Pontos-chave do relatório
• O 1T23 deve mostrar uma dinâmica de fraco crescimento de receita da Renner, assim como foi no 4T22;
• Devemos ver um forte ajuste de portfólio em Camicado, com fechamento de 13 lojas;
• Dada a fraca alavancagem operacional, a rentabilidade bruta e operacional da companhia deve cair nesse trimestre;
• Com um EBIT negativo, esperamos que o lucro líquido seja impulsionado por maiores subvenções de investimentos (em cerca de R$ 100 milhões Est. Genial);
• Dada as perspectivas de curto prazo mais desafiadoras, estamos alterando a recomendação para MANTER as ações de Renner.
A Renner divulgará o seu resultado do 1T23 na quarta-feira (03/mai), após o encerramento do pregão. Esperamos ver mais um trimestre de fraco crescimento e perda de rentabilidade. Confira a análise completa!
Estamos rebaixando a recomendação para MANTER, anteriormente em comprar, e cortando o preço-alvo 2023E para R$ 20,50 (ante R$ 36,25), o que representa um upside de 31% em relação ao último valor negociado (28/abr).
Uma correção natural
Passado a pandemia e diante de um contexto macroeconômico desafiador para as varejistas, é essencial reavaliar estratégias e portfólio de lojas.
Para onde está o fluxo de vendas? Quais unidades não estão entregando o retorno necessário? Essas reflexões fazem parte de um ciclo de crescimento saudável para qualquer empresa.
A Renner já começou a rever seu portfólio de lojas e, ao longo de todo o primeiro trimestre de 2023, os investidores foram bombardeados por notícias de fechamento de unidades da companhia.
Não devemos ver inaugurações nesse primeiro trimestre da Renner. Na verdade, esperamos fechamento de 20 unidades no período: 3 Renner, 4 Youcom e 13 Camicado.
De fato, o fechamento de 13 unidades da Camicado pode assustar, dado que o número corresponde a aproximadamente 10% do parque existente. Acreditamos que a Renner tenha concentrado toda correção da marca em um único trimestre, de modo que não devemos ver uma significativa correção da bandeira ao longo dos próximos trimestres em 2023.
Adquirida pelo grupo em meados de 2011, em nossa visão, a Renner tem encontrado grandes desafios em relação ao crescimento de sua marca Camicado, dado o mix de produtos e cenário macroeconômico difícil para o segmento de decoração. O fechamento desse montante de lojas mostra que a varejista priorizará rentabilidade ao longo de 2023.
Para o restante do ano, a companhia deve abrir cerca de 40 lojas, sendo 25 Renner, 10 Youcom e 5 Ashua. Não projetamos abertura de Camicado ao longo dos próximos dois anos.
Varejo deve crescer low-single digit
O cenário para o crescimento de top line não é animador para esse primeiro trimestre. Em nossa visão, existem três grandes pontos que a Renner precisará lidar nesse período, são eles:
(I) Consumidor extremamente sensível a preço. Dada a inflação e taxa de juros em patamar ainda elevado, esperamos que o varejo vestuário de baixa renda sofra ao longo do trimestre. Em janeiro deste ano, o número de brasileiros inadimplentes passou da marca de 70 milhões (Serasa), cerca de 33% da população brasileira.
(II) Forte base de comparação. Com um forte crescimento de faturamento no 1º trimestre de 2022, a Renner cria uma base difícil de ser batida. Diante de um verão chuvoso e um mês de março significativamente mais quente que o do ano anterior, devemos ver um menor fluxo de vendas no período.
(III) Menor crescimento da Realize. Dada a desaceleração no fornecimento de crédito, esperamos que o faturamento da financeira da Renner apresente um modesto crescimento a/a.
Consolidando a dinâmica esperada, esperamos que o braço de varejo da Renner apresente um faturamento líquido de R$ 2,3 bilhões (+2,8% a/a; -35,5% t/t), com um Same Store Sales (SSS) de 1,0% a/a.
Na visão de bandeiras, esperamos que a Camicado seja a grande detratora de crescimento de receita, dado o fechamento de lojas e cenário macro persistentemente desafiador para a marca. Em nossa projeção, o faturamento líquido da bandeira deve cair 16,0% a/a. Youcom deve seguir sendo o destaque de crescimento (+8,4% a/a), enquanto Renner cresce de maneira mais modesta (2,8% a/a).
