As empresas aéreas divulgaram os dados de tráfego aéreo relativos ao mês de agosto. No geral, enxergamos números positivos, refletindo uma retomada de demanda, porém, no caso da Gol, ainda abaixo do pré pandemia. Lembramos que o terceiro trimestre é sazonalmente mais fraco em termos de demanda.
Em relação aos custos das empresas, tivemos uma queda no preço do petróleo e consequentemente reduções no preço do querosene. A Petrobras anunciou no final de agosto a redução de 10,4% nos preços de venda do QAV, combustível utilizado em aeronaves comerciais. Além disso, cabe ressaltar que devido à sinalização contracionista dos bancos centrais em países como os EUA e a UE, podemos ter uma desaceleração econômica que resultará em níveis de demanda menores, e, consequentemente, uma diminuição no preço do barril de petróleo, podendo aliviar ainda mais os custos relativos a combustíveis das empresas aéreas. Segundo a Bloomberg, os EUA possuem probabilidade de 50% de recessão nos próximos 12 meses, enquanto Alemanha e Reino Unido possuem chance de 60%.
Outro ponto de atenção é o próprio cenário doméstico. Como sabemos, a variação cambial impacta muito mais as empresas de aviação, influenciando não só o preço de petróleo que é cotado em dólar, mas também os pagamentos de leasing de aeronaves. O dólar médio do terceiro trimestre permanece superior ao do 1T22 e 2T22, com o câmbio de fechamento dos meses de julho e agosto subindo respectivamente 0,2% e 1,2% m/m.
Dito isso, se analisarmos o perfil das dívidas de Azul e Gol no ITR do 2T22, vemos que em média, 92% dos arrendamentos e empréstimos feitos pelas companhias estão em moeda estrangeira. Com isso, a permanência do dólar em um patamar elevado poderá afetar a linha de receita financeira e consequentemente o bottom line das empresas. Cabe ressaltar que a contabilização dessa conta da DRE é feita com o câmbio no último dia do mês, ou seja, uma queda repentina no câmbio pode afetar positivamente o resultado financeiro, mesmo com uma média trimestral superior.
E o Dólar?
Conforme mencionamos, o dólar é uma importante peça na análise das companhias aéreas, tendo alta influência em seus custos. Dito isso, faremos uma breve observação sobre o caminho do dólar nos últimos meses, e o que poderá impactá-lo no curto prazo.
É razoável correlacionar a cotação do dólar com a relação dívida/PIB brasileira. Uma dívida elevada aumenta as chances de calote por parte do governo, fazendo com que investidores estrangeiros busquem mais prêmios de risco em suas aplicações em títulos públicos. Com isso, quanto maior essa relação, maior o prêmio exigido, e, consequentemente, devido à elevação do risco de default, maior a fuga de capital. Esse movimento resulta em uma desvalorização da moeda local, que por sua vez encarece o dólar.
O Brasil passou de uma relação dívida/PIB de aproximadamente 89% no final de 2020 para atuais 77%. Esse declínio foi acompanhado pelo dólar até meados de 2021, quando esse começou a subir, se descolando da trajetória da dívida nacional. Mas por que isso aconteceu?
Algumas medidas criadas pelo governo, como aumento de benefícios sociais, aliadas a medidas de redução de impostos, criaram uma instabilidade e imprevisibilidade fiscal, aumentando o Risco Brasil. Além disso, o cenário ainda incerto da iminente eleição gera ainda mais incertezas quanto a trajetória fiscal do país, o que eleva esse risco, fazendo com que o dólar o acompanhe.
Dito isso, acreditamos que boa parte da incerteza perante as companhias aéreas se deve as eleições e as medidas que serão implementadas pelo futuro governo. Maiores gastos com programas sociais desconsiderando o fiscal podem estressar ainda mais o CDS brasileiro e consequentemente desvalorizar o real perante o dólar.
Gol (GOLL4)
Conforme mencionamos, a demanda reportada pela Gol aumentou na comparação anual, porém ainda se encontra abaixo dos níveis pré pandemia. O ASK divulgado foi de 3,3 bi, sendo 13,9% menor m/m e 43,9% maior a/a. O RPK totalizou 2,7 bi, representando uma queda de 13,1% m/m e um aumento de 46,3% a/a. A taxa de ocupação finalizou o mês de agosto em 81,5%, +0,7p.p. m/m e + 1,3p.p. a/a.
Apesar da melhora em relação a 2021, a Gol ainda se encontra muito abaixo dos patamares de 2019. A oferta e demanda de assentos permanecem, respectivamente, 23,4% e 23,9% abaixo do reportado antes da pandemia. Incorporando nas nossas expectativas à última revisão do guidance, temos agora um EBITDA de R$3,25 bi para 2023, com isso revisamos nosso preço alvo.
Seguimos com nossa recomendação de MANTER para Gol com alteração no preço alvo de R$16,00 para R$ 13,10.
Azul (AZUL4)
O ASK da Azul totalizou 3,4 bi, sendo 9,6% menor na comparação mensal e 16,5% maior na comparação anual. Já o RPK divulgado foi de 2,7 bi, uma queda de 11,4% em relação ao mês de julho e um aumento de 21,5% na comparação com o mesmo mês do ano passado. A taxa de ocupação caiu 1,6% com relação ao mês passado e subiu 3,4% com relação ao mês de agosto de 2021.
Diferente da Gol, os dados divulgados pela Azul já superam os reportados no ano de 2019, com a oferta e demanda de assentos sendo 3,9% e 6,1% maiores.
Por fim, destacamos a aprovação dos slots do aeroporto de Congonhas pela ANAC. Alguns desses que pertenciam anteriormente à Avianca serão repartidos em duas rodadas. Ao todo serão distribuídos 86 slots, onde a primeira etapa de distribuição ocorrerá para a temporada de verão de 2023. De início, a Azul receberá 54 slots, passando dos atuais 26 para 80, um incremento de 208%. Na sequência a companhia receberá mais 4 posições, o que totalizará 84 slots.
Acreditamos que a distribuição será extremamente benéfica para a companhia, visto que ela triplicará sua participação no aeroporto, podendo incrementar sua malha aérea, ampliando e reforçando algumas de suas rotas. Destacamos que não necessariamente a empresa precisaria ampliar sua frota de aeronaves, visto que ela poderia somente realizar a realocação das mesmas.
Seguimos com nossa recomendação de COMPRA para Azul com preço alvo de R$28,00.