Apresentamos mais uma edição do nosso relatório semanal do setor de Metais & Mineração (Vale, CMIN, Gerdau, CSN e Usiminas), referente à semana 1 do mês de outubro de 2024, baseados em dados realizados ao longo da semana anterior a da publicação, que no caso contempla o período de 21 a 27 de setembro.
Continuamos a atualizar o mercado sobre indicadores importantes para o monitoramento dos fundamentos de oferta e demanda de aço na China e por consequência, do minério de ferro no sistema transoceânico. Destacamos também o capítulo sobre Brasil, mostrando o sentimento de mercado bem como as dinâmicas de prêmio do aço doméstico para as referências de aços longos e planos vs. os preços dos importados.
O formato do relatório está sendo concebido para trechos em texto, com conclusões e seções individuais de “Nossa visão”, e com diversos estímulos visuais, através de gráficos e tabelas. Nossa intenção é realizar um acompanhamento semanal desses gráficos e tabelas, a depender dos dados disponíveis (há dados que são mensais e não semanais). Para o capítulo de China, separamos as seções em (i) Macroeconomia; (ii) Atualizações políticas e sentimento de mercado; (iii) Mercado imobiliário; (iv) Aço e minério de ferro.
China
Macroeconomia
PMI industrial acima do consenso, mas segue na zona de contração. O PMI oficial do setor industrial, medido pelo Escritório de Estatísticas da China (NBS) aumentou para 49,8pts (+0,7pt. m/m) em setembro, superando o esperado de 49,2. O indicador foi divulgado dia 30 de setembro. Embora tenha superado o consenso, o número continua na zona de contração (abaixo de 50pts). Em contrapartida, o PMI de serviços diminuiu para 50pts (-0,3pt. m/m), alinhando-se às expectativas, e permanecendo no limite para expansão da atividade.
Mesmo não havendo uma reversão do quadro, é notório que houve uma melhora da atividade industrial, ainda puxada pelas exportações, mas com um leve ganho no consumo doméstico de bens, em detrimento de uma queda suave no consumo de serviços. Entretanto, independentemente da queda m/m, o setor de serviços continua se sobressaindo vs. o industrial, mantendo a tendência que comentamos desde o ano passado, sobre a qual a China vem ganhando mais características de países que possuem economias mais maduras. Isso implica em uma perda de tração do PIB industrial e ganho de penetração no PIB de serviços.
Pacote cheio de flexibilizações. Entre os pontos principais do extenso pacote de flexibilizações anunciado pelo governo central, após a reunião do Politiuro na semana passada, estão: (i) Redução das taxas reversas de 7 dias para recompra de títulos (REPO-7 dias) para 1,5% (-0,2p.p) e MLF de 7 dias para 2% (-0,3p.p), indicando novo corte nas taxas de LPR-5 anos em 20-25bps pelo PBoC. Ampliando o viés de relaxamento da política de crédito, também foi anunciado (ii) umcorte de -5p.p na taxa de compulsório (RRR), o que resultou em uma liberação de ¥1 trilhão (~US$142b) para oferta de crédito nos bancos comerciais e uma RRR média ponderada reduzida para 6,6% (-0,4p.p). O PBoC observou a possibilidade de um corte adicional de -25-50bps na RRR ainda este ano. Conforme já havíamos adiantado em outros relatórios setoriais antes do anúncio, acreditávamos que havia espaço para 2 cortes na taxa de compulsório (RRR) no 2S24.
Além disso, com enfoque direto no mercado imobiliário, observamos também (iii) a exigência de entrada mínima para a compra da segunda residência sendo reduzida para 15% (vs. 25% anteriormente), equiparando-a aos níveis cobrados para primeiros compradores. Visando a expansão da oferta de crédito e redução do custo nas despesas com juros especialmente nos financiamentos de compra de casas, (iv) o PBoC solicitou aos bancos comerciais que reduzissem as taxas das hipotecas existentes em -5p.p. até 31 de outubro. Segundo estudos divulgados pelo PBoC, isso teria um impacto de ¥150b (~US$20b) por ano na redução da carga de juros cobrado das famílias que já adquiriram um imóvel. Por último, (v) as principais cidades Tier I flexibilizaram as restrições à compra de imóveis, com Guangzhou removendo-as totalmente (sem distinção entre first e second buyers), e Shenzhen permitindo que residentes não registrados (não-hukou) comprem um apartamento.
