Apresentamos mais uma edição do nosso relatório semanal do setor de Metais & Mineração (Vale, CMIN, Gerdau, CSN e Usiminas), referente a semana 3 do mês de julho de 2024, baseados em dados realizados ao longo da semana anterior a da publicação, que no caso contempla o período de 6 a 12 de julho.
Continuamos a atualizar o mercado sobre indicadores importantes para o monitoramento dos fundamentos de oferta e demanda de aço na China e por consequência, do minério de ferro no sistema transoceânico. Destacamos também o capítulo sobre Brasil, mostrando o sentimento de mercado bem como as dinâmicas de prêmio do aço doméstico para as referências de aços longos e planos vs. os preços dos importados.
O formato do relatório está sendo concebido para trechos em texto, com conclusões e seções individuais de “Nossa visão”, e com diversos estímulos visuais, através de gráficos e tabelas. Nossa intenção é realizar um acompanhamento semanal desses gráficos e tabelas, a depender dos dados disponíveis (há dados que são mensais e não semanais). Para o capítulo de China, separamos as seções em (i) Macroeconomia; (ii) Atualizações políticas e sentimento de mercado; (iii) Mercado imobiliário; (iv) Aço e minério de ferro.
Principais Destaques – China:
(i) Macroeconomia: PIB do 1S24 cresce +5% a/a, em linha com a meta do governo, mas ritmo desacelera no 2T24. Nossa projeção de PIB 24E permanece em 4,8% Genial Est; (ii) Investimento em Ativo Fixo (FAI) sobe +3,9% a/a no 1S24, atingindo ¥24,5 trilhões (~US$3,4 trilhões), porém, percentual destinado ao mercado imobiliário contrai em -10,1% a/a, para ¥5,2 trilhões (~US$722b); (iii) Taxa de desemprego foi entregue em junho estável em 5%, mas ainda alta. Desemprego entre jovens está na faixa de ~14%. Renda per capta apresenta descompressão, chegando em ¥27,5k (~US$3,8k) para áreas urbanas, com crescimento de +4,6% a/a; (iv) Exportações são divulgadas acima das estimativas, com expansão de +8,6% a/a (+0,6p.p vs. consenso), enquanto as importações caíram -2,3%; (v) Nosso entendimento é que para impulsionar o crescimento, a China deverá aumentar o apoio fiscal e flexibilizar a política monetária no 2S24; (vi) Estimamos que os gastos discricionários no varejo caíram no ritmo sequencial mais acentuado desde os lockdowns em abril de 2022. Ainda assim, do lado positivo, o crescimento da produção industrial em junho foi de +5,3% a/a (+0,3p.p vs. consenso); (vii) Reforçamos a nossa tese de que exportações mais altas são benéficas para o setor de mineração. Dados de junho, também divulgados nesta segunda-feira pelo NBS, indicam que as usinas produziram 91,6Mt de aço bruto (+0,2% a/a), com uma produção média diária de ~3Mt, a maior desde abril de 2023, mesmo com sazonalidade de chuvas na China dificultando a elevação do output na base mensal (encolhendo -1,3% m/m). Portanto, acreditamos que os investidores estão penalizando excessivamente as mineradoras, sobretudo, a Vale. Reconhecemos que o cenário não é bullish, mas o nível atual de desconto das ações nos parece muito além do justo; (viii) Os dados de crédito da China para 1S24 mostraram quedas significativas. Os empréstimos às famílias totalizaram ¥1,5 trilhão (~US$200b), quase metade dos ¥2,8 trilhões do mesmo período em 2023; (ix) Acreditamos que novos empréstimos e M2 devem desacelerar ritmo de maneira mais profunda no 2S24; (x) Mercado Imobiliário: Incorporadoras estão abaixando preços no mercado primário por competição com imóveis secundários. Em cidades Tier III, os preços das casas novas (vendas primárias) retroagiu -3% m/m e os preços das casas no mercado secundário recuou -10% m/m; (xi) Nas cidades Tier I, os preços das casas no mercado secundário já caíram -7% vs. o pico de abril de 2023, e os preços das casas novas caíram -2% vs. pico de junho de 2023; (xii) Apesar das medidas de apoio, as vendas contratadas em junho reduziram em -32% a/a para a Vanke e -40% a/a para Longfor . Em contraste, as incorporadoras estatais registraram ganhos nas vendas, com a COLI subindo +40% a/a, e a CR Land e a Yuexiu subindo +9% e +19% a/a, respectivamente. O estímulo ao setor imobiliário pode levar a melhorias desiguais, favorecendo as incorporadoras estatais e as cidades maiores. As vendas de casas caíram -45% a/a no 1S24 dentro de um conjunto de 20 incorporadoras monitoradas; (xiii) Minério de Ferro: preços recuam diante de estoques altos e dados fracos de inflação. O contrato futuro de minério de ferro para setembro, na DCE (Dalian), desacelerou ainda mais que o mercado spot, chegando a ~US$115,5 (-3,4% s/s). O preço spot da referência 62% Fe fechou a semana em US$107,5 (-0,9% s/s); (xiv) Os estoques de minério de ferro na China em ~30 portos que monitoramos chegou a 130,1Mt (+0,14% s/s). O nível atual da pilha de estoques é +18% vs. mesmo período de 2023, e permanece acima da linha dos últimos 5 anos, o que piora o sentimento de preço; (xv) Aço: leve recuo na taxa de utilização de Alto-forno para 88,7% (-0,38p.p s/s). A produção média de metal quente diminuiu em -10,3Kt/dia, atingindo 2,38Mt/dia (-0,43% s/s); (xvi) A produção de vergalhões volta a encolher, diante de trade-off entre aço planos e longos. Apuramos um output de 2,3Mt (-4% s/s) para vergalhões, chegando no menor nível dos últimos 2M; (xvii) Produção de HRC bate recorde e sustenta tese voltada à exportação de bens. As usinas monitoradas destinadas a aços planos na China atingiram a maior produção semanal dos últimos 3 anos, fechando em 3,26Mt (+1,59% s/s).
China
Macroeconomia
PIB do 1S24 cresce +5% a/a, em linha com a meta do governo, mas ritmo desacelera no 2T24. Na segunda-feira, dia 15 de julho, o Escritório de Estatística da China (NBS) divulgou o PIB do 1S24, que aumentou +5% a/a, chegando a ¥61,7 trilhões (~US$8,5 trilhões). Entretanto, o crescimento do 2T24 entrou em ritmo mais lento, atingindo +4,7% vs. +5,3% do 1T24 , e vindo também abaixo das estimativas (-0,4p.p vs. consenso). As vendas no varejo de junho também forma divulgadas em menor intensidade do que o aguardado, aumentando apenas +2% a/a (-1,3p.p vs. consenso).
FAI sobe, porém, percentual destinado ao mercado imobiliário contrai. Também divulgado no início desta semana pelo NBS, o investimento em ativos fixos (FAI) da China no 1S24 aumentou +3,9% a/a, atingindo ¥24,5 trilhões (~US$3,4 trilhões) e ficando em linha com o consenso. Dentro desse total, o investimento no mercado imobiliário residencial caiu -10,1%, para ¥5,2 trilhões (~US$722b). A área total de projetos imobiliários recém-lançados diminuiu -23,7% a/a, para 380,2 milhões de m2, enquanto as vendas de imóveis por área útil regrediram -19% a/a, para 479,2 milhões de m2.
A riqueza relacionada à habitação na China aumentou +2,2% a/a no 1S24, uma redução significativa em relação ao crescimento médio anual de +13% entre 2016 e 2021. Importante destacar que boa parte desse crescimento foi puxado pelo mês de junho em cidades Tier I, após as flexibilizações de hipotecas em maio. Isso quer dizer que, sem as flexibilizações e excluindo cidades Tier I, a riqueza relacionada a habitação teria contraído em 2024 até agora.
Taxa de desemprego estável, mas ainda alta. Renda per capta apresenta descompressão. Em junho, a taxa de desemprego urbano composta permaneceu estável em 5%, porém a taxa de desemprego entre os jovens, em maio, era significativamente maior, chegando em 14,2%. Ainda não foram divulgados os dados de junho para jovens. No 1S24, os residentes das cidades tiveram uma renda disponível per capita média de ¥27,5k (~US$3,8k), com crescimento de +4,6% a/a. A renda rural disponível cresceu +6,8% a/a para ¥11,3k (~US$1,5K), ainda menos da metade da renda urbana. China possui ~36% da população vivendo em áreas ruais.
Acreditamos que a migração para áreas urbanas se tornará mais lenta nos próximos 10 anos vs. o ritmo visto na última década, devido ao forte aumento de custo nos grandes centros urbanos e o preço das moradias em cidades Tier I. Já defendemos essa tese em outros relatórios setoriais, para mais detalhes confira o anexo (Metais & Mineração: Um raio x na fratura exposta do mercado imobiliário chinês).
