Conforme o esperado, o Senado aprovou ontem a MP 1147/2022, que isenta as companhias aéreas do pagamento de PIS/COFINS sobre suas receitas de passageiros até o final de 2026. A MP teve vigência de 120 dias até ser convertida em permanente pelo Congresso. O programa de incentivo foi inicialmente criado em maio de 2021 para minimizar os impactos da pandemia nas empresas do setor de eventos e turismo. Ao longo do 1T23, um período de forte sazonalidade, observamos impactos positivos nos resultados da Azul e da Gol. Julgamos a permanência da medida como positiva, por ajudar a auxiliar as companhias em sua jornada de recuperação pós-pandemia.
O percentual de dedução da receita bruta da Azul e da Gol gira em torno de 3 a 4%. Com a isenção, essa alíquota efetiva diminui para algo próximo a 1%. A alíquota não vai a 0 porque as receitas de programas de milhas e transporte de cargas permanecem sendo tributadas. Segundo nossas estimativas, somente no 1T23, Azul e Gol obtiveram um ganho de aproximadamente R$ 120 e R$ 150 milhões de EBITDA, respectivamente. Com a nova medida, estimamos um incremento de R$ 40 a R$ 50 milhões de EBITDA por mês, o que, por sua vez, se traduz em um aumento entre R$ 120 e R$ 150 milhões por trimestre em 2023.
Ainda existe Upside?
Respondendo de forma clara e direta: Sim, há potencial de valorização. No entanto, optamos por adotar uma postura mais conservadora no momento.
É fato que as companhias aéreas se encontram no meio de uma tempestade perfeita, a qual não estava em nosso radar no fim de 2022. A demanda resiliente, o preço do QAV e do dólar em queda, a isenção tributária, além das renegociações de dívida recém-anunciadas deverão auxiliar os resultados das companhias nos próximos trimestres.
Por outro lado, dados de inflação divulgados apresentaram queda de 17,26% no preço das passagens aéreas em maio. Nossa preocupação acerca da manutenção dos níveis de tarifa segue. Na nossa visão, os dados de IPCA de maio carregam não só os preços da baixa temporada, mas também uma possível fragilidade da demanda. Vale lembrar que, em 2022, na ponte aérea entre Rio e São Paulo, houve aumento de 40% no preço das passagens aéreas e, por consequência, redução de 27% do fluxo em relação ao período pré-pandemia.
Apesar da materialização de um cenário menos estressante do que projetávamos, entendemos que ainda existe muita volatilidade nas principais variáveis do setor (câmbio e petróleo). Trazer os ganhos com a isenção até 2026 a valor presente e incorporar a renegociação das dívidas está levando à revisão dos nossos preços-alvo.
O preço-alvo da Azul sobe de R$ 15,00 para R$ 22,00, e o da Gol sobe de R$ 6,50 para R$ 8,20.
Seguimos com as recomendações de MANTER para ambas as empresas, dada a nossa visão relativamente mais pessimista em termos de tarifas e volumes, frente às estimativas das companhias..