Conclusão
Evento positivo para as produtoras de petróleo. Naturalmente, preços do brent mais alto tende a beneficiar empresas produtoras. Dentre os cases mais beneficiados, citamos Petrobras (PETR4) e Prio (PRIO3). Ainda é cedo para trabalhar no contexto de impacto em estimativas por ainda não termos certeza sobre o quão duradouro será o impacto dos eventos do dia de hoje nos preços do petróleo. Por enquanto, nossa impressão é que o Irã terá pouco espaço para retaliação.
PETR4 | Petrobrás não apenas é a grande produtora, como tem os menores custos de produção. Entretanto, os recentes cortes anunciados no segmento de refino deve acabar por limitar os ganhos – mas nem de longe retirar o brilho da ação. Caso os preços do brent permaneçam na casa dos US$75/barril, a empresa terá espaço de sobra para distribuir dividendos extraordinários.
PRIO3 | Fluxo de Peregrino já pertence a empresa! Empresa tem 100% da sua receita exposta a produção de petróleo e, com custos de extração competitivos, tem todo o espaço do mundo para se beneficiar desse momento. Por último, é importante mencionar que os fluxos da aquisição de fatia de 60% de Peregrino já pertence a empresa e deve ser abatida do valor a ser desembolsado pela empresa no momento que o deal for fechado.
Os fatos
Ataque de Israel ao Irã. Na noite de ontem Israel realizou um ataque militar ao Irã. As motivações do ataque estariam relacionadas a possibilidade do Irã concluir o seu plano nuclear com o objetivo de construir bombas atômicas. Até o momento, as notícias apontam que foram atingidas apenas instalações estratégicas e indivíduos envolvidos com a campanha de desenvolvimento nuclear do país.
Petróleo disparou e alcançou os US$75/barril. Desde o “Liberation Day”, o petróleo passou a negociar na casa dos US$60-65/barril. Com os eventos de ontem, o petróleo brent alcançou os US$75/barril depois de uma alta de até 13% em relação aos preços de fechamento do último dia de negociação.
Não é incomum o petróleo disparar em eventos dessa natureza onde os preços do petróleo passam a operar com maior prêmio de risco. Entretanto, a manutenção dos preços nesse patamar depende de alguns pontos a ser acompanhados daqui por diante:
I) Destruição da Infraestrutura de Petróleo: o incremento dos prêmios de risco do preço do petróleo tentam antecipar uma possível disrupção na oferta. As guerras modernas se tornam cada vez mais precisas, limitando esse risco. Entretanto, não é um evento a ser descartado. Importante mencionar que uma escalada nos preços do Petróleo não é um cenário desejável para os EUA e Israel.
II) Estreito de Ormuz: É um canal marítmo que conecta o golfo pérsico ao Mar de Omã e Oceano Índico. Por esse estreito passam o equivalente a 17 milhões barris de petróleo/dia (c. 17% do volume total de petróleo produzido ao dia). É uma rota maritma comercial utilizada pelo Kuwait, Bahrein, Catar, Arabia Saudita e Iraque. Dito isso, o Irã pode tentar realizar algum tipo de bloqueio do escoamento do produto de maneira direta (ataques militares, uso de drones, etc) ou indireta (apoio a rebeldes locais, por exemplo). Tal decisão teria limitações, afinal de contas, outros países produtores utilizam a mesma região para escoar sua produção. É importante mencionar que a área tem uma grande cobertura militar dos EUA, Reino Unido e outros países da região. Por último, Arábia Saudita e Emirados Árabes são notórios adversários políticos da Irã.

Fonte: Google Maps
III) A OPEP & I e II Crise do Petróleo:
A primeira crise do petróleo (1973-1974) aconteceu com apoio dos países da OPEP ao Egito e Síria que tinham acabado de atacar Israel (Guerra do Yom Kippur). Como EUA e países europeus ofereceram apoio militar a Israel, OPEP decidiu retaliar com um embargo contra os EUA, Holanda, Japão e outros países Israelenses. O preço do petróleo saiu de US$3/barril para US$12/barril.
A segunda crise do petróleo (1979-1980) aconteceu devido a revolução Islâmica no Irã, seguida pela Guerra Irã-Iraque. O preço petróleo saltou de US$15/barril para US$40/barril. Tal evento resultou em recessão e alta dos juros globais.