Um pouco do contexto sobre as flexibilizações. Após o anúncio de um pacote de estímulos na terça-feira da semana passada, diante do Politburo (cúpula do Partido Comunista) formando a reunião mais cedo do que o habitual, observamos uma alteração de discurso. O governo pretende “enfrentar as dificuldades com firmeza” e atingir os objetivos de desenvolvimento deste ano (meta de crescimento do PIB de +5%). Entendemos que esse evento passou a marcar uma mudança decisiva no tom da política monetária, uma vez que, até então, muitos investidores acreditavam que o governo estava pouco mobilizado diante do consumo doméstico fraco. Dessa forma, pela primeira vez desde o estouro da bolha em 2021, o governo central estabeleceu claramente o objetivo de “interromper o declínio e estabilizar o mercado imobiliário”.
Nossa visão: Macroeconomia
Efetividade da expansão na política fiscal é questionável diante dos desafios. A recente reunião do Politburo enfatizou a necessidade de uma “política fiscal contracíclica”. Ainda assim, estimamos que a contração fiscal ampla foi de ~0,5% do PIB no 1S24, contrastando com a expansão de +0,8-1% a/a sugerida em março. Os governos locais reduziram os gastos e possivelmente aumentaram os atrasos devido ao declínio da receita fiscal e aos rigorosos controles de dívida dentro das emissões feitas por meio de LGFVs. Ao final de setembro circulou a notícia de que a China poderia emitir ¥2 trilhões (1,6% do PIB 2023) em títulos adicionais do tesouro para apoiar o consumo e aliviar os problemas fiscais dos governos locais. Se implementado, vemos maiores chances de estabilização do crescimento entre o final de 2024 e no início de 2025. Entretanto, ainda julgamos que os cortes nos impostos corporativos teriam eficácia limitada no atual cenário econômico.
O Pacote de flexibilização vs. nosso corte na projeção de PIB. Considerando as contínuas quedas no mercado imobiliário e o fraco desempenho econômico, já esperávamos que as políticas macroeconômicas se tornassem cada vez mais favoráveis na tentativa de destravar o consumo, com a ampliação do gasto fiscal e redução da política de juros. Portanto, quando alteramos premissas e rebaixamos nossa previsão do PIB, também na semana passada, não houve surpresa em reação ao movimento do governo. Basicamente todas as medidas, de forma isolada, já estavam alinhadas com as nossas expectativas. A única diferença é que o governo central na China anunciou as medidas de forma concomitante. Entendemos que a razão para isso foi o corte da taxa de juros promovida pelo FED nos EUA há duas semanas, que acabou ocorrendo em uma intensidade superior a esperada pelo consenso (-50bps vs. -25bps do consenso).
Embora a reação simultânea das diferentes medidas tenha animado um pouco mais o sentimento de mercado, que estava muito depreciado, ainda assim não vemos como game changer. Isso é um sinal de que, mesmo com as políticas, não acreditamos que a meta de 5% será alcançada. Para relembrar, cortamos a nossa projeção de PIB para 4,5% 24E (vs. 4,8% anteriormente) e 4,2% 25E (vs. 4,6% anteriormente), principalmente devido a uma (i) desaceleração significativa do setor imobiliário (que esperamos que continue), e ao (ii) fraco consumo doméstico, ofuscando de maneira mais intensa as (iii) resilientes exportações reais.
Poderíamos revisitar a projeção de PIB? Enfatizamos que o tamanho real e a composição do apoio fiscal futuro serão cruciais para a fornecer um upside em relação ao nosso recente corte de projeção de PIB (comentado acima). Entendemos que há pouca margem de manobra para destravar consumo interno ainda em 2024, com o efeito de delay na economia real podendo afetar positivamente mais 2025, caso de fato exista uma nova tranche emissão de títulos do tesouro em ¥2 trilhões (~US$285b). Dessa forma, se o consumo interno melhorar, haveria uma compensação no ajuste do grau de risco que realizamos em relação a balança comercial. Conforme comentamos no relatório da semana passada, expurgamos parcialmente o efeito das fortes exportações devido ao crescente risco de barreiras tarifárias em produtos chineses, especialmente nos EUA e Europa.
