A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) é uma das grandes produtores de aço do país, com abrangência em diversos segmentos além da siderurgia, tais como mineração, logística ferroviária e portuária, energia e cimento (caso queira saber mais sobre a parte de mineração leia mais aqui). Ela exerce o papel de holding, mas também possui atividades operacionais relevantes. A empresa conta com um sistema logístico integrado que favorece a distribuição e recepção de diversos produtos. Apostando no crescimento seja por via orgânica ou inorgânica, ela apresenta um cenário mais desafiador para o aço em 2022, mas com perspectivas melhores para o cimento e a mineração. Com base nessas informações e com mais detalhes ao longo do relatório, a empresa recebeu recomendação de MANTER, com preço alvo de R$ 30,00.
A empresa está em um processo de desalavancagem, atingindo Dívida Líquida/EBITDA de 0,8x em 21E e 0,9x em 22E, começando a cair a partir de 2024. Com esse processo e a forte geração de caixa, marcada por um FCF Yield de 32,3% em 21E e 18,4% em 22E, a empresa também tem capacidade de pagar proventos, com Dividend Yield de 20,0% em 21E e de 7,6% em 22E. Ainda, a companhia negocia atualmente a um EV/EBITDA de 2,9x, bastante a baixo da sua média história (em torno de 6,0x).
Porém, mesmo com esses números altamente atrativos, temos que levar em conta alguns fatores importantes: o EBITDA de 2021 esteve fortemente atrelado a um aumento recorde dos preços do minério de ferro, o que impactou de forma direta e indireta todos os indicadores a ele atrelados (descolando, por exemplo, o EV/EBITDA 21 de sua média histórica de forma considerável), o que possibilitou forte geração de caixa, além de altos pagamentos de dividendos. Entretanto, para 2022, a expectativa é de começo de uma normalização de preços (tanto de minério, quanto do aço), o que deve diminuir o resultado. Além disso, o cenário macroecônomico brasileiro mais desafiador com aumento das taxas de juros, com um possível arrefecimento do setor de construção civil, o risco inerente da situação da China para a mineração e a falta de insumos para o setor automobilístico (sem contar outras razões que exporemos a seguir), põem em xeque as perspectivas da empresa e, por isso, reiteramos nossa recomendação de MANTER.
A seguir, começaremos explicando sobre o setor para posteriormente discutirmos sobre a CSN em si. Caso queiram pular esta parte (não recomendado), utilize a Leitura Dinâmica do lado direito da página e vá em “Análise Inicial CSN [CSNA3]“.
Visão Geral do Setor
Envolvendo um processo produtivo composto por diversas etapas e com uma gama variada de produtos, o setor siderúrgico fornece os materiais-base para o crescimento de um país, intimamente relacionado à imagem do aço. Ela engloba também a necessidade de uso de diferentes commodities que possuem dinâmicas próprias de preços no mercado internacional.
Dinâmica do Setor
O primeiro ponto que merece relevância na dinâmica do setor siderúrgico são as diferenças que ele apresenta em relação ao mercado de mineração, tendo como destaque a influência da China no que tange a oferta e a demanda pelos produtos de aço ao redor do mundo. O principal comprador do minério de ferro brasileiro, o mercado chinês, impulsionado pelo crescimento do mercado imobiliário nos últimos anos, é o principal país produtor de aço bruto e detém mais de 50% da produção global, o que representou um valor superior a 1 bilhão de toneladas produzidas tanto em 2020 quanto em 2021. Essa produção intensa justifica a necessidade de importação intensa por minério de ferro. Se por um lado ela é a maior importadora de minério de ferro, por outro, ela se comporta como a maior produtora de aço. Assim, sede de 7 das 10 maiores empresas do setor, a China se consolida, cada vez mais, como o maior competidor do mercado brasileiro de aço brasileiro.
Outro tema que difere ambos e merece destaque, sendo consequência direta dessa competição, é o foco das empresas brasileiras de siderurgia no fornecimento de produtos para o mercado interno, sendo esse a principal fonte de receita da CSN e o termômetro predominante da dinâmica do setor no âmbito nacional.
