últimas refinarias), III) aumento do uso da empresa como apoio para políticas de conteúdo nacional, o que deve pressionar a linha de investimentos da empresa, IV) rumores/possibilidade de uso da empresa para recompra de ativos previamente vendidos (refinarias, BR Distribuidora/Vibra, Eletrobrás etc.).
Detalhamento do Resultado 4T23
EBITDA ficou em abaixo das nossas estimativas e do consenso devido a efeito não-recorrente. A receita totalizou R$134 bilhões no 4T23, Razoavelmente em linha com as nossas estimativas. No segmento de E&P, O brent realizado foi de US$84/barril, razoavelmente em linha com o preço praticado ao longo de todo ano e em nossas estimativas. As receita no segmento de Exploração & Produção alcançaram R$91,7 bilhões (+4,8% vs 3T23). A produção do trimestre foi de 2,9Mboed, acima do trimestre passado (+1,4% vs 3T23). A produção do Pré-Sal alcançou recorde, produzindo 1,9Mboed.
No segmento de Refino, Transporte e Comercialização (“RTC”), a receita alcançou R$125 bilhões (+8,2 vs 3T23). Com o maior volume processado, o preço dos derivados básicos para o mercado interno apresentou uma recuperação para R$516 barril (11% vs 3T23), refletindo a melhor manutenção da paridade de preços ao longo do trimestre. Como mencionado em outros documentos, a empresa está destinando maior percentual da produção para atender o mercado interno e aumentando os fatores de utilização do segmento.
O EBITDA consolidado recorrente ficou em R$66 bilhões e com uma geração de caixa livre recorrente (fluxo de caixa operacional – Investimentos) de R$39 bilhões. As despesas operacionais totalizaram R$32 bilhões (vs R$17 bilhões no 3T23) devido principalmente ao impacto não recorrente de R$10,7 bilhões em impairments em campos de óleo e gás. Entretanto, é importante mencionar que a linha de despesas administrativas teria ficado mais elevada devido a novas contratações e serviços de terceiros.
Os investimentos foram de US$3,6 bilhões (vs US$2,9 bilhões no 4T22), sendo 80,% desse valor focado no segmento de Exploração & Produção – em linha com o atual plano de negócios da empresa. .
Por fim, a Dívida Líquida alcançou R$203 bilhões (US$44,7 bilhões) no 4T23, fechando o trimestre com uma Dívida Líquida/EBITDA de 0,85x – como mencionamos, imaginamos que essa linha vá ser acompanhada de perto nos próximos trimestres.
Assim, a empresa apresenta no 4T23, com um lucro líquido de R$31 bilhões (vs R$43 bilhões no 4T22).