Após longos meses, a novela de renegociação de passivos da Azul parece estar próxima do fim. Na noite de segunda-feira, 07 de outubro de 2024, a Azul publicou um fato relevante referente ao fim da renegociação de seus passivos diferidos e renegociados com arrendadores e OEMs. Esse movimento resultou no acordo de R$ 3 bilhões em troca da emissão de 100 milhões de ações, equivalente a uma diluição de cerca de 22% para os acionistas minoritários.
Assim como afirmamos em nosso último relatório, o fato é positivo, especialmente considerando que o valor da emissão ficou em R$ 30, ainda próximo dos R$ 36 do último acordo. Embora a nova proposta leve a uma diluição maior em comparação à primeira, que previa 19,3% com o preço de R$ 36 por ação, ela ainda é significativamente menor em relação ao cenário de conversão pelo preço atual de mercado, que poderia resultar em uma diluição de 60%.
Esse acordo é um passo essencial para reduzir uma das maiores pressões sobre a empresa, que vem sofrendo com a queda acentuada de seu valor de mercado nos últimos meses, muito em função das incertezas relacionadas à renegociação de passivos e receios de um processo de Chapter 11. Na nossa visão, a renegociação bem-sucedida dos passivos vai ajudar a fortalecer tanto a geração de caixa quanto a estrutura de capital da Azul, permitindo que a empresa busque atingir o break-even, inicialmente esperado para 2024, mas adiado para 2026 devido ao cenário macroeconômico, principalmente influenciado pelos preços do petróleo e câmbio. O acordo facilita futuras negociações para alongamentos de dívida e novas captações.
É importante destacar que outros desafios permanecem, como a alta nos preços do petróleo, acima do esperado para 2024-2025, pressionando os custos da companhia. Além disso, a recente valorização do dólar frente ao real adiciona mais uma camada de complexidade, embora uma eventual apreciação do real, caso o cenário fiscal melhore, possa trazer algum alívio. Outro ponto a ser observado é a queda nos juros americanos, que pode gerar mais apetite por emissões de dívidas mais arriscadas, dado que parte da dívida da Azul está em moeda estrangeira.
No geral, consideramos o acordo melhor do que esperado pelo mercado e acreditamos que ele coloca a empresa em uma posição mais favorável para enfrentar os desafios futuros. Seguimos com recomendação de MANTER para Azul e preço-alvo de R$ 17,00.
De onde partiu e onde está?
O passivo de leasing vinculado à dívida da Azul estava em torno de U$ 570 milhões. Inicialmente, esses passivos foram renegociados durante a pandemia, com a conversão de ações ao preço de R$ 36 por ação, o que resultaria em uma diluição de aproximadamente 19,3% para os acionistas. Posteriormente, com a diminuição das expectativas em relação ao papel, a conversão foi renegociada, e o parâmetro de preço das ações passou a ser R$ 30, o que implicaria uma diluição de cerca de 22,3% do capital social da empresa.
No entanto, a Azul enfrentou uma queda expressiva no valor de suas ações, que fechou a R$ 5,76 no mercado ontem (07/10). Nesse cenário, as incertezas sobre a empresa começaram a crescer, pois o mecanismo de conversão de ações para amortização da dívida de leasing poderia tomar um caminho diferente e, em um cenário extremo, os acionistas poderia sofrer uma diluição relevante. Por exemplo, considerando o valor de mercado de fechamento como base para a conversão, os investidores enfrentariam uma diluição de cerca de 60%.
Em meio a esse contexto, a Azul anunciou na noite de segunda-feira (07/10) uma nova renegociação de sua dívida de leasing. Os lessores e OEMs propuseram trocar uma dívida de R$ 3 bilhões por 100 milhões de novas ações preferenciais da Azul, em uma emissão única. Com o fechamento desse acordo, nossos cálculos indicam um preço implícito por ação na conversão de R$ 30, resultando em uma diluição de 22,3% para os acionistas.
Diluição é inevitável, mas longo prazo se mostra mais sustentável
Apesar de a nova renegociação resultar em uma diluição maior para os acionistas, comparada à primeira proposta de 19,3% com o preço de R$ 36 por ação, consideramos o movimento positivo. Isso se deve ao fato de a diluição atual ser significativamente menor quando comparada à conversão de ações pelo preço atual de mercado, que implicaria uma diluição de 60%. Além disso, o fechamento do acordo tende a gerar uma reação positiva no mercado, facilitando não apenas as negociações com outros credores, mas também abrindo espaço para possíveis alongamentos de dívida e captações adicionais. Com isso, a Azul melhora sua liquidez de curto prazo, reforçando sua posição financeira.