Aeris reportou dados em linha com as nossas expectativas, com receita crescendo em relação ao trimestre anterior e muito próxima ao que projetávamos, EBITDA e margem EBITDA piores e um prejuízo menor que o esperado. Além disso, a empresa anunciou que fará uma oferta primária de 476 milhões de ações, ao preço de R$ R$0,84 por ação, mirando uma captação de R$ 400 milhões. Embora os dados operacionais em si não sejam ruins, três pontos negativos chamaram a nossa atenção:
i) A Companhia segue apresentando queda no potencial de ordens contratadas.
ii) Mais um trimestre marcado pela queima de caixa e aumento da alavancagem (3,0x vs. 2,8x no 2T23)
iii) Redução nos preços de venda das pás, algo que contribuiu negativamente para as margens operacionais.
Importante dizer que o aumento da base de comparação do EBITDA LTM, não foi o suficiente para contrabalancear o consumo de caixa do trimestre e por isso houve uma aumento na alavancagem da companhia.
A conjuntura atual apresenta desafios. Um desses pontos é a diminuição do potencial de novas ordens contratadas. As grandes OEMs têm sido reticentes em colocar novos pedidos no Brasil, principalmente para capacidade com destino a exportação. Exceto Vestas, as montadoras estão com pouca margem de erro para suportar defeitos ou avarias durante o transporte, o que limita a retomada dos volumes de pás no mercado externo para a empresa.
Com volumes baixos em 2024, apesar do cronograma de amortização de dívida confortável, a companhia atingiria os limites de convenants devido à redução abruta do EBITDA, o que poderia ocasionar uma renegociação com os credores e debenturistas. Como alternativa, assim como já havíamos antecipado em nossa prévia de resultados, a empresa poderia recorrer a uma oferta primária de ações e isso se concretizou. Segundo a companhia, o dinheiro será utilizado para otimizar a estrutura de capital e reduzir sua alavancagem, além de cumprir com as obrigações de pagamento em 2024.
Seguimos com nossa recomendação de MANTER e preço-alvo de R$ 0,90.
Follow-on: 2024 será um ano dificil, melhor estar preparado!
O follow-on de R$ 400 milhões será utilizado para preparar a Aeris para o ano desafiador de 2024 além de amortizar as dívidas. Para os acionistas minoritários que não participarem da oferta, haverá uma diluição significativa em sua participação acionária, estimada em 62%.
A oferta primária é garantida pelo BTG Pactual. A família Negrão, que tem aproximadamente 60% da Companhia, passou seu direito de preferência para o BTG, que também se comprometeu a absorver a oferta caso não tenha demanda de outros acionistas. O banco montou um estrutura conhecia como collar, onde basicamente vendeu uma call e comprou uma put. Em um cenário em que ele passe a deter um volume relevante de ações da oferta, o BTG está limitando seus ganhos e suas perdas.
Em dois anos, a família terá a opção de recomprar as ações por R$ 2,00, enquanto o BTG poderá exercer seu direito de venda por R$ 1,20. Ou seja, no pior dos cenários, o BTG assegurou um retorno de ~43% e no melhor dos cenários um retorno de ~140%, dado o preço da oferta de R$ 0,84.
Embora pouco provável, existe um cenário que nos preocupa. Caso a família Negrão não entre na oferta, sua participação na Aeris cairá para 37%, e caso o BTG precise “encarteirar” toda a oferta, ele passará a ser o maior acionista da Companhia.
Análise Quantitativa
O 3T23 totalizou um valor de R$ 886 milhões de receita líquida (+41,6% a/a e +3,7% t/t), ficando em linha com nossas expectativas e 36,3% acima das estimativas do mercado. O EBITDA no trimestre somou R$ 78 milhões (+20,7% a/a e -14,2% t/t), ficando 5,5% abaixo das nossas expectativas e em linha com o consenso do mercado. A margem EBITDA no 3T23 ficou ligeiramente abaixo das expectativas, atingindo 8,8% em comparação com a expectativa de 9,2%. A Companhia reportou um prejuízo líquido de R$ 29 milhões, menor que as nossas expectativas de R$ 33 milhões e maior que o de R$ 10 milhões esperado pelo mercado.