Com o avanço da vacinação, a perspectiva para o crescimento econômico era cada vez mais positiva gerando um certo otimismo no setor de consumo discricionário. Só que ao longo do tempo, mesmo diante da maior flexibilização do isolamento social, esse otimismo foi aos poucos ofuscado pelo cenário macroeconômico um pouco mais desafiador, com alta da inflação, depreciação cambial e escassez de algumas matéria primas.
Com isso, espera-se que os resultados do 3T21 sejam positivos ao que estava sendo reportados até então, principalmente na questão de receita, dado a reabertura das lojas, mas esses resultados poderiam ser melhores se não fosse o cenário macroeconômico mais desafiador.
As empresas conseguiram até contornar as dificuldades e preservar suas margens relativas ao negócio de varejo, em especial a Margem Bruta, porque a EBITDA está sendo impactada pelos investimentos no canal digital. Em relação à carteira de crédito das financeiras, importante parte do negócio, ainda não retomou aos níveis pré-pandemia e puxa os resultados para baixo, com exceção das lojas Marisa.
Em geral, a expectativa é que a RENNER (LREN3) lidere a temporada de balanços das companhias de fast fashion, pois apesar da deterioração do EBITDA relativo aos gastos do canal digital, que são cruciais para a estratégia futura da companhias, espera-se que ela apresente um crescimento de receita de dois digitos com ganhos consistentes de market share. Agora dentre os pares, a Marisa (AMAR3) é a que tem mais dificuldade de se recuperar diante da deterioração do cenário econômico.
Macro: um cenário de altos e baixos
É a primeira vez no ano em que há a normalização das operações de varejo, com a retomada da abertura de lojas e ausência de restrições ao horário de funcionamento. O índice de mobilidade urbana volta a crescer com a retomada do fluxo de pessoas em shoppings, lojas, bares, restaurantes e eventos, setores mais impactados pela pandemia e que constituem um trigger importante para o setor de vestuário. Assim, ao comparar com outros trimestres deste ano espera-se que as lojas de vestuário apresentem resultados positivos no 3T21, com aumento de receita quando comparado ao mesmo trimestre de 2019.
Entretanto, se um de um lado tivemos a retomada do fluxo de circulação de pessoas, por outro o cenário macroeconômico impôs desafios que desaqueceu as perspectivas iniciais e mais positiva para esse setor, principalmente por conta da:
- Escassez de insumos
- Alta da inflação
- Desvalorização cambial
A escalada da inflação é cada vez mais uma realidade, e além de corroer a margem com aumento do custos de matérias primas, ela também reduz o impulso do crescimento das vendas, pois prejudica o poder de compra do consumidor, ainda mais daqueles que pertencem às classes C e D, público mais sensível à economia.
Lojas Renner (LREN3):
Podemos esperar bons resultados de receita em relação à 2019, por conta de uma coleção assertiva e porque o próprio público-alvo da Renner é o da classe B, que tem uma propensão maior a consumir mesmo diante de uma inflação mais acirrada.
Apesar da margem bruta ainda ser negativamente impactada muito por conta da financeira, ela pode melhorar levemente em relação ao tri anterior por conta da maior eficiência operacional e do repasse de preços. A margem EBITDA ainda segue comprimida por conta dos investimentos realizados no digital. São investimentos necessários para posicionar a companhia dentro da sua nova estratégia futura de ser um ecossistema digital de moda e lifestyle.
A companhia ainda tem uma grande possibilidade de ganhar market share, pois os outros players ainda não se reestruturaram dos impactos adversos da pandemia, e a Renner está altamente capitalizada com cerca de R$ 6 bi em caixa, de acordo com o último balanço.
Guararapes (GUAR3):
Podemos esperar bons resultados de receita em relação à 2019, mas não tão pujantes como da Renner já que o segmento de eletrônicos representam cerca de 10% do total de vendas da companhia e é um segmento que está sofrendo com a falta de suprimentos na cadeia global.
- Varejo
O destaque das operações fica para a Carter’s, segmento da companhia voltado para a moda infantil. Em termos de margem, a expectativa é que a margem bruta melhore levemente no contra ano por conta da maior participação da fábrica Guararapes no processo de confecção de roupa (40% ante a 33% aproximadamente). A margem EBITDA segue comprimida por conta dos investimentos no canal digital.
- Midway Financeira e Midway Mall
Importante salientar, que além das operações de varejo, o grupo Guararapes possui operações da Midway Mall e da Midway Financeira. E ao contrário do que foi visto no 2T21, a Mid Mall já apresenta uma certa normalização das operações por conta da retomada do fluxo de pessoas em shoppings centers; no entanto o mesmo não se pode dizer em relação à Mid Financeira, pois com a menor contratação de crédito em períodos anteriores a recomposição da carteira não atingiu os níveis pré-pandemia e puxa o resultado compilado para baixo.
Marisa (AMAR3):
Ao contrário do que se espera em outros players, o crescimento de receita pode ficar comprometido, sendo menor do que o 3T19, tanto por conta de (i) questões operacionais relativa ao parque de lojas que precisa de reformas e que 50% está localizado em centros cujo fluxo depende da volta integral ao trabalho presencial, como por conta da (ii) deterioração do cenário macroeconômico com a inflação afetando o poder de compra das classes C e D (público-alvo da companhia).
No compilado dos resultados, esperamos ainda ver um leve ganho de Margem Bruta por conta da melhor gestão dos estoques, enquanto que a margem EBITDA fique relativamente estável, puxada pelo desempenho positivo da MBank.