Mais uma vez nós comparecemos a edição do Vale Day, o evento mais importante do calendário anual da companhia, e que foi realizado ontem, dia 03 de dezembro. Esse ano, a cerimônia foi sediada em Nova York, EUA e contou com a participação do time de gestão, com muitos integrantes inclusive ocupando posições novas dentro do corpo diretivo. Na conversa com analistas e investidores, estava presente o Sr. Gustavo Pimenta (CEO), Sr. Marcelo Bacci (recém CFO e ex Suzano), Sr. Carlos Medeiros (Vice-presidente executivo e Diretor de Operações), Sr. Murillo Muller (CFO interino e Diretor de Controladoria), Sr. Rogério Nogueira (recém Vice-presidente Comercial) e Sr. Shaun Usmar (recém CEO da VBM). O management seguiu o ritual clássico do evento com uma apresentação, uma seção formal de Q&A e um bate-papo com os analistas presentes que precedeu o encerramento oficial da agenda.
Em linhas gerais, a gestão enfatizou a (i) segurança operacional como valor inegociável, principalmente após a repactuação do acordo de Mariana (MG), eliminando um overhang das ações. Paralelamente, foi reafirmada a (ii) meta de manter competitividade de custos ao longo das fases cíclicas do negócio. Sobre o C1/t, conforme iremos descrever ao longo do relatório, acreditamos que a companhia tem maiores possibilidades de reduzir os custos e aumentar margens mesmo com o minério de ferro volte a rodear o patamar de US$90/t (vs. ~US$102/t atualmente). Outro ponto que nos chamou atenção foi que, (iii) pela primeira vez em muito tempo, escutamos da Vale um discurso menos enfático na temática de “valor ao invés de volume” e mais voltado para “entregar o que o cliente precisa”. Em outras palavras, a estratégia comercial que deve vigorar daqui em diante será de apresentar uma flexibilidade operacional, focada principalmente em blends, uma vez que o mercado hoje não demonstra forte interesse em comprar finos de minério de ferro high grade. Avaliamos a mudança como positiva, pois endereça um ponto de crítica que fazíamos a companhia, caso seja bem executada.
Por fim, (iv) como de costume, a companhia atualizou a seção de guidances, que em geral, alguns foram revisados de forma a detraírem valor e outros a somarem, com uma combinação que culminou em um efeito basicamente estável em nosso modelo de valuation, não trazendo surpresas muito disruptivas do ponto de vista numérico.
Soluções de minério de ferro
Guidance de produção revisado para maximizar valor.
O guidance de produção de finos de minério de ferro foi revisado para 2024, chegando a 328Mt (vs.325-330Mt), indicando um movimento estratégico para estabilizar volumes com uma expectativa de crescimento gradual até 360Mt em 2030 (inalterado vs. guidance anterior). A contínua ênfase na alta qualidade do minério (63-64% Fe) reforça o posicionamento competitivo da companhia no mercado global, ao buscar prêmios e fortalecer margens. Entretanto, ainda destacamos que a dependência da demanda chinesa, que está claramente em declínio, segue como um risco estrutural para a tese de investimentos e continua a preocupar os investidores com quem conversamos.
Embora a meta de produção já estivesse em parte refletida pelo mercado sem grandes modificações, ajustes qualitativos, como a busca por produtos de maior valor agregado e melhorias na gestão de custos, trazem potencial para suportar margens no médio prazo. Essa estratégia não apenas dilui custos fixos, como também eleva a capacidade de geração de fluxo de caixa (FCF), desde que o cenário de preços se mantenha minimamente acima de zona de suporte de US$90/t, como comentaremos ao longo do relatório. Ainda assim, avaliamos que um enfraquecimento da demanda global, puxada sobretudo pela desaceleração da economia chinesa, que comanda ~70% da demanda seaborne, pode limitar a captura de valor devido ao ceticismo dos investidores.
Foco na garantia de competitividade através do rebaixamento de custos.
