As empresas aéreas já divulgaram os dados de tráfego aéreo relativos ao 2T22. Embora exista um efeito sazonal, de maneira geral os números reportados nos mostram uma desaceleração na recuperação do setor refletida na queda da taxa de ocupação. Um ponto a se destacar é a volta da demanda corporativa, em níveis próximos ao pré-pandemia. Vale lembrar que a para as companhias aéreas o efeito de desvalorização do real foi mais forte nesse trimestre, isso porque os preços de fechamento dos meses de abril, maio e junho superaram em média os fechamentos do primeiro trimestre.
O aumento no preço do combustível segue pressionando as margens das companhias, visto que elas não conseguem repassar este preço de forma integral. O preço do querosene de aviação chegou a subir 121% entre o pico do primeiro e segundo trimestre, enquanto a diferença entre os picos do dólar variou somente -8%. O lado positivo do trimestre foi a sanção da lei que limita o ICMS sobre os combustíveis. Com isso, nossa equipe econômica projetou uma queda de 2,1 p.p no IPCA para o ano de 2022, o que poderá acarretar um aumento na demanda de curto/médio prazo de passagens aéreas.
O cenário de inflação alta abriu espaço para a tese de uma possível recessão global, o que afeta o consumo e reflete diretamente em uma diminuição na procura por viagens. Com uma perspectiva de demanda internacional menor por petróleo, começamos a observar uma queda nos preços do barril, o que somado ao efeito da limitação do ICMS começa a ajudar as margens das companhias aéreas. Mesmo com a redução nos custos, se a demanda por viagens começar a diminuir de forma acelerada, podemos observar quedas nos yields das companhias por maior sensibilidade do consumidor.
Por hora, apesar de uma melhora substancial no cenário com relação ao ano de 2019, acreditamos que o panorama das empresas aéreas se encontra relativamente delicado. Continuamos com uma visão mais otimista para Azul do que para Gol.
GOL (GOLL4)
Esperamos que este seja um trimestre pior em receita, impulsionada pela forte recuperação de viagens corporativas nas malhas domésticas e a retomada de viagens de lazer na malha internacional, porém ainda sim com queda de volume. A Gol ainda se encontra abaixo dos patamares pré pandemia, tanto em oferta quanto em demanda (ASK e RPK) estando em média 22% abaixo dos reportados em 2019. Por outro lado, mesmo com o forte aumento no preço dos combustíveis, houve repasses nos preços das passagens. Temos boas expectativas em relação aos yields, que devem seguir subindo, o que nos leva a acreditar que mesmo com queda na oferta, ainda assim teremos números de receita superiores aos reportados no 1T22. Do lado dos custos, existe uma melhora sequencial, devido à renovação da frota, e consequente queda no consumo de combustível por hora de voo. Os gastos totais com combustíveis seguem impactados pelo aumento do preço médio do querosene de aviação (QAV). Esperamos que a recente queda nos preços dos combustíveis comece a aliviar o setor apenas no próximos trimestre.
Azul (AZUL4)
Esperamos que este seja um bom trimestre para Azul em termos operacionais. Os dados operacionais divulgados, apesar de apresentarem leve alta na comparação trimestral, mostram que a demanda por voos da companhia vem se enfraquecendo, mas ainda está superior aos níveis pré pandemia. A volta dos eventos presenciais e retomada da demanda corporativa beneficiaram o volume, facilitando o repasse de custos. Nossa expectativa é que os yields sigam subindo, o que deve impulsionar a receita. Por outro lado, os custos mais altos devem impedir um melhor desempenho de rentabilidade. Na média, também tivemos um dólar mais barato que no trimestre anterior, o que deve reduzir em parte os custos relativos às altas nos preços dos combustíveis. Em relação ao 1T22, tivemos uma demanda internacional relativamente superior, onde a demanda reportada apresentou um aumento de quase 20%. Por fim, outro ponto importante é a nova realocação nos slots no aeroporto de Congonhas. No final do mês de junho, a ANAC realocou os slots que anteriormente pertenciam à Avianca, que parou de operar no Brasil em 2019. A Azul, que até então possuía cerca de 40 slots poderá mais que dobrar este número, o que fortaleceria ainda mais sua operação. Cabe ressaltar que este ganho de participação no aeroporto não necessariamente significa um aumento nos custos, principalmente relativos a aquisições de novas aeronaves, visto que a companhia poderia facilmente realocar suas aeronaves. Esperamos que este efeito de realocação ocorra entre março e outubro de 2023.