ASSAÍ

    Ações > Supermercado > ASSAÍ > Relatório > Monitor do Varejo Alimentar: 2ª ed. | A inflação veio para ficar

    Publicado em 15 de Julho às 17:23:27

    Monitor do Varejo Alimentar: 2ª ed. | A inflação veio para ficar

    Este é o segundo relatório de monitoramento do varejo alimentar. O nosso objetivo é de fornecer insights do que está acontecendo no setor, analisando as principais mudanças em preço e volume, trimestre após trimestre.

    👉 Você pode visualizar o nosso primeiro relatório clicando aqui.

    A 2ª edição do Monitor de Varejo alimentar traz duas novidades. A primeira diz respeito a alteração de metodologia – deixamos de usar como índice de referência o IPCA e passamos a utilizar o IPCA-15 (discutiremos o motivo no tópico subsequente).

    A segunda novidade é que, nesta edição, a célula de Varejo e a de Agro trabalharam em conjunto para trazer uma perspectiva de commodities e impacto no varejo alimentar.

    📧 Espero que gostem da novidade! Sugestões e feedbacks podem ser enviados para varejo@bancoplural.com.

    Alteração de metodologia

    Dado o delay de divulgação entre o IPCA e o IPCA-15, resolvemos alterar o indicador utilizado para a análise de nosso report trimestral. A partir de agora, utilizaremos a prévia da inflação, IPCA-15.

    Mensurado pelo IBGE, a principal diferença entre os dois indicadores é o período de coleta de dados. Enquanto o IPCA pega o mês cheio, o IPCA-15 colhe os preços de serviços e produtos entre a segunda quinzena do mês anterior e a primeira quinzena do mês atual.

    A Figura 1 esquematiza a direção da inflação alimentar em domicílio, sob as duas perspectivas. Observe que o IPCA-15 tende a antecipar o movimento consolidado pelo IPCA, a diferença entre os dois índices se dá pela magnitude no período em questão. 

    Figura 1: Inflação de Alimentos em Domicílio (visão do IPCA e IPCA-15), elaborado pela Genial a partir de dados do IBGE.

    ‘Sobe e Desce’ do Varejo Alimentar: qual subcategoria inflacionou/deflacionou no período?

    De mar/24 à jun/24, a subcategoria “Tubérculos, raízes e legumes” foi a que mais cresceu, saindo de +23,2% a/a para +44,3% a/a.

    Apesar de o Top 3 de maiores subcategorias com caráter inflacionário se manter o mesmo em relação ao 1º trimestre de 2024, devemos frisar o avanço de Frutas ao longo dos últimos meses, saindo da 3ª posição para a vice-liderança de maior crescimento a/a (+19,3% a/a vs. 13,3% a/a no trimestre anterior).

    Compilamos o desempenho de todas as subcategorias na Figura 2.

    Figura 2: Variação de preço das subcategorias de Alimentação em Domicílio, elaborado pela Genial a partir de dados do IBGE.

    Quando analisamos ao nível item (Figura 3), produtos como cebola, batata-inglesa e tangerina apresentam os maiores crescimento a/a (top 3 anteriormente ocupado pelo morango, pepino e abobrinha). Por outro lado, fígado, feijão-carioca e peixe-palombeta são os itens de maiores deflação a/a.

    Figura 3: Inflação dos principais itens na visão sequencial (10 maiores e 10 menores variações no trimestre), elaborado pela Genial a partir de dados do IBGE.

    SSS vs. Inflação alimentar

    E agora, qual é a direção?

    Overview e perspectivas das principais commodities agrícolas

    Na safra 2023/2024, testemunhamos uma dinâmica desafiadora para o setor agrícola. O El Niño, que historicamente afeta o nordeste do Brasil, desta vez impactou a região do cerrado, como o Mato Grosso (MT), a área mais produtiva do país que geralmente não enfrenta perturbações climáticas significativas.