Principais mercados e indicadores
Construção civil e cimento. Ainda que a perspectiva para 2022 seja de um crescimento econômico menor, a atividade de construção civil no Brasil deve permanecer em patamares elevados, mas com tendência de arrefecimento. Ao olharmos o número de lançamentos residenciais em 2021, vemos um potencial de expansão do lado da demanda por aço, mas pressionado pelo aumento das taxas de juros no Brasil, enquanto as vendas caíram de modo mais acentuado no 3T21, mas também devendo permanecer em níveis satisfatórios para 2022.
Para o lado de cimentos, a perspectiva é positiva tendo em vista a maior demanda por materiais de construção com valores muito superiores relativamente ao período em questão, também acompanhado por um maior consumo aparente de cimento brasileiro com a típica queda de final de ano.
Setor automobilístico. Além dos impactos do Covid sobre a produção mundial de semicondutores e chips, a pandemia intensificou a utilização e direcionamento dos semicondutores para aparelhos eletrônicos que utilizam tecnologias mais avançadas, o que acabou gerando maiores lucratividades aos fornecedores de chips. Enquanto isso, os automóveis de modo geral utilizam chips de mais baixa qualidade, o que acabam tendo custos menores diminuindo as margens dos fornecedores, gerando uma falta de incentivo para expansão da capacidade produtiva para esse ramo e colaborou para a falta de chips no setor, impactando de forma significativa a produção global.
Assim, o setor deve continuar pressionado pela queda na disponibilidade de chips, por pelo menos até o fim do 1S22, com a situação começando a se reverter a partir do 2S22 mas ainda longe de se normalizar, de acordo com a perspectiva da CSN e de outras empresas como a General Motors.
Linha Branca. Entram nesta categoria os eletrodomésticos tradicionais e seu crescimento/retração está vinculado à renda da população de modo geral. Observamos que de modo geral os últimos meses do ano são os de maiores demanda, haja vista a coincidência com os benefícios trabalhistas e com eventos promocionais de final de ano que favorecem a compra de eletrodomésticos. Vale ressaltar que o auxílio emergencial de abril de 2020 impulsionou os meses subsequentes. A perspectiva é que esses números sejam impactados pelo aumento da taxa de juros, o que deve diminuir o ímpeto dos consumidores.
Linha Amarela. São máquinas que atuam em diferentes aplicações como a construção civil, movimentação de terra, armazenagem, terraplanagem, agronegócio, dentre outros. Os exemplos mais claros são retroescavadeiras, tratores, escavadeiras e empilhadeiras. Atualmente, um dos grandes pilares do desenvolvimento dessa linha vem da expansão do agronegócio, o que deve se manter ao longo de 2022.
PIB e PMI brasileiros. O crescimento do PIB indica as prerrogativas gerais do andamento da economia, exibindo como os diversos setores estão se desenvolvendo/retraindo com base nas atividades do país. Geralmente um crescimento da métrica vem acompanhado de expansão em infraestrutura e em obras, vinculadas ao setor de construção civil como discutimos anteriormente. O baixo crescimento do PIB mostra um cenário mais conturbado para 2022, corroborado por uma retração nos números do PMI de manufatura brasileiro (abaixo dos 50, a referência).
Como evidência da relação entre a produção siderúrgica e o crescimento do PIB, é interessante observamos como o consumo aparente de aços tanto plano quanto longo se relacionam com o indicador. É importante ainda notar as diferenças nos destinos de cada produto, que tendem a ser mais ou menos correlacionados com a riqueza do país.
