Cenário Global
Apesar de a irregularidade na entrega de veículos persistir, já não observamos paralisações nas principais montadoras. O cenário para o setor automotivo segue melhorando, porém, ainda longe dos níveis pré-pandemia. Do lado da oferta, a produção global de veículos evoluiu na comparação mensal, mas ainda penalizada pela escassez de semicondutores. Evidentemente, não estamos no mesmo cenário de 2 anos atrás, mas ainda não estamos em solo firme.
Durante o mês de agosto, devido a uma onda de calor que atingiu a China, o país se viu na obrigação de fechar fábricas para conter o consumo de energia, e, consequentemente, evitar apagões. Sichuan, por exemplo, ordenou o fechamento de todas as fábricas por 6 dias para aliviar a falta de eletricidade. A província, além de ser um centro de mineração de lítio (material usado em baterias de carros elétricos), também é um dos maiores e mais importantes locais de fabricação para a indústria de semicondutores.
Além disso, a política de “Covid Zero” permanece sendo implementada na China. Ao todo, estima-se que 65 milhões de chineses em 33 cidades foram proibidos de saírem de casa, devido ao recente aumento no número de casos por covid na região.
O primeiro semestre turbulento, levou montadoras a reduzirem seus planos de produção para o ano de 2022. As expectativas das montadoras é de que aproximadamente 33 mil veículos deixarão de ser fabricados, sendo mais da metade desses na América do Sul. Ao todo, 3,16 milhões de veículos deixarão de ser produzidos esse ano, o que se somado ao número do ano passado totaliza mais de 10 milhões de automóveis que deixaram de ser fabricados.
Brasil
A Fenabrave divulgou os dados de emplacamento relativos ao mês de agosto. Na comparação mensal, tivemos aumento no número de emplacamentos em todos os segmentos, já na comparação com o mesmo período do ano passado, tivemos redução no número de registro tanto em caminhões, quanto em implementos rodoviários, que caíram, respetivamente, 2,76% e 4,54%. No acumulado, com exceção de ônibus e motos, todos as categorias apresentaram quedas, com destaque para o segmento de comerciais leves, que até o mês de agosto totalizou aproximadamente 14% menos emplacamentos que o mesmo período do ano passado.
Boa parte dessa redução pode ser explicada pela diferença entre o cenário atual e o de um ano atrás. Ano passado, apesar da falta de semicondutores, que restringiu a oferta de veículos, tivemos um cenário com forte retomada econômica, marcado por incentivos monetários e juros baixos.
A restrição de oferta se mantém, porém, em níveis menores, levando a uma melhora substancial na produção de veículos. Contudo, o real problema está na união entre a recente alta de juros e preço dos automóveis, reduzindo os níveis de demanda. Segundo o IPCA relativo ao mês de agosto, os preços de automóveis usados e novos acumulam altas respectivas de 10,24% e 15,86% nos últimos 12 meses. Mesmo com o índice apresentando uma deflação de 0,36% em agosto, os preços de veículos novos e usados ainda assim apresentaram ligeira alta de 0,36% e 0,26% respectivamente.
Não conseguimos enxergar o preço dos veículos retornando aos níveis de 2019. Devido à limitação nos estoques de veículos, as montadoras tiveram que optar por fabricar mais veículos “não populares”, visto que possuíam margens maiores. Esperamos que mesmo após uma possível normalização na oferta de componentes eletrônicos, as companhias ainda assim optem por um mix mais premium do que o de 3 anos atrás. Já vemos essa tendência no mercado americano, com vendas crescente de SUVs e Pickups e vendas de veículos leves caindo. Se o mesmo ocorrer no Brasil, veremos uma menor correção de preços, já que cada vez menos veículos de entrada serão fabricados.
ANFAVEA
Analisando os dados divulgados pela ANFAVEA, destacamos que a produção de automóveis segue crescente no Brasil, apesar do cenário global desafiador. A fabricação total de automóveis em agosto somou 238 mil unidades, número 8% maior que o mês de julho e 44% maior que o mesmo mês no ano passado. A produção de comerciais leves totalizou 36 mil unidades, sendo 15% menor na comparação mensal e 27% maior anualmente. Por fim, foram produzidos 17 mil caminhões, +35,3% m/m e +15% a/a.
