Após nossa conversa com o novo CEO do BMG, Felix Cardamone, e um bom desempenho apresentado já no 3T23, ficamos um pouco mais otimistas com a tese de BMG e acreditamos que o processo de reestruturação junto de um novo time de gestão em diversas áreas deve promover uma melhora de rentabilidade.
Para o 4T23, esperamos uma melhora no resultado operacional do banco que deve apresentar um robusto crescimento de lucro t/t, beneficiado em parte pela melhora da provisão para perdas de crédito (PDD) e redução das despesas operacionais. Estimamos uma forte melhora de lucro líquido chegando a R$ 105m (ainda beneficiado pela alíquota invertida de imposto) alcançando um ROE de 10,9%.
Nessa primeira etapa de reestruturação, o CEO Felix focou seus esforços no corte de custo e melhora na recuperação de crédito. Acreditamos que o desempenho do 4T23 deve ser uma boa proxy para o ano de 2024. Assim, esperamos que este ano seja de foco no desempenho operacional, visando conter as despesas operacionais e melhorar os níveis de PDD. Nossas projeções levam a um lucro líquido de R$ 427m para 2024 com um ROE de 11%.
Com essa perspectiva de melhora no desempenho operacional da companhia, estamos alterando nossa recomendação de MANTER para COMPRAR, ajustando nosso preço-alvo de R$ 2,50 para R$ 3,90, representando um upside de +17,8%, mas ainda com algum ceticismo em relação a quanto o banco consegue melhorar sua rentabilidade de forma sustentável. Lembrando que o banco nunca rodou com o ROE anual acima de 12%, ao menos, desde 2015. Mesmo com as melhorias no 4T23 levando o ROE de -1,4% no 2T23 para 10,9%, se olharmos o 2023 completo, o resultado do banco foi fraco com um ROE anual de apenas 4,8%. Nas nossas projeções, enxergamos as ações do BMG negociando com um bom desconto a 4,5x P/L 24E e 0,5x P/VP 24E. Nosso preço-alvo leva em consideração o modelo de dividendos descontados (DDM) com um payout de 30% na perpetuidade, ROE de longo prazo de 14,4%, custo de capital (Ke) de 17,3% e crescimento (g) de 7,0%.
Apesar do histórico fraco, é possível. Rivais com ROE acima de 20%.
O novo CEO terá uma tarefa árdua para levar a reestruturação para um novo estágio, o de crescimento de receitas para então, melhorar a rentabilidade para um novo patamar. Observando alguns pares focados em consignado e crédito pessoal, todos estão com rentabilidade bem acima do BMG. Com uma carteira de R$ 13,3b, 55% de consignado, 22% de antecipação de FGTS e 14,3% de crédito pessoal, o banco Mercantil do Brasil entregou um ROE de 28,8% no 3T23 (25% nos últimos 12 meses). O Agibank reportou uma rentabilidade de 43% no 3T23 (26% nos últimos 12 meses) com R$ 14b de carteira de crédito (78% de consignado, 19% de crédito pessoal e 2% de antecipação do saque FGTS).
Bons dividendos, mas precisa melhorar a rentabilidade
Para os aficionados em dividendos, não acreditamos que o atual patamar de payout de dividendo (acima de 100% do lucro) seja sustentável a não ser que o banco melhore sua rentabilidade. Com um dividend yield acima de 11,5% em 2023, estimamos que o yield suba para 12,5% em 2024, mas também assumimos uma melhora relevante de rentabilidade de 4,8% em 2023 para 10,9% em 2024, tarefa que exigirá uma melhora relevante de rentabilidade, mas com um grau de certeza maior se o 4T23 vier como pensamos (ROE de 10,9%).
Carteira de crédito
Para o 4T23, esperamos uma leve queda da carteira de crédito (-1,2% t/t e 0,0% a/a), impactado em nossa visão por efeitos de cessão de crédito do consignado para otimizar o capital, já que o novo management vem com a propostas de “limpar” a carteira. O baixo crescimento é um contraste grande da forte expansão de 49% em 2022.
Para 2024, esperamos que a carteira cresça +6% a/a, abaixo do projetado pela Febraban para mercado de +8% a/a, devido a maior seletividade e cap do consignado.
Receita de juros (NII)
Para o trimestre, esperamos que a receita de juros (NII) fique em R$ 1,2b (+2,5% t/t e +8,7% a/a). Para 2024, estimamos que o NII cresça +11,5% a/a, beneficiado por menores despesas com funding (captação) ajudada pela queda da Selic. A venda de carteira de crédito consignado também deve explicar o crescimento de NII acima do crescimento da carteira.
Inadimplência e Provisão
Esperamos que o 4T23 apresente uma melhora de 5,8% t/t na provisão para perdas de crédito (PDD), beneficiado em parte pelo crédito recuperado e uma carteira de crédito mais “limpa”, com menos cartão de crédito mar aberto. Além disso, esperamos uma melhora na inadimplência acima de 90 dias, ficando em 5,3% (-0,3pp t/t e +0,4pp a/a).
Para 2024, esperamos que a PDD continue em queda (-5,4% a/a) devido ao processo de “limpeza” da carteira, enquanto a inadimplência também deve apresentar melhora, ficando em 4,9% (-0,4pp a/a).
Despesas
Esperamos que as despesas operacionais apresentem uma melhora de -3,2% t/t e -3,8% a/a, chegando a R$ 478m. Acreditamos que esse processo de melhoria deve ocorrer pelas novas medidas que o management vem tomando. Por outro lado, as despesas com comissão (não incluído nas despesas operacionais) devem apresentar um forte crescimento de +25% t/t devido a nova medida de remuneração, no qual o banco passa a pagar à vista a comissão do crédito consignado, aumentando as despesas de curto prazo, mas reduzindo as despesas ao longo da vigência do crédito.
Para 2024, estimamos que as despesas operacionais fiquem relativamente estáveis com um total de R$ 2,05b (+0,4% a/a), apresentando uma boa melhora no índice de eficiência (-6pp a/a).