Atualizações políticas e sentimento do mercado
Flexibilizações anunciadas na semana passada mexeram com o sentimento de mercado. A recente reunião do Politburo indicou uma grande flexibilização coordenada da política econômica após os anúncios do PBoC e dos reguladores financeiros na terça-feira passada, conforme já comentamos nos trechos acima. A reunião enfatizou a necessidade de o governo enfrentar os desafios econômicos, tomar medidas decisivas e atingir as metas de desenvolvimento deste ano. Pela primeira vez, a reunião estabeleceu o objetivo de “interromper o declínio e estabilizar o mercado imobiliário”, ao mesmo tempo em que abordou questões importantes, como o controle do fornecimento de novas moradias para produtos básicos. Além disso, defendeu uma “política fiscal anticíclica”, aumentando as expectativas de um estímulo fiscal significativo, o que foi notavelmente ausente este ano.
Não vemos razão para ânimo, pacote de incentivos muda pouco a delicada situação. De fato, observamos o sentimento de investidores para teses do setor de Metais & Mineração melhorar um pouco nos últimos dias, entretanto, continuamos descrentes em um ganho aparente de performance da economia chinesa, uma vez que as raízes do problema são mais profundas e não cíclicas. Isso quer dizer que, segundo o nosso racional, as dificuldades não serão combatidas reduzindo a RRR e taxa de hipotecas. Nossa análise sugere que o problema central não é falta da oferta de crédito e sim desinteresse em tomar crédito.
Rebaixar o custo dos juros continua não atacando o cerne da questão, que está envolto no início do processo de reversão da pirâmide etária (o que o mercado tem chamado de “crise demográfica”). Sem planejamento sucessório e herdeiros para assumir o patrimônio, diante da taxa de natalidade substancialmente baixa na China, somados ao enorme estoque de imóveis desocupados, entendemos que não há estímulo financeiro suficiente que levante o ímpeto de adquirir mais um imóvel. Então, rebaixar a taxa de entrada para os segundos compradores (15% vs. 25% anteriormente), igualando a mesma taxa cobrada a primeiros compradores, não dará motivações explícitas para aumentar ritmo de vendas e, sobretudo, observarmos uma elevação do número de novos lançamentos de projetos imobiliários, métrica essencial para monitorar a demanda por aço do setor. Na semana de 15 de setembro, apuramos 1.566 unidades de projetos lançados nas 9 maiores cidades, uma redução substancial de -61% s/s, embora a taxa de vendas tenha permanecido estável em ~50%.
Nossa visão: atualizações políticas e sentimento do mercado
Melhora nítida do sentimento de mercado. Ainda que sejamos contrários a um grau muito elevado de efetividade das medidas (explicaremos mais adiante), ainda assim, recebemos de forma positiva os anúncios após a reunião do Politiburo. Acreditamos que o governo está tomando medidas majoritariamente ligadas as condições de política de afrouxamento monetário, voltadas para (i) corte das taxas de compulsório (RRR), (ii) redução de despesas com juros e custos de hipotecas (-0,5p.p) e (iii) taxas de juros básicas da economia (PBoC sinalizou possivelmente futuros cortes da LPR-5 anos e LPR-1ano). Dessa forma, percebemos aumento das expectativas dos investidores em relação às medidas políticas adicionais (para além do grande pacote anunciado semana passada).
Cautela é necessária, reação positiva do mercado deve durar pouco. Seguimos muito cautelosos em relação a ajustes significativos no programa de desestocagem de casas ou ao aumento do suporte de crédito para incorporadoras. As políticas estruturais discutidas nos últimos dias após a reunião do Politiburo incluem o (i) redução da taxa de desemprego e o (ii) apoio às famílias de renda média e baixa, além de (iii) facilitar o desenvolvimento do setor privado e atrair investimentos estrangeiros. Com o corte da taxa dos juros nos EUA promovido pelo FED há 2 semanas atrás e uma taxa de câmbio USD/RMB mais fraca, prevemos que as autoridades chinesas possam flexibilizar ainda mais a política monetária. Tão logo, estamos projetando que o rendimento dos títulos do governo chinês de 10 anos caia para ~2% ou menos até o final de 2024. Em relatórios setoriais anteriores já comentamos sobre a crise no mercado de títulos públicos na china, diante do alto interesse e baixo yield.
