Randoncorp e Tupy divulgam seus resultados do 3T23 nos dias 09 e 11 de novembro, respectivamente. Ao longo deste relatório discorreremos sobre nossas estimativas para os resultados do trimestre. Além disso, faremos nosso tracking trimestral dos dados disponibilizados por Anfavea, BEA e ACEA, entidades que representam as montadoras no Brasil, EUA e na Europa, respectivamente.
No cenário doméstico, a produção de caminhões segue desafiadora, prejudicando as empresas que fornecem autopeças para montadoras. No entanto, o setor de autopeças de reposição apresenta perspectivas positivas. Com uma menor alocação de recursos para a compra de caminhões zero km, observamos a demanda de implementos pontualmente mais forte. Internacionalmente, EUA e Europa mostram uma boa dinâmica boa em pesados, enquanto a produção de veículos leves nos EUA foi impactada pela greve das montadoras.
Analisando especificamente os resultados das empresas em cobertura, esperamos que a Randoncorp apresente um resultado pior, com margens operacionais caindo na comparação trimestral. No caso de Tupy, esperamos resultados neutros, com margens em expansão, uma demanda resiliente por máquinas off-road no mercado externo, porém com volumes locais prejudicados pelas adversidades relacionadas a produção reduzida de caminhões no Brasil.
Entendemos que os desafios são conjunturais e não estruturais. Reiteramos nossas recomendações de COMPRA para Randoncorp (RAPT4), com preço alvo de R$ 15,00 e para Tupy (TUPY3) com preço alvo de R$ 36,00.
Cenário Doméstico: Mais um trimestre frustrante para pesados
No Brasil, a produção de veículos pesados segue em baixa, como consequência de um ritmo mais lento de vendas que apresentou queda de 26% no trimestre. A implementação da motorização Euro 6, aliada aos juros elevados e baixas concessões de crédito resultaram em revisão das projeções para 2023 da Anfavea. O novo de cenário apresentado pela associação mostra a produção revisada para pior em relação ao que foi previsto em janeiro. Em pesados (caminhões e ônibus) a entidade projeta 127 mil unidades vendidas (-34,2% a/a) ante 154 mil (revisão de -20,4%).
Um reflexo do cenário desafiador foi o consumo de apenas 13% do total dos recursos disponibilizados no programa de renovação de frota (MP 1.175), evidenciando a fratura do mercado que mesmo com incentivos, não conseguiu reagir plenamente.
Dentro desse contexto, quem segue sendo beneficiado é o setor de reposição. Nossas expectativas apontam para uma continuidade de resultados positivos, beneficiado pela idade média da frota relativamente elevada e potencializado pela diminuição do ritmo de vendas de caminhões.
Já quando falamos de implementos, observamos uma demanda forte, onde o 3T23 apresentou o maior número de vendas dos últimos 20 anos. Na nossa visão, a procura elevada se dá justamente por conta de um redirecionamento de demanda, ou seja, as empresas estão deixando de comprar caminhões, já que optaram por renovar suas frotas em 2022, antes da adesão do Euro 6. Com isso, os implementos que deixaram de ser adquiridos no ano passado estão sendo comprados no ano corrente.
Cenário Global: Vendas de caminhões ainda forte nos EUA
Já no mercado externo, ainda devemos observar uma boa dinâmica de veículos pesados tanto nos EUA quanto na Europa, principalmente no que diz respeito às máquinas voltadas para os segmentos de óleo & gás e construção e caminhões nos EUA. Para um 3º trimestre, vemos que os níveis de venda de caminhões leves e pesados ainda se encontra próximo da máxima dos últimos 4 anos.
Por outro lado, assim como observamos nos últimos trimestres, ainda devemos observar uma demanda relativamente fraca no que diz respeito à produção de veículos leves. Se analisarmos os números divulgados pela BEA, veremos que as vendas de veículos leves nos Estados Unidos continuam abaixo dos níveis da pandemia.
Por fim, ressaltamos que apesar do volume externo ainda relativamente elevado, parte das exportações – principalmente aquelas contabilizadas nos meses de julho e agosto, devem ser negativamente afetadas pelo câmbio, que se manteve em uma média ainda baixa e abaixo de R$ 5,00 no trimestre.
Randoncorp (RAPT4): OEM deve ofuscar resultado… mais uma vez
Com as prévias de receitas da Randoncorp (RAPT4) divulgadas, não teremos muitas surpresas desse ponto de vista. O ponto mais sensível do trimestre, na nossa visão, está na expectativa de redução da margem EBITDA. Essa piora é puxada por diversos fatores, dentre eles uma mercado muito mais sensível a preço e um cenário desafiador na produção de caminhões.
A divisão montadora, responsável pelo segmento de implementos, deve apresentar bons volumes. Em contrapartida, os dados do setor mostram uma retomada significativa de market-share da Randon Implementos no trimestre. Nas últimas ocasiões em que observamos isso, a empresa renunciou a margem em troca de volumes, e isso deve ocorrer mais uma vez no 3T23. O volume relativamente fraco na divisão de autopeças para OEMs, devido à produção de caminhões ainda em baixa, também deve ser um detrator de margens.
Por fim, ainda esperamos que Fras-le seja o destaque positivo do trimestre. A crescente idade média da frota brasileira juntamente com a queda da demanda por caminhões novos deve continuar impulsionando o mercado de reposição. Segundo o relatório divulgado pelo Sindipeças, o mercado de autopeças de reposição apresentou crescimento de 1,46% e 2,15% em julho e agosto, respectivamente. No ano de 2023, o faturamento nominal do setor já acumula 20,44%.
Segundo os dados divulgados pela própria Fras-le, sua receita do 3T23 somou cerca de R$ 889 milhões (+7,9% a/a e -3,3% t/t). Já para Randoncorp, estimamos uma receita líquida de R$ 2,9 bilhões (-4,4% a/a e +5,2% t/t), com um EBITDA de R$ 404 milhões (+7,4% a/a e +1,3% t/t). Com isso, a margem EBITDA consolidada da companhia deve finalizar o 3T23 em aproximadamente 14%, cerca de 2pp abaixo do que foi reportado no trimestre passado. Além disso, estimamos um lucro líquido de R$ 87 milhões (-42,5% a/a e -27,5% t/t).
Tupy (TUPY3): Mercado externo de pesados ainda deve sustentar
No caso de Tupy, o fraco resultado do 2T23 prejudicado pela apreciação do peso mexicano abre espaço para um recuperação de margens no 3T23. Do ponto de vista de demanda, o mercado externo tem servido como uma fortaleza para a Companhia em um momento difícil no ambiente doméstico. Acompanhando os dados das principais entidades na Europa e nos EUA, observamos volumes em patamares elevados, puxados por uma demanda resiliente de máquinas de construção civil e pelas máquinas voltadas para o setor de petróleo. Se o segmento de pesados segue com uma boa dinâmica, a demanda enfraquecida por veículos leves no continente europeu que pode afetar negativamente os resultados.
No mercado interno, seguimos com perspectivas negativas, considerando o volume baixo de caminhões que seguem sendo produzidos no mercado doméstico devido aos fatores já mencionados, como a adoção do Euro 6 aliada ao nível de juros elevado.
Para Tupy, estimamos uma receita líquida de R$ 3 bilhões (+10,5% a/a e +0,4% t/t), com um EBITDA de R$ 321 milhões (+5,6% a/a e +19% t/t), o que resulta em uma margem EBITDA de aproximadamente 11%, cerca de 2pp acima do que observamos no 2T23. Por fim, esperamos um lucro líquido de R$ 75 milhões (-61,4% a/a e +24,1% t/t).