Principais destaques: Análise de Produção e Vendas 1T23
(i) Produção de finos ligeiramente acima da nossa expectativa; (ii) Sazonalidade de chuvas atrasa o embarque de minérios no porto, vendas decepcionam; (iii) Menos volume de manutenção ajuda na produção de pelotas; (iv) Manutenções mais longas trazem números abaixo do esperado para o níquel; (v) Aumento de preço realizado de finos, totalmente em linha com nossas estimativas; (vi) Ainda assim, esperamos piora no preço realizado para o 2T23; (vii) Pelotas continuam perdendo prêmio e (viii) Aumento de preço realizado para os metais básicos.
Principais destaques: Prévia financeira 1T23
(i) Lentidão nos embarques de finos deverá causar grande retração de receita; (ii) Sem queima de estoque relevante, unidade de transição energética deve retrair t/t; (iii) Por volume de produção inferior, custos devem arrefecer t/t; (iv) Dinâmica sazonal e empecilhos para embarques dificultará entrega de C1 dentro do guidance; (v) Acreditamos que o Custo de frete irá recuar, porém, a Vale se beneficiará menos que outras mineradoras; (vi) Esperamos custo All-in também acima do guidance anual; (vii) Imprevisto nos embarques de finos terá efeito negativo no EBITDA; (viii) Normalização dos prêmios em pelotas também afetará o EBITDA; (ix) Projetamos Metais básicos com leve queda de desempenho, mas seguem ganhando relevância; (x) EBITDA Ajustado começará a sentir com mais intensidade o aumento de provisões com Mariana (MG); (xi) Esperamos um Lucro líquido em queda livre.
A Vale publicou ontem, dia 18/04/2023, após o fechamento do mercado, seu relatório operacional de produção e vendas, que antecede a divulgação de seu resultado financeiro do 1T23, que ocorrerá no dia 26/04/2023.
Como esperado, os volumes de produção para o minério de ferro sofreram negativamente por uma dinâmica sazonal de maior precipitação, mas que causaram um impacto mais intenso que o esperado nas vendas, por conta de restrições nos embarques do porto Ponto da Madeira (PA), no Sistema Norte. Apesar desse fato, uma alta no preço realizado para os finos (+13,6% t/t) deve ajudar a arrefecer parcialmente o impacto na receita da Companhia, que sem dúvidas, será negativamente afetada por um volume de vendas menor no 1T23.
Nossa avaliação é de que o resultado das vendas, divulgado ontem, foi fraco mesmo levando em consideração o efeito sazonal. Já o resultado financeiro, a ser divulgado daqui a 7 dias, trará como consequências um lucro em queda livre.
Atualização sobre a China
Recente dado de PIB chinês não muda nosso viés neutro para Mineração. Ao longo do trimestre, o país asiático reportou vários indicadores econômicos que da nossa visão, vieram mistos entre positivos e negativos. Um negativo que enxergamos recentemente, foi o PMI industrial, que desacelerou para 50 em março vs. 51,6 em fevereiro. O resultado sinaliza um nível neutro de atividade no setor.
Porém, o último dado divulgado (ontem) foi o PIB acumulado de 12M, que marcou 4,5% no 1T23 (+0,5p.p acima do consenso). A entrega do PIB foi perfeitamente em linha com as nossas expectativas (não nos surpreendeu) e mantemos nossa projeção de 4,8% Est. Genial para 2023.
Acreditamos que o consenso se decepcionou com a meta de PIB de 5%, anunciada no início de março, e revisou para baixo as estimativas de crescimento do indicador no 1T23, o que teria levado ao número divulgado ontem ter surpreendido positivamente parte do mercado (consenso ainda nos parece que ainda sente dificuldades de calibrar o crescimento da China). Como projetávamos desde o final do ano passado um crescimento mais próximo de 5% para o ano, os 4,5% 12M reportados ontem estão perfeitamente em linha com o que esperávamos.
Além desse indicador, outro que chamou a atenção do mercado foi a capacidade utilizada das siderúrgicas chegando a ~90%, produzindo 261Mt no 1T23 (+6% a/a). Ainda assim, acreditamos que o período é sazonalmente mais forte, uma vez que os meses de abril e maio ocorrem o pico de lançamento de novos empreendimentos imobiliários na China, e impulsionam a produção de aço entre março e abril.