Exportações são divulgadas acima das estimativas. Na sexta-feira passada, dia 12 de julho, foram divulgados os indicadores da balança comercial na China em relação ao mês de junho. As exportações aumentaram +8,6% a/a (+0,6p.p vs. consenso), enquanto as importações caíram -2,3%. Defendemos que isso é positivo para o setor de mineração, uma vez que a demanda por aço bruto, embora sem dúvida esteja mais fraca do ponto de vista doméstico, ainda está sendo parcialmente sustentada pelo redirecionamento do overcapacity manufatureiro para bens duráveis destinados à exportação (exploraremos mais esse aponto adiante).
Nossa visão: Macroeconomia
Infraestrutura tem sido suporte, mas residencial ainda preocupa muito. Com um FAI aumentando, mas um segmento imobiliário residencial ainda contraindo, acreditamos que o que vem sustentando o setor de construção civil são obras relacionadas a infraestrutura, especialmente para o segmento de energia elétrica. No press release desta segunda-feira, o NBS enfatizou a necessidade de revigorar o mercado e estimular o impulso interno, porém, não houve um sinal mais claro de como o PBoC (Banco Central da China) irá utilizar o pacote de resgate ao segmento de moradias, anunciado em maio e chegando a ¥300b (~US$42b), que serão destinados a recompra de estoque de imóveis.
Acreditamos que a meta de crescimento de 5% no PIB é um desafio. Apesar de ter se alinhado a meta durante o composto em termos reais (incluindo inflação) do 1S24, olhando em termos nominais (excluindo inflação), o PIB cresceu +3,97% no 1T24 e +4,01% no 1S24. Nosso entendimento é que para impulsionar o crescimento, a China deverá aumentar o apoio fiscal e flexibilizar a política monetária no 2S24 (mais comentários sobre isso adiante). Estimamos que os gastos discricionários no varejo caíram no ritmo sequencial mais acentuado desde os lockdowns em abril de 2022, quando a China vivia a política de Covid-zero. Ainda assim, do lado positivo, o crescimento da produção industrial em junho foi de +5,3% a/a, superando as expectativas de +5% a/a. A manufatura de alta tecnologia registrou um aumento de +8,8% a/a no valor agregado em junho. Nossa projeção de PIB 24E permanece em 4,8% Genial Est.
Reforçamos a nossa tese de que exportações mais altas são benéficas para o setor de mineração. Nossa percepção é de que a maioria dos investidores não levam em consideração que o aumento das exportações de bens duráveis acaba compensando parcialmente o consumo doméstico anêmico na China. Especialmente para o setor de mineração, conforme já comentamos acima, os dados sugerem que a China está escoando para fora do país o excesso de capacidade instalada em suas fábricas. Isso quer dizer que a produção industrial, quando corretamente ponderada pelas exportações, não está encolhendo e sim expandido. Nesse sentido, a produção de aço bruto continua subindo, mesmo que de maneira suave.
As taxas de utilização dos Alto-fornos continuam em ~90%, com as usinas demandando um nível resiliente de minério de ferro. Dados de junho, também divulgados nesta segunda-feira pelo NBS, indicam que as usinas produziram 91,6Mt de aço bruto (+0,2% a/a), com uma produção média diária de ~3Mt, a maior desde abril de 2023, mesmo com sazonalidade de chuvas na China dificultando a elevação do output na base mensal (encolhendo -1,3% m/m). Embora a produção tenha de fato caído no 1T24 em -2% a/a, a divulgação referente ao mês de maio também indicou um output maior na base anual, chegando a 92,9Mt (+2,7% a/a). Discordamos de tamanha aversão do mercado a teses ligadas ao minério de ferro no curto prazo. Acreditamos que os investidores estão penalizando excessivamente as mineradoras, sobretudo, a Vale. Reconhecemos que o cenário não é bullish, mas o nível atual de desconto das ações nos parece muito além do justo.
