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Publicado em 10 de Setembro às 23:52:34

Análise de Aeris (AERI3) — A empresa que descobriu o vento

Assista ao vídeo sobre esse relatório!

A Aeris (AERI3) atua no segmento de energias renováveis, mais precisamente, na fabricação das pás utilizadas nos geradores eólicos ou aerogeradores. A empresa recebeu recomendação de COMPRA, com preço-alvo de R$ 10.85. Acreditamos que as principais oportunidades de crescimento estão atreladas ao processo de transição energética global que intensificará os investimentos em fontes limpas de energia. Além disso, acreditamos que, assim como ocorreu na indústria automobilística, devemos ver uma maior taxa na terceirização por parte dos grandes fabricantes de aerogeradores, principalmente na fabricação das pás. Cada vez mais bem posicionada, a Aeris tem tudo para ganhar mais participação de mercado e capturar o potencial de crescimento do setor de renováveis.

Comparando a Aeris com as outras empresas ligadas ao segmento de energia eólica, podemos ter uma noção melhor do que é esperado em termos de preço relativo, eficiência e rentabilidade:

Visão Geral do Setor – Energia Eólica e Aerogeradores

Antes de entrarmos nas particularidades da empresa ou da tese de investimentos, devemos compreender em qual lugar da cadeia de valor do segmento de energia eólica a Aeris está posicionada:

Você sabe o que é um aerogerador?

Eles são basicamente “cata-ventos” gigantes que usam justamente a energia do vento para produzir eletricidade. O vento fluindo através das pás faz com que elas se movam e girem o rotor no qual estão acopladas, o rotor, gira um gerador criando eletricidade.

Ao longo dos anos, muito dinheiro foi investido a fim de tornar os aerogeradores cada vez mais eficientes. Esses “ventiladores” ou “cata-vento” gigantescos evoluíram de forma significa e carregam consigo muita tecnologia de projeto e fabricação. Você sabe o quanto mede um aerogerador?

À medida que o tempo passou, observamos uma crescente utilização de energia eólica em várias partes do mundo, comprovando a maturidade da tecnologia e o ganho de escala.

Um dos principais fatores que contribuiu para a aceleração dos investimentos nos últimos anos foi o aumento da sua competitividade em termos de custo. O nome do jogo é escala, quanto mais energia você conseguir gerar com um único projeto, mais competitiva se torna a fonte de energia.

Os ventos sopram numa direção favorável

O mundo nunca se preocupou tanto com o desenvolvimento sustentável. Como tentativa de afrontar todos os distúrbios e mudanças climáticas que vêm impactando o planeta, nos últimos anos intensificaram-se os investimentos em fontes de energia renovável. Esse processo está causando uma verdadeira transformação na maneira de produzir e consumir energia. Do lado da geração, os maiores destaques ficam para energia solar e eólica, onde estamos observando a construção massiva de plantas eólicas em todo o mundo em busca de escalabilidade.

Perspectivas futuras

A energia eólica será um dos pilares da sustentabilidade no planeta e deve desempenhar um papel importante na aceleração da transição energética global.

Quando olhamos para as projeções da Bloomberg NEF de geração global de energia por fonte, esse processo de transformação fica ainda mais evidente. No cenário base, a energia eólica que hoje representa 8% de toda geração de energia no mundo, passaria a representar mais de 50% de toda geração global. Esperamos um crescimento exponencial das empresas posicionadas nesse setor.

Análise inicial AERIS [AERI3]

Recomendação: Comprar

Preço alvo: R$ 10.85

Os ventos sopram numa direção favorável

Com a energia eólica ganhando cada vez mais espaço, enxergamos um cenário de crescimento muito forte para as próximas décadas. Entendemos que quando o crescimento estabilizar (entre 2040 e 2050) a empresa terá boa parte do mercado global capturado.