O que queremos dizer com isso tudo? Eventualmente, o apoio dos demais países árabes pode fazer com que eventos similares a crises do petróleo de antes venham a se repetir. Não achamos algo nesse sentido vá acontecer – a própria relação entre os países mudou com o tempo, mas achamos importante olhar esses acontecimentos do passado para entender o que pode acontecer daqui por diante. A própria Arábia Saudita é, hoje, o principal adversário política do Irã na Região.
Quem ganha e quem perde?
As produtoras de petróleo são as vencedoras naturais nesse tipo de evento: Petrobras (PETR4), Prio (PRIO3), Brava (BRAV3) e Petrorecôncavo (RECV3). Entretanto, é importante contextualizar cada um dos nomes em relação a um movimento de alta de preços, principalmente caso eles se mantenham nos níveis atuais.
Petrobras (PETR4) | A empresa possui mais de 80% do seu resultado operacional derivado do segmento de Exploração & Produção. Com os menores custos de extração da indústria, a empresa é uma das maiores beneficiadas em movimentos de alta do preço do petróleo. Entretanto, o segmento de refino (que acabou de anunciar um novo corte de preços) deve ficar em situação delicada e reter parte dos ganhos a medida que os repasses são pouco prováveis. Com petróleo na casa dos US$75/barril – e desde que ele se mantenha nesse patamar, a empresa vai ter espaço para pagar dividendos extraordinários sem grandes questionamentos por parte dos investidores, em nossa opinião.
Prio (PRIO3) | Com suas receitas 100% expostas a produção de petróleo e custos de extração muito baixos, a empresa deve ser a segunda mais beneficiada com o petróleo nesse patamar. É importante mencionar que a aquisição do Campo de Peregrino ainda não foi 100% consolidada pela empresa, mas a geração de caixa da fatia de 60% até a sua conclusão já pertence a empresa e tal valor deve ser descontada do preço a ser pago pela Prio no momento que a aquisição for concluída.
Brava (BRAV3) & Petrorecôncavo (RECV3) | Ambas as empresas também se beneficiam, ainda que de maneiras distintas. A Petrocôncavo tem um grande volume de contratos de gás (geralmente com preços pré-estabelecidos), limitando os ganhos vs seus pares. Com o endividamento baixo, deve seguir distribuindo generosos dividendos (rendimento esperado entre 16-18% em 2025). Já a Brava, deve seguir em um processo de desalavancagem muito interessante até o final do ano caso caso estabilize a sua produção em 95k bpde até dezembro/25.
Irã e o Xadrez Geopolítico da Região – Motivo do Isolamento
O apoio histórico que a Arábia Saudita deu ao Irã ficou no passado. Um dos pontos de ruptura aconteceu exatamente na Revolução Islâmica do Irã em 1979, quando o Irã deixou de ser uma Monarquia Constitucional (ainda que autoritária, na prática) governada pelo Xá Mohammad Reza Pahlavi e se transformou em uma Teocracia Islâmica, governado pelo Aitolá Khomeini (1979-1989) e atualmente pelo pelo lider supremo Ali Khamenei (1989 até agora).
Sendo assim, a Arábia Saudita é uma Monarquia Absolutista (atualmente sob comando do Rei Salman Bin Abdulaziz Al Saud, mas sendo governada de fato pelo Príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman) e líder natural da região devido a sua relevância econômica, produção de petróleo e proximidade com o ocidente. Os conflitos do Irã com a Arábia Saudita, de maneira resumida, se dá exatamente devido aos conflitos naturais entre uma teocracia islâmica e uma monarquia absolutista.
Apesar da simpatia à causa palestina, Arábia Saudita e demais países da região estavam se aproximando de Israel e estavam as vésperas de uma normalização diplomática – até os ataques do Hamas a Israel no dia 07/10/2023. O objetivo era aumentar o custo dessa aproximação ao mundo árabe devido o natural o revide de Israel à Palestina – o que acabou por acontecer, como bem sabemos. Por último, é importante ter em mente que o Irã suporta/financia uma série de guerras por procuração/grupos terroristas na região como o Hezbollah e o próprio Hamas.
Isolamento: o isolamento do Irã em relação aos demais países da região acontece devido a incompatibilidade ideológica do país em relação aos demais (por se tratar de uma teocracia islâmica), disputas políticas por influência regional com a Arábia Saudita e demais países mais próximos aos ocidente, liderança religiosa frente ao Islã e conflitos diretos/indiretos com diversos países como Israel ou suporte indireto a organizações terroristas ou grupos rebeldes.
