A Gerdau é uma empresa reconhecida internacionalmente sendo um dos principais players de aços longos nas Américas e também possuindo relevância dentro dos aços planos, o que permite a ela oferecer uma gama diversificada de produtos.
Com base nos detalhes a serem exibidos nas discussões ao longo do relatório, a nossa recomendação para a GGBR4 é de COMPRAR. Os principais destaques estão na forte geração de caixa, sobretudo aproveitando o ano histórico de 2021 obtendo um Free Cash Flow Yield de 21,5% em 2021A, com estimativa de 19,1% em 2022E. Além disso, a empresa deve se manter em condições de pagar dividendos, com um Dividend Yield saindo de 12,5% em 2021A para 9,2% em 2022E. Outro ponto relevante para a companhia é com relação ao seu nível de endividamento, que deve se manter em patamares baixos, com Dívida Líquida/EBITDA de 0,3x em 2021A e 0,1x em 2022E. Ainda, a empresa negocia com um múltiplo EV/EBITDA atrativo, atingindo EV/EBITDA 22E = 2,6x, abaixo da média dos últimos 5 anos (~6,0x).
De forma geral, o caráter cíclico do preço do minério/sucata influencia de forma significativa os resultados da companhia, gerando consequências desde a mineração até a siderurgia. Neste momento, com base na perspectiva para 2022, a nossa recomendação é de compra, mas devemos sempre estar atentos aos eventos tanto nacionais quanto internacionais, que ocasionam volatilidades e podem alterar a nossa perspectiva de longo prazo, inclusive a recomendação.
Visão Geral do Setor
Grande parte da discussão sobre o setor foi realizada durante o Relatório de Início de Cobertura da CSN (CSNA3). Aqui destacaremos alguns pontos principais que corroboram com a discussão sobre a Gerdau. É importante ressaltar que alguns termos são bastante específicos do setor e convidamos você novamente a dar uma lida na Visão Geral do Setor da CSN, onde explicamos detalhadamente todos os termos e processos.
Um ponto importante quando analisamos siderúrgicas é prestar atenção às referências internacionais do preço do aço. Aqui temos dois exemplos amplamente utilizados na indústria a fim de se trazer comparativos e se analisar a questão da paridade (diferença dos preços praticados no Brasil vs referências).
Para os aços planos, geralmente observa-se o preço do Chinese HRC (Bobina Laminada a Quente chinesa), enquanto para aços longos, utilizamos o Turkish Rebar (Vergalhão turco). Para fins comparativos, podemos observar que a diferença entre os preços de referência do aço e das matérias-primas (aqui considerado minério de ferro e carvão), se encontra em patamares elevados.
Usinas semi-integradas (mini-mills)
Geralmente são equipadas com fornos elétricos a arco (ou EAF, “Electric Arc Furnace”), que podem reutilizar a sucata de aço fundindo-a para produção de aço. O forno em si trabalha com uma mistura de matérias-primas como a sucata, ferro-gusa e ferro-esponja, nas quais são aplicadas correntes elétricas para a fundição. A principal diferença com as usinas integradas é a ausência da etapa de redução de minério de ferro, o que diminui a complexidade do processo produtivo ao mesmo tempo que permitem custos mais baixos e uma emissão inferior de gases de efeito estufa (por exemplo, o CO2) por tonelada de aço.
Ela ainda é ativada e desativada com maior facilidade e pode produzir aço em quantidades menores, ajustando os níveis produtivos. A Gerdau, por exemplo, opera 26 usinas semi-integradas pelo mundo, exibindo uma forte dependência da sucata como matéria-prima. Para efeitos de curiosidade, segundo a World Steel Association, em 2020, 27,7% da produção mundial de aço bruto eram executadas via mini-mills, enquanto o restante em usinas integradas.
Já a Gerdau, por sua vez, possui 72% de sua capacidade produtiva de aço bruto via mini-mills, na contramão do resto do mundo. Em suma, isso se demonstra como uma vantagem para a empresa, pois, além de ser menos poluente, faz a utilização de sucata se expondo menos à disponibilidade de minério de ferro, sem contar que é mais flexível com os ajustes de níveis de produção de acordo com a demanda de aço. A tendência mundial é de que haja uma adoção cada vez maior de mini-mills.