Atualizações políticas e sentimento do mercado
Possível redução na taxa de compulsório no 3T24. Esperamos que a China enfrente uma lacuna de liquidez de mercado em ~¥800b (~US$110b) em julho, devido a fatores que incluem a emissão de títulos do governo, (mais uma tranche de emissão do total de ¥1 trilhão) e atividades fiscais reduzidas, levando a uma receita fiscal levemente em contração. Defendemos que isso aumentaria a probabilidade de um corte no índice de reservas compulsórias (RRR) dos bancos no início do 3T24. Os dados de crédito da China para 1S24 mostraram quedas significativas. Os empréstimos às famílias totalizaram ¥1,5 trilhão (~US$200b), quase metade dos ¥2,8 trilhões do mesmo período em 2023. Os empréstimos para empresas aumentaram em +¥11 trilhões (~US$1,5 trilhões), um pouco abaixo dos ¥12,8 trilhões do ano passado.
Nossa visão: Atualizações políticas e sentimento do mercado
Novos empréstimos e M2 devem desacelerar ritmo de maneira mais profunda no 2S24. Segundo nossa percepção, os dados divulgados do PBoC indicam uma demanda de crédito fraca e sugerem um foco no aumento da transmissão da política monetária sobre o crescimento do crédito agregado. Esperamos que o crescimento futuro dos novos empréstimos e do M2 (dinheiro em circulação + depósitos bancários + investimento com liquidez imediata) reduza ainda mais ao longo do 2S24, principalmente se o governo insistir em não cortar a taxa de juros (LPR 1 ano e 5 anos), conforme vem fazendo, mesmo com dados de inflação ainda indicando a possibilidade de reduções de juros. Para nós, o sentimento de mercado continua negativo e os dados divulgados pelo PBoC e pelo NBS na última semana, em sua maioria, amplificam o sentimento bearish dos investidores.
Mercado Imobiliário
Incorporadoras estão abaixando preços no mercado primário por competição com imóveis secundários. Os preços de casas no mercado secundário nas cidades Tier I estão nos níveis mais baixos desde o final de 2016, indicando também uma queda de -24% vs. de agosto de 2021, marco do início do processo de estouro da bolha imobiliária com o default da Evergrande. Acreditamos que as cidades menores estão sofrendo quedas ainda mais acentuadas. As incorporadoras enfrentam um dilema, entre reduzir os preços de venda ou perder participação no mercado para compradores aproveitando barganhas na revenda de casas. Em cidades Tier III, os preços das casas novas (vendas primárias) retroagiu -3% m/m e os preços das casas no mercado secundário recuou -10% m/m.
Preços de casas no mercado secundário também estão caindo em cidades Tier I. Os preços das casas em cidades low tier caíram -8% para casas novas e -12% para casas no mercado secundário vs. seus picos do ano em março. O fluxo de saída da população e a construção significativa de imóveis nos anos anteriores pioraram o desequilíbrio entre oferta e demanda. Constatamos que até mesmo as cidades Tier I, que antes eram resilientes devido à migração para áreas urbanas, estão sofrendo um declínio acentuado nos preços das residências de secundárias. Nos parece que second buyers estão procurando desovar imóveis devido às preocupações com uma desaceleração prolongada do mercado, revendendo casas no mercado secundário. Nas cidades Tier I, os preços das casas no mercado secundário já caíram -7% vs. o pico de abril de 2023, e os preços das casas novas caíram -2% vs. pico de junho de 2023, quando a queda foi zerada. Em cidades Tier III essa queda chega a -5%.
Incorporadoras estatais continuam ultrapassando performance de privadas. As incorporadoras estatais registraram ganhos significativos nas vendas, com as vendas da China Overseas Land (COLI) aumentando +137% m/m em junho, as da Jinmao chegando a uma aceleração de +85% m/m, R Land diante de uma alta de +55% m/m e as da Yuexiu com +53% m/m. Em contrapartida, a Vanke e a Longfor (top 6 incorporadoras privadas) registraram aumentos mais modestos nas vendas, de +5% m/m e +16% m/m, consolidados após a flexibilização das hipotecas. Apesar da aquisição de um número limitado de terrenos, as vendas contratadas de junho da Vanke e da Longfor caíram -32% a/a e -40% a/a. Enquanto isso, as incorporadoras estatais lideraram os ganhos nas vendas anuais em junho, com a COLI subindo +40% a/a, e a CR Land e a Yuexiu subindo de +9% a/a e +19% a/a.