Durante a apresentação, o corpo diretivo da Vale reforçou a queda de custo C1 ex. compra de terceiros para US$18-19,5/t até 2030 (vs. ~US$22/t 24E). Conforme já comentamos nos últimos relatórios que publicamos em nossa cobertura de Metais & Mineração, as companhias devem fazer o possível para vencer os componentes de inflação que subiram o C1/t, especialmente após 2019, para então conseguirem emplacar um melhor nível de eficiência e melhorarem a margem, mesmo na hipótese de que a referência 62% Fe fique travada, por assim dizer, a US$90/t no curto prazo (hoje está em ~US$102/t).
Essa redução de C1/t deve ser impulsionada por (i) maior diluição de custos fixos via elevação produtiva, principalmente no Sistema Norte, (ii) melhor infraestrutura logística adjunta de soluções como o transportador de correia de longa distância (ativo de Serra Sul) e (iii) patamar mais alto da taxa de câmbio USD/BRL da série histórica, hoje acima da barreira de R$6,00, o que ajuda a diluir custos que a Vale possui em BRL, à medida que há uma conversão para USD no P&L.
Embora a meta esteja alinhada ao guidance anterior, não apresentando uma novidade substancial nesse quesito, acreditamos que a inclusão de iniciativas mais robustas de modernização operacional e maior ênfase da companhia em explicar como a redução vai se tornar viável do ponto de vista técnico oferece maior previsibilidade na execução. Sabemos que investidores estão, em sua maioria, muito céticos com relação a esse ponto, e, dado as dificuldades de inflação estrutural no C1, entendemos a razão para se olhar os números indicados pela companhia com um certo tom de desconfiança. Ainda assim, nossa percepção do Vale Day é positiva, principalmente na temática de custos. É possível que esse ceticismo seja expurgado à medida que a companhia for comprovando que consegue atingir o guidance e isso destravar o valuation de mercado, que está muito depreciado.
No curto prazo, como ficam o C1/t e custo All-in? Situação parece promissora.
A meta para o custo caixa C1 ex. compra de terceiros foi ajustada para US$22,0/t em 2024 vs. US$21,5-23,0/t do guidance anterior, apresentando uma queda de -4,3% em relação a banda superior, embora tenha ficado apenas um pouco abaixo da nossa projeção (-1,3% vs. Genial Est.), que foi atualizada no Investor Tour, em meados de setembro para US$22,3/t. Isso quer dizer que, o management passou com confiança no evento de ontem que a Vale irá conseguir fechar 2024 com uma queda -1,2% a/a no C1/t. Embora seja uma queda suave, afirmamos que é uma redução emblemática, marcando o primeiro ano desde pelo menos 2020 que a companhia chegaria a uma redução de custo a/a.
Para 2025, o C1 ex. compra de terceiros permanece dentro da faixa projetada de US$20,5-22,0/t. Avaliamos que a redução esperada é amplamente positiva para o FCFE, sendo impulsionada por programas de eficiência e diluição de custos fixos devido ao aumento de volumes, além do efeito diluidor da taxa de câmbio USD/BRL mais alta, conforme já explicamos. O All-in Cost, por sua vez, continua estável, com previsão de US$57/t (24E), reduzindo para US$50-54/t (26E).
Um ponto que notamos é que, dentro das premissas usadas pela Vale para chegar nesses números, está uma taxa de câmbio USD/BRL de R$5,50, o que nos parece bastante conservador, dado que o câmbio rompeu a barreira dos R$6,00 e que a situação fiscal do Brasil parece está se deteriorando. Portanto, é possível imaginar uma taxa de câmbio acima do patamar estabelecido pela Vale em 2025 e possivelmente em 2026, o que implicaria em C1/t e All-in ainda mais baixos que o guidance. Lembramos que cada +R$0,10 de aumento na taxa de câmbio corresponde a uma redução de -US$0,5/t no All-in.
Management diz que fundamentos da demanda continuam sólidos, mas o mercado precifica o contrário.