Dessa forma, retirando o efeito sazonal, preferimos dar mais ênfase as limitações de produção de aço bruto impostas pelo governo, na busca diminuir as emissões de carbono por parte da indústria. Esperamos que em 2023 a produção fique levemente abaixo dos ~1b de toneladas produzidas em 2022 (990Mt Est. Genial), o que não nos parece um indicador, do lado da demanda de minério de ferro, suficientemente forte para colocar uma pressão em termos de elevação nos preços da curva de referência do minério de ferro. Seguimos com a nossa projeção de curva média na casa de US$115/t no 2T23 e chegando a US$95/t no 4T23.
Ou seja, para nós a demanda será ligeiramente mais intensa que em 2022, porém ocorrerá apenas no 1S23, enquanto deve desacelerar mais no 2S23, mediante ao corte de produção de aço bruto. Recomendamos fortemente a leitura de nosso relatório setorial, publicado recentemente, onde exploramos mais a fundo os fatores que estamos observando, e que nos levaram a projetar essa tendência de queda na curva de preços. (Metais & Mineração: Análise Setorial 1T23).
Análise de Produção e Vendas 1T23
Produção de finos ligeiramente acima da nossa expectativa. Dentro da unidade de solução para a siderurgia, a produção de minérios veio ligeiramente acima da nossa expectativa (+4,2% Est. Genial), porém, ainda assim consolidando um trimestre mais fraco t/t, com os finos + ROM chegando a marca de 66Mt (-17,4% t/t; +5,8% a/a).
Sazonalidade de chuvas atrasa o embarque de minérios no porto, vendas decepcionam. Se por um lado a produção veio um pouco acima do que esperávamos, uma vez que miramos próximo ao bottom do Guidance anualizado (310-320Mt), com 312Mt, a surpresa negativa para o trimestre foi uma relevante retração nas vendas dos finos, impactada por uma restrição de embarque no porto Ponta da Madeira (PA) dentro do Sistema Norte, responsável por levar as vendas para o patamar de 45Mt no 1T23 vs. 53Mt Est. Genial, representando uma entrega 13,7% abaixo das nossas expectativas, com uma queda marcante de -43,5% t/t e -10,6% a/a. Apesar da queda, a Vale mencionou que o atraso dos embarques deve ser compensado no 2S23, sem necessidade de mudança no guidance.
Na nossa visão, os acontecimentos recentes tornam o ambiente mais desafiador para atingimento do guidance, porém, avaliamos que a possibilidade ainda não pode ser descartada, uma vez que a produção veio levemente acima das nossas expectativas, o que poderia compensar a diluição da razão entre Produção/vendas ao longo do ano.
Para atingir a banda inferior do guidance, a Companhia terá que aumentar os embarques para os três próximos trimestres, se desfazendo do estoque feito no 1T23 e fortalecendo os resultados trimestrais até o fim do ano.
Segundo nossos cálculos, para não ser afetada por um volume de vendas inferior ao que projetávamos para 2023 (271Mt Est. Genial) e aproveitando o 2S23 onde as vendas são sazonalmente mais fortes, a Vale teria que elevar a proporção de Produção/vendas para a casa de ~82% no 3T23 (vs. 77% Est. Genial anterior) e ~104% no 4T23 (vs. 100% Est. Genial anterior). Gostaríamos de ressaltar que em nenhum trimestre desde 2017 a Vale superou a marca de 100%, e por isso acreditamos que é mais um desafio a frente para a mineradora.
Menos volume de manutenção ajuda na produção de pelotas. Em relação as pelotas, vemos a produção levemente acima, e as vendas levemente abaixo das nossas expectativas. Entendemos que a produção cresceu por um volume menor de atividades de manutenções, com a planta de Tubarão 3 e Vargem Grande se destacando na base a/a, e Kobrasco na base t/t. Entregando uma produção de 8,3Mt (+0,7% t/t; +20,1% a/a) vs. 8,0 Est. Genial, com vendas chegando a 8,1Mt (-1,0% t/t; +16,0% a/a) vs. 8,2Mt Est. Genial.
Manutenções mais longas trazem números abaixo do esperado para o níquel. Na divisão de metais para a transição energética, a produção de níquel veio abaixo do esperado (-10,3% Est. Genial), chegando a 41,0Kt. Acreditamos que as manutenções ligeiramente mais longas, enquanto as transições entre o depletion e o ramp-up de minas continuam a acontecer, foram os fatores que ocasionaram uma entrega abaixo da expectativa.