Principais produtos
Aço Plano
Sua principal característica é a largura extremamente superior à espessura. Seus principais derivados são:
- Chapas grossas, são resultantes do processo de laminação a quente de placas de aço, atingindo ampla faixa de resistência mecânica em função da aplicação desejada. Usadas em infraestrutura, construções civil e naval, usinas, equipamentos rodoviários, etc;
- Aço laminado a quente, obtidos a partir da laminação de placas em alta temperatura num laminador de tiras a quente. Utilizado em construção civil, estruturas pesadas, implementos rodoviários, ferroviários e agrícolas, máquinas e equipamentos industriais, componentes de equipamentos eletrodomésticos, etc;
- Aço laminado a frio, provém do aço laminado a quente com alguns processos adicionais permitindo melhor acabamento. Utilizado nas indústrias automobilística e de autopeças, eletrodomésticos, embalagens, tubos de pequeno diâmetro e produtos do setor de construção civil e moveleiro;
- Aço galvanizado, produzidos a partir do aço laminado a frio e são empregados principalmente em veículos automotores, construção civil, eletrodomésticos, artigos eletrônicos, tanques de armazenamento e equipamentos agrícolas.
- Folha de Flandres. São bobinas/rolos de aço revestidos em uma ou ambas faces com camada de estanho metálica e óxido de cromo, aplicado por processo eletrolítico contínuo. Usado para produção de latas de aço, embalagens de alimentos, bebidas, óleos, tintas, produtos químicos, latas decorativas, pilhas elétricas, etc;
- Folha cromada. São bobinas/rolos de aço revestidos em as ambas faces com camada de óxido de cromo. São usados para embalagens estampadas para alimentos (pescado), tampas e fundos de latas sanitárias e latas em geral, embalagens para tintas, rolhas metálicas, formas de assar, etc.
Para efeitos de comparação frente às referências internacionais, geralmente observamos os preços do vergalhão turco (Turkish rebar) e da bobina laminada a quente chinesa (Chinese HRC), para termos uma dimensão do comportamento dos produtos brasileiros para os próximos períodos.
Aço Longo
Resultam de um processo de laminação à quente em alta temperatura de produtos intermediários (como tarugos e blocos de lingotamento contínuo). Suas seções transversais têm formato poligonal e seu comprimento é extremamente superior a maior dimensão da seção. Ofertados em aços carbono e especiais, englobando barra, haste e produtos estruturais.
- Vergalhões, usados para diversas aplicações em estruturas de concreto armado. Como exemplo temos o vergalhão CSN50 e o CSN25;
- Fio Máquina, material bobinado laminado a quente para a trefilação a frio de arame, usado na produção de peças por conformação a frio e em produtos de elevada resistência mecânica, como na construção civil e indústria;
- Perfil laminado, resistentes a quebra, mais duráveis. Usados como implementos rodoviários, agrícolas e em infraestrutura.
Como o aço é feito?
Alto Forno. O aço é produzido numa siderúrgica através do processamento de minério de ferro, carvão, coque e fundentes (como o calcário e a dolomita). O processo se inicia com a adição desses componentes no alto-forno, no qual durante este estágio o ar é soprado por compressores especiais, passando por um processo de aquecimento que entram pelas ventaneiras, promovendo a combustão do coque e do carvão injetados. Essa reação produz monóxido de carbono que reage com o oxigênio dos óxidos de ferro (os minérios), produzindo o dióxido de carbono e liberando o ferro. Na parte inferior do alto-forno, o ferro e as demais impurezas dos minérios são fundidos e se depositam em duas fases: 1) o ferro-gusa (composto principalmente de ferro e carbono na forma líquida, matéria-prima para fabricação do aço) e 2) a escória (constituída de óxidos de silício, alumínio, cálcio e magnésio, sendo utilizados para fabricação do cimento). Vale mencionar que o ferro-gusa ainda é um material ferroso sem aplicação direta por apresentar muitas impurezas, sendo necessários processos adicionais.
Carro-Torpedo. O ferro gusa ainda líquido é transportado via carro-torpedo para outra parte da usina, onde se encontra a aciaria (onde de fato haverá a transformação em aço). Neste carro, além do transporte há a adição de aditivos (sobretudo cal) com a liberação de gás sulfúrico (dessulfuração).
