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Publicado em 04 de Janeiro às 21:45:36

Setor de Agrícolas – Nossa salvação? Análise de SLC Agrícola (SLCE3), Brasil Agro (AGRO3) e Boa Safra (SOJA3)

Iniciamos a cobertura das empresas SLC Agrícola (SLCE3), Brasil Agro (AGRO3) e Boa Safra Sementes (SOJA3), as quais fazem parte do que pode ser considerado o setor mais importante para o Brasil: o agronegócio. Enxergamos o setor como um todo com bons olhos, dado a sua importância para o país e perspectivas de contínuo crescimento. A Escolha Genial ficou com a SLC Agrícola, com recomendação de COMPRA e um preço-alvo de R$ 60,00 por conta de um valuation atrativo e de fortes vantagens competitivas no longo prazo.

Visão Geral do Setor

O agronegócio é um dos principais propulsores da economia brasileira – em 2020, o agro compôs 26,6% do PIB total do Brasil, totalizando quase R$ 2 trilhões. Para 2021, a expectativa é de que a participação no PIB aumente para cerca de 30% (dados ainda não foram totalmente divulgados). De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o país produz alimentos suficientes para alimentar mais de 1,5 bilhão de pessoas no mundo, consolidando o Brasil como um dos grandes fornecedores globais de alimentos.

Existem algumas características que fazem com que o país se destaque nesse negócio, entre elas:

  • Amplo espaço: o Brasil tem mais de 8,5 milhões de km2, sendo o 5o maior país do mundo em extensão territorial. Temos alta disponibilidade de terras agricultáveis e a preços acessíveis
  • Condições climáticas e solo: boa distribuição de chuvas, energia solar abundante e solo fértil e profundo, com alto potencial para cultivo de safra e para irrigação
  • Mão de obra: baixo custo e especializada (experiente e entende do negócio)
  • Bom nível de desenvolvimento tecnológico para produção
  • Apesar de já ser líder nos principais produtos agropecuários, o Brasil ainda apresenta grande escala e alto potencial de crescimento.

Essas vantagens competitivas que o mercado brasileiro possui em relação a outros países trazem uma oportunidade para o Brasil continuar suprindo a crescente demanda por produtos agrícolas, tanto para alimentação quanto para uso de novas fontes de energias renováveis. Mesmo sendo um dos principais países do mundo do setor, poucas empresas agrícolas estão listadas na bolsa porque a maioria são pequenas, médias e familiares, além de ainda ser um setor pouco consolidado.

Vamos analisar em especial os mercados dos grãos milho e soja, que são os principais produtos comercializados pelas empresas nessa iniciação.

Soja

O Brasil é o maior produtor de soja do mundo, seguido dos EUA e da Argentina, além de ser também o maior exportador mundial. Quando olhamos para o futuro, é esperado que a demanda mundial por soja continue crescendo exponencialmente, dado a importância e versatilidade da commodity, e o Brasil como o principal país capaz de capturar esse crescimento. Observamos também a importância da China para o mercado, isolada a maior importadora de soja do mundo.

Cenário atual:

Os preços da soja vinham em forte alta em 2021 por conta de baixos estoques, incertezas climáticas e forte demanda – principalmente da China, que está em processo de recomposição de estoques de suínos, que foi causado por conta da Peste Suína Africana (sigla em inglês: ASF). Em junho desse ano, o quadro mudou e vimos um declínio no preço da soja por conta de uma queda nas importações da China (justamente por conta de preços muito altos) e também por uma recuperação da oferta global, impulsionado por bons resultados da safra nos EUA e melhores perspectivas no Brasil. Para 2022, a tendência aponta para uma safra recorde de soja no Brasil, porém acreditamos que os preços altos (próximo de US$ 15 por bushel) continuarão sendo uma realidade por conta da dinâmica de oferta e demanda mundial.

Milho

Apesar de ocupar a 3° posição global em produção de milho, o Brasil é relativamente pequeno em quantidade produzida de milho quando comparamos com os principais produtores (China e EUA). Contudo, observamos que os maiores produtores do mundo também são fortes consumidores do produto.

Países asiáticos como o Japão, Corea do Sul, Vietnã e principalmente a China são fortes importadores de milho. Mesmo que o continente produza em grandes quantidade, é necessário que estes comprem o produto de outros países para suprirem a demanda de suas populações. Além disso, assim como a soja, o milho também é utilizado como ração para aves e suínos, que historicamente são proteínas de alta demanda nos países asiáticos.