A melhora recente com flexibilização de hipotecas pode esconder a difícil realidade do setor. O setor imobiliário pode apresentar melhoras desequilibradas, favorecendo as incorporadoras estatais e as casas no mercado secundário das cidades maiores, devido às perspectivas pouco animadoras para os preços das casas primárias e para os dados em razão do alto desemprego entre jovens, que são os comuns first buyers. As vendas de casas caíram -45% a/a para 20 incorporadoras monitoradas no 1S24, considerando as cidades médias e pequenas, com a expectativa de que o declínio aumente no 2S24 devido a uma base comparativa ainda relativamente alta ano passado. Já o número de lançamentos imobiliários nas cidades Tier I também recuou fortemente, chegando a 1.381 unidades (-79% s/s) mesmo com o efeito esperado de repique, diante das flexibilizações de hipotecas, apurando uma taxa de vendas de 51% (-1p.p s/s).
Mesmo com flexibilizações de hipotecas desde maio, vendas da Vanke sobem de forma tímida. A Vanke, uma das 5 maiores incorporadoras privadas na China, enfrenta problemas de liquidez, com seu maior acionista, a Shenzhen Metro, tendo uma cobertura de caixa para a dívida de curto prazo de 0,6x vs. 1,5x da própria Vanke (ou seja, nem o maior acionista conseguiria injetar capital). As dificuldades da incorporadora incluem a (i) falta de confiança na resolução das pressões de liquidez, (ii) investigações legais, (iiii) rebaixamentos de crédito pelas principais agências de rating e (iv) suspensão da compra de terrenos pelas autoridades chinesas.
É provável que as incorporadoras estatais se beneficiem mais das medidas de apoio ao mercado imobiliário, enquanto isso, incorporadoras privadas que possuem seus landbanks majoritariamente em cidades menores, como é o caso da Vanke, provavelmente continuarão sem tração nas vendas. A título de exemplo, em junho, as vendas contratadas da China Overseas Land aumentaram +137% m/m, as da Jinmao +85% m/m, as da CR Land +55% m/m e as da Yuexiu +53% m/m, enquanto as da Vanke aumentaram apenas +5% m/m.
Incorporadoras estatais se beneficiam mais do pacote de estímulo do que as privadas. A Vanke e a Longfor enfrentaram desafios na recuperação das vendas, adquirindo apenas 5 e 6 terrenos, respectivamente, até maio, principalmente em mercados mais fracos, como Yinchuan e Kunming. Apesar das medidas de apoio, suas vendas contratadas em junho reduziram em -32% a/a e -40% a/a . Em contraste, as incorporadoras estatais registraram ganhos nas vendas, com a COLI subindo +40% a/a, e a CR Land e a Yuexiu subindo +9% e +19% a/a, respectivamente.
O estímulo ao setor imobiliário pode levar a melhorias desiguais, favorecendo as incorporadoras estatais e as cidades maiores. As vendas de casas caíram -45% a/a no 1S24 dentro de um conjunto de 20 incorporadoras monitoradas. Acreditamos também em uma redução no 2S24 devido a comparações de base. Ano passado os números já estavam apresentando queda, mas em bases ainda maiores do que o nível atual de vendas. A área para venda registrada em maio é de 466 milhões de m2 nas 80 maiores cidades, com ~26,5 meses necessários para que o estoque de moradias consiga ser liquidado, sem que haja nenhum único lançamento. Ainda não tivemos acesso aos dados de junho. O recém pacote anunciado de resgate de ¥300b (~US$42b) pode não conseguir reascender as vendas de casas novas ou impedir a inadimplência das incorporadoras privadas, devido à fraca confiança dos compradores.
Quais serão os efeitos da compra de estoques de casas não vendidas pelo governo? A maioria das incorporadoras já vinculou propriedades à venda para garantir empréstimos, tornando improvável que a compra de estoques não vendidos pelo governo gere muitos recursos adicionais para financiamento. O programa de empréstimo de ¥100b (~US$14b) em 2023 para as 9 maiores cidades não aumentou as vendas nem reduziu o estoque, e a eficácia de um novo esquema de empréstimo de ¥300b (~US$42b) é duvidosa. Entre os desafios que enxergamos estão as (i) incorporadoras que vendem com grandes descontos, (ii) os baixos retornos dos governos locais em moradias populares (social housing) e (iii) a confiança dos bancos em conceder empréstimos. Conforme já comentamos em edições anteriores do nosso relatório semanal, as cidades Tier I podem se beneficiar mais, enquanto as cidades menores provavelmente não se beneficiarão.
