“Cheguei, amor. A feira do mês custou apenas 1 salário mínimo.”
O que esperar para os resultados do Assaí (ASAI3), Carrefour (CRFB3) e Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) no 1T22? Um conflito geopolítico entre a Rússia e a Ucrânia, que não dá sinais de ter um desfecho no curto prazo, e uma inflação mundial em ascensão, o cenário não é dos melhores para o varejo, que precisa fazer um jogo de cintura para manter suas margens equilibradas.
Diante de um menor poder aquisitivo do brasileiro médio, até as empresas que vendem mercadorias menos elásticas estão sofrendo maiores pressões em suas margens. Você, como consumidor, já deve ter sentido isso no bolso.
Mas e os supermercados, será que a inflação dará um “golpe sangrento” nos números do 1T22? Atacarejo ainda será o modelo “vencedor” no período? Fomos investigar os principais números do varejo de supermercado no 1T22 e trazemos aqui no Genial Analisa em primeira mão.
Entenda melhor o cenário para o varejo de supermercado
O varejo de supermercado tem sido bastante impactado pelo cenário de alta da inflação, e o brasileiro médio sentiu esse “peso pesado” dentro do bolso. No gráfico abaixo, podemos ver como ficou 14% mais caro consumir uma cesta básica, em uma base de comparação anual.
Nesse cenário altamente inflacionário, o modelo de atacarejo tem ganhado ainda mais relevância no dia a dia do brasileiro. A lógica por trás do sucesso desse modelo é que ao vender um volume maior de mercadoria, as empresas conseguem reduzir os preços unitários, uma vez que as despesas da loja são distribuídas e ficam menores por quantidade de item vendido.
Ou seja, por reduzir os preços, o atacarejo comprime a margem bruta, em troca de volume de vendas. Geralmente, esse modelo trabalha com menores quantidades de SKUs (produtos únicos) e foca em preços mais competitivos.
Outro modelo que tem crescido bastante são as unidades de proximidade. Você já deve ter se deparado com a notícia de que Grupo Pão de Açúcar abriu mão do Extra Hiper para investir mais no modelo proximidade. A alta rentabilidade e margens desse modelo justificam os investimentos das varejistas para crescer através dessa via.
No gráfico abaixo, conseguimos enxergar a evolução dos canais de vendas que tem crescido nos últimos meses.
O que esperamos para o trimestre?
A tabela abaixo resume nossas principais linhas de estimativas para o trimestre. A seguir, abriremos caso a caso, vamos lá?
Assaí (ASAI3)
Entre as empresas do varejo de supermercados sob nossa cobertura, o Assaí será a última a reportar seus resultados (9 de maio, após o fechamento do pregão).
Divulgado em 19 de abril, o resultado não auditado do Assaí mostrou que a atacadista conseguirá subir sua primeira linha do balanço, referente à receita bruta, em 21% a/a. Mesmo diante dos movimentos de tradedown dos consumidores, o número é uma conquista da alta performance das 32 lojas inauguradas nos últimos 12 meses.
Dado o cenário macroeconômico, não acreditamos que a linha de lucro bruto siga a mesma trajetória de forte alta, em comparação anual. A forte maturação de lojas inauguradas permitirá que o Assaí use parte de sua margem bruta para financiar mercadorias mais baratas e atrair maior fluxo à sua loja. Lembra do que falamos sobre o modelo de atacarejo ali em cima?
Estimamos que a margem bruta do Assaí deve ficar próximo a 16%, nível semelhante da margem no 1º trimestre de 2021.
Das 32 lojas inauguradas nos últimos 12 meses, 21 delas foram inauguradas no 4º trimestre do ano passado, e mais 4, agora, no 1º trimestre. Tendo isso em mente, enxergamos que as despesas operacionais sofram na comparação ano a ano.
Como consequência do aumento das despesas operacionais, esperamos uma compressão de margem EBITDA ajustada em torno de 70 pontos base, em relação ao 1T21, atingindo cerca de R$ 700 m.