Aciaria. Através da utilização do Conversor (refino primário) é realizada a oxidação dos elementos químicos indesejados, tais como excesso de carbono, fósforo e enxofre, sendo tais elementos eliminados na forma de gás ou escória líquida. A etapa começa com um carregamento de sucata de aço dentro do conversor vindo acompanhado logo em sequência pela adição do gusa líquido e dos fundentes (a sucata permite um maior controle sobre a temperatura), enquanto que os fundentes são utilizados para que se diminua a temperatura de fusão das impurezas, facilitando na remoção de tais materiais auxiliando a formação da escória. Assim, após este processo, o metal líquido resultante já pode ser considerado aço, por constituir quantidades muito menores de impurezas, mas ainda necessitando certa correção para determinadas aplicações.
Forno Panela. Responsável pelo refino secundário, onde se dão as características finais dos diversos tipos de aço. Neste processo há a correção de algumas propriedades químicas via descarga elétrica proporcionada por eletrodos de grafite.
Lingotamento. Trata-se do processo de solidificação e conformação mecânica do aço, cujo nome vem de “lingote”, aço semi-acabado. Existem dois tipos principais para esta etapa: 1) o convencional, utilizando um molde para produzir o lingote e 2) o contínuo, forma mais eficiente de produção e adotado em cerca de 90% da produção de aço mundial. Neste caso, não há necessidade de moldes fixos para produzir o material sólido, sendo o aço produzido solidificado e conformado simultaneamente, produzindo peças em formatos intermediários facilitando a obtenção do produto final que será comercializado.
Após o aço líquido passar pela máquina de lingotamento contínuo, ela se solidifica na forma de placas. Com isso, dentro dos aços planos, na laminação a quente as placas provenientes do processo anterior são reaquecidas e reabastecem o laminador de tiras a quente, onde a espessura é reduzida. Assim, no fim do processo, a tira longa provinda de cada placa é enrolada (bobinada) para facilitar o transporte e o resfriamento.
Análise inicial CSN [CSNA3]
Recomendação: MANTER
Preço alvo: R$ 30,00
A CSN conhecida como Companhia Siderúrgica Nacional é uma empresa que atua desde a fabricação, transformação e comercialização de produtos siderúrgicos e dos subprodutos dela derivados, até às atividades de exploração a elas vinculadas, por exemplo mineração, cimento, construção, transporte, navegação, atividades portuárias, geração de energia, fabricação e montagem de estrutura metálicas dentre muitas outras. Ela ainda possui participação acionária em outras companhias, como na Usiminas.
É uma empresa altamente integrada, atuando em toda a cadeia produtiva do aço. Entre os seus produtos estão as bobinas, folhas metálicas, perfis e embalagens de aço. Dentre os setores que colaboram para as atividades da empresa, podemos resumir em: 1) mineração, 2) siderurgia, 3) cimento, 4) energia e 5) logística.
Valuation
Para a parte do valuation, foram feitas duas análises: uma usando DCF (Fluxo de caixa descontado) com peso de 50% e outra via Soma das Partes (SoP) com os 50% restantes.
No DCF foi utilizado um Ke = 14,2% (Custo de Capital), obtendo-se um WACC = 12,8% (Custo Ponderado Médio de Capital) e utilizando um g = 3,0% (Crescimento dos fluxos de caixa na perpetuidade). Assim, pelo DCF, o preço obtido foi de R$ 28,30/ação.
Na Soma das Partes, utilizamos os múltiplos EV/EBITDA 23E dos setores de siderurgia (4,3x), cimento (5,2x), ferrovia (6,0x), porto (6,2x) e geração elétrica (6,7x) após selecionarmos empresas comparáveis de cada segmento. Além disso, acrescentamos a participação da empresa na Usiminas e removemos a parte de eliminações conjuntamente com a dívida líquida da empresa. Por se tratar de uma holding, ela vem associada com um desconto que, no nosso caso, estimamos ser de 22% (obtido a partir da subtração do tamanho da CSNA3, subtraída da participação da CMIN3 e atribuindo um P/BV de 3,4x para as controladas remanescentes, usando dados do Damodaran para os setores de Metals and Mining). Com isso, obteve-se um preço de R$ 31,70/ação via SoP, o que juntamente com o DCF culminam num preço-alvo final de R$ 30,00/ação.