Cenário atual:

Tivemos um 2021 de recorde em termos de preço do milho. Ao longo do ano vimos uma queda significativa da safra de milho, por conta de um clima adverso que levou a uma primeira safra reduzida. Na segunda safra o cenário perdurou, e com isso vimos outra redução em relação as expectativas de produção.

A China deve seguir importando o grão por conta de recomposição de estoques, porém, dado os preços elevados, a procura e compra por produtos substitutos (como trigo e cevada) deve continuar sendo uma tendência em 2022. A safra americana deve vir boa e a demanda pelo produto deve continuar, além da desvalorização cambial beneficiar produtores brasileiros, pois o milho é negociado internacionalmente e a precificação é em dólar. Para 2022, enxergamos os preços estabilizados em relação aos patamares de 2021, ainda em níveis recordes de alta.

Análise inicial SLC Agrícola (SLCE3)

Recomendação: Comprar
Preço alvo: R$ 60,00

Tese de Investimento

Iniciamos a cobertura da SLC Agrícola (SLCE3) com recomendação de Compra e preço-alvo de R$ 60,00, o que implica um potencial de valorização de 46% com base no fechamento de 04/01/22 em relação ao preço atual da ação, de R$ 41,11. O método utilizado para o valuation foi o DCF, com o Custo Médio Ponderado de Capital (WACC) de 9,7% e um crescimento de longo prazo de 3,5%. Com as nossas estimativas, a SLCE3 é negociada em 5,8x EV/EBITDA para o fim de 2022, o que consideramos baixo para a empresa. A SLC Agrícola é a nossa Escolha Genial, com valuation atrativo, câmbio favorável (real desvalorizado, pois as commodities são exportadas e precificadas em dólar), situação financeira saudável (1,4x Dívida Líquida/EBITDA) e migração para um modelo de negócio cada vez mais asset-light, o que facilita expansão.

As perspectivas para o agronegócio brasileiro são muito favoráveis em 2022, sendo uma das principais economias do mundo no setor e surfando os preços das commodities, o que acreditamos que devem continuar favoráveis durante o ano. Enxergamos o investimento na SLC Agrícola como uma excelente opção para estar exposto a esse cenário.

Sobre a companhia

Fundada em 1977 pelo Grupo SLC, a SLC Agrícola é uma das maiores empresas brasileiras do agronegócio, seu principal foco é na produção de soja, milho e algodão, além de trabalhar com a criação de gado em quantias menores. A companhia utiliza tanto áreas próprias como áreas arrendadas para suas operações através de Joint Ventures com outras empresas, o que permite um modelo de negócio mais escalável (mais fácil de expandir) – estratégia que teve início desde o IPO em 2007. A SLC também conta com uma subsidiária, a SLC LandCo, que é o braço imobiliário da empresa e tem o objetivo de trabalhar a aquisição e venda de terras. As operações são em 7 estados do Cerrado brasileiro, totalizando 463.167 hectares no ano-safra 2020/21.

OBS – Características do Algodão: público é a indústria têxtil (produtores de roupas). Durante uma crise sofre um pouco mais pois a demanda reduz e o produto é mais sensível ao PIB – quando o PIB mundial cresce, a demanda por roupas mais caras aumenta. Algodão é uma cultura mais nobre, no sentido que tem poucos produtores, demanda mais capital para produzir, e é uma commodity mais cara. A SLC exporta perto de 100% de seu algodão, então além de estar diversificando o seu portfólio ela também ganha com o câmbio.

Pontos positivos e oportunidades:

  • Eficiência operacional: conta com muita experiência, conhecimento e mecanização do processo de produção. A SLC é early-user (uma das primeiras empresas agrícolas) a adotar as novas tecnologias e práticas do agro (Agro 4.0) que maximizam a eficiência da produção.
  • Diversificação geográfica: presença em 7 estados minimiza riscos climáticos.
  • Diversificação de portfólio: operações em diferentes produtos (algodão, soja, milho, gado e terras) expõe a SLC a mais de 1 commodity, o que minimiza volatilidade de resultados.
  • Escala: produção em enormes quantias significa na redução do custo médio de produção, tornando a operação mais rentável. A SLC tem um potencial de 669 mil hectáres para a safra 2021/22.
  • Expansão: migração para modelo de negócio asset-light (com arrendamentos de terras) e padronizado permite expansão mais facilitada e menos custosa.

