Gol e Azul divulgaram os dados de tráfego aéreo relativos ao mês de junho. De maneira geral, os números reportados nos mostram uma desaceleração na recuperação do setor. A queda da taxa de ocupação, embora tenha um efeito sazonal, passa a gerar preocupações. Os constantes reajustes de combustível e podem não se refletir em repasse integral de preços. No comparativo pré-pandemia, vemos que a Gol ainda segue abaixo enquanto Azul segue apresentando crescimento.
A desvalorização do real e o aumento das taxas de juros joga contra as empresas aéreas. O cenário de inflação alta abriu espaço para a tese de uma possível recessão global, o que afeta o consumo e reflete diretamente em uma diminuição na procura por viagens.
Além disso, observamos o grande aumento no preço do querosene de aviação. Segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), os combustíveis subiram 70,6% no acumulado do ano, pressionando os custos e criando maiores necessidades de repasse de preços das companhias para os consumidores. No primeiro dia do mês de julho, o preço do QAV subiu 3,9% em 15 refinarias em relação ao mês anterior.
Por ser derivado do petróleo, o querosene de aviação sofre grande influência do preço da commodity. O lado positivo é o receio de uma possível recessão global, que pode reduzir a demanda do petróleo, e, como consequência, levar a uma diminuição no preço do barril. Isso em tese diminuiria o preço do querosene de aviação, aliviando as margens de empresas como Azul e Gol no curto prazo.
Porém, com a sanção do projeto de lei que limita o ICMS sobre combustíveis, energia elétrica e telecomunicações, nossa equipe econômica projeta uma queda no IPCA em torno de 2,1 p.p, o que pode de certa forma aumentar a demanda por passagens aéreas, contrabalanceando o cenário atual de Selic alta.
Além da menor competitividade em suas rotas, a Azul segue mostrando recuperação em seus números com relação ao período pré pandemia. Isso, aliado a menor alavancagem e uma possível cenário de queda no preço do barril do petróleo, nos faz acreditar que ela possivelmente terá uma pressão menor em suas margens em relação a Gol. Dito isso, seguimos com uma visão mais otimista para AZUL4 do que para GOLL4.
Azul (AZUL4)
Os dados de tráfego reportados pela Azul no mês de junho seguem acima do nível pré pandemia. O RPK divulgado somou 2.517 milhões, sendo 40% maior que o memo período no ano anterior e 5,5% inferior ao mês de maio. Já o ASK foi de 3.176 milhões, número 35% maior que o mês de junho no ano de 2021 e 7,8% menor que maio de 2022. No acumulado os números seguem superiores na com relação ao ano passado, com a demanda e a oferta sendo 36% e 33% maiores, respectivamente.
Gol (GOLL4)
A demanda total reportada pela companhia no mês de maio foi de 2.269 milhões, enquanto sua oferta reportada foi de 2.960 milhões, levando a uma taxa de ocupação de 76,7%. Na comparação mensal, isso representa uma queda de 5% na demanda e na oferta, enquanto na comparação anual, estes apresentaram aumentos significativos de 54% e 68%, respectivamente, devido ao período de comparação fraco em 2021. No acumulado do ano, de janeiro a junho, vemos uma melhora considerável com relação ao ano passado, onde o RPK e o ASK da companhia aumentaram 68% e 73% respectivamente. No acumulado, os volumes seguem abaixo de 2019, RPK e ASK estão 24% e 21% inferiores. Por outro lado, os volumes internacionais vêm apresentando melhora, refletindo o cenário de retomada e normalização pós-covid-19.
No mês de junho a Gol realizou seu “Investor roundtable”, evidenciando sua capacidade de flexibilização diante de cenários adversos com a pandemia, além de alguns destaques operacionais. A companhia destacou que suas vendas por ASK (assento por quilômetro oferecido) estão superando os níveis pré pandemia, mostrando uma normalização no que diz respeito a procura e realização de viagens aéreas, que foram drasticamente afetadas durante o ano de 2020 devido às restrições sanitárias impostas pelos países. Além disso, foi mostrado o plano de renovação de aeronaves. Atualmente, 32% de sua frota é composta pelos modelos 737 MAX, o plano é que esse número atinja 73% no ano de 2028.
A Gol também pontuou que o guidance divulgado previamente pode ser impactado pelo aumento no custo de combustível por litro, que atualmente está ~20% maior que a previsão inicial. O impacto nesse custo vem sendo repassado no preço das passagens aéreas e pode resultar em um lucro líquido 10% maior que o esperado para o ano de 2022. A companhia destacou que aumentou a operações de hedge para cobrir possíveis aumentos nos preços do combustível.