A remoção do piso da taxa hipotecária pelo PBoC em 17 de maio pode reduzir as taxas de empréstimo para segundas residências mais do que para as primeiras residências, mas o crescimento limitado do preço das residências impede o investimento imobiliário. Os aumentos anteriores da demanda por hipotecas, em 2009 e 2016, resultaram tanto de custos de empréstimos mais baratos quanto de expectativas de aumento dos preços dos imóveis. A partir de abril, uma política de 2022 permitiu que as cidades com preços decrescentes de imóveis novos removessem o piso hipotecário, afetando 45 das 70 cidades.
A drástica mudança na taxa hipotecária da China facilita a necessidade de cortes na LPR. Pelo menos 269 cidades aboliram seu piso de taxa hipotecária desde meados de maio para combater a queda no setor imobiliário. Apesar disso, não é garantido que empréstimos imobiliários mais baratos reanimem a demanda por moradia. As cidades têm cada vez mais autonomia para definir suas taxas de juros de empréstimos imobiliários, o que pode levar a uma possível divergência em relação à taxa básica de juros dos empréstimos de cinco anos.
Flexibilização das hipotecas chegou em cidades médias. Em 17 de maio, o PBoC permitiu que suas filiais provinciais decidissem sobre os pisos das taxas hipotecárias com base nos mercados imobiliários locais. Com as dificuldades nas vendas de imóveis, mais cidades poderão remover seus pisos de taxas hipotecárias para estimular a demanda. Assim como Guangzhou em 28 de maio, 269 cidades em 25 províncias já fizeram isso nas últimas semanas. Por exemplo, as taxas de hipoteca para second buyers em Foshan caíram para 3,15% em junho vs. 3,95% considerando a LPR de 5 anos.
Porém, consideramos ser improvável que as hipotecas mais baratas aumentem a demanda devido à (i) perspectiva pessimista das famílias em relação aos preços das casas, (ii) à insegurança no emprego e (iii) às preocupações com casas incompletas pré-vendidas. Por exemplo, Xangai e Shenzhen reduziram as taxas de hipotecas para primeira e segunda moradias em -3.5p.p no final de maio, e algumas cidades reduziram as taxas de empréstimos para segunda moradia de forma mais agressiva. Entretanto, mesmo cortes agressivos podem não aumentar significativamente as vendas contratadas das incorporadoras.
Por que estímulos devem gerar menos resultado se comparados ao passado? O estímulo ao setor imobiliário pode levar a melhorias principalmente para as incorporadoras estatais e casas do mercado secundário em cidades maiores. As vendas contratadas de 20 incorporadoras caíram -45% no 1S24 em comparação com o ano anterior, mas esperamos que o declínio seja menos grave no 2S24 devido à base mais baixa. Historicamente, cortes drásticos nas taxas de hipoteca impulsionaram o crescimento das vendas de casas novas em +80% a/a em 2009 e +36% a/a em 2016, considerando a média ponderada de cidades grandes, médias e pequenas.
No entanto, ressalvamos que essa intensidade não deve se repetir diante dos estímulos atuais no mercado imobiliário devido a situação da economia Chinesa. Isso porque os estímulos no passado ocorreram quando a (i) perspectiva econômica era mais positiva, (ii) taxas de casamento e natalidade ainda eram resilientes, o que (iii) reforçaram o nível confiança das famílias e o crescimento populacional em 2008 e 2015. Isso nos parece distante da realidade atual. Em 2023 a taxa de fertilidade na China foi de 1,7 nascimentos por mulher vs. 2,1 nascimentos para reposição populacional.
Aço e Minério de Ferro
Aço: redução leve de preços e volume de laminação de tarugos. Esperamos melhora nos próximos dias. No final da semana passada, os preços do tarugo de Tangshan, na província de Hebei, no norte da China chegaram a ¥3.300/t (~US$455/t), incluindo 13% de IVA, uma queda de -0,3% s/s, basicamente estável. O consumo diário de tarugos entre as 48 relaminadoras rastreadas foi, em média, de 34,4Kt/dia entre 4 e 10 de julho, sem alteração em relação à semana anterior. Acreditamos que esse consumo se recuperará para 35-37Kt/dia em média nesta semana que se inicia.