Discordamos que as medidas anunciadas possam ser chamadas de anticíclicas. Mesmo o governo chinês sendo o interlocutor da mensagem de que as medidas são “anticíclicas”, ainda assim, entendemos que os anúncios foram focados sobretudo na redução de taxas ligadas ao afrouxamento monetário, como (i) redução da taxa de compulsório (RRR), (ii) taxa de juros de curto prazo (LPR 1 Ano) e (iii) taxa do custo de crédito para hipotecas em -0,5p.p. Por isso, segundo a nosso entendimento, na prática as medidas possuem forte correlação com o ciclo econômico (balanço entre inflação e juros). Ou seja, como a inflação está muito baixa, vivendo basicamente um quadro deflacionário à medida que o consumo doméstico está fraco, há espaço para corte de taxa de juros. Monitorar nível de inflação a alterar a política de juros é algo comum de qualquer mandato de Banco Central mundo a fora. Já estávamos antecipando medidas parecidas desde o início do ano, ao comentarmos que o PBoC tinha mais espaço na política monetária vs. o nível baixo de inflação corrente. Portanto, afrouxar a política monetária era de fato o que o PBoC precisava fazer, mas isso não significa que resolverá o problema de forma célere. Acreditamos que a situação é de difícil resolução e não-cíclica, com raízes estruturais profundas.
Mercado imobiliário
Queda nas vendas de casas continua. As 100 maiores incorporadoras da China consolidaram uma queda de -30% a/a nas vendas de setembro, impulsionada por um recuo médio de -26% a/a nas vendas de casas novas nas 46 maiores cidades e uma redução ponderada de -5,3% a/a nos preços das casas novas. Destacamos que a base comparativa já era baixa, uma vez que em setembro de 2023, os números de vendas foram influenciados pelo não pagamento do cupom do título em USD da Country Garden, que afetou a confiança dos compradores. Um ano após esse evento, os desafios continuam, em setembro de 2024, adjuntos de meses anteriores com métricas de vendas em queda livre. Em julho e agosto essas mesmas incorporadoras registraram, em conjunto, quedas de -20% a/a e -27% a/a, apesar dos cortes anteriores nas taxas de hipoteca e no índice de entrada desde meados de maio. Nas 30 maiores cidades, a área vendida na última semana ficou em 303 mil m2, com uma queda de -34% a/a na média móvel de 30 dias.
Desaceleração é ampliada mesmo com sazonalidade favorável. As vendas de casas novas nas 46 maiores cidades da China caíram -10% m/m nos primeiros em setembro, levantando preocupações sobre o aprofundamento da crise imobiliária. Em agosto, as 100 maiores incorporadoras registraram vendas contratadas de ¥251b (~US$35b), marcando o terceiro menor valor total mensal desde 2019, significativamente menor do que o aumento médio de +14% m/m normalmente observado em setembro nos últimos 5 anos. Setembro e outubro são tradicionalmente meses de pico para transações de casas novas, o que torna a situação dos números em contração particularmente alarmante.
Para amenizar isso, acreditamos que Pequim seguirá o exemplo de Xangai e Shenzhen, flexibilizando as restrições em áreas suburbanas e reduzindo os índices de entrada para 15% (sem distinção entre primeiros compradores e segundos compradores). Essa medida faz parte do último pacote anunciado pelo governo central na semana passada, dando liberdade para os governos locais relaxarem as restrições anteriores.
Pacote de incentivo ao setor imobiliário e seus desdobramentos. Esperamos que as principais cidades flexibilizem as políticas de compra de casas para impulsionar as vendas da Golden Week (feriado na China de 1-7 de outubro). O compromisso do Politburo (reunião da cúpula principal do Partido Comunista) de “ajustar a política de restrições à compra de casas”, lançando um pacote de estímulo na semana passada, sugere que cidades maiores como Shenzhen, Xangai e Pequim podem remover essas restrições nas regiões periféricas. Guangzhou pode eliminá-las completamente.
