Embora as expectativas para o cenário futuro sejam conturbadas, principalmente quando falamos de EUA e Europa, ainda não observamos desaceleração nos players em cobertura. Olhando para os principais indicadores de atividade, observamos a manutenção da receita total no segmento industrial no 4T22. Com cambio estável na comparação trimestral e manutenção de volume, nossa expectativa é de que as receitas das companhias permaneçam estáveis, com margens potencializadas pela menor pressão de custos, tanto de matéria-prima quanto de frete.
Do lado de motores, boa parte dos volumes entregues nos 4T22 já estavam contratados, ainda impulsionados pelo mercado global de commodities. Do lado de renováveis, voltamos a observar novos contratos de compra de energia (PPAs) sendo assinados no segmento eólico e estabilização da demanda no solar.
Olhando para os PMIs, vemos que no segundo semestre do ano passado foi observada uma diminuição nos volumes de compra. É possível visualizar uma reclusão mais acentuada na região europeia, porém, a mesma já acontece na China, EUA e até mesmo no Brasil. Isso nos mostra que a partir do 1T23 poderemos ver alguma diminuição nos volumes das empresas. Os primeiros produtos que devem sentir esse efeito são os equipamentos ciclo curto, principalmente destinados à economia doméstica.
Além disso, as projeções do PIB para os EUA, Europa e Brasil seguem sendo revisadas para baixo. Na média, espera-se que os Estados Unidos cresçam cerca de 0,5% em 2023, enquanto o Brasil deverá crescer 0,8% e a Zona do Euro não deverá crescer.
O câmbio se manteve relativamente estável em relação aos outros trimestres de 2022, porém ainda assim com a maior média do ano, o que deve beneficiar as exportações. Ainda estamos pessimistas com relação ao câmbio para 2023. Acreditamos que um possível descontrole fiscal deve estressar o dólar, podendo levá-lo a patamares acima dos R$ 5,50.
Em termos de matéria-prima, seguimos com uma tendência de normalização no preço do aço e cobre, o que, dado o repasse de custos realizado após o pico no início do ano passado, deve mostrar uma certa estabilidade nas margens daqui em diante. A queda em seus preços também é um bom indicativo de atividade global, o que corrobora com as premissas de um crescimento global menor nos próximos trimestres.
Olhando para o mercado de frete, já conseguimos observar uma normalização no fluxo e nas tarifas. Os índices de avaliação de tempo para fretamento de navio contêiner e as taxas spot do mercado de transporte de contêineres de exportação de Xangai nos permite observar que ainda estamos acima dos níveis de 2019, porém num cenário muito mais controlado.
Por fim, no que diz respeito a energias renováveis, ainda vemos bons volumes de capacidade adicionada no Brasil. De outubro a dezembro foram adicionados cerca de 3,75 GW de potência solar, o que representa um aumento de aproximadamente 20%. Parte disso pode ser explicada por conta de um efeito de “pre-buy” por conta da recém finda isenção fiscal voltada para a instalação de usinas solares voltadas para geração distribuída.
Dado que o prazo para homologação com o benefício fiscal se encerrou em 07/01/2023, acreditamos que esse movimento de aceleração na adição de capacidade instalada ainda se mantenha por alguns meses, com novos projetos de geração solar distribuída sendo instalados ao longo do primeiro semestre.
Se observarmos o volume de placas solares importados da China, vemos ainda se mantém em patamares elevados, porém em processo de desaceleração, o que corrobora com a nossa visão.
Além disso, devemos começar a ver novos leilões de parques eólicos offshore já no primeiro semestre de 2023. O Brasil, segundo o IBAMA, já possui cerca de 70 projetos de regulamentação em fase de licenciamento. Segundo a Abeeólica, a expectativa é de que os primeiros parques sejam concluídos em 2030.
Weg (WEGE3)
Olhando especificamente para a WEG, acreditamos que o 4T22 deverá ser relativamente positivo. Estimamos uma receita líquida de R$ 8,1 bilhões (+23,5% a/a e +2,1% t/t) e um EBITDA de R$ 1,57 bilhões (+40,4% a/a e +0,7% t/t), com um lucro líquido de R$ 1,2 bilhões (+38% a/a e +4,2% t/t).