Projeções
Adotamos um cenário mais desafiador para 2022 para o ramo siderúrgico, com os dados de mineração refletindo o contexto atual e nossa perspectiva futura. A participação da siderurgia e mineração são preponderantes no resultado, com cimento ganhando mais relevância a partir de 2022, com a entrada da suas novas operações. Além disso, o nível de endividamento deve aumentar, mas com tendência de queda a partir de 2024. Quanto aos dividendos, adotamos o payout mínimo de 25%, provocando a curva de dividendos observada.
Pontos Positivos e Oportunidades
- Alta geração de caixa, com um FCF Yield 22E = 18,4% (Yield do Fluxo de Caixa Livre). Além disso, projetamos um Dividend Yield (DY) 22E =7,6%.
- Empresa negociada a múltiplos atraentes, com EV/EBITDA 22E = 2,9x, abaixo da média do período analisado e do histórico (~6x)
- Maior parte do resultado da companhia é dolarizada enquanto os custos são em grande parte em real, tendo em vista a grande participação da CSN Mineração dentro dos números da companhia, o que propicia uma alternativa para proteções cambiais. Em suma, desvalorização cambial é benéfica para o seu resultado;
- Preço do minério de ferro em preços elevados trazem fortes expectativas para os resultados da mineração;
- Crescimento significativo no segmento de cimentos, aumentando sua capacidade produtiva de 4,7 Mtpa para 6,0 Mtpa (aquisição concluída da Elizabeth Cimentos), com processo em andamento para atingir 16 Mtpa (aquisição da LafargeHolcim em análise pelo Cade) e futuros projetos que almejam alcançar 26 Mtpa. Isso tudo aliado ao preço do cimento em níveis recordes;
Riscos e Desafios
- Setor siderúrgico pode sofrer impactos negativos com base no crescimento do PIB brasileiro, gerando um menor consumo aparente de aço. Além disso, o cenário mais desafiador com a subida de juros devem diminuir a demanda de modo geral, um cenário mais desafiador para 2022.
- Historicamente a empresa possuía altos níveis de alavancagem, com Dívida Líquida/EBITDA 17 = 5,6x que a empresa vem buscando reduzir ao longo dos anos, atigindo DL/EBITDA 21E = 0,8x. Projetamos para DL/EBITDA 22E = 0,9x com redução a partir de 2024, porém se os resultados se deteriorarem, esse número pode voltar a crescer;
- Como uma faca de dois gumes, uma valorização cambial do real frente ao dólar deteriora os números da companhia;
- Com a grande dependência da situação macroeconômica da China, tendo em vista ser a grande importadora de minério de ferro da CSN Mineração, a empresa é fortemente exposta aos eventos do país;
- Impactos inflacionários, no que se refere à importação de carvão e coque, ao aumento do preço do petróleo e de energia têm afetado negativamente os números da empresa, que acompanhados por um volume menor de produção, acabaram aumentando o custo por tonelada produzido.
- Cenário macroeconômico, com aumento dos juros diminuindo o ímpeto de consumidores do lado do varejo (potencialmente prejudicial para cimentos) e para continuidade de obras (afetando construção civil).
Agora, vamos discutir mais a fundo os 5 principais segmentos que compõem a CSN.
1) Mineração
Minério de Ferro
O segmento de mineração é marcado sobretudo pelas operações da CSN Mineração (CMIN3), cujas informações se encontram no Relatório de Início de Cobertura CMIN3. De forma simplificada, ela provém todo o minério de ferro necessário para impulsionar a siderurgia da CSN, o que indiretamente também afeta o segmento de cimento, como explicaremos adiante. A mineração depende das minas Casa de Pedra, Mina do Engenho e da Planta de Beneficiamento de Pires, contando com projetos de expansão ambiciosos para os próximos anos.
Ainda neste segmento, a CSN controla a Minérios Nacional S.A., detendo a Mina de Fernandinho nas cidades de Itabirito, Rio Acima e Nova Lima (MG). A mina possui capacidade anual de processamento de 700 Kt.