Entendemos que cidades Tier I ainda possuem balanços para reduzir ainda mais os requisitos de entrada e as taxas de hipoteca. Dentro da política flexibilização anunciada na semana passada, o PBoC autorizou cidades low tier a reduzirem os índices de entrada para a compra de segunda residência para 15% (vs. 25% anteriormente). Medidas de apoio locais estão previstas para as próximas semanas, com o objetivo de aumentar as transações durante a temporada de pico de vendas da Golden Week e ao longo de outubro. A média móvel de 7 dias nas 30 maiores cidades para residências primárias ficou com uma queda de -50% a/a, ao atingir 211 mil m2 de área vendida na semana passada.
Mesmo onda de flexibilizações os desafios permanecem. Os comentários recentes do Politburo indicam um compromisso significativo para reforçar o setor imobiliário da China, com planos para “cortes vigorosos nas taxas” com o objetivo de estabilizar os preços e as vendas de imóveis. Apesar dessa mudança positiva, entendemos que os desafios permanecem, uma vez que estão atrelados às questões estruturais profundamente enraizadas e barreiras psicológicas entre os compradores de imóveis. O (i) pessimismo em relação aos preços das casas (que continuam contraindo), o (ii) medo de casas inacabadas ou descumprimento de contratos por parte das incorporadoras, as (iii) preocupações com a segurança no emprego e os (iv) problemas de sentimento, com baixa confiança de compradores, representam os principais obstáculos que complicam os esforços para rejuvenescer as vendas de casas após quase 4 anos de crise imobiliária.
Política de incentivo governamental pode não ser eficaz. A nova oferta de casas no mercado primário (projetos em andamentos ou recém-inaugurados) a preços acessíveis com desconto do governo, combinada com a remoção das restrições de preços, pode levar os proprietários de imóveis na China a oferecer descontos mais altos no mercado secundário (casas já prontas e alugadas). Em agosto, 69 das 70 maiores cidades registraram quedas sequenciais nos preços de imóveis usados, sendo que todas as cidades registraram perdas vs. 2023. Nossa análise sugere que essa situação pode levar os proprietários de várias casas ao ato de vendê-las, com o objetivo de mitigar as perdas e realocar os recursos e renda para investimentos de maior rendimento, como ativos no exterior, títulos, fundos mútuos ou produtos de seguro.
Excesso de oferta de chega a 6,2 milhões de casas apenas no mercado secundário. O mercado imobiliário da China enfrenta um agravamento do excesso de oferta, com 6,2 milhões de casas de segunda mão atualmente listadas em 155 cidades. Os proprietários de casas estão saindo cada vez mais do mercado devido às fracas perspectivas de preços a médio prazo e ao término dos períodos de lock-up para revenda. Notavelmente, Chongqing (cidade Tier II) lidera com 284 mil casas no mercado secundário, seguida por Xangai, com ~238 mil. Outras cidades como Tianjin, Shenyang, Chengdu, Suzhou, Hangzhou, Guangzhou e Nanjing têm, cada uma, entre 150-200 mil unidades disponíveis. Essa oferta crescente ameaça as pré-vendas das incorporadoras, pois as casas existentes no mercado secundário geralmente oferecem descontos maiores e melhores garantias de entrega do que os empreendimentos que atualmente estão em fase de construção.
Distorções nos benefícios práticos para cidades maiores vs. cidades menores. Acreditamos que asrestrições mais brandas à compra de casas nas regiões periféricas de Xangai e Shenzhen, combinadas com requisitos reduzidos de pagamento de entrada pelos imóveis, podem beneficiar mais as cidades maiores do que as menores. Entretanto, é improvável que essas mudanças aumentem significativamente as vendas para a maioria das incorporadoras, já que a Vanke e a Longfor têm apenas 5,8% e 1% de seus bancos de terrenos nessas cidades, respectivamente. De modo geral, uma recuperação ampla ainda está longe, com as cidades de Tier I representando apenas 15% das vendas de casas novas na China.
Euforia do mercado deverá ser passageira. A proposta da China de eliminar as restrições à compra de casas em suas maiores cidades pode não ser eficaz para reverter a atual crise imobiliária. Essa iniciativa tem como alvo as cidades Tier I, que contribuem com apenas 15% das vendas de casas novas. Após 3 anos de crise, os desafios estruturais persistentes, incluindo casas inacabadas, pessimismo com relação aos preços futuros das casas e excesso de oferta significativo, indicam que é improvável que haja uma solução política rápida. Portanto, mesmo ciente das flexibilizações nas hipotecas como também dos mecanismos de política monetária anunciados nos últimos dias, nosso entendimento é de que a euforia do mercado de commodities ligadas a aço e minério de ferro deverá ser passageira.