Usinas integradas
Nestas usinas estão incluídas as atividades de redução do minério de ferro, seguindo as rotinas tradicionais: tarefas de preparação da matéria-prima, produção de ferro-gusa, produção de aço e produção de semiacabados. Os primeiros estágios englobam a adição, por exemplo, de sínter, coque e fundentes dentro do alto-forno para produção de ferro-gusa, com o coque sendo o agente redutor.
Depois disso, o ferro-gusa é transportado para linhas de dessulfuração até ser transformado de fato em aço líquido nos chamados conversores de oxigênio (geralmente do tipo LD). Em seguida, segue o processo usual para lingotamento e, por fim, laminação. A Gerdau opera 5 usinas deste tipo: 4 no Brasil e 1 no Peru, sendo a usina de Ouro Branco (MG) a maior delas, sendo autossuficiente em minério e tornando-a menos exposta à volatilidade de preços.
Sucata
Como principal insumo para as mini-mills, a Gerdau transforma cerca de 11 milhões de toneladas de aço em produtos siderúrgicos todos os anos e, por isso, é um insumo fundamental para suas operações. Fonte de ferro para aciarias, a sucata ferrosa pode ser classificada como:
- Sucata de obsolescência: Composta por aço de diferentes origens, vindo de materiais como latas e até mesmo a carcaça de veículos;
- Sucata industrial: Composta tanto por sucata de estamparia (sobra dos processos que envolvem corte e moldagem de chapas de latão para a fabricação de uma grande variedade de produtos) quanto a de forjarias, sendo que pode ser originado até mesmo das sobras geradas ao longo da produção nas usinas da empresa.
Uma das estratégias da empresa com relação à obtenção desse insumo consiste na diversificação da cadeia de fornecedores. Com um processo que vem sendo aperfeiçoado ao longo dos anos, a companhia vem trabalhando com pequenas empresas e até mesmo coletores de sucata, impulsionando uma maior competitividade em busca de melhores preços.
Ademais, com isso é possível mitigar os riscos associados à obtenção desse importante material. Ou seja, mesmo que o preço da sucata nos Estados Unidos funcione como uma boa referência no mercado internacional de sucata, sendo o país americano um dos maiores exportadores mundiais desse insumo, todos esses fatores corroboram para que a variação do preço pago pela Gerdau esteja associada tanto à oferta quanto à demanda dos mercados locais em que se encontram as unidades da companhia.
Por fim, ainda vale ressaltar que a Gerdau também possui o maior programa de reciclagem da América Latina, o que possibilita, muitas vezes, a obtenção da sucata metálica por meio do processo interno de produção da companhia.
Ainda, as perspectivas no médio e longo prazos, é de que haja uma migração da rota de produção na China (de integrada para modalidade mini-mills, ou BF para EAF), devendo ocasionar uma pressão maior sobre a sucata e, naturalmente, sobre o minério que já vem sendo fortemente impactado pelo contexto geopolítico (como o conflito na Ucrânia) e pelos efeitos sazonais (intenso período de chuvas).
Análise Inicial
Recomendação: COMPRAR
Preço-alvo: R$ 39,00
Antes de começarmos, é importante não confundir a Gerdau S.A. (GGBR4) que é o nosso foco de estudo neste relatório, com sua holding Metalúrgica Gerdau S.A. (GOAU4). Iniciaremos cobertura para a companhia com a recomendação de COMPRAR com preço alvo de R$ 39,00 com base em um valuation descontado onde enxergamos potencial de upside de +30%, aliado a uma boa remuneração para os investidores ao longo dos próximos anos, potencializado por valores ainda maiores tendo em vista a forte geração de caixa que esperamos para a companhia. Ainda, destacaremos alguns pontos importantes na tese da companhia que corroboram com a nossa visão.
Valuation
Para a parte do valuation, foram feitas duas análises: uma usando DCF (Fluxo de caixa descontado) com peso de 50% e outra via múltiplos com a Soma das Partes (SoP) com os 50% restantes.
