Conclusão
Achamos a troca do sr. Prates como negativa para tese da Petrobras – ainda que ainda seja cedo para chegarmos a alguma solução quantitativa em relação a esse evento, para que possamos estimar o respectivo impacto em nossas estimativas. Achamos a gestão do executivo como muito razoável e ponderada se considerarmos o cenário que se desenhava no momento em que tomou posse do cargo. Tal postura ajudou a ação a performar muito bem ao longo dos últimos 15 meses, quando PETR4 chegou a negociar a R$22/ação em Dezembro/22 e alcançou a máxima histórica em Feveiro/24, negociando acima dos R$42/ação. O grande risco em sua substituição reside no retorno e/ou acentuamento de políticas que julgamos equivocadas por parte da empresa, principalmente no que diz respeito a alocação de capital. Considerando o fluxo de notícias dos jornais locais, demandas relacionadas ao investimento em gasodutos e políticas industriais ao setor naval estão dentre os motivos da troca do cargo. Se por um lado o direcionamento da empresa a partir de agora está claro, resta saber a intensidade que essas questões serão aplicadas na empresa. Por enquanto, imaginamos que só vamos ter maior grau de materialidade em relação a esse ponto no próximo Planejamento Estratégico da empresa, que deve ser anunciado apenas em 2025.
Jean Paul Prates. Em sua posição como presidente, a empresa manteve o foco dos seus investimentos no segmento de Exploração & Produção (sem nunca anunciar nenhum programa de conteúdo nacional ou de suporte a indústria naval), manteve em termos razoáveis a paridade de preços nos combustíveis ao longo do tempo, conservou a estrutura de custos da empresa e manteve o fluxo de pagamento de dividendos da empresa (votando favoravelmente a distribuição dos dividendos extraordinários, inclusive).
O Equilibrista. Ainda assim, a empresa incrementou os investimentos esperados em relação ao Plano de Negócios anunciado pela gestão anterior (US$102 bilhões vs US$73 bilhões), suspendeu oficialmente a política de paridade de preços, suspendeu a política de desinvestimentos de ativos não-estratégicos e estava avançando na negociação para aquisição da Braskem e de uma fatia na Refinaria Mataripe. como mencionamos anteriormente, sua gestão foi marcada pelo razoável equilíbrio entre o que consideramos a boa gestão da empresa e o atendimento de demandas históricas e interesses do Governo Federal. Aparentemente, tal ponderação não foi o suficiente e sua substituição foi anunciada no dia de ontem.
Quem deve entrar? A Petrobras anunciou via fato relevante a renúncia antecipada do seu presidente, Jean Paul Prates. Sr. Prates deve ser substituido pela sra. Magda Chambriard. De acordo com seu perfil profissional público nas redes sociais, a sra. Chambriad é formada em Engenharia de Petróleo e possui Mestrado na mesma área. A profissional tem vasta experiência profissional como engenheira de Petróleo na própria Petrobras, Diretoria da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Combustiveis (ANP), Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA) e outros. Em publicações em seu perfil público, defendeu o investimento no segmento de refino e criticou a distribuição de dividendos por parte da Petrobras. Como mencionamos anteriormente, observamos nesses pontos como riscos a tese da empresa e acreditamos que a evolução desses tópicos devem ser acompanhados.
Dividendos. Até o final de 2024, achamos que existe espaço limitado para grandes alterações na tese – Vale lembrar que a Petrobras é um “transatlântico” e não um jet-ski no que diz respeito a eventuais guinadas corporativas. Entretanto, achamos que um dos principais pontos a serem observados deva ir na direção da distribuição de dividendos, a começar pela outra metade não distribuídas dos dividendos extraordinários referente ao resultado de 2023. Para além de 2025, é importante observar o posicionamento da nova presidente no que diz respeito a distribuição de dividendos da empresa. Aos leitores, é importante mencionar que maiores investimenos devem, necessariamente, gerar menor fluxo de dividendos tendo em vista a fórmula vigente para distribuição de dividendos.
Política, sempre ela. A alteração do Sr. Prates é inoportuna para além da realidade corporativa da Petrobras se considerarmos que tal alteração acontece em meio a queda na aprovação do Governo Federal. Para além do eventual aumento do escopo dos investimentos a serem tocadas pela empresa, existe o risco do uso político da empresa, seja via subsídio de preços dos combustíveis ou em investimentos pouco interessantes. Vale lembrar que apesar de diversos freios criados para evitar esse tipo de cenário, a Lei das Estatais e o estatuto da empresa sofreram alterações que julgamos negativas desde 2022. Vale lembrar que o próprio Prates foi Senador pelo mesmo partido político do presidente da república e sua nomeação só foi possível depois da alteração na lei das estatais.