    Agora, o processo de transição do fenômeno El Niño para La Niña está em curso.

    Para a safra 2024/2025, as empresas agrícolas esperam um cenário mais robusto, com a perspectiva de um La Niña de baixa intensidade. Este fenômeno será muito bem-vindo para reverter a situação anterior de quebras de safra. Em primeira análise, esperamos que a transição do El Niño para o La Niña favoreça o cultivo da soja, com chuvas mais distribuídas ao longo do ciclo, proporcionando um padrão pluviométrico mais adequado para a segunda safra.

    👇 A seguir, analisamos a tendência para as três principais commodities que impactam o varejo alimentar: soja, arroz e trigo.

    Soja

    Anualmente, o Brasil é responsável por cerca de 42% da produção mundial de soja, alcançando aproximadamente 140 milhões de toneladas/ano.

    Apesar da baixa produtividade das primeiras colheitas da safra 23/24 no Brasil e do ritmo acelerado das exportações, os quais poderiam contribuir positivamente para a elevação de preços da commodity, o cenário atual ainda é marcado por uma maior disponibilidade de soja no MERCOSUL e uma demanda interna enfraquecida.

    Com isso, os preços da soja continuam sendo negociados em um baixo patamar − e não enxergamos uma perspectiva de melhora de preços no curto prazo.

    Vale destacar que a China é um grande importador da commodity, utilizando-a no esmagamento e transformação em farelo para ração animal e óleo de cozinha. Nos últimos meses, vemos o player asiático reduzindo o apetite de consumo interno e aumento o escoamento do farejo de soja mundo à fora – ou seja, uma maior oferta junto à uma menor demanda.

    A perspectiva de curto prazo não sugere melhorias, especialmente com a chegada do La Niña, o que promete uma supersafra de soja em breve.

    Impacto Rio Grande do Sul. A soja é um dos principais produtos agrícolas do Rio Grande do Sul, que enfrentou enchentes no final do ciclo da safra de verão, afetando parte significativa da colheita já realizada. No entanto, a maior área plantada e a maior produtividade em outros estados devem compensar a pressão nos preços sobre essa commodity.

    Figura 4: Comparação entre a tendência do preço spot da soja no mercado Chicago/Illinois e inflação de alguns produtos que utilizam a soja como matéria-prima no Brasil, elaborado pela Genial a partir de dados do IBGE (IPCA-15) e Bloomberg.

    Arroz

    Anualmente, o Brasil produz em média 7,5Mt de arroz, cerca 1,0% da produção mundial.

    Impacto Rio Grande do Sul. Os gaúchos são responsáveis por 74% da produção nacional de arroz. Segundo a Conab, cerca de 17% da área destinada a plantação de arroz não havia sido colhida antes do evento e aproximadamente 8% da plantação foi atingida pelas enchentes.

    Apesar de uma inflação de 30,0% nos preços de arroz nos últimos 12 meses, o consenso de mercado é que, aos poucos, o mercado de arroz em casca do sul deverá voltar à normalidade –

    Na visão Brasil, com uma maior importação da Tailândia e Paraguai somada à conversão de parte dos produtores de milho e de soja para a produção de arroz no Centro-oeste e em parte do Nordeste, deve aliviar o preço de arroz nos supermercados ao longo dos próximos meses.

    Em perspectiva global, a safra 24/25 deve ser de maior oferta, com produção recorde no Paquistão e Filipinas.

    Figura 5: Comparação entre a tendência do preço spot do arroz branco na Tailândia e inflação de alguns produtos que utilizam o arroz como matéria-prima no Brasil, elaborado pela Genial a partir de dados do IBGE (IPCA-15) e Bloomberg.

    Trigo

    Ao analisarmos a tendência para o trigo é importante levar em consideração 6 grandes players: União Europeia, China, Índia, Rússia e Argentina.