Preços das casas e as vendas de imóveis devem continuar caindo. Nossa opinião é de que muito provavelmente o plano da China para reduzir as restrições nas compras de propriedades e arrefecer o custo dos financiamentos imobiliários não interrompa a queda nos preços e nas vendas de imóveis. Apesar das medidas de estímulo do lado da demanda em setembro de 2023 e maio de 2024, como a (i) remoção das restrições à compra de casas, (ii) redução das taxas de entrada e (iii) cortes nas taxas de hipoteca para mínimos históricos, o sentimento do comprador continuou frágil.
Embora esse novo pacote de flexibilizações que ocorreu na semana passada tenha de fato aumentando a intensidade dos estímulos, ainda assim, o histórico desse ano comprova que as flexibilizações anteriores não melhoraram o sentimento do comprador. Em agosto, os preços das casas usadas diminuíram -10% vs. meados de 2023, e os preços das casas novas caíram -6%. Nos primeiros 8M de 2024, as vendas de casas novas caíram -44% a/a nas cidades da banta de cima Tier II, -30% a/a nas bandas de baixo da Tier II e -22% a/a nas cidades Tier I.
Quais cidades ainda não entraram na flexibilização da última rodada? Pequim, Xangai, Guangzhou, Shenzhen, Tianjin e Hainan, ainda não aderiram de forma integral a última rodada de flexibilizações. Apesar da remoção de tais restrições em Nanjing, Wuhan e Fuzhou desde setembro de 2023, as vendas de casas novas continuam a diminuir drasticamente, com uma queda de -70% nos últimos 9M vs. o pico de 2020 (logo antes do estouro da bolha em 2021). Acreditamos que mesmo que a nova política seja implementada de forma integral pelos governos locais, os compradores qualificados continuarão a preferir casas do mercado secundário, que oferecem descontos maiores e maior garantia de entrega.
Atualmente, estimamos que existam ~48 milhões de casas inacabadas na China, que podem levar até 8 anos para serem concluídas, o que pode minar a confiança do comprador em propriedades pré-vendidas e exacerbar os problemas de liquidez para as incorporadoras em meio a uma queda contínua nas vendas.
Por que as medidas provavelmente não conseguirão endereçar o problema atual? Apesar das taxas de hipoteca no low-histórico, que chegaram a 3% em algumas cidades, a atual desaceleração do mercado imobiliário enfrenta desafios estruturais únicos que diferem dos ciclos anteriores de 2009 e 2015. Os principais problemas incluem o (i) declínio significativo nos casamentos e uma (ii) queda na taxa de natalidade, contribuindo para a (iii) redução estrutural da demanda pelo fator demográfico.
Além disso, a (iii) inadimplência generalizada entre as incorporadoras privadas levanta preocupações sobre o modelo de pré-venda de moradias, enquanto um (iv) acúmulo de anos de oferta excessiva, juntamente com uma queda repentina na demanda impulsionada pela mudança de percepção do valor da casa, ameaça um (v) desequilíbrio prolongado entre oferta e demanda, do qual acreditamos que levará anos para se reequilibrar e não se resolver com corte do custo de crédito hipotecário. Em geral, esses fatores indicam que as táticas tradicionais podem ser ineficazes para lidar com os problemas atuais do mercado.
Aço e Minério de Ferro
Aço: os preços dos principais produtos das usinas voltam a subir. Os preços dos principais produtos siderúrgicos da China retornaram com o movimento de alta, impulsionados pelo sentimento positivo do mercado após o amplo pacote de estímulos feito na semana passada, conforme já comentamos. Além disso, as vendas de aço melhoraram, pois os usuários finais aumentaram o reabastecimento em antecipação ao feriado Golden Week (1-7 de outubro). Na semana de 21-27 de setembro, constatamos que o preço do tarugo de Tangshan atingiu ¥3.200/t ou ~US$454/t (incluindo um IVA de 13%), marcando um aumento significativo de +11,9% s/s.