O guidance revisado de volume também conta uma premissa de aumento gradual na produção global de aço para 2.350Mt (40E) vs. 1,910Mt (24E), com destaque para o crescimento nas regiões da Índia, Sudeste Asiático e MENA. Embora a demanda chinesa apresente sinais de desaceleração, a companhia acredita que a diversificação geográfica no consumo global de aço reduz a dependência do mercado chinês, criando oportunidades para capturar valor em mercados emergentes. A reindustrialização doméstica, aliada ao aumento da intensidade no uso de aço, reforça as perspectivas de crescimento no médio e longo prazo.
Na ótica da Vale, a demanda seaborne de minério de ferro deve permanecer basicamente estável, chegando em 1.545Mt (30E), apenas com uma ligeira redução de -0,5% vs. 24E. Embora estejamos percebendo nos últimos eventos que management vem tentando dialogar com o mercado para afastar a ideia de que a tese da Vale é tão dependente quanto se imagina do mercado chinês, por outro lado, é difícil imaginar a China deixando de ter um papel central nessa narrativa. Nessa linha, ponderamos que o aumento no consumo de sucata pode contribuir para reduzir a dependência de importações de minério de ferro, empurrando a demanda seaborne ainda mais para baixo. Paralelamente, as regiões que citamos mostram crescimento impulsionado pela instalação de novos altos-fornos e maior consumo de pellet feed.
Considerando o universo de investidores com quem temos contanto, a grande maioria está desalocada de Vale ou com participações bem reduzidas nos portifólios pelos gestores de fundos, que seguem pessimistas com o segmento de mineração, com um temor ainda muito exacerbado sobre o efeito que as mudanças no mercado imobiliário chinês e no quadro demográfico da região trarão para o futuro da demanda, o que justificaria o alto desconto das ações da Vale perante o valor justo que encontramos em nosso modelo proprietário. Vemos investidores apostando recentemente em equity stories pontuais para o mercado de aço, como a Gerdau, e um sentimento mais bullish para o segmento de Papel & Celulose.
A Vale menciona desafios na oferta, mas não vemos o sistema pressionado no futuro.
Segundo a visão da companhia, a oferta de minério de ferro já enfrenta obstáculos significativos, com uma projeção de declínio para 1.495Mt (30E) vs. de ~1.600Mt (24E), atribuída ao (i) deplation de minas, (ii) custos operacionais crescentes dos players globais e (iii) complexidades regulatórias. De acordo com o management, para atender à demanda projetada de 1.545Mt (30E), seria necessário que os preços da referência 62% Fe fiquem sempre superiores a US$90/t, viabilizando economicamente novos projetos de reposição. Isso, de certa forma, suporta a nossa tese de que minério de ferro não poderia baixar desse patamar no curto prazo, principalmente apoiado na parcela de oferta de alto custo, que embora seja de menor escala no sistema seaborne, ainda assim possui um peso que não é desprezível (20-30%).
Ainda assim, ponderamos que tanto as majors como as mineradoras de menor porte possuem projetos de expansão de volume para os próximos anos, sendo o mais conhecido deles, o start-up pela Rio Tinto de Simandou em 2026, na Nova Guiné, com capacidade de 60Mtpa e reservas no teor de ~68% Fe. Nossa previsão é de que o projeto tenha atrasos, ligados ao alto dispêndio de CAPEX para criar a infraestrutura necessária, escorregando a inauguração para 2027. Diante disso, entendemos que o balanço entre oferta e demanda deve continuar afrouxando nos próximos anos, sem qualquer tipo de pressão de oferta que eleve significativamente os preços para algum nível acima de US$120/t do ponto de vista fundamentalista.
Discurso sobre flexibilidade no mix é um ponto que chama atenção.