A empresa ainda possui o direito de exploração do terminal TECAR, nos termos de contrato de arrendamento no Porto de Itaguaí (RJ).
Calcário e Dolomita
A mineração Bocaina, mina de calcário em Arcos (MG), é responsável pelo suprimento de aproximadamente 2,5 Mt de calcário calcítico e dolomítico, fundentes consumidos pela companhia na produção de aço na UPV (Usina Presidente Vargas), em Volta Redonda (RJ). Tal mina é também encarregada de fornecer calcário não-siderúrgico para a fabricação de clínquer utilizado na produção de cimento. Ela possui capacidade instalada de produção de 12 Mt, com reservas de calcário e dolomita para suprir as produções de aço e cimento (aos níveis atuais), por aproximadamente 36 anos.
Tais materiais produzem o cal, utilizados na aciaria e no processo de sinterização. Na aciaria ela é utilizada no controle químico da escória para preservando os conversores e auxiliando no controle dos processos que ocorrem na fabricação do aço. Já na sinterização, a cal aumenta a performance da reação e da qualidade final do produto, o sínter, composto por finos de minério, combustível sólido e fundentes. O sínter é utilizado em altos-fornos como fonte de ferro para produção de gusa.
Estanho
Matéria-prima essencial para produção de folhas de flandres, produzido pela controlada Estanho de Rondônia S.A (ERSA), com capacidade de produção de cerca de 3,6 Ktpa. O estanho produzido pela ERSA é consumido pela companhia na produção de folhas de flandres na UPV. Em 2020, foram transferidas cerca de 419 ton de estanho para UPV.
2) Siderurgia
Com seus diversos formatos e funcionalidades e dotado de um alto valor agregado, o aço, produto da siderurgia, é capaz de atender muitas das necessidades de importantes setores da economia, sendo possível destacar seus diversos usos na construção civil, no mercado automotivo, nos produtos da linha branca (eletrodomésticos) e linha amarela (máquinas agrícolas), bens de capital (OEM) e na produção de embalagens metálicas.
Referência no setor siderúrgico brasileiro, a CSN vem se consolidando como uma das maiores produtoras de aço no território nacional e isso se deve, em grande parte, à sua ampla capacidade produtiva gerida por unidades de negócio e logística espalhadas pelo Brasil e pelo mundo.
Detentora de 5 linhas de galvanização no Brasil (em Volta Redonda (RJ), Porto Real (RJ) e Araucária (PR)), além de 3 controladas no exterior, sendo elas: a Lusosider Aços Planos S.A. em Portugal (responsável por processos de laminação a frio, decapagem e galvanização), a Stahlwerk Thüringen GmbH na Alemanha (conhecida como SWT, ela atua principalmente na produção de perfis de aço), a Companhia ainda possui como um de seus principais ativos a UPV ou Usina Presidente Vargas (RJ). Situada em Vota Redonda, a UPV possui uma capacidade de produção instalada de aproximadamente 5,2 Mtpa de aços planos e 0,7 Mtpa de aços longos.
Diante de um setor de dinâmica complexa e constantemente associado a diversos produtos e segmentos, entender o processo produtivo realizado pela CSN e suas controladas é de fundamental importância para que se possa analisar as operações da empresa e assim, entender suas vantagens e desvantagens competitivas. Assim, visando estabelecer essa conexão, iremos descrever todo o procedimento que abrange tanto os insumos (como minério de ferro e o coque) quanto o produto final.
Em um primeiro momento, das minas Casa de Pedra e Engenho em Congonhas (MG) é extraído o minério de ferro que será transportado pela MRS Logística até a UPV, onde se iniciam os processos de beneficiamento e manipulação da commodity. Além do minério, é importante destacar o coque, sendo esse um dos principais insumos importados pela Companhia por meio do porto TECAR (RJ), para que possa ser utilizado em substituição aos carvões siderúrgicos brasileiros de qualidade muito baixa.
Ademais, um outro insumo fundamental para a produção do aço são os fundentes, como por exemplo o calcário e a dolomita, que são misturados ao coque e ao minério de ferro visando produzir o sínter, que, nos altos-fornos, é novamente alimentado de fundentes junto ao minério granulado e o coque para promover a maior retirada possível de impurezas do material que será aproveitado.
