Mantemos nossa recomendação de MANTER para Transmissão Paulista (TRPL4). Aos atuais níveis de preço, vemos a empresa negociando com uma TIR implícita de 9% em termos reais (vs. 5% na NTN-B) – nada mal, mas ainda insuficiente para mudarmos a nossa recomendação. Como grandes gatilhos de curto prazo para empresa, citamos a possibilidade de pagamento extraordinário de dividendos à medida que a empresa deve fechar o ano com o endividamento sob controle. Em linhas gerais, achamos o evento de hoje sucinto e indo muito direto ao ponto nas questões da empresa – algo que observamos com naturalidade a medida que observamos a tese da empresa como “redonda” e sem grandes complicações. Como principais pontos positivos, observamos as avenidas de crescimento da empresa via leilões (que devem ocorrer agora em dezembro e em junho/22), reforços de investimentos (investimentos aprovados de R$2,6 bilhões) e, surpreendentemente, baterias gigantes com foco no atendimento do serviço devido a intermitência da geração – uma novidade para o sistema elétrico brasileiro e um novo front a ser explorado nos próximos anos.
O evento
O evento contou com palestras de vários membros da administração da empresa, tendo sido apresentado o quadro operacional da CTEEP, sendo também discutidos os resultados financeiros da empresa nos 9 primeiros meses de 2021, seus novos projetos e suas perspectivas para os próximos anos. Gostaríamos de ressaltar o destaque dado pela empresa ao ESG, discutindo sua política de valorização à diversidade em seus quadros e seus programas e metas ambientais.
Controladora
Uma das pautas tratadas foi o efeito dos movimentos de seu controlador, o Grupo ISA, na CTEEP. O grupo colombiano, que tem 36% dos papéis da empresa, foi mencionado em dois pontos: a venda de participação do governo colombiano na ISA para a Ecopetrol e a possível compra da participação da Cemig (CMIG4) na Taesa (TAEE11) que, junto a participação que a colombiana já possui na empresa de transmissão, daria e ela forte controle sobre esse peer da CTEEP. Em ambos os casos, a CTEEP informou que tais movimentos não teriam efeito nas operações da empresa e que ela não tem condições de responder por movimentos de seu controlador. É interessante ressaltar que uma resposta semelhante foi dada pela Taesa em seu Day sobre a possível venda de suas ações por parte da Cemig. Se quiser saber mais sobre o Taesa Day, clique aqui.
Crescimento
Um assunto que foi muito discutido no CTEEP Day foram as avenidas de crescimento que a empresa vê para seus negócios de transmissão: M&As, leilões de concessões de transmissão e reforços e melhorias. Para o futuro, a empresa afirmou buscar aquisições que tenham sinergia com seu portfólio atual, nas quais vê potencial assimetria positiva. Nos leilões de transmissão a CTEEP tem sido ativa nos últimos anos, investindo mais de R$ 1bilhão em 2020 e R$800 milhões no 9M21. Os próximos leilões serão realizados neste mês (17 de dezembro) e em junho/2022, com CAPEX estimado em R$2,9 e R$9,5 bilhões e a CTEEP afirmou estar analisando as oportunidades de participação no primeiro. Vale mencionar que a empresa fechou o último trimestre com um endividamento de R$5,5 bilhões – 2,3x Dívida Líquida/EBITDA 12M. Ou seja, espaço mais do que o suficiente para ser razoavelmente agressivo em ambos os certames.
Outra via de crescimento já bem estabelecida são os chamados reforços e melhorias – investimentos feitos pela empresa em instalações já existentes e que são remunerados via um taxa determinada pela ANEEL, algo muito interessante se considerarmos que tal processo não passa pelo processo competitivo de uma licitação e acaba por se transformar em um diferencial competitivo de longo prazo da empresa. De acordo com a empresa, a TRPL tem R$2,6 bilhões em investimentos já aprovados pela ANEEL em reforços e melhorias. Se considerarmos o guidance de investimentos em reforços dado pela empresa (c. R$450 milhões/ano), tal valor representa aproximadamente pouco mais de cinco anos de investimentos garantidos para empresa – apesar de acharmos que essa meta de investimentos não deve ser alcançada esse ano.
Armazenamento de Energia
Quanto as avenidas de crescimento fora do negócio de transmissão, temos de destacar as baterias. A CTEEP se torna o primeiro grande player do setor elétrico a investir nesse segmento no Brasil, construindo baterias armazenamento de energia no Litoral Sul de São Paulo. A empresa afirmou que o objetivo da instalação é reter energia em momentos de menor demanda, evitando falta de eletricidade em picos, como no Carnaval ou Ano Novo. A CTEEP comunicou que o projeto tem CAPEX regulatório de R$144 milhões e será concluído em novembro de 2022. Vemos tal questão muito parecida com os investimentos em reforços e melhorias – com a diferença que isso cria uma nova avenida de crescimento para o segmento de transmissão como um todo a medida que a entrada de fontes intermitentes de energia (Eólica e Solar, por exemplo) é uma realidade já estabelecida nos planos decenais da Empresa de Planejamento Energético.
Dividendos
Outro ponto levantado na apresentação foram os proventos. A CTEEP reafirmou seu compromisso com pagamento de pelo menos 75% de seu resultado regulatório, e esperamos que pague acima disso a não ser realize altos investimentos em M&As ou seja mais agressiva em sua participação nos próximos leilões transmissão. Como mencionamos anteriormente, com um endividamento ainda sob controle, não descartamos a ideia de uma distribuição extraordinária e, provavelmente, um rendimento superior a 10% só em pagamento de proventos.
ESG
Como já citado, a empresa deu grande destaque as pautas ESG na sua apresentação. Vemos como pertinente ressaltar os projetos ambientais que foram apresentados no evento, com destaque para o Conexão Jaguar, programa que visa incentivar a comercialização de créditos de carbono para financiar iniciativas de restauração e conservação ecológica. A empresa também tem buscado reduzir suas emissões de Carbono, se tornando neutra em 2019 e atrelando metas de emissão de CO2 à remuneração de seus executivos. Vemos essas práticas como possíveis catalisadores de valor para os acionistas da empresa nos próximos anos, tendo em vista que: (I) O ESG tem sido cada vez mais precificado pelos mercados: (II) Desde 2018 a empresa tem conseguido captar dívida com condições mais atrativas através de crédito atrelado a metas ambientais (os green bonds).
Ainda no tópico de ESG, a CTEEP foi questionada durante a sessão de perguntas e respostas sobre a possibilidade de elevar seus padrões de governança ambicionando fazer a migração de seus papéis para o nível máximo de governança da B3, o Novo Mercado. A empresa, que atualmente está listada no Nível 1 da bolsa, afirmou que não deve buscar fazer essa transição no momento.