Insumos: preços de sucata e carvão continuam movimento de recuperação. Os preços da sucata ferrosa na China continuaram a subir durante a semana de 21-27 de setembro, impulsionados pela retomada de produção das usinas. O preço composto da sucata ferrosa atingiu ¥2.456/t (~US$350/t), refletindo um aumento de +1,6% s/s. O aumento nos preços é atribuído ao fato de que mais siderúrgicas de Alto-forno (BF) e de forno elétrico a arco (EAF) aumentaram a produção após a melhora nos lucros das vendas de aço. O preço nacional composto do carvão metalúrgico chegou a ¥1.443/t ou ~US$205/t (+1,2% s/s). A estocagem antes do feriado por parte dos fabricantes de coque e aço para garantir o fornecimento adequado de carvão para o feriado contribuiu significativamente para essa tendência de alta no mercado.
Minério de Ferro: preços se elevam na expectativa de demanda pelo pacote de incentivos. Os preços do minério de ferro na China se fortaleceram significativamente devido a maior procura pelos contratos futuros do minério de ferro na Bolsa de Dalian (DCE). Os contratos para janeiro de 2025 fecharam a semana em US$115/t (+18,6% s/s). Observamos aumentos recordes na referência 62% Fe, já que o sentimento de alta do mercado seguiu o anúncio do PBoC de um amplo estímulo na política monetária.
O preço spot chegou a US$108,6/t (+17,4% s/s) no início dessa semana e fechou semana passada em US$100,3/t, também compondo uma alta expressiva. Não negamos que o mercado tenha reagido de maneira otimista, com os traders operando os contratos futuros diante do sentimento mais positivo que poderia ser destravado na demanda. Entretanto, ainda salientamos os grandes desafios estruturais que discorremos ao longo da parte inicial do relatório. Dessa forma, não vemos fundamentos que justifiquem esse movimento expressivo de alta ser duradouro.
Minério de Ferro: estoques portuários recuam e ajudam a ampliar sentimento de melhora. Em consonância com o aumento de demanda, que ocasionou recuperação parcial nos preços dos principais produtos de aço na semana passada, adjuntos da melhora do sentimento de mercado pelo pacote de estímulos lançados pelo governo central, observamos um recuo pela segunda semana consecutiva dos estoques portuários de minério de ferro. Acreditamos que parte desse movimento de retiradas da pilha de estoques tenha ocorrido pelo reabastecimento das usinas antes do feriado da Golden Week, e não necessariamente por uma mudança forte de fundamentos. Portanto, os estoques de minério de ferro em ~30 portos chineses que monitoramos fecharam a semana passada em 131,7Mt (-2,2% s/s).
É importante também comentar que em 2021 os estoques tiveram uma alta considerável em outubro, principalmente diante do efeito de aumento de embarques sazonal das mineradoras, que aproveitaram o pico histórico de preço do minério de ferro na época, com a referência 62% Fe próxima de US$180/t, para aumentar consideravelmente os despachos. Dessa forma, embora atualmente os estoques ainda permaneçam no maior nível dos últimos 5 anos, acreditamos ser provável que ao longo desse mês esse quadro se reverta, com a pilha de estoques ficando abaixo do nível de 2021, mas ainda assim, bem acima do nível de estoques portuários do ano passado, por exemplo.
Aço: Os estoques de aço das usinas chinesas diminuíram -5% s/s. Apuramos, através dos dados de mercado que temos acesso, que os estoques de aço no pátio das usinas continuam a abaixar. Verificamos um total de 3,8Mt (-4,8% s/s), marcando o nível mais baixo desde dezembro de 2017. Esse estoque inclui os cinco principais subprodutos de aço (vergalhões, fio-máquina, HRC, bobina laminada a frio e placas). Embora a maioria dos estoques dos principais subprodutos tenha caído, observamos ligeiros aumentos nas reservas de fio-máquina e placas. Já os estoques totais de aço acabado em posse de traders ou distribuidores chegou a um total de 16,3Mt (-2,2% s/s), também culminando na décima semana consecutiva de contração.
Aço: taxa de utilização dos Altos-fornos sobe pela quarta semana consecutiva. Os produtores de aço de alto-forno (BF) da China registraram um aumento na utilização da capacidade pela quarta semana consecutiva, atingindo 84,45% (+0,4p.p s/s). Entretanto, a taxa operacional permaneceu estável em 78,23%. A melhora nas margens de lucro levou várias usinas a retomarem as operações após paradas para manutenção.