EUA
As vendas no mercado americano seguem em patamares abaixo da pandemia. O número de automóveis vendidos no mês de agosto foi de 240 mil unidades, sendo 2% maior que o mês anterior e 5% menor que o mesmo mês no ano passado. O que nos chama atenção é o fato de o número de vendas quando comparado ao mesmo mês de 2019 ser 45% menor. Já no segmento de caminhões (leves e pesados), o total de vendas em agosto totalizou 926 mil, ficando em linha com o mês anterior, 6% maior a/a, e, assim como nos automóveis, apresentando queda expressiva, chegando a um decaimento de 26% com relação a 2019. O principal motivo que explica essa queda nas vendas é o cenário econômico deteriorado, influenciado principalmente pelo alto índice de inflação, que chegou a bater alta de 8,3% em sua última divulgação, patamar que não era visto desde 1982. Além disso, a falta de estoques das concessionárias americanas se encontra em patamares históricos, o que prejudica ainda mais o setor.
Empresas
Tupy (TUPY3):
Apesar de estar abaixo dos níveis de 2 anos atrás, a demanda por caminhões leves e pesados segue estável, diferente do que vemos nos veículos leves, o que deve suportar bons níveis de volume para a Tupy nesse mercado. Por possuir cerca de 52% de sua receita vinda dos EUA, o aumento da inflação é um dos pontos que preocupam no curto prazo. Por outro lado, o patamar de estoques de veículos, em mínimas históricas, nos faz crer que o processo de recomposição pode sustentar os níveis de volumes nos patamares atuais, mesmo num cenário adverso.
Do lado do Brasil, a demanda de pesados e máquinas agrícolas permanece em um nível forte. Do lado de veículos leves, menos representativo para Tupy, ainda vemos uma demanda sendo sustentada pelas locadoras com varejo enfraquecido. A manutenção das taxas de juros em patamares elevados deverá prejudicar a demanda por parte do varejo. Outro ponto de atenção fica na parte da oferta, principalmente no que tange aos semicondutores, o noticiário ruim de China pode voltar a impactar que a oferta e restringir a produção no curto/médio prazo.
Vale lembrar que o problema relacionado ao abastecimento de semicondutores está impactando menos o mercado de caminhões, visto que possuem menos tecnologia embarcada. O ponto positivo fica no lado das máquinas agrícolas, seguem com forte demanda. No acumulado até julho, as vendas de máquinas agrícolas de 2022 são 21% superiores ao ano de 2021.
Seguimos com nossa recomendação de COMPRA para Tupy com preço alvo de R$ 28.
Randon (RAPT4):
Embora estejam em queda na comparação anual, as vendas de implementos no Brasil continuam em níveis elevados, com 7,8 mil unidades vendidas em agosto, um aumento de 6,5% mês a mês e uma queda de 4,53% na comparação anual. Nos dados divulgados referentes à receita de julho, observamos uma Randon que segue superando seus números de 2021. No acumulado até julho, sua receita se mostrou 28% superior à do ano de 2021. Na comparação mensal, houve queda de 4,5%. Na Fras-le, houve leve queda mensal de 4,3% no faturamento. No acumulado do ano a alta é de 21,6% a/a, refletindo a demanda no mercado de reposição, que segue alta.
Assim como em Tupy, o agronegócio deve continuar sustentando a operação da companhia. Graneleiros e Basculantes seguem sendo os destaques de vendas (ANFIR). Além disso, a implementação do Euro 6 a partir de janeiro de 2023 deverá impulsionar as vendas de caminhões Euro 5. Em conversa com o presidente do Sindipeças Cláudio Sahad, foi dito que a expectativa é de um aumento entre 10-15% no preço dos veículos com as novas tecnologias de controle de emissão de poluentes. De uma forma muito menos intensa, estão observando um efeito de pre-buy por parte de empresas que são grandes compradoras de caminhões.
Seguimos com nossa recomendação de COMPRA para Randon com preço alvo de R$16.