Já do lado das vendas, revertendo a queima de estoque do trimestre anterior, a Vale atingiu 40,1kt vs. 44,0Kt Est. Genial, também abaixo do que projetávamos, porém, originando uma pequena margem de estoque (+1Kt). Considerando que nossa expectativa é de ocorram manutenções em Onça Puma ao longo do ano, esperávamos um 1T23 melhor para que houvesse mais espaço para que as reformas não atrapalhassem o atingimento do guidance para 2023 de 160-175kt. Haja em vista que o resultado do 1T23 foi abaixo do que esperávamos, acreditamos que a margem de segurança que enxergávamos para o atingimento guidance diminuiu.
Já para o cobre, tivemos uma produção e vendas alinhadas com nossas expectativas, chegando respectivamente em 67,0Kt e 62,7Kt, ambas crescendo a/a, a caminho do guidance para as vendas em 335-370kt para 2023.
Aumento de preço realizado de finos, totalmente em linha com nossas estimativas. Com a referência para o minério 62% Fe fechando o 1T23 com uma média de US$125,5/t vs. US$99,3/t no 4T22, a Vale se beneficiou da enorme aceleração na curva de preços, e apresentou um preço realizado de US$108,6/t vs. US$95,6/t no 4T22, com uma alta de +13,6% t/t e perfeitamente em linha com as nossas estimativas (US$109/t Est. Genial).
A nossa análise é de que o aumento do preço realizado da Vale (+13,6%) não seguiu integralmente o aumento de +26% da curva preços de referência, devido ao mecanismo de preços provisionados. Como houve uma aceleração forte da curva em dezembro e janeiro, o trimestre anterior jogou a favor da mineradora, porém, dessa vez ocorreu o contrário, com o preço começando a arrefecer ao final do 1T23 (final de março e início de abril).
Ainda assim, esperamos piora no preço realizado para o 2T23. O mecanismo de provisionamento representa ~40% no sistema de precificação da mineradora. Como ainda projetamos para o 2T23 uma curva acima de +US$110/t, nossos cálculos apontam que o efeito lagged nos preços atingiria menos o 2T23 do que afetou o 1T23. Ou seja, como o preço da curva de referência visto no 4T22 foi bem abaixo da média do 1T22, acreditamos que o lagged detraiu valor do preço realizado da Vale nesse trimestre, mas deve somar ao preço realizado no próximo.
Porém, como continuamos a projetar uma queda na curva de referência do minério para US$105/t no 3T23 vs. US$115/t no 2T22, estimamos que o mecanismo de provisionamento futuro venha a detrair mais valor do preço realizado total do próximo trimestre do que o benefício de adição que o efeito lagged vai trazer. Com essa lógica, nossa estimativa atual para o preço realizado da Vale no 2T23 é de US$103/t, representando uma de queda de -5% no preço realizado da Vale para o próximo trimestre.
Recomendamos observar os gráficos em anexo, com a ilustração do raciocínio (dica: clique para passar os gráficos da esquerda para direita, entre 4T22, 1T23 e 2T23 e vice e versa).
Pelotas continuam perdendo prêmio. O preço realizado para as pelotas foi reportado em US$162,5/t vs. US$165,6/t no 4T22, uma queda de -1,9% t/t, invertendo a tendência de alta vista nas curvas de referências e continuando a perder prêmio em relação a curva de minério 65% Fe, que era de +US$46/t no 4T22 e virou +US$22/t no 1T23.
Acreditamos que os prêmios de pelotas caminham em direção a uma normalização à média histórica (~US$30/t), após o processo de melhora na oferta, mediante a suavização da restrição de volume sentida com a guerra da Russa e Ucrânia.
Aumento de preço realizado para os metais básicos. Reportando um preço realizado em alta, ambas níquel e cobre apresentam uma dinâmica favorável, em um movimento semelhantes as suas curvas de referências. O níquel marcou um preço de US$25.260/t (+3,3% t/t), levemente acima dos 2,0% vistos na curva de referência na LME; já o cobre ficou em US$9.465/t (+7,9% t/t), vs. sua curva de referência na LME subindo +11,1% a/a.