Parte 1. No DCF foi utilizado um Ke = 13,7% (Custo de Capital), obtendo-se um WACC = 13,0% (Custo Ponderado Médio de Capital) e utilizando um g = 3,0% (Crescimento dos fluxos de caixa na perpetuidade). Assim, pelo DCF, o preço obtido foi de R$ 38,60/ação.
Parte 2. Na Soma das Partes (SoP) via múltiplos, utilizamos os múltiplos EV/EBITDA 23E dos setores de siderurgia brasileiros e norteamericanos, após selecionarmos empresas comparáveis de cada região. Em seguida, removemos a parte de eliminações conjuntamente com a dívida líquida da empresa. Com isso, obteve-se um preço de R$ 39,40/ação via SoP.
Parte 3. Combinando-se os preços obtidos tanto via DCF quanto SoP, alcançou-se um preço-alvo final de R$ 39,00/ação, com recomendação de COMPRAR, um upside total de +30% frente à cotação atual.
Projeções
Englobam-se as contribuições dos principais segmentos da companhia, utilizando algumas premissas importantes, como o repasse dos preços de aço a fim de se ajustar os maiores gastos com as matérias-primas, ao mesmo tempo que se busca retomar os preços após os descontos de fim do ano, quando havia um excesso de oferta. Ainda em patamares elevados para os preços de carvão e de minério de ferro, seguimos com uma tendência de normalização ao longo dos próximos anos se refletindo na diminuição com os custos de ambos os produtos, o que também impacta no preço realizado de aço da companhia.
Pontos Positivos e Oportunidades
- Geração de caixa elevado para os próximos anos, com FCF Yield 22E = 19,1% e FCF Yield 23E = 21,0% o que deve permitir maiores remunerações aos investidores, com Dividend Yield (DY) 22E = 9,2% e DY 23E = 7,7%;
- A empresa negocia a múltiplos atrativos, apresentando um EV/EBITDA 22E = 2,6x (valendo lembrar as peculiaridades da ciclicidade do setor);
- A empresa é uma boa opção em épocas de desvalorização do real frente ao dólar, pois parte do seu negócio em termos de receita é atrelado ao dólar, enquanto parte do custo ao real (sobretudo na ON Brasil). Além disso, o caixa produzido fora (dolarizado) é convertido para real no final das contas, o que também beneficia a companhia nesse sentido;
- Descentralização das operações de negócios, permitindo aproveitar melhores condições de mercado;
- Proximidade de seus usinas com as fontes de matérias-primas e mercados consumidores, tornando-a altamente competitiva dentro do mercado;
- Diversificação de seu mix de produtos dentro do portfólio, permitindo uma maior flexibilidade para sua operações e o aproveitamento de oportunidades;
- Não apresenta grandes exposições ao minério de ferro como insumo base, tendo em vista que a maior parte das suas operações são de EAF (Eletric Arc Furnaces) utilizando a sucata como matéria-prima;
- O plano de infraestrutura proposto pelo presidente Biden nos EUA é um importante driver de crescimento de consumo de aço, o que se exibe como uma opção interessante para a Gerdau;
Riscos e Desafios
- Influência do setor automotivo, sobretudo na ON Aços Especiais, sendo negativamente impactado pela reduzida produtividade de automóveis causada pela escassez de insumos-chaves como os semicondutores para os chips;
- Uma valorização cambial prejudica os números da companhia, inversamente ao exposto nos pontos positivos;
- Uma retração do PIB brasileiro pode diminuir o ímpeto de consumo brasileiro, agravada por um cenário macro mais desafiador com juros altos e inflação, prejudicando a venda de produtos de linha branca e outros destinados à construção civil;
- Possíveis taxações e/ou aumentos de tarifas podem impactar negativamente os números da companhia. Além disso, redução de tarifas de importação podem pressionar os produtos internos;
Depois de passarmos pela visão geral do setor, valuation, seus pontos positivos e negativos, vamos agora mais a fundo sobre a companhia.