Insumos: preços de sucata reduzem, produção de coque aumenta. Na semana de 8 a 12 de julho, o preço nacional composto da sucata de aço caiu para ¥2.788/t (~US$385/t), reduzindo -1,2% s/s. Além disso, os preços do vergalhão também desaceleraram -1,4% s/s, para ¥3.608/t (~US$505/t). Apesar da queda de preços, as siderúrgicas domésticas aumentaram ligeiramente o uso de sucata. As taxas de utilização nas usinas de lavagem de carvão de coque da China foram, em média, de 69,48%, com queda de -0,35p.p s/s devido a paradas operacionais em algumas usinas afiliadas na cidade de Lvliang, província de Shanxi. Enquanto isso, a produção de coque metalúrgico aumentou pela terceira semana consecutiva, subindo para 547,2Kt/dia (+0,5% s/s). Nossa análise sugere que a margem de lucro dos produtores do coque desacelerou na última semana, após a alta da semana retrasada, quando as usinas de aço haviam aceitado pagar um aumento. O lucro médio foi de ¥35/t (~US$4,8/t), uma queda de -4,3% s/s.
Minério de Ferro: preços recuam diante de estoques altos e dados fracos de inflação. Os preços do minério de ferro importado da China enfraqueceram ligeiramente na semana passada. O preço spot da referência 62% Fe fechou a semana em US$107,5 (-0,9% s/s), com os traders monitorando mais de perto o alto nível de estoques, após a uma alta de preço na semana retrasada, ligado aos dados de vendas de imóveis nas cidades Tier I. O contrato futuro de minério de ferro para setembro, na DCE (Dalian), desacelerou ainda mais que o mercado spot, chegando a ~US$115,5 (-3,4% s/s). O sentimento de mercado também foi prejudicado, com os dados de inflação (CPI) caindo -0,2% m/m em junho vs. maio, marcando a segunda queda mensal consecutiva. Em uma base anual, o CPI cresceu +0,2% a/a (vs. +0,3% a/a em maio).
Minério de Ferro: estoques nos portos continuam subindo. Os estoques de minério de ferro na China em ~30 portos que monitoramos chegou a 130,1Mt (+0,14% s/s), com um ligeiro aumento de +1,3t s/s. O nível atual da pilha de estoques é +18% vs. mesmo período de 2023, e permanece acima da linha dos últimos 5 anos. A descarga de minério de ferro durante a semana passada foi, em média, 3,1Mt/dia, marcando um segundo aumento semanal, embora o ritmo de acúmulo de estoque tenha diminuído (+0,1% s/s vs. +0,5% s/s do período anterior).
A Rio Tinto embarcou um volume adicional de +1,5% a/a no 2T24. Já as mineradoras do Brasil exportaram ~1,7Mt/dia nos dez primeiros dias de julho (+14% vs. 2023). Acreditamos que devido ao alto volume de embarques das mineradoras australianas e brasileiras, o gap de preço entre o contrato futuro e o spot tende a fechar ainda mais ao longo desta semana que se inicia, uma vez que há o indicativo de que as mineradoras não estão aliviando nos embarques e não está ocorrendo demanda suficiente para sustentar o preço. Ou seja, isso significa que o preço do contrato futuro da referência 62% Fe ainda deve acumular perdas no decorrer dos próximos dias.
Aço: estoque em posse dos traders fica basicamente estável. Os estoques dos cinco principais produtos de aço acabados nos armazéns dos traders monitorados permaneceram praticamente estáveis de 8 a 12 de julho, com um ligeiro aumento de placas em +10,5Kt. A semana fechou com os estoques totais de (i) vergalhões, (ii) fio-máquina, (iii) bobina laminada a quente (HRC), (iv) bobina laminada a frio e (v) placas, atingindo 21,4Mt (+0,1% s/s).
Aço: leve recuo na taxa de utilização dos Alto-fornos. As usinas siderúrgicas chinesas de Alto-forno (BF) reduziram ainda mais a produção, uma vez que as margens de lucro continuaram a estreitar, juntamente com o enfraquecimento da demanda downstream, principalmente pelo período sazonalmente mais fraco, devido a temporada de chuvas na China. De acordo com a nossa apuração, entre ~240 produtores de aço, a taxa média de utilização da capacidade dos Alto-fornos caiu pela terceira semana consecutiva, ficando em 88,7% (-0,38p.p s/s). A produção média de metal quente diminuiu em -10,3Kt/dia, atingindo 2,38Mt/dia (-0,43% s/s).
Já a produção via Forno elétrico a arco (EAF) também vem diminuindo, chegando a quatro semanas consecutivas. A taxa média de utilização entre as usinas rastreadas caiu para 44,7% (-4,3p.p s/s), atingindo o nível mais baixo desde o início de março. As (i) margens negativas do aço, (ii) a demanda doméstica fraca e o (iii) compra restrita de insumos contribuíram para essa redução. Ainda que tenha sido um começo de julho com contenção no output nos movimentos semanais, mostramos no início do relatório que os dados do NBS relacionados a produção de aço bruto continuam acima na comparação anual nos meses de junho e maio. Portanto, reconhecemos que a situação de fato não é bullish, mas não é tão ruim quanto parece.