Se por um lado esperamos um aumento da demanda por níquel, principalmente relacionada ao processo de descarbonização no setor automotivo, uma vez que cada bateria de veículos elétricos possui cerca de 36kg de níquel, por outro também acreditamos que haverá um aumento da oferta, em virtude de novos projetos na Indonésia, que devem ter seu ramp-up no médio prazo.
Prévia financeira 1T23
Lentidão nos embarques de finos deverá causar grande retração de receita. Projetamos uma receita líquida em contração de double digit, na casa de US$8,8b Est. Genial (-25,9% t/t; -21,5% a/a), que para nós, refletirá a dinâmica de restrições nos embarques de minérios finos no porto Ponta da Madeira (PA), fazendo com que as vendas tenham recuado além da normalidade para uma sazonalidade já fraca dos 1T’s. Dessa forma, esperamos que os minérios finos marquem uma receita de US$4,9b Est. Genial (-35,7% t/t e -31,1% a/a).
Já para pelotas, enxergamos que os menores prêmios serão os maiores detratores de receita, uma vez que a produção andou de lado nesse trimestre devido a: (i) manutenções que ocorreram no 4T22, que é sazonalmente um trimestre mais forte, impedido a Vale de se beneficiar do aumento do volume de vendas característico dos 4Ts e (ii) volta das atividades na planta de plotização Kobrasco (ES) no 1T23, porém, em um trimestre que é sazonalmente pior pelo aumento do volume pluviométrico. A nossa expectativa de receita para pelotas é de US$1,3b Est. Genial (-9,2% t/t e -3,1% a/a).
Sem queima de estoque relevante, unidade de transição energética deve retrair t/t. Adentrando as operações de metais básicos, esperamos que as operações de níquel cheguem a US$1,6b Est. Genial, representando uma queda de -19,2% t/t, causada por uma dinâmica de estoque diferente da vista anteriormente, mas que ainda representa uma alta de +13,6% a/a, em virtude de aumento no preço realizado.
Da mesma maneira, acreditamos que as operações de cobre devem apresentar um recuo na receita, resultante de uma queda nas vendas em um patamar maior do que o aumento do preço realizado. Esperamos US$487m Est. Genial (-2,3% t/t; +2,7% a/a).
Por volume de produção inferior, custos devem arrefecer t/t. No consolidado, temos estimativas de que os custos apresentem uma importante retração t/t, causada por (i) uma sazonalidade de chuvas que inviabiliza a produção normalizada de minério no Brasil (menos volume de produção significa menos custo), e (ii) problemas nos embarques, que apesar de trazerem maiores custos de demurrage, acabam por retirar o peso do reconhecimento do frete de minério fino não embarcado no porto.
Nossa projeção é de um COGS em -US$5,1b Est. Genial vs. -US$7,1b no 4T22, uma queda na magnitude de -28,5% t/t, puxada por um recuo no COGS da operação de minérios finos, que deve chegar a -US$2,1b Est. Genial.
Ainda para a commodity ferrosa, nossa expectativa é que a operação de pelotas apresente uma leve queda no COGS, influência pelo fim de algumas manutenções relevantes, como Kobrasco (ES), apesar de outras ainda estarem em curso. Nossos cálculos apontam para -US$683m Est. Genial, com recuo de -7,1% t/t, mas que por conta de um aumento relevante na produção a/a, deve crescer +29,8% na mesma base.
Já para os metais de transição energética, esperamos que ambos (cobre e níquel) possam ter uma leve reduzida de custo, por conta de menores custos com relação as manutenções, apesar de terem alguns custos para seu ramp-up.
Dinâmica sazonal e empecilhos para embarques dificultará entrega de C1 dentro do guidance. Por conta de (i) uma menor diluição de custo fixo causada pelo menor nível de produção, (ii) maiores custos pela restrição parcial das embarcações no Sistema Norte e (iii) um deslizamento de terra afetando parcialmente os transportes pela ferrovia MRS, esperamos um custo C1 em US$24,1/t no 1T23, acima do guidance para 2023 de US$20-21/t.
Acreditamos que apesar de esperarmos uma dinâmica negativa no Custo C1 para o 1T23, a Vale ainda poderá, mesmo que venha a ficar mais difícil, atingir o guidance anual de US$20-21/t, caso haja um melhor manejo dos embarques nos próximos trimestres e uma subsequente diluição de custo fixo pelo aumento de produção, principalmente no 2S23.