Gerdau e sua resiliência: indo mais a fundo…
Dedicando-se à produção e comercialização de produtos de aço em geral, a Gerdau atua em diversões regiões, possuindo usinas no Brasil, Argentina, Peru, Uruguai, Colômbia, Venezuela, República Dominicana, México, Canadá e EUA.
Com base na grande diversificação tanto geográfica quanto de produtos, a Gerdau se encontra numa posição favorável para lidar com as oscilações de mercado a colocando, em nossa visão, um passo à frente às demais siderúrgicas brasileiras. Além disso, essa flexbilidade entre mercados e a vasta utilização de mini-mills adequando suas capacidades produtivas de acordo com a demanda de aço, são importantes pontos de vantagens competitivas da companhia.
Suas operações de negócios (ON) são separadas em: 1) ON Brasil, 2) ON América do Norte, 3) ON América do Sul e 4) ON Aços Especiais. A empresa possui participação relevante na siderurgia em todos os países em que opera, configurando como uma importante produtora de aço no mundo, porém ficando atrás das grandes chinesas.
A companhia possui 32 unidades produtoras de aço distribuídas pelo mundo. No Brasil, por exemplo, a Gerdau opera através de sua usina integrada de Ouro Branco (MG), dentre outras que possui. Vale ressaltar que, para a Gerdau, seu mercado de maior importância é o de aços longos, atendendo construção civil, manufatura e infraestrutura de áreas geralmente rurais. Ainda, a empresa atua no mercado de aços planos, como discutiremos mais a fundo nas suas operações de negócios.
Agora, detalharemos um pouco mais as suas Operações de Negócios (ON).
Operações de Negócios (ON)
A empresa se encontra dividida em 4 ON’s contemplando sua distribuição geográfica. Vale ressaltar que dentro do perfil da companhia ela segue a estratégia de manter usinas siderúrgicas próximas aos clientes e das fontes de matérias-primas para produção do aço, tais como minério de ferro, ferro-gusa e sucata metálica, propiciando à companhia uma vantagem competitiva frente aos outros players. Dessa forma, a maior parte da produção é escoada para os mercados locais e o restante para exportação.
Como grande parte das empresas brasileiras do setor, a empresa importa carvão metalúrgico de países como Canadá, EUA, Austrália, dentre outros para este segmento, tendo em vista a baixa qualidade do carvão brasileiro. Embora ela não seja totalmente dependente da importação para produção do coque, empecilhos na cadeia de suprimento deste produto podem afetar negativamente as operações brasileiras.
No Brasil, a produção de aço utiliza tanto mini-mills quanto usinas integradas. Já no exterior, utiliza basicamente mini-mills, exceto no Peru que também possui uma integrada.
Logística
Os custos provenientes de logística são importantes para a manutenção de preços competitivos tanto no cenário local quanto externo. Com isso em mente, a empresa faz uso da multimodalidade de transportes (rodoviário, ferroviário, marítimo e cabotagem). Ainda, busca aumentar a performance na recepção de insumos e no envio de seus produtos buscando manter relacionamentos duradouros com fornecedores de logística de ambos os lados da cadeia. A empresa ainda possui participação na MRS Logística, que possibilita o transporte de matérias-primas, como a sucata e o ferro-gusa, bem como o escoamento da produção. Há ainda a G2L, um dos maiores movimentadoras de carga no país, iniciativa dentro do escopo da Gerdau Next.
Do lado portuário, a empresa utiliza diversos portos para entregar produtos ao longo da costa brasileira, com destaque para o terminal privado de Praia Mole, em Vitória (ES) onde são embarcados os produtos para exportação. A empresa também possui um terminal portuário em Chimbote (no Peru) com atividades similares.
Gerdau Next
Em 2020, a companhia criou a Gerdau Next, um braço de negócios cujo objetivo é 1) empreender em outros segmentos adjacentes ao aço e 2) diversificar o seu portfólio de forma a reduzir a exposição da companhia a commodities e ganhar mais espaço com produtos e serviços de maior valor agregado. Dentre as suas verticais, estão a “construtech” (tecnologia e construção, via G2Base, Brasil ao Cubo e Juntos Somos Mais), logística (via G2L), energia renovável, dentre outros.