    Apesar do Brasil ser um grande importador de trigo na Argentina, o qual de acordo com os números divulgados pela bolsa de Rosário, deve apresentar uma safra recorde, ~21Mt, as outras regiões devem pressionar o preço da commodity ao longo dos próximos meses.

    Na Europa, vemos complicações climáticas na França (maior exportadora de trigo soft) e na Alemanha. O momento da safra Russa, também, é bastante complicado, sofrendo com um excesso de calor. Ucrânia deve contribuir negativamente para a oferta, com uma redução de produção da commodity.

    Diante desse cenário conhecido até aqui, acreditamos que o preço do trigo pode ter chegado ao bottom devido às condições climáticas adversas nos grandes países produtores. Para frente, existe uma assimetria de alta.

    Impacto Rio Grande do Sul. Sazonalmente, o plantio de trigo acontece ao final do mês de maio e vai até o mês de julho. Contudo, entendemos que as enchentes devem atrapalhar o plantio da commodity e, consequentemente, diminuir a área plantada, dado o excesso de umidade no solo. Uma menor produtividade poderia colocar em questão o aumento de preços de produtos dessa commodity.

    Figura 6: Comparação entre a tendência do trigo Kansas City Index e inflação de alguns produtos que utilizam o trigo como matéria-prima no Brasil, elaborado pela Genial a partir de dados do IBGE (IPCA-15) e Bloomberg.

    O impacto e a direção da inflação alimentar

    A inflação de alimentos atingiu o seu vale em out/23. Na época, a categoria alimentar em domicílio apresentava uma deflação de 1,1% a/a (visão acumulada 12m), enquanto o índice de inflação geral avançava 5,1% a/a − puxado principalmente pelo aumento de preços em energia elétrica, combustíveis, transporte e serviços de saúde.

    Após outubro, mês após mês, assistimos o El Niño impactar principalmente os preços de alimentos in natura (i.e., produtos que apresentam um processamento mínimo na indústria).

    Em abr/24, quando a categoria parecia ter atingido o pico máximo e o mercado sinalizava uma normalidade à frente, surgiu no horizonte um evento de natureza exógena: a catástrofe climática do Rio Grande do Sul.

    Ainda não é conhecido o real impacto das enchentes sobre a inflação ao consumidor, mas é inegável que o evento deve distorcer a cadeia de oferta e demanda de alguns produtos.

    Algo parecido aconteceu durante a pandemia, porém em uma escala bem maior. Na época, os consumidores viram os preços de bens essenciais, como alimentos e medicamentos, crescerem em uma taxa de duplo dígito.

    Vale destacar que o Rio Grande do Sul é um importante produtor agropecuário para o Brasil, se destacando no cultivo de arroz, soja e milho, assim como também é um polo considerável para a criação de rebanhos bovino, galináceo e produção de leite.

    Ao considerarmos os efeitos de (i) um El Niño mais forte que o esperado, somado (ii) à antecipação do La Niña para julho e setembro de 2024, (iii) à catástrofe climática no Rio Grande do Sul e (iv) à escalada do dólar, acreditamos que exista uma perspectiva de aumento nos preços do segmento alimentar ao longo do 2º semestre do ano.

    Na Figura 7 é possível observar que jun/24 pode ser o ‘divisor de águas’ para o segmento alimentar − o qual deve voltar aos holofotes como um dos maiores contribuintes para a inflação ao consumidor no ano, se tornando um risco adicional para o radar do Copom na condução de política monetária para ancorar as expectativas de 2025.

    Diante do já exposto, entendemos que existe espaço para que a inflação alimentar encerre 2024 um pouco acima de 5,0% (vs. IPCA Est. Genial em 4,1% para o ano).

    Figura 7: Comparação entre o IPCA-15 Geral e inflação do segmento Alimentos em Domicílio, elaborado pela Genial a partir de dados do IBGE.

    Acesse o disclaimer.

    Leitura Dinâmica

    Recomendações

      Vale a pena conferir