Acreditamos que o Custo de frete irá recuar, porém, a Vale se beneficiará menos que outras mineradoras. Projetamos um custo de frete para as mineradoras brasileiras em queda low double digit, seguindo a tendência da referência SSY, na rota Tubarao-Qingdao, que chegou a uma média de US$18,35/t vs. US$20,77/t no 4T22 (-11,64% t/t; -19,59% a/a).
Porém, especialmente para a Vale, enxergamos que esse recuo no custo de frete será mais marginal, chegando a US$18,6/t vs. US$18,8/t no 4T22, uma vez que a Vale é exposta apenas parcialmente aos navios de mercado, vista sua estratégia se baseia na contratação de frota para longo prazo.
Esperamos custo All-in também acima do guidance anual. Dessa forma, projetamos um custo All-in (C1+ Frete + SG&A + R&D + Stoppage) em US$52,5/t Est. Genial vs. US$49,7/t no 4T22, uma alta de +5,6% t/t e +7,2% a/a, que também representa um número acima do guidance de US$47/t para 2023.
Imprevisto nos embarques de finos terá efeito negativo no EBITDA. Nossos cálculos apontam para um EBITDA Proforma consolidado de US$4,0b Est. Genial (-19,7% t/t; -38,8% a/a), apresentando uma queda relevante, porém o que ainda representaria uma alta de +3,5p.p na margem pela expectativa de desaceleração dos custos totais t/t.
Apesar disso, esperamos que a dinâmica sazonal junto com problemas de infraestruturas para os minérios tenha impactos relevantes no resultado da Vale, já que acabam por aumentar alguns custos por toneladas e diminuir as vendas.
Normalização dos prêmios em pelotas também afetará o EBITDA. Apesar de esperada, por uma conta de uma dinâmica de prêmios menores no mercado, a diminuição de prêmios junto com uma dinâmica sazonal de produção mais fraca deve causar uma perda de EBITDA, com as nossas projeções apontando para a operação de pelotas na marca de US$628m Est. Genial (-15,5% t/t; -25,0% a/a).
Projetamos Metais básicos com leve queda de desempenho, mas seguem ganhando relevância. Esperamos que a unidade de metais para a transição energética tenha uma leve retração de resultado, mas que devem seguir ganhando share no EBITDA. Dessa forma, estimamos que as operações de níquel venham em US$497m (-18,4% t/t; -5,2% t/t), enquanto as operações de cobre reportem US$190m (-6,5% t/t; -25,0% a/a).
Ambas, possuíam uma relevância no EBITDA em 16,3% no 4T22, e de acordo com nossas estimativas devem passar a 17,1%, demonstrando a geração de valor da unidade, enquanto o minério enfrenta algumas dificuldades. Aguardamos mais detalhes sobre o carve-out da operação de metais básicos através de algum parceiro estratégico para impulsionar ainda mais a divisão.
EBITDA Ajustado começará a sentir com mais intensidade o aumento de provisões com Mariana (MG). Conforme detalhado com mais intensidade em um relatório anterior,entendemos que o guidance divulgado pela Vale no Investor Day no final de 2022 pode estar desatualizado, mesmo já representando uma alta no provisionamento para a Samarco de US$400m em 2022 para US$1,9b em 2023. Nossa estimativa é de um impacto de US$2,3b para esse ano, com um acordo entre as partes sendo firmado por R$112b, o que levaria a uma diferença entre o que já foi provisionado e o montante ainda a ser pago para a ordem de ~R$52b (a ser dividido com a BHP).
Dessa forma, acreditamos que seja mais prudente para a Companhia elevar o ritmo de provisões já nesse 1T23, se comparado a magnitude de provisionamentos que vimos em 2022. Estimamos em ~US$500m o valor que tramitaria pelo P&L da Vale no 1T23 referente ao acidente de Mariana (MG); o que levaria o EBITDA Ajustado descer para a marca de US$3,0b no 1T23 vs. US$4,6b no 4T22.
É importante também considerar que, mesmo conversando com a Companhia, não tivemos uma visibilidade clara sobre a magnitude do valor de provisões de Mariana (MG) e Brumadinho (MG) que iriam tramitar pelo P&L nesse 1T23, então realizamos estimativas considerando uma distribuição mais normalizada ao longo do ano para que não sobrecarregasse nenhum resultado trimestral em detrimento de outro.
