O lucro reportado da B3 de R$ 1,10b veio 3,8% abaixo das nossas expectativas, caindo 12,3% a/a e ficando estável t/t. O resultado foi impactado pelas receitas mais fracas, advindas principalmente do: (i) menor volume negociado de ações e derivativos, decorrentes do cenário macro desfavorável, e; (ii) impactos da revisão da tabela de preço. Assim como no 4T, as despesas foram um destaque negativo, subindo consideráveis 29,5% a/a e 5,7% t/t, explicadas parcialmente pela incorporação da Neoway.
A alta dos juros no Brasil e no mundo, guerra no leste europeu e corrida eleitoral impactam a maior parte dos produtos da B3. Os produtos de bolsa, derivativos, financiamentos, entre outros, são estruturalmente impactados com um ambiente de juros mais altos e baixo crescimento econômico. Apesar dos produtos de balcão se beneficiarem do cenário adverso, suas receitas não tiveram o incremento necessário para mitigar queda de volumetria e preço nos mercados de listados.
Eventualmente, acreditamos que a atividade econômica volte a patamares mais normalizados, fazendo com que os juros voltem a cair. O cenário beneficiaria a maior parte dos produtos da B3, reforçando a nossa tese construtiva para a empresa. Por isso, seguimos positivos com tese de médio-longo prazo da empresa. Além disso, a B3 vem diversificando suas linhas de receita e investindo em tecnologia (como exemplo temos a aquisição da Neoway), lançamento do RLP para ações e minicontratos e início da operação de recebíveis de cartões. Negociando a múltiplos atrativos de 12,4x P/L 2022, reiteramos nossa recomendação de COMPRAR.
No longuíssimo prazo, existe a possibilidade de bolsas centralizadas ou descentralizadas baseadas em tecnologia de cripto (blockchain) assumirem papel relevante no mercado de captais, mas ainda temos muitas barreiras de desenvolvimento regulatório para poderem substituir o atual sistema de bolsas reguladas e centralizadas.
Receitas: impactadas pelo cenário macro
A receita total da B3 caiu 4,7% a/a, subindo 4,6% t/t. O resultado foi reflexo do cenário econômico mais desafiador, que pressionou o ADTV (volume médio negociado). O conflito no leste europeu, pressão inflacionária e elevação das taxas de juros aumentou a aversão a risco, gerando uma queda do ADTV de ações de 15,3% a/a (-1,1% t/t) e do ADTV de derivativos listados de 16,4% a/a (+4,5% t/t).
A queda das receitas no comparativo anual também se deve alteração da tabela de preços, que só entrou em vigor a partir de fev/21. Por revisar preços para baixo, a entrada somente em meados do 1T21 gerou uma base comparativa mais forte de receita no período.
Despesas: pressão de maiores investimentos
As despesas tiveram um aumento de 29,5% a/a e 5,7% t/t. O crescimento das despesas está relacionado principalmente a alta das despesas de pessoal e processamento de dados e diversas. As despesas de pessoal aumentaram 37%, impactadas pela inclusão da Neoway nesta linha, novas contratações, dissídio de salários. As despesas de processamento de dados aumentaram 678% devido ao desenvolvimento de novas iniciativas e da consolidação da Neoway. Excluída a entrada da Neoway no resultado, as despesas de pessoal e processamento de dados teriam crescido respectivamente 20,4% e 58,3%.
Resultado financeiro: pilha de caixa
O resultado financeiro foi de R$ 229m, em comparação a R$ 44m negativos no 1T21 e R$ 87m no 4T. As receitas financeiras tiveram um aumento de 489% a/a e 21,1% t/t, em função do: (I) aumento na taxa de juros; (ii) aumento do caixa pelas emissões de dívidas no mercado nacional e internacional. As despesas financeiras também subiram, mas em menor grau, acumulando alta de 386,1% a/a e 16,5% t/t. O resultado financeiro também foi beneficiado pela variação cambial sobre a dívida, que foi positiva em R$ 94m dada apreciação do real.
Ampliando negócios: novas iniciativas
No 1T, a B3 lançou o RLP para ativos do mercado de ações. O serviço será disponibilizado em carácter experimental por 12 meses. A companhia também entrou no mercado de recebíveis de cartão de crédito, com lançamento da plataforma de registro desse ativo financeiro. Em março a B3 começou a efetuar o registro de apólices de seguro patrimonial. Por fim, no trimestre foi concluída a aquisição da Neoway, que já foi incluída no resultado.