Esse potencial desbalanço entre oferta e demanda enfatizam a importância de otimizar o mix de produtos, garantindo a competitividade e mitigando os impactos em prêmios depreciados por qualidade e custos mais altos nos segmentos de menor sílica. Nesse sentido, o Sr. Rogério Nogueira, recém-chegado ao cargo de Vice-presidente Comercial após o Sr. Spinelli deixar a posição, nos pareceu muito vocal em aprumar a estratégia para uma flexibilidade, compondo não necessariamente um mix de maior valor, mas sim o que atenda melhor a necessidade dos clientes em um negócio que possui margens voláteis pelo caráter cíclico. Não é de hoje que comentamos sobre a urgência das usinas de aço em baixarem custos, o que por sua vez, justifica a indústria negligenciar atualmente um minério de ferro com menos sílica.
Por isso, pela primeira vez, escutamos da Vale um discurso menos enfático na temática de “valor ao invés de volume” e mais voltado para “entregar o que o cliente precisa”. Vemos produtos da Vale posicionados na zona ideal de sinterização, o que promulga uma viabilidade maior em ofertar volume com competitividade frente a concorrentes globais. Nisso a companhia de fato possui diferencial competitivo, com centros para fazer blends no Brasil (~125Mtpa), Malásia (~25Mtpa) e China (~13Mtpa). Um dos produtos com mais apetite pelo mercado é o BRBF, que mistura o minério de ferro extraído em Carajás (PA), com mais teor de ferro e menos sílica, adjuntos de um minério de ferro mais pobre e de mais sílica, extraído do sistema Sudeste (MG). Acreditamos que esse tipo de solução, somada a uma customização mais voltada para atender a necessidade específica de cada cliente em diferentes tipos de situações já é uma realidade e cada vez mais tomará as frentes da parte comercial do mercado de minério de ferro global.
Mix de vendas será adaptável as condições cíclicas do negócio.
Pelo que apuramos da estratégia comercial comentada durante o evento, em cenários de preços elevados, a companhia focará na maximização de produção e na priorização de produtos de alta qualidade, enquanto em cenários de preços mais deprimidos, a estratégia se volta para a otimização do portfólio e produtos de menor custo. Essa abordagem parece garantir resiliência operacional, mas a capacidade de capturar prêmios ainda é um grande ponto de interrogação dos investidores. Continuamos céticos sobre o atingimento do guidance com relação a esse ponto em particular, cujo All-in foi mantido em US$3-4/t (25E) e foi revisado para baixo em 26E para US$4-6/t (vs. US$8-12/t anteriormente). A banda inferior do novo número passou a se aproximar do que já tínhamos em nosso modelo, indicando que o nosso ceticismo estava correto.
Já sobre a infraestrutura necessária para adapte o mix de vendas, durante a apresentação foi comentado que existem 20 portos de blindagem, localizados principalmente no Brasil, Malásia e China, como comentamos, e uma capacidade de concentração de ~150Mtpa, levando a uma redução do time to market, enquanto a companhia otimiza o portfólio para atender demandas específicas. Adicionalmente, a liderança no mercado de aglomerados, como pelotas e briquetes, posiciona a Vale como fornecedora essencial para customizar a necessidade da indústria do aço.
E como os produtos de qualidade se encaixam nessa história?
A participação de produtos de alta qualidade, como IOCJ e pellet feed, deve crescer para ~70% das vendas (30E), enquanto os aglomerados aumentam de ~12% (24E) para ~20% (30E). Com preços de minério com um suporte em ~US$90/t, a Vale deve alavancar sua cadeia de suprimentos integrada para atender à crescente demanda por soluções sustentáveis e de alta qualidade. A companhia comentou que nenhum ativo hoje deixa de ter margem com o minério de ferro nesse patamar de preço. Isso quer dizer que o breakeven desses ativos é inferior a US$90/t e que o preço do minério de ferro poderia cair ainda mais e mesmo assim a Vale continuaria sendo uma companhia rentável, diferentemente de outros players no sistema global de oferta.
Avançando a estratégia comercial através de parcerias.