Por fim, estimamos um lucro líquido de R$ 236 m, com a margem líquida sofrendo uma compressão de 40 pontos-base ano a ano, impactada por um aumento das despesas financeiras com as novas captações de R$ 3 b no último trimestre.
Carrefour (CRFB3)
O Grupo Carrefour irá divulgar seus resultados para o 1º trimestre no dia 5 de maio, após o encerramento do pregão.
O Carrefour também divulgou um release de vendas do 1T22 no dia 19 de abril. Em dados não auditados, o grupo observou uma alta de 14,5% a/a nas vendas do 1º trimestre deste ano. O maior destaque de faturamento (e crescimento) continua sendo seu braço de atacarejo, o Atacadão, que teve um “empurrãozinho” das vendas online, que já totaliza 2,3% das vendas totais deste modelo alimentar.
Apesar da recuperação do Carrefour varejo, que cresceu com uma taxa tímida de 1% a/a, esperamos que esse modelo siga com margens pressionadas nesse 1º trimestre, de forma a manter preços competitivos no setor.
Esperamos uma compressão de 50 pontos-base na margem EBITDA do Grupo Carrefour, atingindo cerca de 6,2% no 1T22. A margem líquida deve sentir uma pressão de 30 bps, a 2,2%.
Grupo Pão de Açúcar (PCAR3)
O Grupo Pão de Açúcar (GPA) irá reportar seus números para o 1T22 nessa quarta-feira, 4 de maio, após o encerramento do pregão.
Após o desinvestimento do modelo de hipermercados, o GPA tem um plano de abrir cerca de 100 lojas de Pão de Açúcar até 2024, sendo 15 unidades advindas das conversões das “ex hipermercados Extra” que sobraram após a transação para o Assaí. A companhia também tem planos de abrir 100 lojas de proximidade até 2024.
GPA Brasil
Focando no 1º trimestre de 2022, o GPA teve um caminho difícil a percorrer. E por quê achamos isso? Bom, basicamente, foi um trimestre difícil para o modelo de seu grande carro-chefe, Pão de Açúcar, com os supermercados premium’s sofreram forte queda nesse trimestre.
Durante o 1T22, o GPA sofreu uma ruptura de sua cadeia logística, decorrente de um ajuste de sua malha após a venda de suas unidades de hipermercados. Com o desinvestimento, o Pão de Açúcar agora corresponde a metade do faturamento do GPA Brasil – o que por si só já sinaliza um trimestre fraco para o grupo. No entanto, apesar da queda, ainda estimamos que o Pão de Açúcar conseguiu “outperformar” em relação ao setor inserido.
O grande destaque continua a ser as unidades de proximidade, que inclui o Minuto Pão de Açúcar e Minimercado Extra. No entanto, apesar do crescimento ano contra ano, vale lembrar que a representação destas unidades ainda são pequenas ante os demais.
Olhando para a operação do novo GPA Brasil, estimamos uma margem bruta de 26,7%, estável em relação ao ano passado.
A linha que devemos prestar atenção para o trimestre são as despesas operacionais. O GPA ainda está em processo de afinar algumas linhas após a venda de seus hipermercados como, por exemplo, os gastos com transferência de estrutura, com a malha logística e custos com o TI. Acreditamos que maiores gastos G&A (Gerais e Administrativos) devem causar um impacto na margem EBITDA ajustada nesse trimestre.
Para esse 1T22, estimamos a margem EBITDA ajustada em 8,1%, o que representaria uma queda de 12,5 pontos-base na comparação anual.
Grupo Éxito | América Latina
Esperamos uma queda de 70 pontos-base na margem bruta, ano contra ano. Para isso, consideramos alguns eventos sazonais, são eles: (i) o Aniversário do Éxito; (ii) o 1º dia sem IVA (Imposto sobre Valor Agregado), que aconteceu em 11 de março deste ano; e (iii) investimento em preço na Colômbia, operação bem representativa no faturamento da América Latina.
A margem EBITDA também deve seguir pressionada, caindo 100 bps e atingindo 7,2% no período.