Durante essa semana está sendo realizada a Fenatran, uma das maiores e mais importantes feiras de transporte e logística do mundo. Fomos convidados pela Randon para participarmos do evento, e, além de conhecermos de perto alguns de seus principais produtos e inovações, tivemos a oportunidade de conversar com o CEO Sérgio Carvalho e o CFO Paulo Prignolato sobre os novos passos da companhia.
Saímos do evento com mais convicção de que o valuation de Randon, hoje, é inconsistente com o novo patamar da companhia. No nosso pior cenário, Randon negocia à 4,0x EV/EBITDA 2023, o que não faz sentido dada a diversificação de produtos, a promissora diversificação geográfica e os previstos ganhos de produtividade previstos para os próximos anos.
Nossa Impressões sobre a Fenatran
A expectativa da Anfir é de que durante os 5 dias de feria os volumes de vendas sejam equivalentes a um trimestre médio do ano. Nos últimos meses, observamos uma redução no volume de vendas de implementos. Acreditamos que isso pode ter ocorrido devido à proximidade à feira, visto que muitos negócios costumam ser fechados na feira para serem entregues apenas no 1T23. A feira foi uma ótima oportunidade de observar como a líder de mercado Randon e suas subsidiárias ditam o ritmo de inovações no segmento.
Novos Produtos
e-Sys e Randon Solar
O principal destaque foi o lançamento oficial do e-Sys, que pode transformar qualquer caminhão que utiliza carreta em híbrido. O eixo regenerativo acumula e transforma a energia cinética da frenagem em energia mecânica em trechos irregulares ou de aclive, podendo contribuir com até 200cv adicionais de potência. Além disso, o produto também pode ser plugado à tomada e recarregado.
Segundo a Randon a utilização do e-Sys pode gerar uma redução de 15-20% no consumo de combustível. O investimento inicial ainda é alto, cerca de 3x o valor de um implemento (~R$ 650 mil), com um payback de 5-7 anos olhando apenas pela redução no consumo de combustível.
Além disso, fomos apresentados à nova carreta Randon Solar, que tem como principal característica a adição de placas solares ao entorno do semirreboque frigorífico. A sua principal função a substituição do motor a diesel que é utilizado para refrigerar o interior. Segundo a própria Randon, o grande diferencial competitivo está na integração e gestão dos sistemas de geração, armazenamento e consumo de energia via integração com o e-Sys.
Smart Composites e Nione
Para nós, outro destaque são as novas peças que estão sendo desenvolvidas na linha de Smart Composites da Fras-le. Esses componentes são substitutos de barras e perfis de aço com pouca tecnologia estrutural embarcada. Esses novos perfis são desenvolvidos sob medida e podem pesar até 40% menos, com resistência e preço equivalentes às peças de aço.
Gostaríamos de destacar a tecnologia de nanopartículas de Nióbio que está sendo desenvolvida pela Nione. Apesar de incipiente na produção de fundidos, o processo com nanopartículas já é comercializado em forma de acabamento (tinta). Em suma, ele apresenta vantagens na durabilidade da peça, aumentando sua resistência mecânica e consequentemente prolongando sua vida útil.
Plataforma Modular New R
Outro produto que nos chamou atenção foi a nova plataforma modular da Randon. Acreditamos que à medida que o produto ganhe popularidade a Randon tem muito a ganhar em termos de redução de custos. O primeiro ponto positivo está na velocidade de fabricação, já que a estrutura modular e com parafusos é produzida muito mais rápida do que a soldada. Do ponto de vista de mão-de-obra, a estrutura também consegue ser mais barata, abrindo mais espaço para automação industrial. O último benefício está na redução de custos de frete, já que a estrutura pode ser transportada desmontada.
Bate-papo com CEO e CFO
Durante nossa conversa, a Randon abordou a entrada no mercado de implementos americano com a aquisição da Hercules. Ainda que não incorporados no resultado do 3T22, espera-se que haja bom volume adicionado pela recém adquirida já nos resultados do 4T22. Em relação ao mercado americano, a entrada no segmento de porta-contêineres é somente a ponta do iceberg. A companhia disse que almeja entrar em segmentos já explorados no mercado brasileiro pelas divisões montadora e autopeças.
Acreditamos que num futuro próximo a companhia aproveite seu posicionamento e exposição no país para usufruir de seu mercado de dívida, dado que terá boa parte de suas receitas em moeda forte e será relativamente mais exposta a um país economicamente mais estável que o Brasil. Com isso, a Companhia poderá requerer créditos com custos substancialmente mais baratos que os encontrados no mercado nacional.
Outro ponto abordado, foi a possível falta de competitividade do e-Sys no mercado, principalmente num cenário pior para financiamentos. Da parte da Randon, existe um esforço para que o produto ganhe linhas incentivadas de crédito devido a pegada ESG. Sérgio ainda destacou, que por conta da adição de potência, o frotista também acaba economizando tempo de viagem, o que no fim do dia também deveria ser considerado na conta de economia, resultando em um payback menor. Adicionalmente, existe um economia na aquisição do cavalinho mecânico, já que o frotista pode optar por um modelo com menos potência, contando com o adicional oferecido pelo e-Sys
Em testes desde 2019, o novo produto já começou a ser comercializado, porém teve apenas 3 unidades vendidas. A expectativa da Randon é atingir em 2023 um capacidade produtiva de pelo menos 100 unidades.
Outro ponto que foi destacado pela gestão foi o ótimo volume de negócio nos dois primeiros dias de evento. Importante ressaltar que esse volume de negócios deve ser refletido nos resultados da empresa apenas no 1T23.