1. ON Brasil
Dentro desse segmento se enquadram as operações dentro do Brasil, inclusive a de minério de ferro. A Gerdau como um todo possui bastante flexibilidade na mudança de mercados (Brasil vs exportação), permitindo um melhor monitoramento de demanda e aproveitando melhores condições presentes. Nesta ON se destaca, por exemplo, a usina integrada de Ouro Branco, a maior da companhia deste tipo, e que se encontra próxima de seus grandes fornecedores e dos portos (dos quais a companhia exporta parcela da sua produção). Sozinha, ela foi responsável por 55% da produção total de aço bruto deste segmento.
As vendas para o mercado interno ganharam maior relevância nos últimos anos em virtude da maior demanda da construção civil, tanto para o varejo quanto para venda direta às construtoras, além disso essa presença em diferentes mercados (indústria, infraestrutura, venda direta para construtora e varejo) é um ponto forte da companhia. Dentro do mercado brasileiro, existe grande competição entre a Gerdau e a ArcelorMittal para placas e fio-máquina, enquanto do lado de vergalhões compete com a Simec/Silat e CSN.
É importante observar que a capacidade de produção de aço bruto supera a de laminados, de forma que esse excedente é aproveitado via exportações cujo principal destino é a ON América do Sul.
Do lado de matérias-primas, a empresa se encontra bem posicionada no Brasil, com reservas de minério de ferro em MG para alimentar as usinas integradas, enquanto as mini-mills obtêm sucata em grande parte proveniente da região sudeste.
Um ponto relevante com relação ao vergalhão brasileiro é o desconto com relação à referência turca que se observou nos meses passados, mas que atualmente negocia a um patamar com spread quase nulo (preço praticado no Brasil comparado com a referência importada turca, considerando frete, impostos e outros custos na importação).
Vale destacar que esse fator sofre a influência direta da recente redução da tarifa de importação do aço estabelecida pelo governo federal até o final de 2022 no vergalhão, responsável por uma redução da alíquota de 10,8% para 4%. Essa medida visa, indiretamente, conter os níveis de inflação, pois, ao reduzir os custos associados ao processo de importação, é possível frear os aumentos do preço do aço no mercado interno diante de um preço mais competitivo dos produtos importados. Ainda assim, no 2T22 a empresa já iniciou seu repasse de preços, o que deve ser sentido no resultado desta ON.
Minério de Ferro
A Gerdau adquiriu em 2004 os seus ativos minerários do Grupo Votorantim, incluindo os complexos de Miguel Burnier/Dom Bosco, Várzea do Lopes e Gongo Soco, no Quadrilátero Ferrífero (MG). Desde lá, várias pesquisas geológicas foram realizadas para se estimar a quantidade de recursos presentes.
Seus principais produtos são o sinter feed (alto grau de pureza e boas propriedades metalúrgicas), pellet feed (também conhecido como concentrado, de qualidade superior), a hematitinha (destinado aos fornos da Gerdau) e o granulado (destinado para consumo próprio na Usina Ouro Branco).
Atualmente, estão operando apenas Várzea do Lopes e Miguel Burnier, com capacidade de produção de cerca de 7 Mtpa. A empresa ainda vende um percentual e também realiza compras de pequenas mineradoras na região (sobretudo de hematitinha). Este movimento está associado à adequação dos tipos de minérios que serão alimentados nos altos-fornos. De forma geral, a produção própria permite um hedge natural de minério conseguindo assegurar a suficiência neste insumo para a operação de Ouro Branco, por exemplo.
Um ponto interessante é a queda na produção sobretudo de 2020 para 2021, o que reflete a estratégia da empresa de segurar a matéria-prima para atender a demanda interna de produção de aço, sem haver a necessidade de produzir minério em excesso e vendê-los para o mercado externo.
2. ON América do Norte
Este segmento engloba as operações nos EUA, Canadá e México, com 11 unidades de produção de aço nessa região. Atualmente possui uma capacidade produtiva de aço bruto na ordem de 6,3 Mt e de 4,9 Mt em aço laminado. Seus produtos são destinados a centros de distribuição e centros de serviços siderúrgicos, alimentando diversos setores, tais como: construção civil, automotivo, maquinários, etc.
