O 2T22 foi mais um trimestre de resultados apáticos do BMG (BMGB4) por conta da alta da Selic. Nem sempre juros mais altos são sinônimos de rentabilidade para os bancos. A súbita e extensa alta da Selic nesse ciclo pegou muitos bancos de sobreaviso. O custo de funding (depósitos) subiu mais rápido do que a habilidade de muitos bancos a colocar preço. O lucro (recorrente) do BMG foi de apenas R$ 52m (+4,0% t/t e -38,8% a/a) implicando em um fraco ROE de 5,4%. No entanto, o resultado foi em linha com nossas expectativas e do mercado. Com a inadimplência sob controle e crescimento em linhas conservadoras, as provisões caíram t/t e a/a. Parte desses efeitos foi compensado por despesas mais elevadas, dado comissionamento mais alto em função da boa originação do trimestre. O resultado operacional foi de somente R$ 13m, caindo 55,2% t/t e 84,5% a/a. O lucro foi ajudado principalmente pelo imposto positivo em R$ 42m.
Apesar do valuation de 0,39x P/VP 22 e 7,11x P/L22, o ROE baixo do BMG justifica seu desconto. Mesmo com expectativa de menor alta do funding com estabilização da SELIC no 2S, o BMG (BMGB4) depende do aumento das reguladas taxas do INSS para reprecificar grande parte da sua carteira. No entanto, o reajuste contínuo das taxas do INSS tende a enfrentar resistência em ano eleitoral. Dada dificuldade de melhorar a rentabilidade, reiteramos recomendação de MANTER. Ademais, o capital cada vez mais apertado do BMG pode restringir o crescimento do banco, dada a baixa rentabilidade, forte crescimento no crédito e índice de capital (tier 1) mais baixo.
Carteira: crescimento forte t/t e a/a
Do lado positivo, a carteira de crédito do BMG cresceu impressionantes 21,5% t/t e 43,5% a/a, superando o range do guidance para o ano de 17 a 21%. O crescimento da carteira foi beneficiado pelo LOAS (crédito para benefícios por invalidez) e FGTS. A carteira do FGTS atingiu R$ 1,12b.
NII: segue pressionada por funding
O NII cresceu 2,5% t/t e 5% a/a. O crescimento bem abaixo da carteira sinaliza a continuidade da pressão de margem, dada elevação do custo de funding reflexo da alta da Selic. A NIM atingiu 12,6%, caindo 0,9 pp t/t e 2,2 pp a/a.
PDD: queda t/t
Outro ponto positivo foi quanto a qualidade dos ativos de crédito. As provisões permaneceram sob controle, caindo 5,7% t/t, refletindo crescimento em linhas de baixo risco e inadimplência sob controle. A inadimplência (NPL 90d) foi de 4,4% no 2T, queda de 1,1 pp t/t e 0,2 pp a/a.
Despesas: perdendo eficiência
As receitas/despesas administrativas cresceram 6,8% t/t e 12,1% a/a, pressionadas por despesas de pessoal (+10,3% t/t e +32,3% a/a), administrativas (+14,1% t/t e +19,7% a/a) e tributárias (+4,7% t/t e +28,3% a/a). Do lado positivo, a linha foi ajudada pelas receitas de participações em subsidiárias, que teve crescimento de 66,7% t/t e 122,2% a/a. Com o baixo crescimento das receitas e despesas pressionadas, o índice de eficiência (despesas/receitas) atingiu 70,6%, uma piora de 5,5 pp t/t e 6,3 pp a/a.
As despesas de comissão também tiveram alta relevante no tri. O forte crescimento da originação do LOAS e FGTS gera um comissionamento no momento da concessão. Em contrapartida, as receitas da concessão vêm mais à frente Assim, apesar da maior pressão no curto prazo dadas comissões, os frutos da maior originação deverão ser colhidos mais à frente.
Impostos: uma baita ajuda no lucro
O imposto foi positivo em R$ 42m no trimestre. A alíquota foi novamente beneficiada pelo benefício fiscal do JCP. O BMG vem provisionando para o pagamento de JCP, podendo usufruir do benefício fiscal. O pagamento do JCP provisionando deve ocorrer somente em 2023.
Capital: preocupa! caindo forte t/t e a/a
O capital (tier 1) atingiu 12,1%, caindo impressionantes 1,9% t/t e 4,3% a/a. Com o crescimento da carteira de crédito e consequentemente do RWA e baixo ROE acreditamos que o capital do BMG pode continuar a ficar pressionado, potencialmente gerando a necessidade do banco levantar capital.
Para incrementar o capital, o BMG fez 2 emissões privadas de letras financeiras subordinadas pelos prazos de 10 a 12 anos. As letras são elegíveis para a composição de Basileia e refletem no Capital Nível II, que atingiu 13,4% (+1,2 pp t/t e a/a).
Segundo o BMG, a Basileia excluída marcação a mercado de títulos teria sido 17,1%. Em tese, a medida que títulos forem se aproximando do vencimento o desconto deve fechar contribuindo para o capital.