Dentre as iniciativas comentadas durante a apresentação do managment, destacamos os Mega Hubs, desenvolvidos em parceria com o Jiangsu Jinma Group, que incluem plantas de concentração de minério de ferro de alta qualidade, além da aquisição em potencial de participação adicional no projeto Minas-Rio com a Anglo American, adicionando +3,8Mtpa de pellet feed. No segmento de metais básicos, o cobre se sobressai como prioridade estratégica, com metas de crescimento que partem de 350kt para 420-500kt até 2030, e projeções ambiciosas de atingir 700kt até 2035.
No mercado de aglomerados, a Vale projeta um crescimento significativo, passando de ~38Mt (24E) para 60-70Mt (30E), com maior participação de produtos voltados à redução direta (RD). Para sustentar essa expansão, a companhia fortalece sua capacidade produtiva com a aquisição de ativos como o Minas-Rio, a construção de novas plantas de concentração em Sohar e nos Mega Hubs, e o ramp-up de usinas de briquetes nos EUA e em regiões estratégicas.
Mega Hubs e melhor relacionamento com o governo para acelerar licenciamentos.
A Vale está transformando sua cadeia de valor ao reposicionar parte da cadeia upstream das usinas de aço para regiões com energia competitiva, promovendo eficiência operacional e alinhamento às metas globais de descarbonização. Com a introdução dos Mega Hubs, a empresa integra etapas como briquetagem e redução direta (RD) em sua cadeia produtiva, anteriormente realizadas pelos clientes. A estratégia dos Mega Hubs é alavancada por um modelo de negócios asset-light, que acelera a implementação por meio de parcerias estratégicas. Até o momento, a Vale firmou acordos em cinco países e conduz 7 discussões avançadas com clientes, com potencial de desbloquear mais de 30Mt de feed para RD na próxima década. Essa abordagem, além de eficiente em capital, posiciona a companhia como líder no fornecimento para processos de descarbonização da indústria do aço.
Adicionalmente, a racionalização de custos e a maior clareza dada na apresentação durante o evento de ontem sobre a execução dos Mega Hubs contribuem para reforçar a tese de investimentos. Apesar disso, a complexidade regulatória e os atrasos para licenças de exploração, especialmente em Carajás (PA), exigem atenção. Ainda assim, temos a percepção que a administração, agora liderada pelo Sr. Gustavo Pimenta, deve tornar o diálogo com o governo mais suave e facilitar a agilidade na emissão de licenças. Por outro lado, ao conversamos com investidores, mesmo eles também ponderando que isso é possível, o sentimento que percebemos é o mercado está “esperando para ver”, e muitos estão ainda demonstram preocupação quanto a celeridade nos licenciamentos para o cumprimento de guidance de volume e de qualidade, ambos necessariamente atrelados aos ramp-ups de projetos como Capenema, Vargem Grande e S11D.
Em que estágio estão os novos projetos de expansão?
A companhia está acelerando o comissionamento de projetos estratégicos, como Capanema, com a operação já iniciada de forma antecipada em novembro, adicionando +15Mtpa de capacidade (após o ramp-up) a um custo bastante competitivo de menos de US$20/t. Projetos adicionais, como Vargem Grande (+15Mtpa) já iniciado em setembro e a expansão da mina S11D (+20Mtpa a partir do 2S26), complementam o circuito de volume adicional para os próximos anos.
Além disso, a companhia comentou sobre o Projeto Orion e a expansão da Usina Conceição II, com metas de atingir 12Mt de pellet feed no médio prazo. Esses projetos não apenas aumentam a capacidade produtiva, mas também alinham a Vale a uma potencial demanda maior por minério de ferro de alta qualidade no futuro, ainda que isso possa não estar sendo refletido nas condições que nós estamos observando de mercado atualmente.
Vale Base Metals (VBM)
Guidance de Níquel sofre revisão para baixo.
No evento, o novo CEO da VBM, Sr. Shaun Usmar, apresentou as novas projeções da companhia para o níquel, mas com algumas revisões para baixo, mas alinhadas às nossas estimativas, que já estavam mais pessimistas frente a indicação anterior. Em suma, o volume de produção estipulado como alvo passou a ser : (i) ~160Kt 24E (vs. 153-168Kt anteriormente); (ii) 160-175Kt 25E; (iii) 175-210Kt 26E (vs. 190-210Kt anteriormente); (iv) 210-250Kt 30E (vs. >300Kt anteriormente).
