Embora os trimestres de meio de ano sejam historicamente mais fracos para as companhias aéreas, os resultados de Gol e Azul devem ser neutros. Estamos mais positivos para o resultado de Azul (AZUL4).
Se do lado positivo tivemos bons volumes e precificações assertivas das passagens, do lado negativo observamos mais de pressão de custos. Os grandes vilões seguem sendo a combinação dólar alto e querosene de aviação ainda não reajustado, fator que explicaremos a seguir.
O combustível, apesar das diminuições nos preços do QAV realizadas pela Petrobras, possui uma defasagem de aproximadamente 45 dias até impactar as companhias aéreas, portanto, apesar de o preço do querosene ter diminuído pouco mais de 10% no 3º trimestre, essa medida só terá impacto no resultado do 4T22. O dólar se manteve alto, tendo um pico no final do trimestre. Ao longo dos meses do 3T22, a média de fechamento ficou 3,7% maior que a média do 1T22 e 5,4% acima do 2T22. Dado que os pagamentos de leasings são contabilizados no último dia do mês, nossa expectativa é de que tenhamos um aumento nas despesas financeiras das companhias.
Contudo, apesar de os custos jogarem contra a Azul e a Gol, tivemos um trimestre sólido em termos de demanda, o que pode ajudar a balancear os números do trimestre. Outro fator que ajudou na sustentação do trimestre foi o preço das passagens aéreas, que se manteve em um patamar relativamente alto, favorecendo o top line das empresas e contrabalanceando os custos operacionais elevados.
Gol (GOLL4)

Apesar de um trimestre sazonalmente fraco, a Gol reportou números operacionais sólidos, mas ainda abaixo ao período pré-pandemia. O ASK (oferta) divulgado relativo ao 3T22 é 23% inferior ao do mesmo trimestre no ano de 2019 e 14% superior em relação ao 2T22, enquanto o RPK (demanda) se manteve abaixo dos níveis pré-pandemia em 25% e superando os níveis do trimestre anterior em 20%.
A companhia divulgou, além de suas prévias de tráfego, suas expectativas de resultados para o trimestre. A Gol projeta uma margem EBITDA de aproximadamente 15%, o que representaria uma queda de 9,3 p.p. em comparação com o 3T21 e uma alta de 1,5 p.p. se comparada ao trimestre anterior. O resultado operacional da empresa deverá apresentar margem de 5%, sendo 12,7 p.p. menor que o mesmo trimestre do ano anterior e 9,1 p.p. maior que o 2T22.
Conforme mencionamos, existe uma defasagem no repasse dos preços do QAV, o que implica em um custo com combustível possivelmente alto no trimestre. Dito isso, acreditamos que este seja o maior empecilho no resultado trimestral da companhia. Os CASK Ex-fuel esperado pela companhia, que seria 25% inferior, além do CASK Combustível 87% superior comparando com o 3T21, não só evidenciam tal fato, como também nos mostram um ganho de eficiência operacional por parte da Gol. Além disso, destacamos a contínua inserção dos novos Boeing 737 MAX-8 na frota. Segundo a empresa, as novas aeronaves apresentam 15% a mais de economia de combustível quando comparados aos Boeing 737 NG.
Também lembramos que durante o trimestre, a companhia informou que irá pagar mais de US$ 41 milhões em um acordo com o departamento de justiça dos EUA para encerrar a investigação por pagamentos de propina em suborno a autoridades estrangeiras para aprovação de leis que beneficiariam a empresa.
Por fim, excluindo os efeitos não recorrentes, nossas projeções apontam para um EBIT de R$ 225 milhões e um EBITDA de R$ 590 milhões. A Gol informou que espera um prejuízo por ação de aproximadamente R$ 1,8. Acreditamos que esse resultado seja reflexo de uma despesa financeira alta puxada por uma taxa de câmbio elevada no fechamento dos meses do trimestre.
Azul (AZUL4)

Assim como sua concorrente, a Azul também reportou números operacionais já acima dos níveis de 2019. O RPK divulgado superou os níveis pré-pandemia em 3% e 10% em relação ao 2T22, enquanto o ASK superou ambas as comparações em 7%.
A Azul também sofre com a defasagem na diminuição dos preços, o que também irá fazer com que ela apresente custos relativamente elevados com relação à combustível, além de um CASK Ex-fuel menor, dado os ganhos de eficiência de combustível de renovação de frota com a entrada dos novos Embraer E2.
Em relação às receitas voltadas para o Azul Cargo, é possível que tenhamos uma leve queda na comparação trimensal. O aumento do preço dos combustíveis e de demanda por viagens não só diminui os pedidos de transporte de carga, como também leva a uma menor alocação do espaço dos bagageiros voltada para esse tipo de operação.
Ainda não haverá nenhum efeito da distribuição dos novos slots do aeroporto de Congonhas, dado que a previsão dessa estruturação deverá ocorrer somente no primeiro trimestre de 2023. No entanto, cabe ressaltar que apesar desse aumento, a companhia não necessariamente precisará adquirir novas aeronaves, visto que poderá apenas realocar a frota existente. Dito isso, é pouco provável que a empresa irá queimar muito do seu caixa ou até mesmo levantar dívidas para a aquisição de mais aeronaves em um futuro próximo.
Por fim, o aumento no preço das passagens aliado a uma demanda robusta deverá elevar o Yield e consequentemente a receita da empresa. Dito isso, apesar de custos maiores relacionados à combustível, projetamos um lucro operacional de R$ 406 milhões e um EBITDA de R$ 890 milhões. Assim como em Gol, acreditamos que o bottom line divulgado deverá ser impactado por uma média cambial elevada ao final dos meses do 3T22.