Existem algumas premissas importantes que sustentarão esse crescimento do mercado eólico e consequentemente da Aeris. A primeira e mais importante é a transição energética global, que ajuda a acelerar o ciclo de renovação dos parques eólicos nos EUA e a fomenta novos investimentos no segmento. Além disso, a posição privilegiada da empresa no mercado brasileiro, de enorme potencial eólico, pode ser uma alavanca importante para um crescimento rápido da receita. Acreditamos na consolidação do mercado de pás, que já dá sinais claros de aumento de volume com a intensificação do processo de terceirização por parte das fabricantes de turbinas. Os altos custos da indústria e a exigência de excelência operacional, são por si só fortes barreiras de entrada no segmento.

Sobre a companhia

Ao contrário do que muita gente pensa, a Aeris não é uma empresa focada nem em geração de energia e nem na produção do aerogerador. O principal negócio da empresa é a fabricação das pás e ferramentas de manutenção dos aerogeradores.

A empresa, portanto, possui duas principais linhas de negócios, uma focada na fabricação das pás, com mais de 90% de market-share no Brasil, e outra focada em serviços (Aeris Service) que atua tanto no Brasil quanto nos EUA. Dado um projeto específico de aerogerador integrado, desenvolvido pelo cliente, a empresa fica responsável por todo o processo de fabricação das pás e do ferramental necessário para apoiar o processo de produção.

O critério usado para selecionar a localização da fábrica foi o mapa do vento do país, posicionada na região Nordeste que concentra mais de 50% de todo o potencial eólico brasileiro. Além disso, a fábrica fica a apenas 15 km do porto de Pécem (CE), um dos principais portos do Brasil, facilitando o fornecimento dos mercados nacional e internacional, oferecendo um ciclo logístico rápido e confiável para os parques eólicos

Distribuição da Receita

Pontos positivos e oportunidades

Fábrica estrategicamente localizada: Parque industrial estrategicamente localizado em região com um dos maiores potenciais eólicos do mundo e logística favorável para exportações

Qualidade do produto: não possuem histórico de recalls e/ou devolução de pás, comprovando a qualidade e consistência do produto sólido e reconhecido histórico de entrega.

Modelo de negócios verticalizado: a cultura organizacional forte e direcionada permite ganhos de escala e rapidez no compartilhamento de lições aprendidas, dessa forma, conseguem mais desempenho e agilidade.

Histórico de bons parceiros comerciais: em 2015, a Vestas custeou R$125 milhões em ampliações no parque industrial da Aeris, cerca de 15.000 m², para que a demanda pudesse ser atendida. Também em 2018, um novo acordo foi firmado, custeando investimentos da ordem de R$250 milhões no parque industrial da empresa, ampliando a área em mais 50.000 m².

Transição Energética Global: Na nossa visão, a empresa deve se beneficiar do processo de transição energética global, que vem se intensificando no mundo nos últimos anos, onde a energia eólica será uma das protagonistas devido a sua competitividade em termos de custo/capacidade gerada, que deve acelerar os níveis de investimento e o processo de descarbonização.

Potencial eólico brasileiro: a capacidade de geração de energia eólica do Brasil é muito maior que a média global. Com áreas disponíveis para expansão “onshore¹” e possibilidade de penetração do segmento de “offshore²”. Sendo líder de mercado, com cerca de 90% de participação, a empresa pode ter seus volumes impulsionados.

Ciclo de renovação dos parques eólicos nos EUA: os parques eólicos americanos estão ficando obsoletos com 10~20 anos. Para se tornarem mais competitivos em termos de custo, precisam substituir os antigos aerogeradores por novos mais modernos, com mais tecnologias e com pás mais leves, o que pode impulsionar todo mercado de pás.

Terceirização: como foi citado anteriormente, estamos numa tendência de terceirização por parte dos fabricantes de turbina líderes de mercado, incluindo a Vestas, que segue com a terceirizando cada vez maior no processo de fabricação de pás. As fabricantes de aerogeradores vêm buscando mais eficiência e ganhos de produtividade.

Melhores soluções de armazenamento de energia: favorecem a geração eólica à medida que criam a possibilidade de consumo sob demanda. Investimentos altos estão acontecendo nesse tipo de tecnologia, o que pode impulsionar ainda mais a demanda de aerogeradores

Eólica onshore: aerogeradores estão localizados no continente já na offshore, as instalações são feitas fora da costa, aproveitamento da força do vento que sopra em alto-mar, que normalmente são mais velozes e mais constante, devido à inexistência de barreiras físicas. Esse tipo de instalação permite maior capacidade das turbinas, uma vez que o oceano possibilita a instalação de equipamentos maiores.