A conclusão de Voisey’s Bay adicionará +45Ktpa à produção e a expectativa é que atinja o full do ramp-up no 2S26. Como principal fornecedora de níquel para os EUA, a Voisey’s Bay fortalece a competitividade das operações da Vale no Canadá, ajudando a diluir custos fixos e apoiando a segurança do fornecimento.
Todos amam Cobre!
A companhia também revisou o guidance de cobre para: (i) ~345Kt 24E (vs. 320-355Kt antes), marcando expansão de +39,7% a/a; (ii) 340-370Kt 25E; (iii) 350-380Kt 26E (vs. 375-410Kt antes); (iv) 420-500Kt 30E (vs. 900Kt anteriormente). A redução da projeção de longo prazo reflete a exclusão do Projeto Hu’u (Indonésia), que contribuiria com 300-350Ktpa, além de atrasos no ramp-up do Projeto Alemão (+60Ktpa), em Carajás (PA), e outros projetos brownfield.
Além disso, a companhia estimou potencial de +700Kt de cobre a partir de 2030, acelerando hubs em Carajás, com destaque para (i) Hub Sul, antecipando o Projeto Cristalino (60-100Ktpa) e 118 (60-70Ktpa); (ii) Hub Norte, com desenvolvimento de Paulo Afonso (70-100Ktpa); (iii) Pequenos depósitos (35-45Ktpa), com expectativas de avanços em parcerias estratégicas. Já Voisey’s Bay adicionará ainda 20Kt de cobre à produção. A Vale segue otimista quanto à demanda crescente pelo minério, reforçada por suas iniciativas de expansão global. Como destacou Sr. Shaun em alguns momentos da apresentação, “todos amam cobre!”.
Nossa visão e recomendação
CAPEX é revisado para baixo vs. nossas estimativas anteriores.
A companhia está confiante que consegue manter o nível muito controlado do dispêndio de capital, fazendo, inclusive, uma revisão para baixo no CAPEX frente as nossas estimativas anteriores. Isso sinaliza uma alocação ainda mais disciplinada de recursos, gerando um valor incremental não inteiramente capturado na versão anterior do nosso modelo proprietário. O guidance de CAPEX total 24E foi levemente ajustado para US$ 6,1b (vs. US$ 6,0-6,7b anteriormente). Essa redução é direcionada principalmente para projetos estratégicos como transição energética e briquetagem, que possuem retornos positivos no longo prazo.
Para 2025-2026, o CAPEX está mantido em ~US$6,5b/ano (-13% vs. Genial Est). É importante lembrar que havíamos majorado a nossa projeção de CAPEX para melhor acomodar os projetos de expansão da VBM passados no Asset Review no junho. Também destacamos que 2025 e 2026 serão anos de maior pressão no FCF em virtude do fluxo de pagamento do acordo de Mariana (MG), recentemente repactuado depois de anos de discussão entre Vale, BHP e entidades governamentais no Brasil, eliminando uma incerteza que rondava os investidores. Um CAPEX mais baixo deve atenuar a pressão no fluxo de caixa nesses anos frente ao que incialmente esperávamos.
Desembolsos relacionados a compromissos e dividendos.
O fluxo de pagamentos que envolvem os compromissos com reparações e indenizações pelos acidentes de Brumadinho (MG) e Mariana (MG), através de aportes feitos para a Samarco e fundação Renova, seguem de acordo com o cronograma que foi proposto e divulgado pela companhia junto com o resultado do 3T24. A Vale reforçou na apresentação de ontem que 73% dos acordos de Brumadinho foram concluídos até novembro de 2024. A meta de dívida líquida expandida foi mantida em US$10-20b, com a posição atual de US$16,5b 24E, garantindo flexibilidade financeira para investimentos estratégicos e retorno aos acionistas.