Desafios e riscos:

  • Preços de commodities: podem ser afetados por inúmeras razões (clima, mudanças de capacidade, estoques, dinâmica de oferta e demanda). Empresas do setor não tem controle sobre a volatilidade dos preços de commodities.
  • Risco geopolítico: acordos e desentendimentos entre países podem afetar dinâmica de exportação.
  • Desastres naturais: variações climáticas, pragas/doenças, incêndios, greves, todos podem afetar a produção
  • Sazonalidade: companhia depende de certos períodos para realizar plantações, colheita e vendas, o que pode ter impacto negativo nas receitas.

Análise inicial BrasilAgro (AGRO3)

Recomendação: Comprar
Preço alvo: R$ 32,00

Tese de Investimento

Iniciamos a cobertura da BrasilAgro (AGRO3) com recomendação de Compra e preço alvo de R$ 32,00, o que implica um potencial de valorização de 17% com base no fechamento de 04/01/22 em relação ao preço atual da ação, de R$ 27,40. O método utilizado para o valuation foi o DCF, com o Custo Médio Ponderado de Capital (WACC) de 10,8% e um crescimento de longo prazo de 4,0%. Com as nossas estimativas, a AGRO3 é negociada em 6,7x EV/EBITDA para o fim de 2022.

O diferencial da Brasil Agro é o foco no mercado imobiliário agrícola. A companhia não se considera um player de commodities e sim de terras, que é um ativo real e tangível, e é aonde eles enxergam valor. Seguindo a tese positiva para o setor como um todo, as propriedades da empresa devem seguir valorizando, dado que elas são negociadas com base nos preços das commodities e ajustadas pelo potencial de produtividade.

Sobre a companhia

A Brasil Agro é uma companhia focada na aquisição, desenvolvimento, exploração e comercialização de propriedades rurais. Seu modelo de negócio de forma resumida:

  1. Aquisição: consiste em identificar propriedades subutilizadas ou não-produtivas com potencial de valorização e comprar tais propriedades.
  2. Desenvolvimento: trabalhar em melhorias de rendimento e produtividade em tais áreas (através de implementação de tecnologias e técnicas agrícolas diferenciadas) com o intuito de aumentar o valor das propriedades.
  3. Exploração: comercialização dos produtos agrícolas que estão sendo produzidos na terra adquirida (grãos, algodão, cana-de-açúcar e pecuária)
  4. Comercialização das terras: revender (ou arrendar) a propriedade por um valor maior, uma vez que a operação atinge o ponto ideal, realizando ganhos de capital.

Apesar do foco ser em propriedades, mesmo sem vendê-las a companhia continua recebendo a produção delas, incorrendo um ganho operacional. Suas fazendas estão localizadas no Brasil, Paraguai e Bolívia, com a maior concentração no Brasil e uma área total de 275.298 hectares.

Pontos positivos e oportunidades:

  • Fontes de receita: 2 fontes: valorização de terras e proveniente de produção agrícola
  • Receita elevada: vendas de terras traz retorno elevado: TIR médio de 20%.
  • Modelo de negócio diferenciado: única empresa do setor que foca em valorização de terras.
  • Diversificação geográfica: presença no Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Maranhão, Bahia, Piauí, Paraguai e na Bolívia
  • Diversificação de portfólio: assim como a SLC, conta com operações em diferentes produtos
  • Dividendos: média de 5,3% de Dividend Yield nos últimos 5 anos. A empresa se posiciona em ter o compromisso com seus investidores de manter dividendos nesses patamares.

Desafios e riscos:

  • Preços de commodities
  • Risco geopolítico
  • Desastres naturais
  • Sazonalidade
  • Concorrência: demanda pelos tipos de propriedades que a Brasil Agro investe vem aumentando substancialmente. Por ser um negócio bastante rentável, é provável que outras empresas entrem nesse subsegmento e de vermos novos players surgindo. 
  • Risco de comprador: as vendas de propriedades, que é o principal diferencial da companhia e maior fonte de receita, é algo que ocorre sem recorrência específica e depende de um comprador que esteja bastante capitalizado e disposto a desembolsar altas quantias de capital.
  • Falta de liquidez: o portfólio consiste de propriedades ilíquidas, que se tiverem produção comprometida acaba virando um problema (bastante custoso) para a companhia.