Passado esse procedimento inicial, o que se segue é o processo siderúrgico tradicional composto pela aciaria e pelo lingotamento, para que assim o ferro gusa seja transformado em um produto de aço com dimensões e funções específicas, enquanto a escória produzida é reutilizada (após os devidos tratamentos) na indústria do cimento.
Por fim, vale salientar que todos os equipamentos utilizados pela Companhia passam por manutenções preventivas regulares, que são realizadas em períodos de tempo pré-determinados visando mitigar os riscos, como por exemplo a manutenção dos alto-fornos que é projetada para acontecer com uma frequência semestral ou anual, de acordo com as necessidades
3) Cimento
A companhia produz cimento nas suas fábricas em Volta Redonda (RJ) e Arcos (MG) através das matérias-primas clínquer, gesso, calcário e escória. Vale lembrar que a escória é produzida como subproduto das operações siderúrgicas, sendo reutilizada para a formação do cimento. Ainda a empresa utiliza o clínquer produzido nos fornos especializados em Arcos, de onde ela reaproveita o calcário existente na mina do mesmo local.
A empresa passa por um processo de aumento da capacidade produtiva, com a aquisição da Elizabeth Cimentos que foi adicionada à base no final do 3T21, indo de 4,7 Mtpa para 6,0 Mtpa. Além disso, ela planeja também a adição das operações da LafargeHolcim que se encontra sob análise do Cade e que deve ter seu veredito no 2S22, o que por sua vez, adicionaria cerca de 10,3 Mtpa, levando a empresa à capacidade de 16,3 Mtpa, a segunda maior atrás apenas do grupo Votorantim.
A perspectiva para o setor é boa, tendo em vista as massivas obras de infraestrutura que devem ser realizadas com base nas concessões de infraestrutura, além dos novos marcos regulatórios de água e saneamento, de telecomunicações e de gás natural.
É importante ressaltar ainda que grande parte do cimento produzido é destinado para o mercado interno, sobretudo nas distribuições via varejo (materiais de construção), sendo comercializado sobretudo nos estados do RJ, MG e SP, sendo tais itens transportados via serviços da MRS e da rede rodoviária.
4) Energia
Sistema que alimenta toda a rede industrial da companhia, marcada sobretudo pela Usina Hidroelétrica (UHE) de Itá (SC), a UHE de Igarapava (MG) e o Complexo Termoelétrico da UPV (RJ). Tais operações também permitem a comercialização do excedente energético para terceiros. Além disso, a CSN trabalha para incentivar o uso eficiente de energia, com melhoria contínua no uso energético nas várias etapas de produção.
5) Logística
A empresa conta com um sistema logístico altamente integrado, com destaque para suas via ferroviárias e portuárias.
Ferrovias. A companhia conta com para a participação em 3 companhias ferroviárias: 1) a MRS Logística, contendo 18,64% de sociedade, cujo principal segmento de atuação da companhia é no transporte de cargas vinculadas à mineração (minério, carvão e coque), operando no eixo RJ-SP-BH. A partir dela, a totalidade desses recursos são transportados para a UPV, além de parte da produção do aço ser escoada pela sua ferrovia. 2) a Ferrovia Transnordestina Logística (FTL), onde a CSN possui 92,38% de participação percorrendo estados do Norte e Nordeste, cujas principais cargas são combustível, cimento, alumínio, minério, etc. 3) a Transnordestina Logística S.A. (TLSA), projeto que interligará os Portos de Suape (PE) e de Pecém (CE) com a ferrovia Eliseu Martins (PI), passando por diversas cidades pelo caminho. A expectativa é que tal projeto possua papel relevante no desenvolvimento do NE criando opções logísticas para diversos setores da região.
Portos. A Sepetiba Tecon, controlada da CSN, administra o terminal STSA do Porto de Itaguaí, transportando diversos contêineres, produtos siderúrgicas, cargas gerais e granéis sólidos.