Reiteramos nossa recomendação em MANTER. Para além dos resultados apresentados, que foram acima das estimativas do mercado, reiteramos que a Sabesp é um case de evento, ligado a possibilidade de privatização da companhia por parte do governo. No dia 10 de abril, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, deu o primeiro passo e assinou um decreto que autorizou o estado a contratar estudos para a privatização da empresa. Ainda sim, o estudo tem previsão de ficar pronto apenas no início de 2024, onde teremos a primeira janela de oportunidade, com um cenário mais favorável, mas menos provável devido a proximidade com o calendário eleitoral. A segunda janela seria em 2025 após as eleições, considerada pelo mercado como a mais factível, ainda que carregada com um risco para a operação justamente por depender dos resultados das eleições municipais.
Em adição ao risco político, citamos ainda as mudanças no Marco do Saneamento que, ainda que estejam em vias de serem anuladas (em partes) pelo Congresso e o Senado, trazem insegurança jurídica para potenciais investidores interessados. E por fim, citamos o fato do governo ter que renegociar os contratos com cerca de 370 municípios atualmente atendidos pela companhia caso a privatização ocorra e a população ainda ser, em sua maioria, contra a privatização (Segundo o Datafolha, 53% da população é contrária).
Consideramos que uma aproximação da avaliação de uma empresa de saneamento privatizada deveria ser de pelo menos 1,0x EV/RAB (o que nos daria um preço alvo de R$63/ação para a Sabesp). Ao preço de hoje, a companhia negocia a 0,8x EV/RAB 23E, nível de preço que praticamente não considera mais o case de privatização, em nossa leitura. Ou seja, um bom ponto de entrada para aqueles que acreditam na privatização acontecendo em já na primeira janela de oportunidade. Por hora, preferimos acompanhar a evolução dos fatos e entrar no case em um momento mais oportuno e, com menos riscos envolvidos.
Demonstrativo do Resultado 1T23
A receita operacional líquida da Sabesp alcançou R$5.6 bilhões no trimestre, aumento de 17% na comparação anual, aumento derivado principalmente do impacto positivo do reajuste tarifário de 12,8% em maio/22 e do crescimento diminuto no volume faturado total (1,4% a/a). Outro aumento se deve a receita de construção, que aumentou 32,8% a/a, reflexo do aumento no investimento da companhia.
Na linha de custos e despesas operacionais, um aumento de 15,6% em relação ao 1T22, totalizando R$4.3 bilhões, incluindo os custos de construção. Os custos apresentaram em sua maioria aumentos de dois dígitos percentuais, sejam eles gerenciáveis ou não, com destaque para o aumento de 15% no custo com materiais e 11% de aumento com custo de pessoal. Como ponto positivo, destaca-se o anúncio da empresa da aprovação para a implementação do Programa de Desligamento Incentivado (PDI), estimando-se uma redução no quadro de funcionários acima de 2 mil pessoas, visando eficiência e simplificação de processos, o que deve trazer alguém alívio no âmbito de custos para a empresa.
Com isso, o EBITDA ajustado da companhia totalizou R$ 2.03 bilhões (crescimento de 18,2% a/a), com aumento simplório da margem EBITDA de 35,3% para 35,7%, acima das estimativas do consenso, mas abaixo das nossas. As despesas financeiras, tiveram aumento de 49% a/a, devido ao maior custo da dívida e aumento de juros sobre as debêntures da companhia, totalizando um custo de R$257 milhões. Para finalizar, o lucro líquido da companhia totalizou R$747 milhões no 1T23, redução de 23% a/a, devido a variação cambial positiva de R$512 milhões que ocorreu no 1T22, elevando o lucro da companhia naquele momento. Ainda sim, enxergamos o resultado como positivo.