Análise inicial Boa Safra Sementes (SOJA3)

Recomendação: Comprar
Preço alvo: R$ 20,00

Tese de Investimento

Iniciamos a cobertura da Boa Safra Sementes (SOJA3) com recomendação de Compra e preço alvo de R$ 20,00, o que implica um potencial de valorização de 34% com base no fechamento de 04/01/22 em relação ao preço atual da ação, de R$ 14,91. O método utilizado para o valuation foi o DCF, com o Custo Médio Ponderado de Capital (WACC) de 12,9% e um crescimento de longo prazo de 4,0%. Com as nossas estimativas, a SOJA3 é negociada em 4,8x EV/EBITDA para o fim de 2022.


Enxergamos na Boa Safra uma combinação de crescimento e rentabilidade, algo que é normalmente difícil de atingir e portanto é extremamente positivo para a companhia (volume vendido com CAGR de 25,6% entre 2014-2020, e um ROE de 64,5% em 2020). Com seu recente IPO, em abril de 2021, a companhia tem como objetivo investir em plantas e atender todo o Brasil, se consolidando numa indústria que ela já é líder (com 5,7% de market share) e ainda é bastante pulverizada. Acreditamos que o plano é plausível dado seu modelo de negócio que é comprovado e asset-light.

Sobre a companhia

Uma empresa concentrada na produção de sementes e que atende mais de 70% do território nacional, nas regiões Centro-Oeste, Sudeste, Norte e Nordeste. Considerando o volume de vendas e informações divulgadas pela CONAB, a companhia acredita ser a líder de mercado em vendas de sementes de soja no Brasil, estimando ter 5,7% do market share do setor. A Boa Safra está posicionada no início da cadeia produtiva: quando um produtor deseja plantar, ele procura sementes de qualidade para iniciar a sua lavoura. Seu modelo de negócio consiste no tratamento, beneficiamento (retirada de impurezas), armazenamento e processamento industrial de sementes, para depois vender aos produtores que plantam e cultivam a soja. A produção está concentrada em 5 UBS (unidades industriais), estrategicamente localizadas em áreas rurais próximas a regiões ativas de produção agrícola.

Pontos positivos e oportunidades:

  • Mercado de alto crescimento: o mercado de insumos para o agronegócio teve um CAGR (crescimento médio anual) de mais de 8% de 2010 para 2020.
  • Exposição internacional: a empresa está posicionada numa cadeia produtiva que é exposta ao mercado internacional, o que mitiga os riscos políticos e econômicos do Brasil.
  • Mercado fragmentado: já é líder do setor com apenas 5,7% de market share, o que indica que o mercado é pulverizado. Isso significa que se a empresa conseguir manter seu forte crescimento, ela tende a conquistar cada vez mais dominância do setor.
  • Expansão agressiva: 50% o dinheiro captado no IPO será usado para crescimento orgânico. A companhia pretende adquirir e/ou construir 4 novas UBS até 2025. A outra metade será para reforço de capital de giro.
  • Alta tecnologia de sementes: sementes tem uma taxa de germinação acima de 90% e são geneticamente modificadas, algo que é muito atrativo para o produtor pois seu risco de germinação é mitigado e a semente já vem com pesticidas naturais em sua genética, o que o salva de gastar mais com pesticidas.

Desafios e riscos:

  • Preços de commodities
  • Risco geopolítico
  • Desastres naturais
  • Sazonalidade: intensificada para a Boa Safra, porque o grande foco é em sementes de soja. Os produtores só compram quando planejam plantar, então normalmente o primeiro semestre do ano é de prejuízo.
  • Concentração/falta de diversificação: as perspectivas para a soja são positivas, porém se algo mudar nessa dinâmica, a Boa Safra não tem muitas saídas pois está concentrada nesse mercado.
  • Dividendos: no momento, a empresa não prioriza o pagamento de dividendos aos seus acionistas. O foco atual é utilizar seus lucros para investir em crescimento. Para os investidores que gostam de dividendos, isso é algo a se considerar.
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