Aço: produção de vergalhões volta a encolher, diante de trade-off entre aço planos e longos. O volume de produção em ~135 usinas siderúrgicas de aços longos que monitoramos diminuiu, após leve aceleração na semana retrasada. Apuramos um output de 2,3Mt (-4% s/s) para vergalhões, chegando no menor nível dos últimos 2M. A produção também foi mais baixa se comparado com a mesma semana do ano passado (-17,7% vs. 2023). Segundo nossa apuração, o declínio ocorreu uma vez que (i) siderúrgicas interromperam a produção para manutenção, além de (ii) terem realizado o shift de produção de aço longos para outros produtos de aço ligado ao segmento de planos, como bobinas laminadas a quente (HRC) e barras em bobina, em parte das usinas de que detém essa flexibilidade.
Aço: produção de HRC bate recorde e sustenta tese voltada à exportação de bens. Embora o output de vergalhões esteja anêmico, os números para bobina laminada a quente (HRC), referência para aços planos, continuam acelerando de maneira intensa. As usinas monitoradas destinadas a aços planos na China atingiram a maior produção semanal dos últimos 3 anos, fechando em 3,26Mt (+1,59% s/s). A taxa de utilização da capacidade de laminação a quente aumentou pela terceira semana consecutiva, para uma média de 84,7% (+1,33p.p s/s). Conforme comentamos acima, as usinas que possuem flexibilidade produtiva estão migrando o output de aços longos para planos. Segundo nossa percepção, isso está ocorrendo sobretudo pelo viés exportador do parque manufatureiro na China.
Considerando que as exportações também vêm acelerando de maneira voraz, e em linha com a nossa tese de que a China está escoando o excesso de capacidade instalada de suas indústrias para demais mercados globais, a demanda por aço plano está subindo e a de aço longo caindo. Para nós, isso está sendo refletido claramente nos números, uma vez que, diante do consumo doméstico fraco, é possível exportar bens duráveis como automóveis, maquinário pesado e equipamentos eletrônicos (todos consumidores de aço plano), mas é impossível exportar construção civil e residencial (segmento consumidor de aço longo).
Brasil
Aço Brasileiro: negociações para reajuste de +8% em aços longos está em curso e primeiros sinais aparecem. Na primeira semana de tentativas de reajustes nas siderúrgicas no Brasil, o mercado doméstico de vergalhões registrou aumentos de preços de +2,1% s/s, chegando ao ponto central de R$3.700/t (~US$676/t), dentro da faixa de R$3.650-3.750/t, segundo a S&P Platts. Apesar do fraco 1S24 para a demanda de construção civil, esperamos que haja mais aumentos de preços nas próximas semanas, à medida que as negociações continuarem. Temos a informação de alguns participantes ainda estão operando com os preços antigos.
Conforme comentamos nas últimas publicações semanais, as usinas vêm anunciando desde o mês de junho repasses de preços para incorporadoras e construtoras de moradias, se apegando no argumento do prêmio de paridade vs. o aço importado, que está negativo. Embora já estejamos enxergando um aumento parcial de preço, o que significa que uma parcela do repasse de 8% já foi aceita pela carteira de clientes, o prêmio ainda está negativo, em -4,2% vs. o aço importado, cotado a ~US$710/t.
Aço Brasileiro: prêmio em aços planos volta a subir, mesmo após leve aumento de preço. Conforme comentamos no capítulo sobre a China, a produção de aços planos está bastante aquecida e é possível que parcela do output continue sendo escoado para mercados globais em forma bruta e não embutida. No mercado brasileiro, apuramos uma melhora de preço na semana retrasada, com a bobina laminada a quente (HRC) chegando ao ponto central de R$4.150/t (+1,2% s/s), dentro do intervalo de R$4.000-4500/t apurado pela S&P Platts. Entretanto, ainda assim, na última semana (8-12 de julho) o prêmio de paridade voltou a subir, chegando a +21% vs. o aço importado (+3p.p s/s), cotado em ~US$631/t (-1,3% s/s), com um recuo do preço importado basicamente na mesma magnitude do aumento da semana retrasada no mercado doméstico.