As fábricas desta ON produzem e comercializam uma vasta gama de produtos siderúrgicos, como vergalhões (~5%), barras comerciais (~55%), perfis estruturais (~35%), vigas e perfis especiais (~5%). Muitos deles são usados pelas unidades subsequentes dentro da cadeia para formação de produtos de maior valor agregado usados em outros segmentos. A maior parte do seu estoque de matérias-primas é composto por sucata de aço reciclada para suas operações de mini-mills e a empresa vem buscando alternativas para se garantir sob esse aspecto, tendo em vista que o mercado norteamericano é mais competitivo no consumo de sucata quando comparado ao Brasil.
Entre seus principais concorrentes neste segmento estão a CMC (Commercial metals Company), a Nucor Corporation, Steel Dynamics, ArcelorMittal, etc.
As margens dessa ON estão mais altas nos últimos trimestres em virtude justamente dessa escolha de portfólio dentro do conceito one-stop-shop (dos produtos mencionados acima), com foco nos ativos de maior rentabilidade, além de um cenário de desvalorização do real e preços internacionais de aço mais elevados.
A perspectiva para esta ON em 2022 é bastante positiva, devido a alguns fatores: a utilização de capacidade das usinas da Gerdau está quase no patamar máximo (acima de 90%, mas nunca em 100%, pois parte da capacidade não é utilizada em função de manutenções e paradas programadas), spreads metálicos elevados, a principal demanda que é a construção não-residencial continua forte nos EUA (veja os números do CPIP no gráfico).
O PMI da indústria via Institute Supply Management em alguns momentos do ano passado também registrou recordes históricos e nesse ano continua na trajetória positiva. A companhia espera volumes parecidos aos de 2021 para 2022 só que com chance de resultados melhores devido aos spreads que expandiram.
Hoje a empresa se encontra num momento favorável: possuem um portfólio demandado nos EUA, com boas perspectivas no médio prazo através do plano de infraestrutura que deve aumentar ainda mais a demanda de aço nos próximos anos.
3. ON América do Sul
Engloba atividades na Argentina, Peru, Venezuela e Uruguai. Toda a operação desta ON está focada nos respectivos mercados de cada país, operando usinas semi-integradas (as mini-mills) com capacidade de fabricação anual de 0,9 Mt tanto para aço bruto quanto para produtos acabados de aço.
A empresa ainda atua nos mercados da Colômbia e República Dominicana (este na América Central) via joint-ventures. Um ponto importante a se mencionar são os impactos da pandemia nos números de 2020 comparados ao de 2019, cujas atividades no Peru e Argentina tiveram maior relevância. Já a recuperação se deve em grande parcela ao aquecimento da construção civil, sobretudo em 2021.
Um fato que pode causar estranheza é que, em 2021, esta ON produziu cerca de 0,77 Mt de laminados, maior do que a produção de aço bruto que somou 0,59 Mt. Mas o que ocorre é que parte do excedente de aço bruto brasileiro é direcionado para essas operações na América do Sul, o que permite uma produção superior de laminados.
A maioria dos produtos deste segmento são para construção civil, mecânica, agricultura e indústria de mineração. Em grande parte, a competição dentro deste segmento são para as empresas locais juntamente com a oferta de produtos importados e os custos de frete.
4. ON Aços Especiais
Os aços especiais possuem aplicações mais específicas e são caracterizados por serem uma mistura do aço com outras ligas, tornando-os mais resistentes, maleáveis e flexíveis.
Contempla operações tanto no Brasil quanto nos EUA, produzindo aços especiais para construção mecânica, aços-ferramenta e barras forjadas. Esta operação está continuamente desenvolvendo novos produtos a fim de atender às novas demandas do mercado. Dentre os produtos estão aços de alta resistência, de alta limpeza, de alta temperagem, etc.
No Brasil, suas operações possuem vários clientes dentro do país, porém também atendem via exportação mercados na América do Sul, América do Norte e Europa. Suas unidades possuem capacidade de produção anual de 1,4 Mt de aço bruto e 1,8 Mt de aço laminado.