Desafios e riscos

Ganho de Market-share: um dos grandes desafios da Aeris é a competição com os grandes players do segmento. Para atender às expectativas do mercado, a tese da terceirização precisa se concretizar para todo o setor.

Eficiência Operacional: os altos níveis de retorno sobre o capital investidos são decorrentes de uma estrutura operacional eficiente. Porém, em cenários como o do 2T21, vimos seus resultados sendo fortemente impactados por fatores como atrasos nas matérias-primas, falta de mão de obra (paralisação Covid-19), problemas logísticos e desperdícios de material.

Questões regulatórias: remoção do benefício fiscal da região nordeste (SUDENE) ou mudanças regulatórias e políticas no setor de energia eólica brasileiro;

Produção pouco diversificada geograficamente: embora possua clientes globais, a empresa possuí uma única fábrica no mundo e pode ser prejudicada por problemas portuários ou até mesmo desastres naturais.

Número de clientes: a empresa possuí hoje apenas 5 clientes, Vestas, GE, Nordex Acciona, WEG e Simens Gamesa. A interrupção ou não renovação de qualquer contrato pode ter impacto significativo nas receitas da empresa.

Energia nuclear: caso no futuro, a matriz elétrica seja dominada pela energia nuclear, podemos ver os investimentos na matriz eólica caindo drasticamente. Recentemente, vimos Bill Gates, em parceria com Warren Buffett anunciando investimentos da ordem de 1 bilhão de dólares em energia nuclear.

Nossas projeções

Um pouco mais sobre o setor

Indústria de turbinas e indústria de pás

Dentro da indústria de aerogeradores ou turbinas eólicas, temos 2 principais segmentos que se relacionam com a Aeris:

  • Fabricantes de Aerogerador (Montadoras): responsáveis pelo projeto do aerogerador, geralmente focando na parte mecânica (montagem da nacele e do cubo do rotor). Esses fabricantes são chamados de “montadoras”, por serem responsáveis pela integração do sistema com componentes fabricados por outras empresas. Existem ainda empresas que optam pela verticalização, fabricando as torres, as pás e outros subcomponentes.
  • Fabricantes de Pás: mercado de atuação da Aeris. Responsáveis pela fabricação das lâminas que são acopladas aos aerogeradores. As pás são elementos singulares no aerogerador, que demandam muita especialização na fabricação já que determinam o bom desempenho do produto.

No ano de 2020, a indústria eólica global cresceu por volta de 53% em relação a 2019, o melhor ano da história.

Mesmo com todos os desafios por conta de interrupções na cadeia de suprimentos global e as paralisações na construção de projetos, a indústria de energia eólica fechou o ano com 93 GW de capacidade instalada adicional, equivalente a aproximadamente 7 Itapus. A capacidade global acumulada de energia eólica atingiu 743 GW. No segmento Onshore, foram instalados 86,9 GW, um aumento de 59% em relação a 2019.

Impulsionadas pelo corte da Tarifa de Alimentação (FiT) na China e pela eliminação programada do Crédito Fiscal de Produção (PTC) nos EUA, os países continuam sendo os principais mercados de energia eólica. Porém, quando analisamos o mercado global de turbinas eólicas é importante fazermos uma análise excluindo a China, que, embora seja o maior mercado de turbinas do mundo é isolado e de difícil penetração. Os fabricantes chineses vendem muito para o mercado interno e pouco para fora.

Segundo a própria Aeris, os fabricantes de turbina eólica chineses capturaram coletivamente apenas 1,6% do mercado global fora da China, enquanto o restante do mundo captura apenas 3,3% do mercado chinês.

Excluindo a China da análise, este mercado, além de ser dominado por poucas empresas, apresenta uma tendência de consolidação muito significativa.