Essa abordagem disciplinada permite o equilíbrio entre (i) crescimento sustentável, (ii) distribuição de dividendos, incluindo a possibilidade de pagamentos extraordinários, dependendo da geração de caixa nos próximos anos, e (iii) programa de recompras. Temos como projeção de Dividend Yield ~11% em 24E e ~9% em 25E. Conforme já comentamos acima, o ano de 2025 é mais atingido pelo desembolso destinado às obrigações do acordo de Mariana, com ~US$2b a serem pagos, pressionando o FCF e reduzindo o dividend yield de maneira momentânea.
Companhia continua sendo negociada com desconto considerável em relação aos pares.
Analisando o múltiplo EV/EBITDA, a Vale apresenta um desconto ainda considerável quando comparada a outras majors do setor, como BHP e Rio Tinto, mesmo após a eliminação dos dois maiores overhangs que víamos para as ações (sucessão no cargo de CEO e repactuação do acordo de Mariana). Calculamos que o gap esteja atualmente próximo a 30% vs. um desconto histórico de ~20%. Um ponto importante que recebemos de perguntas de investidores é sobre o risco de intervenção política, mesmo com as cadeiras de CEO e CFO tendo sido anunciadas esculpindo o rigor técnico das escolhas.
Apesar dos progressos, o mercado continua atribuindo múltiplos de desconto (EV/EBITDA de 3,9x) em relação aos pares, uma vez que Vale negocia a 3,3x EV/EBITDA 25E (vs. 5x no histórico), reflexo de incertezas sobre a execução de projetos e consistência na entrega de resultados financeiros. Por outro lado, avaliamos que o retorno normalizado do FCF projetado até 2030 sugere que a Vale está bem-posicionada para entregar resultados robustos, especialmente em um cenário com downside risk limitado para o preço do minério de ferro, conforme já explicamos ao longo do relatório.
Uma mudança de discurso.
Durante o bate papo final, conversamos com o Sr. Daniel Stieler, presidente do conselho de administração da Vale sobre o processo de sucessão (que foi bem resolvido, diga-se de passagem) e como ficará a relação da companhia com o governo daqui em diante. Segundo a visão do Sr. Stieler, a Vale irá melhorar a comunicação com as entidades regulatórias para dar celeridade nas questões de licenciamento, que ficaram em segundo plano na gestão antiga, com total transparência e ser intervenção do lado interno da companhia. Embora tenha sido turbulento, o processo de sucessão mostrou que de fato o conselho está comprometido em resguardar a companhia de pressões políticas e, ao mesmo tempo, reestabelecer um elo necessário para dialogar com o governo, em um contexto de negócio que se faz necessário devido a operação de concessões.
A celeridade no licenciamento ajudará a companhia a entregar o guidance de produção, adjunto dos ramp-ups dos novos projetos, como Capenema, Vargem Grande e expansão de S11D. O objetivo de manter a competitividade através de vários ciclos de negócios foi destacado, com potenciais reduções de custos e aumentos de margem, mesmo se os preços do minério de ferro caírem para ~US$90/t vs. os atuais US$102/t. Por fim, percebemos uma mudança no discurso para uma nova estratégia comercial, migrando de um forte foco em “valor ao invés de volume” para “entregar o que o cliente precisa”, com ênfase na flexibilidade operacional, principalmente através de um mix de vendas ligados blends, respondendo à atual baixa demanda por finos de minério de ferro de alta qualidade.
A estratégia parece endereçar um dos pontos críticos que fazíamos a companhia, sobre a alta ambição de realização prêmios com o mercado chinês em declínio. Como já somos conservadores nas premissas ligados a esse assunto, e continuamos vendo valor a ser extraído do nosso modelo, reiteramos a recomendação de COMPRA, com um Target Price 12M de R$78,50 para VALE3-B3 (inalterado) e US$13,00 para as ADRs-NYSE (vs. US$14,00 anteriormente), implicando em um upside de +34,26%.