Com uma rentabilidade ainda abaixo do ideal (ROE de 7,5%) nesse 4T22, o BMG atingiu um lucro recorrente de R$ 73m no trimestre, mostrando uma boa evolução de +37,7% t/t e +52,1% a/a, um pouco abaixo das nossas estimativas (-2,7%). No entanto, o resultado final foi salvo por créditos fiscais que contribuíram positivamente com R$ 78m na linha de imposto. O lucro antes do imposto foi apenas de R$ 13m, caindo -35% t/t e -67% a/a.
O Banco BMG segue em expansão, atingindo 12,3 milhões de clientes em 2022 (+35% a/a), sendo que destes 57% possuem produtos de crédito. A carteira de crédito finalizou o ano crescendo vigorosamente em 49% a/a e 4% t/t, o que contribuiu com a geração de receita de juros (NII) que expandiu em +19% a/a e 11% t/t. Despesas operacionais finalizaram o ano sob controle, com crescimento de 6,4%.
Por outro lado, no 4T22 houve um aumento na provisão em +59% a/a e +32% t/t e no custo de captação (funding) em +51% a/a e +19% t/t, o que conteve a linha de lucro de intermediação que ficou flat no t/t (+0,4%) e um leve aumento de 1,6% a/a.
O BMG não forneceu um guidance para 2023, mas esperamos um crescimento brando devido a nossa expectativa de juros elevados para este ano que devem seguir pressionando o custo de funding do banco. Assim, estimamos um resultado de R$ 274m para 2023 (+21,3% a/a).
Reiteramos nossa recomendação de MANTER para as ações do BMG com preço alvo de R$ 2,5. Apesar de entendermos que os múltiplos estão atrativos 0,3x P/VP 2022 e 4,4x P/L 2023E, acreditamos que são justificados pelo fato do índice de rentabilidade (ROE) continuar abaixo do seu custo de capital. Nosso target utiliza o modelo de dividendos descontados, sendo considerado um custo de capital (Ke) de 17,7% e crescimento (g) de 5%.
Proventos: 16% de dividend yield
O banco mudou sua política de dividendos, que partir deste ano irá realizar a distribuição de proventos de forma trimestral. O banco realizou uma distribuição de JCP no valor de R$ 213m em 2022, representando um dividend yield de 16,7% no ano. Para 2023, estimamos um pagamento de JCP similar em R$ 220m, implicando um dividend yield de 16% novamente.
Carteira de Crédito
A carteira de crédito atingiu o montante de R$ 23,9b crescimento de +4,1% t/t e +49,4% a/a, puxado principalmente por novos produtos. Destacamos o desempenho do cartão benefício (+71,3% t/t) e crédito pessoal (+11,7% t/t e +117,3% a/a).
O cartão benefício concluiu o saldo de R$ 1,6b devido ao crescimento relevante de cartões. Esse produto possui inadimplência próximo de 0% por ser um produto recente, mas que deve convergir para um comportamento semelhante ao cartão de crédito consignado (1,9%).
O crédito pessoal apresentou duas frentes de crescimento: na linha de cartão de crédito aberto (+28,8% t/t e +302,3% a/a) e antecipação do FGTS (+14,3% t/t e +301,6% a/a). O primeiro segmento apresentou desenvolvimento diante de uma maior exposição do banco a (i) mar aberto; (ii) temáticos via clubes de futebol; (iii) público originados das parceiras com varejistas. Já no segundo, o banco permite antecipação de até 10 anos do saque aniversário do FGTS, o que garante receita durante um longo prazo para a instituição.
Receita de Juros (NII)
A receita de juros (NII) atingiu um montante de R$ 1,01b no 4T22, acelerando o crescimento para +11,2% t/t e +18,6% a/a, mas não o suficiente para acompanhar o crescimento da carteira de crédito (4% t/t e 49% a/a), por conta do custo de captação que cresceu 51% a/a e 13% t/t. A evolução do NII se beneficiou do crescimento da carteira de crédito e reprecificação da carteira de cartão crédito INSS.
Inadimplência
Apesar dos diversos bancos estarem reportando uma piora na inadimplência, o BMG tem conseguido manter um índice de NPL 90+ praticamente estável, apresentando um leve crescimento de +0,06pp t/t e +0,01pp a/a. Dessa forma, o banco mostra a resiliência de seu portfólio com créditos de menores riscos.
Despesas
As despesas operacionais apresentaram um aumento de +1,4% t/t e +6,4% a/a. O principal destaque no 4T22 foi a despesa com pessoal devido ao aumento no número de colaboradores em +3,5% t/t e +10,5% a/a, atingindo um total de 1.350 funcionários.
Capital
O Capital Nível I atingiu 11,3% no 4T22 (índice de Basiléia de 13,5%), apresentando avanço de +0,4 pp e queda de -3,3 pp a/a. Com o crescimento da carteira de crédito, principalmente na linha de crédito pessoal, RWA (ativo ponderado pelo risco), pagamento de dividendo agressivos e baixo ROE, acreditamos que o capital do BMG pode manter-se pressionado.
O Índice de Basiléia em 13,5% (+1,4 pp t/t e -1,2 a/a) foi consequência do aumento do patrimônio de referência nível 2, fruto da emissão de R$ 250m em letras financeiras subordinadas.
Ademais, o BMG registra que ainda possui o dano da marcação a mercado de títulos públicos. Com os títulos se aproximando do vencimento veremos menos impacto no capital. No 4T22, o impacto foi negativo em 2,5 pp, melhorando em relação ao 3T22 que foi de 3 pp.