Em 2010, 75% do mercado estava concentrado nas mãos dos 5 maiores players mundiais, atualmente o mercado de aerogeradores concentra-se em 4 grandes fabricantes que detém mais de 92% do mercado. Atualmente os 5 maiores players são:

  1. Vestas
  2. Simens Gamesa
  3. GE Renewable Energy
  4. Nordex Acciona
  5. Enercon

A Enercon, vem perdendo competitividade, capacidade de fabricação e consequentemente Market-share devido à pressão para redução de custos e por maior agilidade da cadeia de suprimentos. Esses fatores estão levando a montadora, sendo a mais verticalizado entra as 5, adotar um modelo mais terceirizado.

Indústria de pás:

Quando olhamos para a indústria de pás, primeiro precisamos analisar o que está ocorrendo com a indústria de turbinas eólicas. Durante muitos anos, o processo de fabricação dos aerogeradores foi verticalizado, onde os próprios desenvolvedores dos projetos eram responsáveis pela fabricação de quase todos os componentes das turbinas eólicas.

Hoje, num movimento muito parecido com o que vem ocorrendo na indústria automobilística, os grandes fabricantes estão cada vez mais terceirizando os processos nos quais não são especialistas.

Isso porque a pá é um dos componentes mais singulares do aerogerador. Qualquer problema de qualidade ou atraso pode gerar perdas milionárias para os fabricantes de turbina.

Dessa forma, empresas concentram cada vez mais seus esforços no que realmente consideram suas especialidades. Nos últimos 10 anos, a terceirização passou de 40% para 60%.

As pás estão entre os componentes de maior custo no aerogerador, representam cerca de 22% do custo e 7% da massa sendo fabricadas em material compósito:

  • Resina epóxi ou poliéster
  • Fibra de Vidro ou fibra de carbono
  • Peças de fibras de carbono
  • Elementos de núcleo: madeira de balsa, espuma pet e espuma de pvc
  • Sistema de para-raios

Além disso, o que mais impacta no seu desempenho é o tamanho e a forma da pá, que determinam o quanto da energia do vento será convertida em energia elétrica.

Diferentemente da indústria de turbinas, o segmento de pás ainda tem um longo caminho de consolidação pela frente. Hoje, os grandes especialistas em pás e principais players são:

  • TPI Composites Inc
  • LM Wind Power
  • MFG WIND
  • Sinoma Science & Technology – China
  • TECSIS       

Além destes, a companhia pode competir, em alguns casos, com fábricas de seus próprios clientes quando estes decidem por verticalizar parte da produção.

Potencial Eólico Brasil

No cenário regional, o grande destaque fica por conta do nordeste. A região possui os melhores ventos do mundo para esse tipo de atividade. Com ventos de alta velocidade, constantes e com baixa turbulência a região possui o maior potencial de geração eólica do Brasil.

Devido à configuração geográfica, condições climáticas favoráveis e a necessidade de ampliar e diversificar a matriz elétrica, continuamos com perspectivas boas para a entrada massiva de novos investimentos público e privado. Esse cenário nos indica que nossa capacidade instalada de energia eólica ainda tem uma longa jornada de crescimento pela frente.

Nos próximos anos, alguns catalisadores impulsionarão esse aumento de representatividade:

Acordos de compra de energia eólica: A Wood Mackenzie identificou mais de 85 GW em projetos acordados (PPAs) com contrato de fornecimento de turbina. Hoje, a capacidade instalada de energia eólica no país está por volta de 19GW, o que nos mostra o potencial de crescimento do segmento para os próximos anos. 

Offshore: Segmento de offshore pouco penetrado no Brasil, o que confere um potencial de crescimento elevado nos próximos 10 anos.

Diversificação da matriz elétrica: o Brasil precisa e consegue diversificar sua matriz elétrica. Regime de chuvas fracas costuma coincidir com regimes de ventos constantes, o que nos mostra que a energia eólica conversa muito bem como solução suplementar a predominante no Brasil (Hidráulica), podendo ajudar a combater crises hídricas do ponto de vista de geração de eletricidade.

Qualidade dos ventos: investimentos em usinas eólicas no Brasil têm maior retorno no mundo por conta da qualidade dos ventos. Isso ocorre por conta da característica do vento no país, considerada a melhor do mundo.

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