Aço: produção de vergalhões atinge maior alta dos últimos 2M. A nossa análise de dados de mercado indica que a produção de vergalhões continuou subindo na semana de 21-27 de setembro, chegando a 2Mt (+5,8% s/s). Isso marcou a quinta semana consecutiva de aumento, com o equivale a +112,3Kt adicionais. As principais regiões, incluindo o centro, o sul e o nordeste da China, contribuíram para esse crescimento, com algumas usinas retomando as operações após a manutenção e outras mudando a produção de HRC para vergalhões na tentativa de melhorar a lucratividade, conforme já havíamos antecipado no relatório da semana passada.
Aço: rentabilidade da produção de HRC teve elevação na última semana. Os preços da bobina a quente (HRC) registraram um aumento contínuo na semana de 21-27 de setembro, refletindo a melhora no sentimento do mercado, principalmente ligado ao pacote de estímulos anunciado na semana passada. De acordo com a nossa apuração de dados do mercado, o preço do HRC aumentou para US$482/t (+4,3% s/s). As margens migraram de patamar, chegando a +US$36/t (+5,9% s/s). Essa tendência de alta é atribuída a fatores macroeconômicos e sentimento do mercado mudando para um viés mais positivo. Entretanto, suspeitamos do nível de resiliência de aumento de preços, uma vez que a demanda real ainda não obteve um boost significativo para justificar o ânimo do mercado.
Brasil
Aço brasileiro: preço de vergalhões segue estável, com reajustes ainda em discussão. O preço doméstico de vergalhões permaneceu estável na semana passada, com expectativas de um possível aumento de +5% nos preços em outubro. Segundo conversas que tivemos com agentes de mercado nos últimos dias, as negociações seguem travadas. Embora o prêmio esteja em um patamar baixo (menor que a média histórica de 5-8%), a temperatura do setor de construção civil continua amena. Os projetos do programa governamental Minha Casa, Minha Vida (MCMV) não estão puxando demanda de forma suficiente para reaquecer o mercado de aços longos. Já o segmento de empreendimentos de alta-renda segue desacelerando.
Dessa forma, as construtoras estão tentando negociar uma intensidade menor ou postergar o reajuste de preço, considerando que seria o segundo movimento pleiteado pelas usinas nos últimos 3M. Setembro fechou com preços no intervalo de R$3.800-4.300/t, com o ponto central figurando em R$4.050/t, segundo a S&P Platts. O prêmio de paridade ficou em +3,7% vs. o aço importado, uma elevação de +0,7p.p s/s, diante de uma melhora da margem de vergalhões no cenário internacional. O alargamento do prêmio ocorreu uma vez que o preço do aço importado chegou no Brasil em US$717/t (+0,8% s/s), contrabalanceados com a estabilidade de preço no mercado doméstico.
Aço brasileiro: prêmio do HRC continua descendo após cotas preenchidas. Os preços da bobina laminada a quente (HRC) no Brasil permaneceram estáveis na última semana, dentro do intervalo de R$4.100-4.300/t, com o ponto central em R$4.200/t, segundo a S&P Platts. Destacamos também que a ArcelorMittal suspendeu, na semana passada, a expansão que estava planejada para a unidade de Longa Monlevade (MG), devido à demanda mais fraca e ao aumento das importações, observando que o setor está enfrentando desafios decorrentes do aumento das importações e do crescimento da demanda abaixo do esperado. Ainda assim, estamos começando a ver sinais de arrefecimento de forma mais ampla no prêmio de paridade, que contraiu para +14,1% vs. o aço importado (-4p.p s/s).
Conforme descrevemos no relatório da semana passada, as cotas deste quadrimestre atingiram a marca de 90% sob o volume licenciado para importação de HRC, o que implica na cobrança da tarifa complementar de 25% (vs. 10,8% anteriormente). Ao conversarmos com participantes do mercado nos últimos dias, ainda falta clareza se o sistema de cotas implementado pelo Ministério do Comércio (MIDC) irá criar um ambiente de concorrência menos predatória a ponto de devolver poder de barganha para as usinas locais subirem preços. Isso até agora não aconteceu, mesmo com o prêmio baixando de forma substancial nas últimas 2 semanas.