Azul reportou um resultado em linha com as nossas estimativas no 4T23. Assim como esperávamos observamos queda na margem EBITDA, pressionada pelos repasses de preço em combustíveis. Apesar de margens levemente menores do que no 3T23, o desempenho operacional segue robusto, com recorde em receita apoiado por um forte volume e Yield.
Do lado positivo, observamos um RASK crescendo tanto na base anual, como trimestral. Mesmo contra um 3T23 muito forte, a receita de passageiros-quilômetros oferecidos atingiu um novo recorde de 45,30 centavos, explicitando que o consumidor esteve suscetível ao aumento de preços nas tarifas no final do ano. O reflexo desse repasse fica nítido quando olhamos para o Yield do trimestre, que teve crescimento expressivo, chegando a 52,51 centavos. A melhor precificação não se descolou de um bom volume. A Azul teve um aumento de capacidade de 6,5% no 4T23, menor do que seu RPK (Passageiros-quilômetro transportados) que teve aumento de 9,1%, resultando em uma taxa de ocupação de 80%, maior que os 78% do 3T23. Outro destaque positivo foi a receita proveniente de transporte de cargas e demais negócios, que também teve recorde histórico de R$365 milhões.
O principal ponto negativo do trimestre foi o aumento de custos operacionais, principalmente com relação ao combustível. Observamos crescimento de 15,1% no CASK de combustível na base trimestral, com o total chegando a 37,40 centavos, um crescimento de 9% t/t. Isso teve como consequência uma pequena redução nas margens operacionais. No entanto o efeito já era esperado, visto que o preço do Querosene de Aviação (QAV) apresentou aumento de mesma magnitude (+14,9% t/t).
Dito isso, mantemos nossa recomendação de COMPRA para Azul (AZUL4), com preço alvo de R$ 22,00
Melhora no Guidance para 2024
A companhia revisou seu guidance para 2024, aumentando a projeção para alguns indicadores. O ASK deve crescer 11% a/a e o EBITDA passou de R$ 6,3 para R$ 6,5 bilhões. A previsão para a alavancagem da companhia permanece a mesma, em 3x Dívida Líquida/EBITDA.
A revisão é justificada por um cenário mais otimista em relação aos volumes da companhia. Acreditamos que esse otimismo se dá em função de um possível ganho de escala em detrimento da situação da Gol, que passa por recuperação judicial nos EUA. Apesar de uma pequena sobreposição entre as rotas das companhias, existem hubs importantes em que ambas estão presentes, como o Aeroporto de Congonhas, por exemplo. Além de possível ganho de espaço nesses hubs, vemos a possibilidade de algum arremate da Azul pelos aviões da concorrente, o que aumentaria a sua capacidade de transporte de passageiros.
Mesmo com essas expectativas e com a companhia tendo superado seu guidance de R$ 5,2 bilhões de EBITDA para 2023, preferimos manter uma postura mais conservadora e manter nossa projeção de EBITDA para 2024 em R$ 6,2 bilhões. Acreditamos que a Azul ainda tem alta alavancagem e vem de um processo delicado de reestruturação de dívida, o que requer mais cuidado em investimentos mais arriscados.
Momento da Gol, joga a favor da Azul
A entrada da Gol no processo de Chapter 11 pode abrir um espaço no mercado brasileiro, oferecendo uma oportunidade para outras companhias aéreas expandirem sua presença e capturarem uma parcela maior do mercado. Mesmo que a Gol não reduza capacidade, o momento delicado pode reduzir a confiança dos clientes, levando a uma migração para os concorrentes. Em um caso de redução de capacidade, a situação da Gol, atuaria como um catalisador que poderia impedir uma queda nas tarifas.
Neste contexto, a Azul surge como uma candidata para preencher parte de um possível vácuo deixado pela Gol. Apesar de ter uma sobreposição de rotas menor em comparação com a Latam, ~30% vs 60%, nossa expectativa é que a Azul, possa se beneficiar de um cenário favorável, tanto pela migração da demanda, quanto por novas altas nas tarifas.
Análise quantitativa
A receita do 4T23 totalizou R$ 5,030 bilhões (+13,0% a/a e +2,3% t/t), ficando em linha com nossas expectativas e com as do mercado. Enquanto isso, o EBITDA reportado foi de R$ 1,467 bilhões (+33,7% a/a e -5,9% t/t) e margem de 29,2% (+4,5pp a/a e -2,6pp t/t), seguindo em linha com o mercado e muito próximo de nossas expectativas. Por fim, o Yield do 4T23 foi de 52,6 centavos (+3,8% a/a e +8,7% t/t), similar ao projetado de 52,5.