O lucro de R$ 3,88b do Santander no 4T21 veio 9,2% abaixo das nossas expectativas e do mercado, ambas na faixa dos R$ 4,2b. O lucro caiu 10,6% a/a e 2% t/t. O banco entregou um ROE de 19,49% no trimestre (vs. 21,77% no 3T21). O desempenho mais fraco no trimestre pode ser atribuído a: (i) queda na margem com mercado fraca; e, (ii) elevação das despesas com inflação.
Para 2022, estamos menos otimistas com Santander do que Bradesco e Itaú. Seu índice de provisionamento mais baixo pode gerar maiores pressões nas provisões em 2022. Ademais, esperamos um crescimento de carteira desacelerando mais acentuadamente para o Santander neste ano.
A boa gestão do banco e boa rentabilidade justificam a nossa recomendação de COMPRAR para a ação. No entanto, as dinâmicas de curto-prazo desfavoráveis justificaram alterarmos o preço-alvo (PA) de R$ 44,1 para R$ 40,6 nas prévias de resultado.
Margem Financeira Bruta
A margem finaneira foi destaque negativo no resultado do 4T21, tendo caído 3,7% t/t. As quedas podem ser explicadas pela performance fraca da margem com mercado, que retraiu 30,9% t/t (vs. crescimento de 2,6% da margem com clientes), visto que o resultado da margem com o mercado de 3T21 foi excepcionalmente forte.
A margem com clientes foi beneficiada pelo crescimento da carteira de crédito. A carteira cresceu 2,8% t/t (12,4% a/a). Contudo, mesmo com a melhora de mix e reprecificação da carteira de crédito, o spread (NIM) seguiu caindo 0,28 pp t/t (6,61% no 4T21 vs. 6,89% no 3T). Já a margem com o mercado foi prejudicada pela menor volatilidade do mercado no trimestre. Contudo, mesmo com resultado fraco no 4T21, a linha margem com mercado fechou o ano crescendo 3,6% a/a.
Para 2022 esperamos um crescimento mais brando da carteira em função do cenário macroeconômico adverso. Em 2022 devemos ter um ambiente de PIB fraco, juros altos e inflação sob pressão. Acreditamos que a continuidade da reprecificação da carteira deva ajudar a manter os spreads, fazendo a margem total (receita de juros) crescer na mesma velocidade do crescimento da carteira. Já a margem com mercado deve se manter pressionada em todo o setor.
Provisões
As provisões (líquidas de recuperação de crédito) cresceram 0,6% t/t e 47% a/a. O Santander consumiu cobertura (estoque de provisões) no 4T. O índice de cobertura (60d) saiu de 161,8% no 3T21 para 156,3% no 4T21, queda de 5,5 pp t/t e 20,7 pp a/a. A inadimplência (NPL 60d) atingiu 3,4% (vs. 3,0% no 3T), piora de 0,4 pp t/t.
Esperamos uma continuidade da elevação no índice de inadimplência em 2022, podendo retornar a patamares de 2018/19 (faixa entre 4 e 4,5%). Com um índice de cobertura inferior a demais grandes bancos privados, acreditamos que o Santander possa ter eventualmente provisões mais pressionadas em 2022.
Despesas de Pessoal
As despesa administrativa total cresceu 3,1% t/t, pressionada pela despesa de pessoal. Assim como antecipamos no relatório de prévias, o dissídio salarial impactou a totalidade do 4T21, diferentemente do 3T. As despesas de pessoal cresceram 5,2% t/t.
Diferentemente dos últimos anos, quando houve cortes de custo em todo o setor bancário, esperamos uma despesa crescendo junto a inflação em 2022. O impacto do dissídio deve seguir impactando a variação a/a das despesas de pessoal em 22.
Payout
Junto ao resultado, o Santander divulgou um pagamento de dividendos no montante de R$ 1,3b referentes ao exercício de 2021. No total foram distribuídos R$ 11,4b em proventos referentes ao exercício de 2021 (vs. R$ 16,3b de lucro recorrente) propiciando um dividend yield de 8,8%.
O montante distribuído totaliza um payout atrativo de 70%. O Santander costuma manter um payout próximo a 50%. O payout elevado pressupõe uma boa remuneração aos acionistas. Em contrapartida, a maior distribuição dos lucros pressupõe uma menor necessidade de capital, possivelmente indicando um baixo crescimento da carteira de crédito.
Troca do managment
Sérgio Rial deixou a presidência do Santander Brasil em dez/21. Ele se tornará presidente do conselho de administração do banco no Brasil e terá uma cadeira no conselho na Espanha. Sérgio foi um dos grandes responsáveis pela performance do banco nos últimos anos.
Sob a liderança de Rial, o banco atingiu uma rentabilidade de 20,67% em 2021, acima dos pares do setor. Entendemos a sucessão como um processo natural para o então ex-CEO. O novo CEO será Mario Leão, anterior Vice-presidente da área de empresas do Santander, tendo passado pelo Goldman Sachs, Citi e Morgan Stanley. Mario é um nome de mercado, mas sem experiência com o banco de varejo, tendo ficado nos últimos 4 anos como membro do conselho executivo do banco. Como desafio, Rial mencionou que Mario terá que melhorar a área de pequenas e médias empresas do Santander Brasil.