Este é o primeiro relatório de monitoramento do varejo alimentar. O nosso objetivo é de fornecer insights do que está acontecendo no setor, analisando as principais mudanças em preço e volume, trimestre após trimestre.
Desde out/23, assistimos a sequenciais aumentos de preços de alimentos nas gôndolas de supermercados, um reflexo direto do fenômeno climático El Niño – o qual trouxe temperaturas mais altas para o Brasil, com excesso de chuvas no Sul e Sudeste e estiagem no Norte e Nordeste do país.
Analisando a inflação da categoria “Alimentos e Bebidas” acumulada do primeiro trimestre ao longo dos últimos 20 anos é possível observar a dinâmica para o 1T24 está acima da média observada durante o período (Figura 1) – em 2,9% no período vs. 2,3% (média dos últimos 20 anos) e 2,5% (média dos últimos 4 anos).
Figura 1: Inflação de Alimentos e Bebidas acumulada no primeiro trimestre de cada ano (IBGE/Elaborado pela Genial).
Desconsiderando os efeitos de expansão de lojas, ao longo do 4º trimestre, a Receita Bruta das companhias do setor de varejo alimentar foi impulsionada unicamente pela variável “volume”, uma vez que, ao fim do período, ainda passávamos por um cenário de deflação alimentar.
De deflação para inflação − quase 2,5x o IPCA geral. Para este 1º trimestre de 2024 acreditamos que o fator “preço” deve voltar aos holofotes, dando um impulso no faturamento das empresas no período.
‘Sobe e Desce’ do Varejo Alimentar: qual subcategoria inflacionou/deflacionou no período?
A caráter inflacionário, as subcategorias “hortaliças e verduras” (+26% a/a) e “cereais e oleaginosas” (+16% a/a) constituem as maiores altas do índice. Por outro lado, em caráter deflacionário, “óleo e gorduras” (-14% a/a) e “carnes” (-9% a/a) são as maiores baixas do 1º trimestre de 2024. Na Figura 2 reunimos os desempenhos de todas as subcategorias.
Figura 2: Variação das principais subcategorias de inflação alimentar em domicílio (IBGE/Elaborado pela Genial).
Quando analisamos ao nível item (Figura 3), produtos como abobrinha, morango e cenoura tiveram os maiores crescimento t/t, enquanto cebola, coentro e batata-inglesa apresentaram as maiores quedas sequenciais.
Figura 3: Inflação dos principais itens na visão sequencial (10 maiores e 10 menores variações no trimestre).
Inflação alimentar versus volume: evolução dos players nos últimos trimestres
Ao analisarmos o comportamento de preço e volumes, as dinâmicas nos últimos anos têm se consolidado em direções inversas.
Entre 2021 e 2022, frente a um alto nível de inflação na categoria alimentar (i.e. > 10% a/a), observamos uma queda nos volumes vendidos entre os principais players do setor. Por outro lado, ao final do ano passado, quando passamos a viver um cenário de deflação na categoria, observamos uma gradual recomposição dos volumes de venda.
Quando falamos de ‘Atacarejo’, geralmente observamos que um cenário de inflação alimentar crescente acaba impulsiona uma compra antecipada por clientes B2B (público transformador/revendedor) − os quais estocam produtos de forma a “driblar” os aumentos de preços nas gôndolas. Nesse cenário, pure players de Cash-and-Carry se beneficiam das duas variáveis: preço e volume.
Mais expostos ao público B2B, temos observado que o Atacadão tem performado abaixo de seus principais concorrentes nos últimos trimestres (Figura 4 e Figura 5) – uma dinâmica que esperamos que continue acontecendo ao longo do 1T24.
Figura 4: Atacarejo – Crescimento de volume (% a/a) x Inflação alimentar (Alimentação em domicílio, var. % acumulada 12M).
Figura 5: Atacarejo – Crescimento ‘mesmas lojas’ (% a/a) x Inflação alimentar (Alimentação em domicílio, var. % acumulada 12M).
Apesar da reversão do cenário deflacionário neste início de ano, entendemos que o nível atual de inflação na categoria ‘Alimentação em domicílio’ (1,6% acumulado 12M) não deve prejudicar os volumes de venda no 1T24.
Paralelamente, também ainda não temos observados sinais de que o aumento de preços tenha se traduzido em uma mudança relevante de comportamento de consumo B2B ao longo do 1º trimestre de 2024.
Se as nossas expectativas se concretizarem e os preços da categoria seguirem em trajetória crescente (~4,0% Est. Consenso 2024E), as varejistas alimentares – principalmente players de Atacarejo – devem se beneficiar da retomada de um movimento de estocagem do público transformador.
Para operações de Varejo, a exposição de vendas para o B2C acaba sendo muito mais relevante. Com isso, o movimento tende a ser inverso do que acontece com o modelo Cash-and-Carry.
Com a inflação geral em um menor patamar, comumente, observamos mudança no comportamento de compra dos consumidores, os quais realizam um trade-up entre formatos, de atacarejo para supermercados, contribuindo para aumento a frequência de compra no varejo.
Observe que, com o nível de inflação sob controle, as empresas mais expostas ao público B2C ‘outperformou’ o setor ao longo de 2023 (Figura 6 e Figura 7).
Figura 6: Varejo – Crescimento de volume (% a/a) x Inflação alimentar (Alimentação em domicílio, var. % acumulada 12M).
Figura 7: Varejo – Crescimento ‘mesmas lojas’ (% a/a) x Inflação alimentar (Alimentação em domicílio, var. % acumulada 12M).