Em nossa visão, a Realize deve apresentar uma receita líquida de R$ 405 milhões (+5,6% a/a; -11,8% t/t). Dessa forma, consolidando o resultado do grupo, a Renner deve faturar R$ 2,7 bilhões (+3,2% a/a; -35,5% t/t) no 1T23.
Maiores custos (…)
Dado que o consumidor está super sensível a preço, esperamos que um maior nível promocional combinado a um aumento de remarcação de sobras da coleção de verão do ano passado detrate a rentabilidade bruta da Renner nesse trimestre – isso deve acontecer tanto para o segmento de vestuário (Renner e Youcom) quanto também para o de casa e decoração (Camicado).
A nossa expectativa é que a Renner apresente um lucro bruto de R$ 1,6 bilhões (+1,2% a/a) e uma margem bruta consolidada de 59,8% (-120bps a/a).
(…) e também maiores despesas
A desalavancagem operacional deve contribuir negativamente para a margem operacional da Renner nesse trimestre. Diante de maiores despesas com vendas fixas e com uma maior pressão no G&A, referente aos gastos com o novo centro de distribuição de Cabreúva, esperamos que a Renner reporte um EBITDA aj. (visão pós IFRS 16) de R$ 237 milhões (-38,0% a/a) e uma margem EBITDA de 8,8% (-580bps a/a).
Subvenção deve salvar o lucro
Com um EBIT negativo em R$ 15 milhões (Est. Genial), existe um possível caminho para que a Renner apresente lucro líquido nesse trimestre: a subvenção de investimentos.
Sazonalmente, o primeiro trimestre do ano costuma apresentar um maior volume de importação. Esperamos que essa linha gere um forte efeito positivo na alíquota de IRPJ/CSLL da Renner no trimestre. A nossa estimativa é que a companhia incorpore R$ 100 milhões de imposto de renda ao resultado.
Diferente da maior parte das varejistas, com uma Dívida Líquida negativa, a Renner se beneficia do rendimento de seu caixa bilionário (R$ 3,5 bilhões), de modo que essa linha não deve ser um detrator de margem líquida para a companhia nesse trimestre.
A nossa expectativa é que a Renner apresente um lucro líquido de R$ 68 milhões (-64,5% a/a) e uma margem líquida de 2,5% (-480bps a/a). Reunimos as nossas expectativas na tabela abaixo.
Mudamos a nossa recomendação
Efeito Shein. Dado o aumento de competitividade e um ambiente macroeconômico ainda desafiador para Realize e Camicado, estamos atualizando a nossa projeção-base para Renner no curto prazo. Em nossa visão, a companhia precisará de mais tempo para conseguir fechar o gap de rentabilidade apresentada em 2019.
Diferente de nossa projeção inicial, o qual esperávamos uma recuperação sequencial no 1T23, acreditamos que o varejo vestuário de baixa renda terá um primeiro semestre de 2023 ainda desafiador, dada a maior competição low price da Shein e sensibilidade de preço do consumidor.
As nossas projeções de indústria apontam que os meses entre abril e junho ainda devem se mostrar difíceis para o crescimento de receita da Renner, que sofre em meio a competitividade e uma base de comparação muito forte (2T22).
O ramp up do centro de distribuição de Cabreúva ainda deve contribuir negativamente para margens operacionais da companhia. Ao somarmos esse efeito a desalavancagem operacional e fornecimento de crédito ainda desafiador, dada a Selic em 13,75%, enxergamos poucas alavancas de recuperação de rentabilidade para esse primeiro semestre de 2023.
Dada a falta de gatilhos positivos para o curto prazo, estamos alterando a recomendação para MANTER (anteriormente em comprar) as ações LREN3, com preço-alvo 2023E de R$ 20,50.
O nosso preço-alvo 2023E é projetado a partir do DCF (Fluxo de Caixa Descontado), assumindo como 14,2% como taxa de desconto (WACC) e 4,5% de taxa de crescimento terminal (g). O target em questão implica em ~11,5x 2023e P/E e ~9,0x 2024E P/E. Abaixo, reunimos as nossas expectativas para os próximos anos.