Já nos EUA, atende clientes localizados principalmente na América do Norte, com capacidade anual de produção de 1,1 Mt de aço bruto e 1,1 Mt de produtos laminados.
Essa ON produz aços que requerem processos avançados de fabricação com características físicas e metalúrgicas específicas dependendo da aplicação, sendo fundamental para a cadeia automotiva, com aplicações em autopeças e sistemas de veículos leves, pesados e máquinas agrícolas.
Durante a pandemia, foi a ON que mais sentiu seus impactos, sobretudo pela paralisação de montadoras de automóveis tanto no Brasil quanto nos EUA. Mas em 2021, sua operação foi impactada positivamente pela boa performance do setor de veículos pesados e da indústria de óleo e gás. Do lado negativo, a oferta limitada de semicondutores trouxe um cenário desafiador para componentes eletrônicos usados nos veículos.
Para 2022 esperamos um ano melhor que 2021 neste segmento, tendo em vista que 2022 já presencia o repasse de preços e devemos observar um aumento no volume vendido, considerando uma maior produção automotiva no Brasil, com enfoque no setor de pesados que se expandiu consideravelmente no 1T22, enquanto nos EUA temos o crescimento tanto do lado automotivo quanto das indústrias de energia (óleo e gás, eólica, etc). Outro ponto que pode impulsionar ainda mais esta ON é a demanda reprimida nos EUA, cuja produção de automóveis reduziu significativamente em virtude da falta de semicondutores para chips. Dessa forma, a partir da normalização deste insumo, a nossa visão para o setor é bastante otimista.
Produtos da companhia
Seus produtos englobam aço bruto (placas, blocos e tarugos) que são destinados a usinas de laminação, produtos acabados alimentando o setor de construção (via vergalhões, fio-máquina, perfis estruturais, bobinas laminadas a quente e chapas grossas), produtos acabados para a indústria (barras de aço laminado comercial, perfis leves e arames) e produtos para agricultura (estacas, arame liso e arame farpado). Vale mencionar ainda a seção de Aços Especiais utilizando tecnologias mais modernas e avançadas, produzindo aços inoxidáveis, barras quadradas, redondas e chatas, fio-máquina, etc.
Investimentos/CapEx
Para o ano de 2022, a empresa aprovou em fevereiro o plano para investimentos de R$ 4,5b, incluindo valores diferidos de 2021. Atualmente ele está dividido em 1) Manutenção e 2) Expansão e Atualização Tecnológica. O primeiro concerne aos próprios reinvestimentos para manter o bom funcionamento das usinas, tendo em vista depreciações de modo geral. O segundo se refere aos planos de crescimento, atualização tecnológica e modernização dos seus negócios, mantendo em mente a melhoria nas práticas ESGs e se preocupando com as gerações futuras (desenvolvimento sustentável).
Controle acionário
Para entendermos melhor quem são os principais investidores da companhia e como estão distribuídos, é importante realizar uma análise do controle da empresa. Observamos em grande medida a relevância da Metalúrgica Gerdau (sua holding) na composição acionária. Esta por sua vez, possui fortes influências do Grupo Gerdau (incluindo nesse meio a “família Gerdau”), com 31,80% da composição acionária da GOAU4, ao lado da INDAC com 43,29%.
O fato de ser influenciada em grande parte pela família Gerdau traz uma maior segurança aos investidores, tendo em vista que as decisões tomadas para o futuro da companhia devem passar pelo crivo da família empreendedora e, portanto, entram fatores que reinforçam diretamente o interesse dos acionistas. Tudo isso sem contar a própria história do grupo e, de uma forma um pouco mais subjetiva, o apreço dos integrantes com a empresa.
Atualmente, Gustavo Werneck ocupa a posição de CEO da companhia desde 2018, enquanto no cargo de CFO está Rafael Japur (também diretor de RI), nomeado no fim do ano passado.
Deste lado, acreditamos que a companhia está em boas mãos e que ao menos a parte de governança não deve ser um risco para a tese da companhia.