Para os produtos de ciclo longo, esperamos que a carteira de pedidos construída nos últimos 18 meses, impulsionada pela retomada dos investimentos nos setores de Petróleo, Mineração e Celulose, ainda sustente boa parte dos resultados. Em nossa visita à fábrica, durante o WEG Day, pudemos observar que a fábrica de motores indústrias operava em capacidade próxima à máxima, o que no final do dia deve se refletir em manutenção dos fortes volumes de entregas no 4T22.
Conforme mencionamos, até a primeira semana de janeiro, existia um incentivo fiscal voltado para quem tivesse seu projeto de usina solar aprovado. Com isso, esperamos que os fortes volumes vistos em 2022 ainda se estendam pelo 1T23, porém com queda nos trimestres seguintes. O impacto negativo nas margens visto em 2022, pelo aumento da representatividade do solar e do eólico fortes, deve ser menor no 4T22. O efeito da menor verticalização nos produtos deve ser parcialmente compensado pela melhor dinâmica de custos.
No lado dos produtos de ciclo curto ainda esperamos um desempenho positivo, porém já decrescente. Se observarmos o volume de motores elétricos exportados pelo Brasil nos últimos meses, veremos que esse diminuiu consideravelmente. Nos resta saber se essa tendência deverá ou não continuar nos próximos meses dado o contexto de desaceleração global mencionado previamente.
Para 2023, esperamos que os resultados da WEG, sejam suportados principalmente pelos produtos de ciclo longo, devido a sua carteira de pedidos e aos fatores mencionados previamente. Outro segmento que deve ter bom desempenho em 2023 é o de transformadores. Por outro lado, com o arrefecimento iminente das principais economias mundiais, é provável que parte da demanda de produtos de ciclo curto sofra um pouco mais.
Sempre acreditamos que o maior desafio da empresa era ganhar participação de mercado na velocidade esperada pelo mercado e o cenário incerto pode ajudar a companhia nesse sentido. O cenário incerto sobre os custos de produção na Europa e mão-de-obra elevada nos EUA, pode contribuir para que a WEG se torne mais competitiva dada a sua verticalização e maior concentração de custos de produção no Brasil.
Acreditamos que, dado o cenário, a WEG segue sendo uma opção defensiva. Com isso, mantemos nossa recomendação de COMPRAR, com preço alvo de R$ 47,50.
Aeris (AERI3)
Apesar de um trimestre relativamente morno, esperamos uma recuperação frente ao fraco ano de 2022. Projetamos para o 4T22 uma receita líquida de R$ 665 milhões (+12,8% a/a e +6,3% t/t) e um EBITDA de R$ 80 milhões (+4,3% a/a e +24,5% t/t), além de um prejuízo de R$ 22 milhões.
Apesar da falta de novos aditivos contratuais, esperamos que um dólar médio relativamente mais alto em comparação aos outros trimestres e um contínuo amadurecimento das linhas, corrigindo os defeitos reportados no 3T22, faça com que o 4T22 seja, muito provavelmente, o melhor de 2022. Mesmo sendo o melhor trimestre do ano, a empresa não deve atingir o seu guidance para 2022, que já havia sido revisado para baixo no 2T22. Os resultados consolidados devem ficar próximos às faixas inferiores das projeções da empresa (Produção: 3,2 – 3,6 GW, Receita Líquida: R$ 2,6 -3,1 bilhões e EBITDA: R$ 270 – 340 milhões).
Para 2023, nossas projeções são mais positivas, dado que a pandemia e guerra na Ucrânia atrapalharam a cadeia de suprimentos, o que acabou atrasando alguns projetos. Vale lembrar que durante 2022, o segmento eólico passou por muitos desafios associados a um ambiente de inflação, que culminou em prejuízos em todos os elos da cadeia de valor. A volta dos PPAs nos mostra que o processo de reequilíbrio econômico entre os diferentes agentes do setor, começa a encontrar um denominador comum.
Além disso, a opcionalidade do offshore no Brasil começa a rondar o setor, que deve resultar em novos leilões em 2023. O projeto de lei, aprovado no ano passado, já acumula 178 GW em tramitação no Ibama. Segundo a Abeeólica, o primeiro leilão para cessão de área para instalação de uma usina eólica offshore deverá ocorrer já no primeiro semestre de 2023.
Mantemos nossa recomendação de COMPRA, com preço alvo de R$ 2,80.