Esperamos um Lucro líquido em queda livre. Nossa projeção é de US$2,0b Est. Genial, com uma queda muito expressiva de -46,2% t/t, e -57,1% a/a, caso não haja nenhum efeito não recorrente que impulsione positivamente o resultado da mineradora depois da linha do EBITDA. Além disso, a Companhia deve perder margem líquida, chegando a 22,7% no 1T23 contra 31,2% no 4T22, uma diminuição de -8,51p.p t/t.
Nossa visão e recomendação
Apesar de mantermos uma visão mais pessimista em relação a China no longo prazo, entendemos que a reabertura econômica que aconteceu no final do 4T22, e que sustentou uma grande alta para os preços de referência para o minério de ferro, deveria ser refletida com melhores números reportados por parte das empresas de mineração.
Barco parado não faz viagem. Além de uma sazonalidade mais fraca, que já era esperada, a surpresa negativa do 1T23 veio com os grandes problemas nos embarques de minérios pelo porto Ponta da Madeira (PA), oriundos da produção do sistema Norte, onde o minério de ferro possui qualidade superior aos demais sistemas, deve ocasionar uma retração mais acentuada no resultado financeiro da Vale a ser divulgado no dia 26.
O provérbio português parece óbvio, mas as vezes o óbvio precisa ser dito: barco parado não faz viagem. Se os embarques foram restringidos mediante as fortes chuvas que acometeram a região do Pará (PA) nesse 1T23, a produção não pode ser transportada e o volume de vendas foi significativamente menor, o que deve se traduzir em recuo de receita, EBITDA e lucro.
A produção de finos até superou as nossas expectativas, uma vez que já esperávamos que a Vale sentiria uma adversidade por conta das chuvas no Pará, e nivelamos a produção para baixo em nossas estimativas. Entretanto, nada parece ter adiantado a produção ter superado a expectativa em +4,2% Est. Genial se as vendas caíram com mais intensidade do que o previsto, uma vez que as chuvas dificultaram muito mais os embarques do que a produção em si.
Ainda assim, a impossibilidade da embarcação deve criar, na outra ponta, uma gestão de custos que evitaria estragos ainda maiores no resultado, como a redução do custo do frete (menos embarques, menos custeio de frete), o que ajudaria a melhorar a margem t/t, de acordo com a nossa expectativa.
A estratégia da Companhia é enviar os embarques atrasados ao longo do ano, principalmente durante o 2S23, como esclareceu no relatório de produção e vendas publicado ontem. Ainda assim, ressaltamos que provavelmente ela deve se expor a preços de mercado menores, comiserando as nossas estimativas de curva de preços caindo no 2S23, o que, na nossa visão, trará consequências para a formação de receita e colocará mais uma adversidade para o cumprimento dos guidances de 2023.
Apesar do tom negativo, continua sendo uma ótima empresa para dividendos. De maneira geral, não estamos confiantes para o desempenho financeiro que a Vale deve apresentar no 1T23, uma vez que a nossa expectativa é de queda em todas as linhas da DRE tanto na comparação t/t como a/a.
Porém, ainda acreditamos que a China pode influenciar o curto prazo criando um ambiente favorável para a Companhia, com preços da referência 62% Fe acima de +US$100/t durante a maior parte do ano, o que faria com que a Vale, mesmo enfrentando problemas internos para o aumento da produção, ou nesse caso, de vendas, chegasse a um Free Cash Flow Yield de 11,21% 2023E. Acreditamos ser ainda uma posição de geração de caixa sólida, com alocação de capital disciplinada, e diante de um cenário que para nós, já é fora de topo de ciclo (minério desacelerando do 2S23), projetamos um Dividend Yield de 8,24% 2023E.
Negociando a um múltiplo de 4,59x EV/EBITDA 2023E e considerando que a maior parte dos investidores institucionais com quem conversamos optam por teses de investimento com posições de caixa mais robustas em momentos em que o juro real continua muito elevando, ainda acreditamos que a mineradora tem espaço reservado para ser mantido no portifólio, apenas enfatizamos, desde novembro do ano passado (na frente do consenso), que não vemos espaço para o rating de COMPRA.
Dessa forma, analisando todas as dinâmicas, reiteramos nossa recomendação de MANTER, com um Target Price 23E (NYSE) de US$17,84 para as ADRs, o que confere as ações um upside de +13,32%; implicando em um Target Price para a VALE3 (B3) em R$89,00.